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sábado, 30 de março de 2024

2024.8 Mad Marx/ 2024.9 Para que sua monografia não vire um abacaxi!!!

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"Mad Marx" começa com Marx e Engels sendo trazidos de volta para uma era apocalíptica tecnológica para tentar colocar em prática um processo revolucionário com um diverso grupo já existente. Para a minha surpresa, é apenas a introdução do universo criado por Alexandre Esquitini e Jeferson Rocha, com promessa de continuidade.

Referência

ESQUITINI, A.; ROCHA, J. Mad Marx. Paulíniea: Mistifório, 2024.

Como o próprio título indica, "Para que sua monografia não vire um abacaxi!!!" traz uma série de dicas de Eveline Athayde para fazer qualquer tipo de monografia de conclusão de curso andar, destacando erros comuns e como não se deve criar alta expectativa ou, pior, tirar a própria responsabilidade daquilo que se pretende fazer.

Referência
ATHAYDE, E. Para que sua monografia não vire um abacaxi!!! São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2022.

sábado, 17 de junho de 2023

2023.6 Clube-empresa/ 2023.7 O pacto da branquitude

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Demorei tanto para ler "Clube-empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol" que neste tempo aprovaram a Lei da Sociedade Anônima do Futebol no Brasil, venderam algumas SAF de clubes brasileiros. Olha que conheço organizador e parte dos autores.

Porém, este tempo entre publicação (2020) e leitura (2023) me ajudou a perceber o quanto os capítulos do livro organizado por Irlan Simões seguem atuais. Vemos a difusão do capital de países como Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Abu Dhabi; a ramificação do modelo de multipropriedade de clubes; e alguns dos problemas vistos em outros países ocorrerem aqui no Brasil a partir da SAF.

Referência

SANTOS, Irlan Simões da Cruz. (Org.). Clube empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol. Rio de Janeiro: Corner, 2020.
Cida Bento destaca em "O pacto da branquitude" um elemento que é muito importante para nós, brancos: entender que há um privilégio histórico a partir da naturalização do branco como ser humano. Quer dizer, o branco se entende e é entendido não necessariamente como raça, pois vê as demais pessoas sempre como o "outro" frente ao "normal".

O conjunto de exemplos descritos no livro a partir da experiência de trabalho e de militância da autora revelam bastante do longo caminho a se percorrer quando se trata de raça na nossa sociedade, mas sempre com muita luta por negras e negros contra as desigualdades ainda mais desiguais no modo de produção capitalista.

Referência
BENTO, C. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.




sábado, 19 de novembro de 2022

2022.13 A verdadeira regra do impedimento/ 2022.14 Bom dia, Socorro/ 2022.15 México 70/ 2022.16 Estudos Culturais, EPC e o MBT/ 2022.17 A Cartomante

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"A verdadeira regra do impedimento" conta mais que "a história do futebol feminino cearense", como a própria autora me alertou no Twitter, trata-se de mais um importante relato sobre os processos de machismo contra as mulheres no Brasil, especialmente aquelas que tentavam jogar futebol nos anos 1970 e 1980 - momento de abertura oficial para a disputa.

Marcado por relatos buscados de fontes primárias de quem participou dos primeiros jogos oficiais no Ceará, o livro de Karine Nascimento se apresenta como elemento obrigatório para tratar do futebol de mulheres no Brasil.

Referência

NASCIMENTO, Karine. A verdadeira regra do impedimento: A história do futebol feminino cearense. 2. ed. Natal: Editora Primeiro Lugar, 2020.

"Bom dia, Socorro" chegou por indicação de alguns amigos. É uma história em quadrinhos engraçada sobre as pessoas mais velhas que usam o Whatsapp para espalhar bons dias, correntes e coisas do tipo. Há uma clara disputa amigável (?) nisso. Garantiu-me boas risadas.

Referência

MOREIRA, Paulo. Bom dia, Socorro. São Paulo: Conrad Editora, 2022.

