quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020.30 A Bicicleta que tinha Bigodes/ Retrospectiva

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Voltando a Angola e a Ondjaki, terminei o ano com o infanto-juvenil "A Bicicleta que tinha Bigodes", que traz novamente a AvóDezanove como a senhora que acolhe as crianças, mas sem ser uma das personagens principais. A leitura flui bem e é boa para crianças e pré-adolescentes.

Aqui, o neto entrar numa aventura para escrever uma estória para um concurso da Rádio Nacional com JorgeTemCalma, porque o corpo todo tem pressa, e Isaura, que coloca nome de pessoa em todos os animais. Eles são guiados por Tio Rui, escritor que ao cortar o bigode as letras que ficam presas nele são guardadas numa caixa, mas que apresenta muitos ensinamentos importantes ao falar com as crianças.

Referência

ONDAKI. A Bicicleta que tinha Bigodes. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.

Ler me ajuda muito em momentos difíceis e creio que qualquer outra retrospectiva pessoal de um ano tão complicado e complexo quanto foi 2020 iriam trazer à tona as pedras roladas. Dos 30 livros deste ano, entre autoras e autores, romances, quadrinhos, contos e livros teóricos organizados ou gerais, sugiro, sem necessariamente estar numa ordem de importância:

- A casa dos espíritos (Isabel Allende): Muito bom para conhecer a história política do Chile até o golpe militar, mas a partir de uma boa ficção, que perpassa diferentes gerações de uma família;

- Mafalda: Todas las tiras (Quino): Foi a minha salvação nos meses iniciais do isolamento social por causa da pandemia, mas é caso de amor eterno;

- Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol (Gilmar Mascarenhas): demorei mais que deveria, livro fundamental para discutir futebol no Brasil a partir da perspectiva acadêmica;

- Por favor, cuide da mamãe (Kyung-Sook-Shin): Das descobertas possíveis por participar do Leia Mulheres Maceió, autora sul-coreana que retrata a vida de uma família a partir do ponto de vista de diferentes personagens sobre a mãe;

- Sobre os ossos dos mortos (Olga Tokarczuk): Quando a escolha do Leia Mulheres Maceió foi por um livro em defesa da causa animal, fiquei preocupado em ser mais um manifesto. Ledo engano. Livro muito bom e com um final espetacular;

- Informação, Conhecimento e Valor (Ruy Sardinha Lopes): Outro livro que demorei para ter lido, mas que se torna essencial, desta vez para quem estuda a tecnologia de forma crítica, independentemente de ter sido publicado em 2008. Para a EPC, pelo trabalho de Ruy, mais essencial ainda;

- Todos os contos (Clarice Lispector): Os contos de Clarice não precisam de descrição, é só viajar por eles;

- Ânsia Eterna (Júlia Lopes de Almeida): Espetacular livro de contos e um lamento gigante de ser pouco conhecido;

- AvóDezanove e o segredo do soviético (Ondjaki): faz com que conheçamos um momento difícil de Angola, guerra civil, mas com um olhar (revolucionário) de criança.

Enfim, minha escolha ficou em 9 dos 30 livros lidos. São 5 autoras e 4 autores, muito pela influência que o Leia Mulheres Maceió faz para mim desde 2016, com algumas descobertas interessantes e que me fazem conhecer mais da obra das autoras que me encantam. A lista ainda representa autoras e autores de diferentes países: Angola, Argentina, Brasil, Chile, Coreia do Sul e Polônia.

Porém, academicamente leio mais homens que mulheres e isso apareceu nas duas únicas referências de pesquisa da lista, que se tornaram essenciais para as duas perspectivas que trabalho, objeto e teoria para estudar a apropriação midiática do futebol.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020.29 Terra Sonâmbula

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Permanecendo na África de língua portuguesa, tirei da fila, após anos de compra, o "Terra Sonâmbula", de Mia Couto. O autor moçambicano usa um estilo bem peculiar para contar os problemas do país pós-independência.

A história é dividia em duas. O velho Tuahir recupera a saúde do menino Muidinga após uma fuga, fazendo com que ele volte a andar, ler, escrever e sonhar, mesmo tendo que morar num ônibus quase queimado após bater numa árvore numa estrada abandonada. Lá eles encontram um corpo e uma mala, nesta há cadernos que contam a história de Kindzu. As duas histórias são narradas a cada capítulo. Uma atualização do velho e do menino e a leitura de Muidinga de um caderno.

Como está na contracapa do livro, há uma construção poética e fabular e isso me causou estranhamento em diversos momentos, pois não é o tipo de literatura que vai me agradar de primeira - racional que sou. Ao menos tempo que tira certo peso do contexto, coloca muito mais força em determinados momentos, com várias frases que poderiam ser recortadas para tratar de dificuldades de vida.

Referência
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

2020.27 Ânsia Eterna/ 2020.28 AvóDezanove e o segredo do soviético

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Mais um livro lido no #LeiaMulheres Maceió, "Ânsia Eterna", de Júlia Lopes de Almeida, é um compilado de contos publicado no início do século XX. Eu cheguei até ele pelo conto "Incógnita", que li a partir de projeto da minha companheira no IFAL e que, numa situação cotidiana de uma mulher encontrada morta no mar, nos leva a várias discussões sobre o motivo, quase todos eles refletindo o machismo.

Quase todos os contos, em menor ou maior profundidade, discutem situações geradas pela sociedade patriarcal, só que mais para interpretarmos assim do que de forma muito clara, representando a sociedade do momento no típico realismo que demarca esse período literário. A diferença aqui é o tanto de surpresas que aparecem nos contos, que misturam ironia, horror e grotesco, que ao ler eu sempre imaginei que poderiam gerar vários audiovisuais.