"A mais bela Copa do Mundo contada por seus protagonistas". Só este subtítulo deve chamar a atenção de quem é fissurado em futebol. Método comum, tentar buscar relatos de fonte primária para tratar de fatos históricos do futebol, Downie busca preencher várias camadas, inclusive as polêmicas, a partir de uma colcha de falas.

Referência
DOWNIE, Andrew. México 70: A mais bela Copa do Mundo contada por seus protagonistas. Campinas: Editora Grande Área, 2022.


Obra fundamental para os estudos da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura. A releitura dos textos selecionados de Valério Cruz Brittos para este livro para a elaboração de uma resenha crítica, que sairá em breve, me trouxeram uma nova camada de citações e referências importantes. Algumas das quais eu não havia registrado em outras obras. Já disse que é fundamental?

Referência
BRITTOS, Valério Cruz. Estudos Culturais, Economia Política da comunicação e o Mercado Brasileiro de Televisão. Buenos Aires: Clacso, 2022.

Um dos contos que mais utilizamos em sala de aula numa casa com dois professores. O ritmo de escrita machadiano nos levando para uma direção, mas encaminhando para outro é aprimorado com os quadrinhos de Juliana Fiorese. Lamentei depois não ter comprado mais uns para sortear nas minhas turmas a cada semestre letivo.

Referência
ASSIS, Machado de; ilustração Juliana Fiorese. A Cartomante. João Pessoa: ed. da autora, 2022.


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

2021.16 Políticas de comunicação/ 2021.17 A seis años de la Ley Federal de Telecomunicaciones e Radiodifusión/ 2021.18 Doze contos peregrinos

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O livro Políticas de comunicação: Buscas teóricas e práticas traz não só um bom cenário de quando foi publicado, 2007, mas traz elementos teóricos importantes para analisar as políticas de comunicação não só no Brasil, mas também em outros países. Era uma das referências para a seleção de doutorado no PPGCom/UnB.

Referência

RAMOS, M. C.; SANTOS, S. dos. Políticas de comunicação: Buscas teóricas e práticas. São Paulo: Paulus, 2007.

Estudando o México há alguns anos, sentia falta de conteúdos atualizados sobre a Ley Federal de Telecomunicaciones y Radiodifusión. Ter um livro que faz críticas sobre a lei após determinado período me ajudou a entender melhor os limites da regulação após a formulação de um marco legal.

Referência
GÓMEZ, R. A seis años de la Ley Federal de Telecomunicaciones e Radiodifusión: Análisis y propuestas. Cidade do México: Tintable, 2020.

A leitura de Doze contos peregrinos deveria ter sido mais rápida do que foi. Mas, em meio à escrita da tese, acabou ficando para raros momentos de maior tranquilidade em leitura e escrita. Já conhecia "Só vim telefonar" de leituras do ano passado, conto bem forte que se torna ainda mais pesado pela sequência de várias situações tristes e inesperadas de outros contos que acompanham este livro de Gabriel García Márquez.
Referência
MÁRQUEZ, G. G. Doze contos peregrinos. Rio de Janeiro: Record, 2018.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

7 anos de UFAL!

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A volta após dois anos de afastamento de um jeito inimaginado: pandemia, aulas remotas e discursos oficiais de "saldo extremamente positivo" e "mesmo sem dinheiro, professor vai dar aula até embaixo da sombra da mangueira". Eu que, ainda tendo tese a terminar, tinha me preparado psicologicamente para não me estressar nas atividades cotidianas... Ledo engano.

Primeiro que levo a sério praticamente tudo na minha vida e tenho parâmetros morais e éticos para tratar das coisas, ainda mais na UFAL. Todas as dificuldades, desafios e conquistas (mais dos dois primeiros) da graduação me fizeram definir parâmetros de trabalho, se um dia voltasse. Em 19 de agosto de 2014, esse dia chegou. De lá para cá, não faltou trabalho para eu querer fazer, não faltou defesa da UFAL e especialmente da Unidade Educacional Santana do Ipanema que, como digo à turma do 1º período, me escolheu e me acolheu enquanto docente.

É difícil dar aula em dois cursos (Economia e Contabilidade) que não são os meus de formação? Sim! Mas eu dou aula na instituição que estudei e sonhei voltar como docente. Isso é o que importa e é com esse orgulho e essa responsabilidade, como disse no dia da posse, que sigo tentando trilhar meus caminhos por aqui.

terça-feira, 20 de abril de 2021

2021.7 Mercado Brasileiro de Televisão

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Reli "Mercado Brasileiro de Televisão", de César Bolaño, para a série do podcast Jogando Dados sobre os principais livros da Economia Política da Comunicação no Brasil. MBT é considerado o marco da articulação estrutural e teórico-metodológica do subcampo no país. Mescla uma discussão teórico-metodológica muito importante com descrição e discussão sobre o desenvolvimento da TV por aqui.


A minha primeira leitura, ainda da edição de 1988, foi comentada por aqui - link a seguir. A segunda edição, atualizada, traz ainda mais elementos interessantes sobre o progresso tecnológico na produção e distribuição de audiovisual. Dialética terrestre: Mercado Brasileiro de Televisão - César Bolaño (terrainteressados.blogspot.com)

Referência
BOLAÑO, César. Mercado Brasileiro de Televisão. 3.ed. São Cristóvão: Portal EPTIC, 2016.



 

domingo, 2 de agosto de 2020

2020. 19 Televisão

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Voltando no final de julho às leituras para a tese, tirei da fila "Televisão - tecnologias e forma cultural", clássico dos Estudos Culturais britânicos, escrito no início da década de 1970. Apesar da distância temporal e da especificidade de estudo para um meio de comunicação, com análise específica a partir dos modelos estadunidense e britânico, o livro levanta questões muito importantes sobre a apropriação mercadológicas de "novas tecnologias", tema que sempre volta na pesquisa em Comunicação. Além disso, propõe uma interessante metodologia para estudar o fluxo televisivo.

Referência
WILLIAMS, Raymond. Televisão – tecnologias e forma cultural. São Paulo: Boitempo; Belo Horizonte: PUCMinas, 2016.

domingo, 24 de maio de 2020

2020.16 Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol

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Enquanto pesquisador de futebol, era um problema não ter lido antes "Entradas e bandeiras" do Gilmar Mascarenhas. O saudoso pesquisador publicou o livro em 2014 apontando a partir da geografia "a conquista do Brasil pelo futebol".

Meu arquivo com fichamento de citações cresceu bastante, pois ele trata de diferentes tópicos que me interessam na pesquisa: a normatização do jogo a partir da Inglaterra, já apontando ali um "futebol de espetáculo"; a entrada e expansão que é diferente em diferentes lugares no Brasil; as mudanças que a mercantilização existe, com destaque para os efeitos da metropolização do país, com clubes periféricos sendo cada vez mais extintos; e, por fim, o modelo neoliberal que afasta a torcida mais efusiva, encarecendo o acesso ao jogo.

Em suma, vai ser o livro que passarei a indicar a qualquer pesquisador que queira estudar o futebol, pois instiga diferentes possibilidades de pesquisa. Ah, e o melhor, está disponível de forma gratuita para ser baixado no site da Eduerj, na Biblioteca da Quarenta: https://www.eduerj.com/eng/?product=entradas-e-bandeiras-a-conquista-do-brasil-pelo-futebol-2

MASCARENHAS, Gilmar. Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol. Rio de Janeiro: Eduerj, 2014.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Flamengo X Globo: processo aberto pelo clube acentua problemas na transmissão do Brasileirão

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Após a recusa em vender os direitos de transmissão de suas partidas no #Carioca, o Flamengo acirra a disputa com a Globo, passando para a justiça o contrato do Campeonato Brasileiro de Futebol. Como não vi o processo, comentarei o que é possível a partir do que foi publicado por repórteres esportivos.

A base dos problemas apontados pelo Flamengo está no contrato que começou em 2019 e vai até 2024. É o primeiro para o Brasileiro que divide o pagamento de cotas por critérios: 40% igualitários, 30% jogos transmitidos e 30% classificação (50-25-25 para a Turner). Mas só para as TVs, não inclui o pay-per-view (ppv).