Júlia Lopes de Almeida foi abolicionista e uma das grandes defensoras da formação da Academia Brasileira de Letras, mas foi o marido dela, poeta, quem ocupou uma das cadeiras - a primeira mulher só estaria na ABL na década de 1970. A grande surpresa que o livro nos dá, por sinal, é tentar entender como uma obra tão variada, na temática, mas sem perder a qualidade, ficou desapercebida.

É mais uma obra que foi reeditada por ter "desaparecido", desta vez pela editora do Senado Federal. Vi que também teve três contos transformados em HQ em 2018. Para baixar o livro: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/559746/AnsiaEterna.pdf.


Minha companheira é fã do autor angolano Ondjaki a ponto de ter quase todos os livros, ainda que prefira os romances dele. Em suma, as histórias passam por Angola em meio à ocupação soviética, misturando lembranças da infância do autor com ficção, normalmente contadas a partir do ponto de vista de uma criança.

"AvóDezanove e o segredo do soviético" conta a história da PraiaDoBispo, em que os soviéticos constroem um mausoléu para o corpo de um ex-presidente. O local viraria um ponto turístico a beira-mar, forçando a saída dos moradores nos meses seguintes, num claro exemplo de gentrificação.

O romance é contado por uma criança a partir da aventura da construção de um plano para "desplodir" o mausoléu. Mas a sua visão traz personagens muito interessantes, como EspumadoMar, 3,14, AvóDezanove, Avó Catarina, Botardov, dentre outros. Fiquei encantado pelo livro, de final que já vem no começo, mas que traz surpresa até depois que ele termina.

Referência
ONDJAKI. AvóDezanove e o segredo do soviético. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

2020.26 Úrsula

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"Úrsula" é um romance da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, publicado no século XIX e que demarca no aspecto literário as marcas da época, mas reproduz também num romance com final surpreendente - ainda que o formato tenha me incomodado por falta de costume de leitura - alguns aspectos da escravidão existente no período.

O romance está, com outras obras, disponível gratuitamente no site das Edições Câmara, que com esta coleção em específico objetiva resgatar autoras que foram esquecidas ao longo dos séculos apesar de terem feito sucesso no momento de publicação: Úrsula e Outras Obras (camara.leg.br)

sábado, 14 de novembro de 2020

2020.25 Todos os Contos

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Quando a Rocco publicou, em 2016, o "Todos os Contos", de Clarice Lispector, gerou-se uma reação grande entre pessoas conhecidas. Afinal, em vez de adquirir os livros separados, facilitaria comprar uma única edição que reúne tudo. Eu já tinha alguns dos separados, mas adquiri o meu. A parte ruim disso é que o tamanho acaba assustando e, claro, dificultando o manuseio do livro. Assim, ao terminar "Todas as tiras" da Mafalda é que eu comecei a ler "Todos os Contos", mas parando aqui e ali para ler outros livros do Leia Mulheres Maceió.

"Finalmente" consegui terminá-lo. Entre aspas porque os contos de Clarice sempre geram uma nova reação quando de uma releitura. Não será diferente nos próximos dias, meses e anos. Já separei aqui um trecho ou outro sobre futebol, para reler e escrever sobre.

Referência

LISPECTOR, Clarice. Todos os Contos. São Paulo: Rocco, 2016.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

2020.24 A Vida Mentirosa dos Adultos

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Depois do imenso impacto da tetralogia napolitana, que me fez ler TODOS os livros da Elena Ferrante, bateu aquela ansiedade com o lançamento no ano passado de "A Vida Mentirosa dos Adultos", a ponto de eu comprar o livro em pré-venda.

Neste livro, Ferrante conta a história de Giovanna, Giannì(na), da pré-adolescência até os 16 anos, em meio a muitas mentiras dos pais, da tia Vitória, dos amigos da família e uma maldade que ela vai reconhecendo em si mesma a partir de uma crítica de que ela estava ficando tão feia (não só na aparência) quanto à tia.

FERRANTE, Elena. A Vida Mentirosa dos Adultos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

sábado, 17 de outubro de 2020

2020.22 Felicidade clandestina/ 2020.23 Turismo para cegos

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Clarice Lispector. Só isso bastaria para descrever qualquer coisa vinda de "Felicidade Clandestina". O conto que dá título ao livro representa bem o estilo da autora - e a capa do livro. Uma criança que demora a ter para si um livro e quando o tem o saboreia bem devagar, aproveitando todo momento da felicidade gerada.

Demorou para que eu conseguisse entrar em "Turismo para cegos", livro da cearense Tércia Montenegro. Ele está dividido em pequenos capítulos que conformam três partes diferentes, com poucas personagens, cujo destaque é para Pierre, um homem feio, e Laila, uma mulher que vai perdendo a visão.


terça-feira, 1 de setembro de 2020

2020.20 Sobre os ossos dos mortos/ 2020.21 Informação, Conhecimento e Valor

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Confesso que quando foi decidido que "Sobre os ossos dos mortos" seria o livro de agosto do Leia Mulheres Maceió eu fiquei meio assim. A síntese do livro sempre tratava que era um romance a partir dos direitos de animais. Meu temor era que isso ficasse muito presente, em vez do desenrolar da história. Ledo engano.

Olga Tokarczuk cria uma narrativa que nos envolve com uma vida a partir de uma idosa numa cidadezinha polonesa, misturando elementos do cotidiano com certa ironia e numa crescente de suspense e horror, terminando muito, mas muito bem o romance.

Vale o registro, Tokarczuk ganhou o Nobel de 2018 com este livro e é militante contra a ditadura de seu país, a Belarus.

Referência

TOKARCZUK, Olga. Sobre os ossos dos mortos. São Paulo: Todavia, 2019.

Um clássico da Economia Política da Comunicação. Nem precisava escrever nada além disso para "Informação, Conhecimento e Valor", livro de Ruy Sardinha Lopes produzido a partir de sua tese de doutorado na Filosofia para discutir a lógica do informacionalismo, hegemônica na primeira década dos anos 2000. Ruy mostra uma excelente revisão de literatura e discussão teórica a partir do marxismo para tratar da comunicação e da informação no capitalismo.