Os contratos foram assinados sob sigilo. Então vamos para as informações de Rodrigo Mattos e Leo Burla, no UOL.

1. Mais jogos no ppv

Vejo como movimento natural da Globo botar mais jogos de Corinthians e Flamengo no ppv por 2 motivos: é o valor flexível, com a empresa podendo lucrar mais; e é onde, na mudança da divisão dos valores pagos por mídia, passou a pagar mais.

Até 2018, o peso da TV aberta era muito maior, assim, fazia sentido para a Globo distribuir os jogos das duas equipes nesta mídia. A mudança no contrato em vigor considera a nova divisão das cotas (que mantém o benefício a alguns clubes a partir do ppv) e a nova concorrência.

2. Prejudicar a Turner

Movimento super natural da Globo, que já fazia algo semelhante quando sub-licenciava os direitos para Record e Band. A escolha dos jogos na TV aberta sempre foi da detentora dos direitos, na lógica do “quem paga a festa define o horário”, problema não exclusivo do Brasil num momento em que os mercados europeus querem audiência da China, por exemplo.

O Athletico soube compensar a saída do ppv nisso. Acreditando que ganharia menos nesta plataforma do que mereceria, o clube resolveu não assinar. Isso forçou a Globo a exibir mais jogos do clube de forma gratuita - justificando investimento nesta mídia e a briga contra a Turner (no jogo contra outro clube que assinou com ela).

Mas concordo com a reclamação em se incluir jogos transmitidos pela Turner na TV fechada para o cálculo da cota por exibição. Não faz sentido porque os contratos são diferentes. Os clubes da Turner, por exemplo, resolveram dividir igualitariamente o valor da classificação em 2019 – menos o Fortaleza, prejudicado por um contrato assinado quando ainda estava na Série C e que definia valor fixo (na prática, R$ 14 milhões a menos que os demais na TV fechada).

3. Outros pontos

Outros elementos do que consegui ver do Pedro Torre no Instagram:

O clube fala que o pagamento seria num fluxo mensal. Do que li para o meu livro, o pagamento seria em partes (início, 40%; meio do ano, provisório dos 30% de exibição; e final do campeonato). Mas, volto a dizer, não tive acesso aos contratos. Estou relatando o que li durante o processo de negociação e as notícias do ano passado informando que os clubes estavam com a corda no pescoço, com balanços parciais no vermelho, justamente pela mudança.

Outro ponto novo relatado por Torre é que a Globo passou a descontar despesas dos custos de viagens no valor das cotas, o que não ocorria antes. O Flamengo reclama disso, mas admite que o ponto não estava no novo contrato. Numa proporção, daria R$ 1,5 milhão a menos no ano.

É importante ressaltar, da mesma forma que Bahia, Athletico e Palmeiras ano passado, a disputa é puramente individual. O Flamengo quer ganhar mais porque acha que merece e não está preocupado com os demais, não à toa o processo foi aberto só por ele – nem o Corinthians, de situação semelhante, entrou.

Ratifico meu posicionamento que as "falhas" que eu concordo no que foi apontado é justamente pela falta de um acordo coletivo – o que não deve ocorrer tão cedo. Além disso, os clubes repassavam TUDO para a Globo Esportes sobre o Brasileiro. A empresa é que se desfez de algumas coisas, caso da negociação por placas, transmissão internacional e, pelo visto, a estrutura de viagens.

Foi necessário o Flamengo, assim como estavam Palmeiras e Athletico, ser menos dependente dos recursos do broadcasting para tentar confrontar o grupo comunicacional, que, desde a gestão de Manuel Pinto e o aumento da concorrência, resolveu mudar o discurso sobre equilíbrio.

Por fim, registre-se que a divisão não se dá pelo broadcasting/espaços de mídia, como na Premier League ou na Copa do Brasil, com a liga/CBF buscando as receitas e repassando os valores a partir de determinado planejamento. Logo, problemas hão de aparecer (também na Turner).

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

5 anos!