Referência

LOPES, Ruy Sardinha Lopes. Informação, Conhecimento e Valor. Radical Livros, 2008.



domingo, 2 de agosto de 2020

2020. 19 Televisão

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Voltando no final de julho às leituras para a tese, tirei da fila "Televisão - tecnologias e forma cultural", clássico dos Estudos Culturais britânicos, escrito no início da década de 1970. Apesar da distância temporal e da especificidade de estudo para um meio de comunicação, com análise específica a partir dos modelos estadunidense e britânico, o livro levanta questões muito importantes sobre a apropriação mercadológicas de "novas tecnologias", tema que sempre volta na pesquisa em Comunicação. Além disso, propõe uma interessante metodologia para estudar o fluxo televisivo.

Referência
WILLIAMS, Raymond. Televisão – tecnologias e forma cultural. São Paulo: Boitempo; Belo Horizonte: PUCMinas, 2016.

domingo, 26 de julho de 2020

2020.18 Por favor, cuide da mamãe

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"Pesado, pesado", aí eu lembrava da atual realidade do Brasil e passei a terminar a leitura diária de "Por favor, cuide da mamãe" como "forte, esse livro do Leia Mulheres Maceió deste mês é muito forte". Tanto é que desta vez eu consegui tirar print de alguns trechos e deixarei aqui, para além do rápido resumo que acabei optando para utilizar este blog como diário de leitura.

Kyung-sook Shin, sul-coreana, apresenta a história de uma mãe, sempre relegada à posição subalternizada na família, com o olhar de "vaca"/de servidão sempre destacável, que é deixada para trás numa estação de metrô e desaparece. A narradora da história conta os relatos a partir da vivência com ela do marido - que ia no verão e voltava no inverno - e de três filhos (um como epílogo), mas com uma desvelar em "Uma outra mulher", que é onde ela aparece melhor.




Referência
SHING, Kyung-sook. Por favor, cuide da mamãe. São Paulo: Intrínseca, 2012.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

2020.17 Os homens explicam tudo para mim

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Após o adiamento da edição de março por causa da necessidade de isolamento social, o Leia Mulheres Maceió retornará com reuniões este mês. O livro separado para discussão virtual no próximo sábado é "Os homens explicam tudo para mim", de Rebecca Solnit, um conjunto de ensaios publicados pela autora sobre a violência de gênero.

Ainda que eu viesse evitando livros e filmes mais pesados, pois o nosso cotidiano nacional supera qualquer ficção, sempre é muito importante ler relatos duros sobre a violência que a mulher sofre no dia a dia. Vivemos numa sociedade patriarcal e que tende a naturalizar uma série de preconceitos, incluindo o machismo. O ensaio que inicia o livro, por exemplo, é sobre o dia em que um homem resolveu falar com a autora sobre um livro que ela escreveu, ápice do "mansplaining", algo muito comum.

Alguns tópicos são mais pesados que outros, mas, como ela coloca em determinado momento, é muito mais difícil para as mulheres viverem com o medo de serem estupradas e subalternizadas do que o incômodo que eu, enquanto homem heterossexual, posso sentir nas descrições de um livro. Vale a leitura!

Referência
SOLNIT, Rebecca. Os homens explicam tudo para mim. São Paulo: Cultrix, 2017.

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você

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3 anos depois daquela descompromissada ida ao cinema, em que eu tive crise alérgica respiratória antes, mas tinha que dar um jeito de ir porque o nosso descompromissado encontro deveria ter sido na quarta-feira de Cinzas, vejo hoje que "estranho seria se eu não me apaixonasse por você".

Eram anos muito difíceis, por diferentes motivos e apesar de algumas coisas boas. Eu precisava me entender enquanto parceiro de outra pessoa e foi na tentativa e erro, muitas falhas minhas nesse processo, mas muito sofrimento também, que eu havia escolhido ficar mais quieto. Você surgiu de forma inexplicada, a partir de outro contato em comum, de outra história. Éramos apenas "palmeirense" e "corintiana" - e hoje somos mais "azulino" e "regatiana".

Se eu jamais esqueço daquela primeira noite, da minha preocupação em não exagerar e da sua timidez capaz de fazer com que mal olhasse para mim após o beijo na sala do Cine Arte Pajuçara - um clássico, eu sei -, a cada encontro depois daquilo "Satisfeito, sorri, quando chego ali" no ponto de ônibus após te encontrar. Abobado, rindo sozinho dentro do coletivo ao lembrar dos momentos contigo.

E o teu receio na minha viagem a Quito e a São Paulo? Achando que ia te esquecer em meios às coisas de trabalho - ainda que eu saiba que eu foque muito no trabalho -, sem saber que "Colombo procurou as Índias, mas a Terra avisto em você". Falei contigo todos os dias, em quase todos os momentos.

Voltei para Maceió, dei aula em Santana e travei a coluna, fui à emergência porque não te encontrava a tanto tempo que não podia aguardar mais. Só pensava e falava: "Não vejo a hora de te reencontrar". Recuperei-me das dores na coluna, te pedi em namoro no reencontro e logo depois tive um ataque de alergia ao diclofenaco. Porque né, vida não é fácil rs. Mas eu tinha alguém com quem partilhá-la, nos amores e nas dores.

Muita coisa andou de lá para cá. Eu passaria no doutorado ainda em 2017; o CSA ganharia a Série C, dois Alagoanos e jogou a Série A - com a sua torcida contrária, claro (rs) -; eu cheguei a viver entre três municípios de 2 estados, mas com as trouxas aqui em casa porque viver contigo era essencial para a minha vida. Continua sendo.

Discutimos de vez em quando, até porque não é só nos nossos clubes de futebol que as nossas defesas de argumentos são árduas, mas aprendemos cotidianamente a sermos melhores um para o outro e nas nossas relações profissionais e pessoais.

Sei que o doutorado, a diretoria da entidade de pesquisa, a UFAL e o futebol se misturam à nossa rotina e fazem parecer que você é mais um desses elementos do meu cotidiano. Sei que falho em diferentes momentos, mas espero que não só neste dia ou ano, eu possa fazer o melhor de mim para que você seja cada vez mais feliz.

Que tenhamos muitos mais anos para comemorar pela frente, numa situação bem melhor que a atual de isolamento social e um monte de preocupações com um país complicado, para dizer o mínimo. Te amo muito e não há medida criada pela humanidade para externar este sentimento.

domingo, 24 de maio de 2020

2020.16 Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol

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Enquanto pesquisador de futebol, era um problema não ter lido antes "Entradas e bandeiras" do Gilmar Mascarenhas. O saudoso pesquisador publicou o livro em 2014 apontando a partir da geografia "a conquista do Brasil pelo futebol".

Meu arquivo com fichamento de citações cresceu bastante, pois ele trata de diferentes tópicos que me interessam na pesquisa: a normatização do jogo a partir da Inglaterra, já apontando ali um "futebol de espetáculo"; a entrada e expansão que é diferente em diferentes lugares no Brasil; as mudanças que a mercantilização existe, com destaque para os efeitos da metropolização do país, com clubes periféricos sendo cada vez mais extintos; e, por fim, o modelo neoliberal que afasta a torcida mais efusiva, encarecendo o acesso ao jogo.

Em suma, vai ser o livro que passarei a indicar a qualquer pesquisador que queira estudar o futebol, pois instiga diferentes possibilidades de pesquisa. Ah, e o melhor, está disponível de forma gratuita para ser baixado no site da Eduerj, na Biblioteca da Quarenta: https://www.eduerj.com/eng/?product=entradas-e-bandeiras-a-conquista-do-brasil-pelo-futebol-2

MASCARENHAS, Gilmar. Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol. Rio de Janeiro: Eduerj, 2014.

A socialite do Graciliano Ramos

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Casada há mais de uma década, um casal de filhos, uma cachorra fofinha. Mãe coruja, dona de casa que é a grande referência dos amigos para resolver alguns problemas do cotidiano... Se não fosse tão ruim hoje em dia falar isso, seria a “típica família brasileira”, nada demais que gerasse uma crônica específica. Eita, “rapidinho, só uma coisa que eu lembrei agora”.

Um “Meninaaa, nem te conto!” assim que o zap do outro lado é atendido. Assuntos diversos do cotidiano, fala de uma parente ou vizinho, mas também sobre quem ocupa o cargo de presidente da República. São tantas conversas diárias que já pediram para anunciar como “o grande debate” de certo canal de notícias da TV fechada – falta só ter as divergências do mundo da imaginação que criam por lá.

“Vou ligar aqui rapidinho!” num momento da conversa quando precisa ligar o liquidificador. Porque a conversa é com o celular na estante da cozinha enquanto vai fazendo a mágica da culinária para deixar o almoço ou o jantar pronto. E é ainda mais difícil quando alguém em casa não come a carne de determinado jeito ou outro prefere o suco de maneira diferente. Haja trabalho!

Como se não bastasse o comando de três pessoas e uma cadela em casa, ainda tem os irmãos, que falam, escrevem, mandam áudios; os dois sobrinhos, especialmente, que qualquer dúvida batem na porta ou, para ser mais direto, mandam aquela mensagem de áudio pelo zap ou ligam, não importando se ela está ocupada com as coisas de casa, cochilando depois do almoço ou vendo os filmes. Aliás, valem os parênteses. A pessoa não gosta de série, mas vê filmes aos poucos COMO SE FOSSEM SÉRIES!

Voltando. Está ali à disposição para saber como abrir uma lata – algo que não sabia porque não é ela que faz isso –, temperar a carne, algum contato para arrumar a casa, escutar os desabafos e rir das piadas, fora que é a especialista em como limpar os alimentos e as compras nesses tempos de pandemia! Por sinal, ninguém melhor que ela, que se preocupa com tudo algumas vezes mais do que qualquer pessoa que você ache que está se ocupando demais com isso. Afinal, ela se preocupa com toda a família.

Mas, pera aí, onde que isso é vida de “socialite”?

Quantas vezes você já foi para festa de aniversário de cachorro, com direito a pedaço de bolo para a cadela que ficou em casa, que até hoje dorme com a manta que foi o brinde do aniversário?

“Mas eu gosto do Alok, como vocês não sabiam quem era?” quando alguém falou que não sabia como ele era fisicamente. Dias depois, após a live do famoso DJ: “a gente até puxou o sofá mais para o canto, só não dancei mais por causa da hora, vai que os vizinhos reclamassem!”.

E as amizades? A amiga super jovem, com alguns anos à frente, que se espanta com certas coisas porque na “nossa época” era de outro jeito. O “faz-tudo” das proximidades que a considera como mãe porque sempre arranja uma maneira de ajudar. Mas como seria diferente para alguém que há mais de uma década recebe as felicitações de aniversário de outra amiga dias depois da data real sem reclamar, pois não quer constranger? A “socialite do Graciliano” parece ser a típica dona de casa que a nossa sociedade patriarcal acaba gerando de exemplos, mas é única não só por tudo isso que relatei aqui, mas por ser uma pessoa de um coração gigante – também quando pega ranço, mas aí seria tema para uma outra crônica.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O “novo normal” do futebol ou evolução da mercantilização sobre o jogo?

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Após a K-League recomeçar no dia 8 de maio, foi a vez de uma das consideradas grandes ligas retornar no dia 16. A Bundeliga voltou com as partidas com portões fechados e uma série de diretrizes para evitar novas contaminações em meio à pandemia global da Covid-19. Acompanhei especialmente o jogo entre Borussia Dortmund X Schalke 04, observando possíveis novos elementos do futebol profissional, da transmissão à marcação. Será que vimos ali um “novo normal” desse esporte?