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Há 5 anos eu tomava posse como professor da Ufal, lembro da emoção, de até embargar a voz ao falar e recordar de que quando colei grau às pressas porque precisava me matricular no mestrado lá no Rio Grande do Sul tinha o compromisso de um dia voltar. Foi bem antes que eu imaginava, no primeiro concurso para efetivo e após percalços que jamais imaginei que teria após o título de mestre. Sábado mesmo comentei isso para um colega, após ouvir mais uma vez que sou muito novo e nunca se sabe de quem se pode precisar depois.

Eu aprendi de uma maneira bem difícil, lembro de cada pessoa que se preocupava - e também de quem deu só um "até logo" -, mas optei por trazer sempre a experiência dessas dificuldades na tentativa de manter a coerência com o que eu acredito que deveria ser a prática profissional enquanto servidor público de uma universidade federal e com autonomia e independência quando fosse necessário para atuar nos espaço acadêmico (sala de aula, projetos de pesquisa e extensão, orientações de TCC, coordenação acadêmica e atividades de redes de pesquisa, agora como presidente da Ulepicc-Brasil).

Se nunca na Ufal foi fácil, da graduação em que tive que correr para conseguir ter a formação que imaginava ser adequada, indo para outros cursos e num núcleo de estudos formado por estudantes (que orgulhosamente desde o ano passado virou grupo de pesquisa, o qual co-lidero); ou como professor e (dois anos) como gestor de uma unidade educacional descentralizada do Campus Sertão ainda sem teto próprio, também nunca faltou vontade de buscar fazer o melhor, de ficar alegre a cada resultado positivo após longas e extenuantes batalhas. Afinal, e isso não é específico da instituição em que trabalho e já não era em outros contextos políticos, o espaço acadêmico/universitário é de muito desgaste psicológico para quem tenta percorrer caminhos mais difíceis, ainda que mais produtivos.

Estou afastado para qualificação de doutorado desde abril, após um ano trabalhando numa cidade do interior de Alagoas ao mesmo tempo que estudava na capital federal. Devo voltar em 2021, mas tenho muito orgulho de ser professor da Universidade Federal de Alagoas, ainda mais da Unidade Educacional Santana do Ipanema, em que tenho a noção de apesar de dar aula para outros cursos (Economia e Contabilidade) e das grandes dificuldades que temos na "periferia da periferia", o meu papel social é amplificado. Cada conquista em projetos aprovados e de nossxs estudantes carrega histórias talvez com ainda mais dificuldades que a minha. Poder contribuir com estudantes da Ufal, mesmo que um pouco, é muito especial para quem já esteve no lugar de estudante de graduação.

Até por isso, sempre briguei muito dentro da instituição, fosse próximo ou não da reitoria com mandato vigente, estudante ou professor, em greves ou atos e manifestações em campus ou nas ruas. A Universidade Federal de Alagoas é uma parte muito importante na minha vida e tento desde o dia 19 de agosto de 2014 ter o orgulho de viver o sonho estabelecido em 6/1/2011, mas com a noção do compromisso que isso me caberia. Que a universidade pública possa cumprir o seu papel com a melhor qualidade e as melhores condições possíveis, que nunca saia de perto da sociedade em seu entorno, especialmente para quem mais precisa!

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

[LIC] Uso e apropriação de mídias sociais 2

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A atividade a seguir visa repor as aulas dos dias 03 e 04/10. O exercício se junta à atividade anterior no Moodle e que será comentada e continuada na reta final do semestre da disciplina Lógica, Informática e Comunicação, que terminará com apresentações de Seminários em grupo sobre uso e apropriação de sites de redes sociais. A seguir, um vídeo e um texto sobre o assunto. Após vê-los, comentem no espaço devido, sem copiar e colar algo da internet, nem tampouco copiar o comentário dx colega.




Leia o texto que está nos arquivos do grupo da turma no Facebook (TIBURI, Marcia. Como conversar com um fascista. São Paulo: Record, 2015).