Parênteses

Primeiro, é importante ratificar a diferença de como o governo federal da Alemanha tratou nos cuidados para diminuir os impactos do coronavírus em relação ao Brasil. Ainda que, pessoalmente, eu critique a volta do torneio – que teve forte pressão da UEFA e alguma prioridade ao cumprimento dos contratos de exibição –, voltar agora me parece muito menos absurdo do que as pressões realizadas aqui no Brasil ainda neste mês de maio, com alguns clubes servindo de vias de propaganda das piores visões políticas sobre as pessoas.

Dito isto, importante citar as exigências do protocolo da Bundesliga: quarentena obrigatória para os clubes, com isolamento obrigatório – um técnico saiu e não pôde seguir para o jogo no sábado; sem cumprimentos como abraços e apertos de mão; distância de 1,5m entre jogadores no banco de reservas; todo mundo fora de campo utilizando máscara, com exceção aberta aos treinadores nos momentos em que forem passar instrução, mas só se tiverem com o mínimo de 1,5m de distância; cada equipe sairá de forma separada.

Jogo para mediação de uma plataforma digital
Acompanhei Borussia X Schalke usando o Twitter como bloco de notas. Importante dizer que não acompanhava o torneio alemão com frequência, então a primeira surpresa ficou com a diferença de nível de atuação das duas equipes, muito bem representada pela goleada dos aurinegros por 4 a 0.

A título de provocação, é necessário delimitar que sempre fui contrário a jogos sem público, clássicos sem a torcida adversária e qualquer medida semelhante. Então já vejo como outro jogo quando há restrição à representação torcedora dentro do estádio.

Mesmo considerando que a Alemanha tenha passado pela fase neoliberal da mercantilização do futebol com mais exceções, o modelo atual, sem público ou com representação virtual (cartazes ou telões mostrando torcedores, como em alguns casos) parece antecipar certa tendência que considera como mais adequado para o “futebol de espetáculo” dos estádios modernos, como afirma Mascarenhas (2014, p. 170), “um público menos apaixonado, menos ‘viril’ e mais comportado”. Além de uma prioridade para que se tornasse “um bem simbólico consumido basicamente através dos meios de comunicação de massa” (idem, p. 178). A transmissão dos torneios, mesmo com portões fechados, permitem entrada de receitas consideráveis, logo, a tentativa de se manter o cronograma normal, com a partida ocorrendo de maneira adaptável.

Ainda nesse sentido, a transmissão do jogo tentou ao máximo esconder as arquibancadas vazias, com a câmera central focando mais no gramado, com plano mais recuado para o centro do gramado, de maneira a exibir apenas as primeiras fileiras de cadeiras do outro lado. Sobre isso, observei ainda que o foco nos jogadores que iam cobrar falta ou escanteio parada era ainda maior que o normal, para apagar o quão diferente é o estádio sem torcida.

Mudanças no jogo
De movimentação de jogo, aparentemente a marcação fica mais frouxa. Mesmo na bola parada eu observei muito menos momentos de empurra-empurra. A procura pelo corpo do adversário apareceu em raros casos de proteção para o goleiro chegar na bola. Não lembro de ter visto situações de proteção no corpo para subir na bola ou medir a distância do adversário.

Destaco como exceção na partida em como Haaland, centroavante do Borussia, parecia ser o único que procurava o jogo de corpo. Isso é exemplar quando, aos 24 minutos, ele empurra o marcador e é necessário que o árbitro se aproxime, mantendo certa distância, de ambos, com um sorriso no rosto talvez também expressando a estranheza pelo contato.

Do pouco que vi do final do primeiro tempo ao início do segundo de Union Berlin X Bayern de Munique, realizado no dia seguinte, pareceu-me que os jogadores estavam mais próximos do “normal” anterior que o de maior preocupação com o contato físico. Vendo os replays das comemorações de gols das outras partidas, houve contato em algumas situações, abraços e apertos de mão que se confundiam com o cuidadoso toque de pés ou cotovelos.

Ainda que não seja meu interesse de estudo, tentei observar as coisas referentes especificamente ao contato físico natural do jogo de futebol. Resta acompanhar se os jogadores retornarão ao que era costume maior, considerando a rotina de testes e o controle protocolar do dia a dia; ou se seguirão presos aos limites de como lidar com a preocupação psicológica das novas “regras” a que estão impostos.

Concluindo, do lado da transmissão, será um grande teste sobre a importância da participação torcedora in loco no estádio, considerando ainda que as plataformas de comunicação também vendem seus jogos com a participação torcedora. Que nós não sigamos para um caminho de ser melhor sem qualquer torcedora ou torcedor num novo processo de mercantilização pós-crise.

domingo, 3 de maio de 2020

2020.14 Mafalda/ 2020.15 Mayara & Anabelle - Hora Extra

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Sou fã da Mafalda e sua turma e lamento muito não ter sentado no banco com ela na minha única ida a Buenos Aires. Pretendia fazer isso no tempo que iria ficar por lá para a pesquisa da tese, algo que não deve ocorrer mais. Ganhei "Mafalda: todas las tiras" da minha companheira no aniversário de 2018. Dias antes ela me perguntou se eu lia em espanhol, mas por causa de um suposto artigo que ela tinha que avaliar e eu poderia tirar algumas dúvidas.

Com a quarentena por causa da pandemia, a necessidade de boas distrações se faz cada vez mais presente. Coloquei as mais de 600 páginas com todas as tiras da Mafalda em espanhol como parte da minha rotina, após o almoço e antes de pegar o computador para trabalhar. Fui lendo, me divertindo e vendo algumas críticas tão atuais presentes ali. Agora, resta a saudade da companhia de toda a turma.