A partir do filme e do arquivo, escolha o trecho que mais te chamou atenção no texto da Marcia Tiburi (copiando e colando, entre aspas e com citação correta) e faça um comentário relacionando com os casos do filme e também do que estamos discutimos em sala de aula.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sobre frustração, orgulho e responsabilidade

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Com fortes dores nas costas, ontem eu seguia carregando caixas, bandeiras e um tanto de coisas nos atos que o Comando Nacional de Greve do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior) fazia no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e no Ministério da Educação. Enquanto isso, em Maceió, após e-mail direcionado por um tal de Fórum dos Diretores, a assembleia definia a saída da greve, mesmo sem qualquer conquista e ainda que naquele exato momento estivéssemos em Brasília conseguindo reuniões com os dois ministérios pela militância de docentes e estudantes.

Óbvio que, ainda que inevitável, o sentimento de frustração é enorme por estar representando algo que seguia um rumo contrário ao que defendemos enquanto universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Indo mais na direção do gerenciamento empresarial, do patrão mandando e dxs empregadxs atendendo, mesmo antes de aprovação de Organizações Sociais. Mais que as dores no corpo, doía a alma ao vivenciar tamanha contradição. Estando de corpo aqui em Brasília e via whatsapp acompanhando as coisas em Maceió.

Mas tem também o sentimento de orgulho por mim e pelxs bravxs camaradas que trocamos a tal da "férias extensas remuneradas" por trabalhar bem mais em prol da universidade do que se estivéssemos sem greve. De receber acusações altamente levianas via mídias sociais - caso da que dizia, como foi explicitado em assembleia, que professor grevista não produzia pesquisa (acho que eu não escrevi três artigos, fui a dois congressos, um internacional, e sou um dos coordenadores de dossiê de uma revista B1 e o meu nome deve ser diferente desse do Lattes...). Como digo nas minhas aulas de Lógica, mais fácil as falácias opressivas que a troca de argumentos, especialmente quando não os têm.

Orgulho de quem ficou com a imunidade baixa e pegou várias doenças, de quem teve que se afastar por um período porque tinha que conciliar com outras atividades de família e de pesquisa - vejam só... -, de quem defende a universidade da privatização e das más condições de trabalho que afetam professorxs, técnicxs e estudantes. Eu mesmo passei por uma situação bem complicada de saúde em junho, em que corpo e mente chegaram muito perto de dar TILT, e só entrei no mês seguinte no Comando Local de Greve, mesmo sem poder e não estando na assembleia que deliberou a greve, mas simplesmente porque fazia parte da minha responsabilidade.

Mas não é só na greve que defendo uma sociedade justa, livre e igualitária, para além de uma universidade sob os princípios acima narrados. Foi assim no meu tempo de graduação, dentro ou não formalmente do movimento estudantil, foi assim no mestrado ou agora neste 1 ano e 1 mês enquanto professor. No ensino, na pesquisa, na extensão, na gestão ou na militância, a luta nunca parou e não para. Não vai ser a saída formal da greve que vai me tirar da luta cotidiana, este é apenas o melhor instrumento - estamos esperando um melhor há 3 décadas.

A luta é todo dia, os ataques são rotineiros, mas do lado de cá sempre haverá quem está pronto a não se submeter a poderes hierárquicos em prol da defesa de princípios basilares para a educação e para a sociedade!

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Diário de greve - Dia 4

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O final de semana foi de reuniões durante quase todo o sábado, com uma hora para o almoço e algumas horas para que uma comissão fechasse o comunicado com as novas estratégias para a negociação com o governo. De resto, das 10h às 0h10, reuniões, debates e propostas sendo apresentadas, discutidas e deliberadas.

Por isso que chego a me irritar quando vejo que a cobrança sobre a greve vai sempre nas postagens do sindicato nacional, das seções sindicais e perfis de professores que constroem o movimento paredista. "Ah, mas vocês estão ganhando salário mesmo sem aulas". "Ah, mas fazer greve e gerar férias é bom". "Ah, mas isso prejudica só os alunos", etc.

A minha experiência é de trabalhar por conta da greve mais que se estivesse na rotina de aula, creio que esse é o ritmo dxs camaradas que estão nos comandos locais e no nacional. Sem falar que tem questões de pesquisa que não param, então tive artigos, articulações acadêmicas e eventos a fazer/participar. Além do enfraquecimento da resistência interna, que derruba de vez em quando eu e outrxs colegas com problemas de saúde.