Verificando os e-mails antigos e que deveriam ter algo para baixar, encontrei o que foi enviado via Catarse para quem ajudou à edição "Hora Extra" da HQ "Mayara & Anabelle", cujo roteirista é aqui de Maceió. Como eles não conseguiram enviar todas as recompensas, inclusive a edição impressa, por causa da quarentena, resolveram compensar mandando o arquivo em .pdf.

Ao contrário das outras edições, aqui as duas assistentes contra monstros têm histórias em paralelo à linha oficial sendo contadas. Li enquanto ouvia a live de Lulu Santos.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

2020.13 Regulação das comunicações

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Encontrei "Regulação das comunicações: História, poder e direitos", de Venício Arthur de Lima, no Sebinho, um dos locais que mais gosto de Brasília. Como estou lendo artigos e livros que tratem da constituição da regulação das comunicações em Argentina, Brasil e México, pensei que poderia ser uma boa.

O livro está dividido em três partes: história (governo Lula, Constituinte e casos); poder (coronelismo eletrônico nas rádios comunitárias, complementaridade, "nova mídia" e caso sobre saúde pública); e direitos (cidadania, direito à comunicação e este direito no III PNDH).

Ainda que tenha sido tema de trabalhos e orientações em paralelo, o livro traz um excelente painel das rádios comunitárias naquele momento, com vários pontos e dados sobre a utilização política das concessões, o que geraria um novo perfil de "coronelismo eletrônico", mas também religiosas. Outros pontos de destaque: a crítica ao governo Lula quanto às políticas de comunicação e a descrição da discussão sobre a comunicação na formação da Constituinte, com reprodução de texto da época.

Das coisas interessantes da grande mudança do poder político que o Brasil viveu na segunda década do século XXI. A pauta sobre crítica à grande mídia sempre esteve presente no campo progressista, inclusive nas nossas pesquisas. O livro de Lima é de 2011 e traz inclusive estudo de caso sobre a cobertura dos casos de febre amarela silvestre que reapareceram em alguns locais do país. Essa nova versão de "grande mídia comunista" talvez seja a coisa mais bizarra, para mim, desta reconstrução da verdade e da história do Brasil que vem sendo feita.

LIMA, Venício Arthur de. Regulação das comunicações: História, poder e direitos. São Paulo: Paulus, 2011.

domingo, 29 de março de 2020

2020.12 Doce Jazz

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Eu apoiei outros projetos da roteirista Mylle Silva. Mas Doce Jazz não só é algo diferente no texto - ao trazer como referência a experiência dela no Japão numa banda de jazz a partir da personagem Melissa -, como também exigiu de mim uma forma diferente de leitura.

Como a Mylle queria que os amigos japoneses dela também pudessem ter acesso à hq, resolveu tirar as falas. Assim, eu que tendo a ler rápido, precisei diminuí o ritmo e fui forçado a olhar para mais detalhes do cenário desenhado pela Melissa Garabeli. Em vez de letras, a música serviria de companhia, com cada capítulos sendo título de uma música de jazz que deveria ser escutada em paralelo.

SILVA; Mylle; GARABELI, Melissa. Doce Jazz. Curitiba: Têmpora, 2019.

quinta-feira, 26 de março de 2020

2020.10 Cultura e desenvolvimento/ 2020.11 O conceito de cultura em Celso Furtado

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Os últimos 3 livros que li foram de/sobre Celso Furtado. Curiosamente, após terminar o terceiro hoje, percebo que a ordem deveria ter sido diferente, com este aqui sendo o último deles, por trazer apontamentos de distintas perspectivas teóricas a partir da obra furtadiana.

De toda forma, "Cultura e desenvolvimento: Reflexões à luz de Furtado", organizado por César Bolaño, é importante para quem precisa adentrar às possibilidades de estudo sobre cultura e desenvolvimento a partir do importante pesquisador latino-americano. Há tanto artigos mais gerais a aplicações para análises específicas, caso do excelente capítulo de Verlane Aragão que traz revisão teórica, apresentação de metodologia e resultados de pesquisa sobre a Economia Política da Música em Sergipe.

O livro está disponível no repositório da EDUFBA, gratuitamente: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/28660/1/BOLAÑO-cultura-e-desenvolvimento-EDUFBA-2015.pdf

Eu deveria ter começado com "O conceito de cultura em Celso Furtado", de autoria individual de César Bolaño, em que este faz uma espécie de organização teórico-conceitual da obra de Celso Furtado, passando por diversas publicações, de 1964 a 2012, com comentários, aproximações aos estudos de Economia Política da Comunicação e diálogo com outros autores. Ainda que o foco seja apresentar o que na obra furtadiana trata de cultura e sob qual perspectiva conceitual.

O livro está dividido em 4 partes: o modelo de base de Furtado; uma teoria antropológica da cultura; crítica da civilização industrial; e cultura brasileira, política e economia. Além de uma conclusão em que Bolaño se permite aparecer mais no texto, dialogando ele com o que o autor apresentar e as aproximações sobre temas fulcrais para a EPC brasileira.

O livro também está disponível no repositório da EDUFBA: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/28659/1/BOLAÑO-o-conceito-de-cultura-em-celso-furtado-EDUFBA-2015.pdf


terça-feira, 3 de março de 2020

2020.6 Memória das Olimpíadas no Brasil (vol. 2)/ 2020.7 Reflexão sobre as políticas nacionais de comunicação/ 2020.8 Regulando a TV/ 2020.9 Criatividade e dependência na civilização industrial

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Na sequência do primeiro volume, li o segundo de "Memórias das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares", um dos produtos do projeto "Preservação da Memória das Olimpíadas: processos e ações" (http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/index.htm) realizado de junho a dezembro de 2016 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Acabo de ver que os dois volumes estão disponíveis na internet. O link para o segundo é: http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/pdfs/Memoria_das_Olimpiadas_no_Brasil_%20Dialogos_e_Olhares_v2.pdf.
Eu achei este volume mais voltado à metodologia, dificuldades e resultados do projeto, algo mais focado, mas também vale a leitura para entender como foi a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.

CALABRE, Lia; CABRAL, Eula Dantas Taveira; SIQUEIRA, Maurício (Orgs.). Memória das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares. V. 2. Rio de Janeiro: Fundação de Casa Rui Barbosa, 2017.
Minha escolha para continuar lendo sobre textos para a tese foi o livro "Reflexão sobre as políticas nacionais de comunicação", organizado por Daniel Castro no seguimento da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), publicado em 2010 pelo IPEA. A obra tem mais textos curtos sobre a realidade da Indústria Cultural no Brasil, muitos apresentando fatos semelhantes como problemas dos seus setores de mercado.

CASTRO, Daniel. Reflexões sobre as políticas nacionais de Comunicação. Brasília: IPEA, 2010.
Como estou estudando Brasil, Argentina e México, considerando ainda a contextualização histórica do futebol e da Indústria Cultural dos 3 países, não estou me furtando a pegar livros que possam considerar análises temporais anteriores. É o caso de "Regulando a TV: Uma Visão Comparativa no Mercosul", organizado por Othon Jambeiro.

Neste caso, o livro trata de diferentes aspectos da TV em Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, servindo para mim a parte dos dois países que fazem parte da minha pesquisa, mas também o quadro geral de comparação ao final do livro, uma boa sugestão de elementos de comparação para estudos sobre políticas e legislação de comunicação.

JAMBEIRO, Othon (Org.). Regulando a TV: Uma Visão Comparativa no Mercosul. Salvador: Edufba, 2000.


Uma das coisas que tentarei tratar na tese é a apropriação cultural. Dos autores latino-americanos a tratarem do tema está o economista Celso Furtado. Comecei com "Criatividade e dependência da civilização industrial", que me deu poucos elementos, por se tratar mais de uma série de tratados que um livro nos moldes acadêmicos, como afirma o autor no prefácio.

Porém, há elementos interessantes. A primeira edição do livro é de 1978, mas Furtado já fala dos efeitos da globalização, da atuação das empresas transnacionais e da disputa do controle de poder, incluindo aí a importância da criatividade para o capitalismo se renovar.

FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 [1978].

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Flamengo X Globo: processo aberto pelo clube acentua problemas na transmissão do Brasileirão

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Após a recusa em vender os direitos de transmissão de suas partidas no #Carioca, o Flamengo acirra a disputa com a Globo, passando para a justiça o contrato do Campeonato Brasileiro de Futebol. Como não vi o processo, comentarei o que é possível a partir do que foi publicado por repórteres esportivos.

A base dos problemas apontados pelo Flamengo está no contrato que começou em 2019 e vai até 2024. É o primeiro para o Brasileiro que divide o pagamento de cotas por critérios: 40% igualitários, 30% jogos transmitidos e 30% classificação (50-25-25 para a Turner). Mas só para as TVs, não inclui o pay-per-view (ppv).

Os contratos foram assinados sob sigilo. Então vamos para as informações de Rodrigo Mattos e Leo Burla, no UOL.

1. Mais jogos no ppv

Vejo como movimento natural da Globo botar mais jogos de Corinthians e Flamengo no ppv por 2 motivos: é o valor flexível, com a empresa podendo lucrar mais; e é onde, na mudança da divisão dos valores pagos por mídia, passou a pagar mais.

Até 2018, o peso da TV aberta era muito maior, assim, fazia sentido para a Globo distribuir os jogos das duas equipes nesta mídia. A mudança no contrato em vigor considera a nova divisão das cotas (que mantém o benefício a alguns clubes a partir do ppv) e a nova concorrência.

2. Prejudicar a Turner

Movimento super natural da Globo, que já fazia algo semelhante quando sub-licenciava os direitos para Record e Band. A escolha dos jogos na TV aberta sempre foi da detentora dos direitos, na lógica do “quem paga a festa define o horário”, problema não exclusivo do Brasil num momento em que os mercados europeus querem audiência da China, por exemplo.

O Athletico soube compensar a saída do ppv nisso. Acreditando que ganharia menos nesta plataforma do que mereceria, o clube resolveu não assinar. Isso forçou a Globo a exibir mais jogos do clube de forma gratuita - justificando investimento nesta mídia e a briga contra a Turner (no jogo contra outro clube que assinou com ela).

Mas concordo com a reclamação em se incluir jogos transmitidos pela Turner na TV fechada para o cálculo da cota por exibição. Não faz sentido porque os contratos são diferentes. Os clubes da Turner, por exemplo, resolveram dividir igualitariamente o valor da classificação em 2019 – menos o Fortaleza, prejudicado por um contrato assinado quando ainda estava na Série C e que definia valor fixo (na prática, R$ 14 milhões a menos que os demais na TV fechada).

3. Outros pontos

Outros elementos do que consegui ver do Pedro Torre no Instagram:

O clube fala que o pagamento seria num fluxo mensal. Do que li para o meu livro, o pagamento seria em partes (início, 40%; meio do ano, provisório dos 30% de exibição; e final do campeonato). Mas, volto a dizer, não tive acesso aos contratos. Estou relatando o que li durante o processo de negociação e as notícias do ano passado informando que os clubes estavam com a corda no pescoço, com balanços parciais no vermelho, justamente pela mudança.

Outro ponto novo relatado por Torre é que a Globo passou a descontar despesas dos custos de viagens no valor das cotas, o que não ocorria antes. O Flamengo reclama disso, mas admite que o ponto não estava no novo contrato. Numa proporção, daria R$ 1,5 milhão a menos no ano.

É importante ressaltar, da mesma forma que Bahia, Athletico e Palmeiras ano passado, a disputa é puramente individual. O Flamengo quer ganhar mais porque acha que merece e não está preocupado com os demais, não à toa o processo foi aberto só por ele – nem o Corinthians, de situação semelhante, entrou.

Ratifico meu posicionamento que as "falhas" que eu concordo no que foi apontado é justamente pela falta de um acordo coletivo – o que não deve ocorrer tão cedo. Além disso, os clubes repassavam TUDO para a Globo Esportes sobre o Brasileiro. A empresa é que se desfez de algumas coisas, caso da negociação por placas, transmissão internacional e, pelo visto, a estrutura de viagens.

Foi necessário o Flamengo, assim como estavam Palmeiras e Athletico, ser menos dependente dos recursos do broadcasting para tentar confrontar o grupo comunicacional, que, desde a gestão de Manuel Pinto e o aumento da concorrência, resolveu mudar o discurso sobre equilíbrio.

Por fim, registre-se que a divisão não se dá pelo broadcasting/espaços de mídia, como na Premier League ou na Copa do Brasil, com a liga/CBF buscando as receitas e repassando os valores a partir de determinado planejamento. Logo, problemas hão de aparecer (também na Turner).

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

2020.5 Memória das Olimpíadas no Brasil (vol. 1)

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O primeiro volume de "Memórias das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares" é um dos produtos do projeto "Preservação da Memória das Olimpíadas: processos e ações" (http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/index.htm) realizado de junho a dezembro de 2016 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Ganhei os dois volumes do livro de uma das organizadoras e coordenadoras do projeto, Eula Dantas Taveira Cabral, e o escolhi para retornar às leituras para o doutorado, ainda que entendendo que iria separar poucas citações - tendo em vista que minha pesquisa se volta mais ao futebol.

O livro conta com capítulos de quem participou do projeto, incluindo nomes conhecidos da discussão sobre esportes no Brasil, casos de Gilmar Mascarenhas (falecido ano passado), Victor Andrade de Melo e Bernardo Buarque. Destaco ainda os relatos de quem viveu os Jogos Olímpicos a partir da resistência às desocupações, casos de Sandra Maria Teixeira e Gizele de Oliveira Martins.

CALABRE, Lia; CABRAL, Eula Dantas Taveira; SIQUEIRA, Maurício; FONSECA, Vivian (Orgs.). Memória das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares. Rio de Janeiro: Fundação de Casa Rui Barbosa, 2017.


sábado, 25 de janeiro de 2020

2020.1 A Casa dos Espíritos/ 2020.2 tempus fugit/ 2020.3 Garrincha e a Flecha Fulniô das Alagoas/ 2020.4 Terra das Mulheres

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Sempre passei perto dos livros de Isabel Allende nas livrarias e deixava para depois. Em novembro, minha companheira perguntou se eu já tinha lido algo dela e comprou "A casa dos espíritos" primeiro e clássico livro da autora chilena. Logo depois, li "Inés de Minha Alma" por causa do Leia Mulheres Maceió.

Apesar do nome, o romance trata da história da família Trueba, percorrendo também a história política do Chile até a ditadura militar, com uma boa representação de como o apoio das elites econômicas da América do Sul para os golpes militares da região gerou surpresa também na classe mais alta, dadas a violência e a perpetuação no poder (ver citação abaixo que poderia muito bem servir para os tempos atuais brasileiros). Ainda que este elemento histórico-político apareça mais para o fim do livro, mantém o perfil histórico presente no outro livro que li da autora.


Além disso, o romance anda por si ao longo dos anos e das personagens femininas que passam por poucas e boas. Na narrativa, há elementos que Esteban Trueba assume, como interessante contraponto ao que é narrado.

Ganhei "Tempus fugit" de uma vizinha, trata-se de um livro de crônicas de Rubem Alves. Apesar de gostar de crônicas, não gostei tanto deste livro, que traz algumas referências externas e elementos religiosos sobre o "tempo que voa".

"Garrincha: a flecha fulniô das Alagoas - mestiçagem, futebol arte, crônicas pioneiras", de Mário Lima, foi um dos poucos livros que comprei na Bienal do Livro de Alagoas do ano passado. Sob edição própria, mas impressão da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, o livro é dividido em partes que podem ser lidas em separado. Do que mais poderia me interessar, me incomodou que o autor assume a discussão da importância da "mestiçagem" para o futebol brasileiro, ainda que com algumas ponderações aqui e acolá.

Vale ressaltar que Garrincha é descendente dos índios fulniô, que fugiram do sertão pernambucano para o alagoano do fim do século XIX para o século XX. Algumas "justificativas" sobre o temperamento de Garrincha foram publicadas devido a isso - o que, em meu ver, pode ser muito complicado.

"Terra das Mulheres", de Charlotte Pergins Gilman, foi o livro discutido em janeiro pelo Leia Mulheres Maceió. O coletivo já havia discutido anos atrás "Papel de Parede Amarelo", da mesma autora, mas com forma de narrativa muito diferente.

Terra das Mulheres foi publicado em 1915 e conta a partir de uma narrador a chegada de três homens a um país isolado que só tem mulheres, com divisão social do trabalho e controle de natalidade. Sem homens há 2 mil anos por conta de eliminações sucessivas por guerras, elas passam a procriar por partenogênese aos 25 anos. Quase sem defeitos, a grande discussão é sobre a hierarquia religiosa a partir da divindade feminina de uma "Grande Mãe" e como a decisão de quem será mãe é feita, tanto no sentido de quem pode parir quanto de quem pode cuidar das crianças após 1 ano de idade.

A comparação com o "nosso" mundo é pesada, ao mesmo tempo que expõe uma das grandes críticas a modelos ideias societários, como o comunista, que é o de como ficariam as individualidades em meio a uma defesa tão forte do desenvolvimento coletivo.

Fica a curiosidade deixada ao final do livro da viagem de uma dessas mulheres aos Estados Unidos do início do século XX, obra publicada em seguida pela autora, mas ainda sem tradução no Brasil.