Pelo que vi e ouvi dxs camaradas que sairão do Comando Nacional, voltando à sua base, percebe-se o cansaço de todxs que constroem a greve, mas a vontade de conseguir vitórias, ou evitar derrotas - dado o caminho de governo e do Legislativo em 2015. Para além disso, em todas as falas, há a percepção que essa é apenas uma luta numa guerra muito maior, que não parará agora, tendo em vista a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária, independente de onde se milita (em termos de outros movimentos sociais e partidos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Diário de greve - Dia 1

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Alguém pode estar se perguntando: diário de greve após 100 dias dela? A novidade é que este é o primeiro dia enquanto delegado da seção sindical que sou associado. Ainda que aqui não vá, nem deva, colocar informações cruciais do Comando Nacional de Greve Docente, minha ideia é relatar as experiências deste professor recente, um ano de universidade federal, num espaço de importante construção política num momento extremamente delicado para os direitos sociais.

Cheguei na manhã desta sexta em Brasília. Apesar de construir o Comando Local de Greve em Alagoas desde julho, e ter participado de uma marcha em Brasília naquele mês e de ser o delegado da seção local no Conselho Nacional do Andes-SN (CONAD), é importante destacar o meu lugar de fala.

Fui de Diretório Acadêmico e observei o movimento estudantil em diferentes esferas. Apesar de anão ter seguido para além daquele ano de gestão, a escolha político-ideológica não mudou e isso acabou sendo refletido nas opções de pesquisa, caminho que sigo desde então com a Economia Política da Comunicação.

Greve nunca foi sinônimo de férias, mesmo quando eu via enquanto outra categoria - acabei pegando greve apenas no segundo ano do técnico subsequente no CEFET; nenhuma em 5 anos de UFAL. Lutar pelos direitos não é problema; problema para mim é não lutar, especialmente quando tudo piora.

Professor de UF desde agosto de 2014, sabia que se ocorresse um movimento paredista, eu teria que ajudar a construir, mais ainda ai me deparar com uma unidade educacional em funcionamento em prédio alugado há 5 anos. O mês para entrar foi por conta das atividades em Santana do Ipanema, onde leciono, e por conta do ápice de uma crise de estresse em junho. Ainda assim, mesmo quase não "podendo", entrei no comando em julho e passei a trabalhar muito mais que se tivesse no cotidiano de aulas sem greve.

Mas isso não me fez parar a pesquisa. Junho e julho são os meses de deadlines de importantes eventos acadêmicos da Comunicação no ano. Dei conta de tudo o que foi possível, indo aos eventos e praticamente me mudando de casa para diferentes cidades desde agosto. Confesso que não consigo entender que pesquisa possa parar, independente de área.

DIA 1
Dito isto, cheguei direto do aeroporto ao ANDES-SN, em meio a uma reunião de avaliação de conjuntura, que se seguiu à discussão sobre a produção do comunicado que avalia a semana de atividades e os encaminhamentos a serem levados à base.

Como todo espaço político, especialmente de perspectiva de construção horizontal, há abertura para o contraditório e discussões. O processo está em andamento e isso pode gerar avaliações e perspectivas diferentes. O Comunicado poderá ser visto de hoje para amanhã no site do ANDES-SN e traz elementos diferentes para o debate.

Curioso como a comunicação se torna importante, é destacada como fundamental em movimento sindical há décadas e a discussão tanto de produção quanto de contexto de mercado ainda não andou. Enfim...

O final de semana deverá ser marcado pela análise da conjuntura e ver possibilidades ainda mais reais dadas as dificuldades de mais de 100 dias de greve e da tentativa do governo de separar, no que tange à perspectiva salarial, as entidades representativas dos servidores públicos federais; para além de pouco caminhar nas pautas específicas.

terça-feira, 21 de abril de 2015

O Homem que virou suco

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Numa experiência nova nesta recente carreira acadêmica, estou numa disciplina com 40h presenciais e 20h para outras atividades. Como são 1h40 semanais - ao contrários das 5h da outra disciplina -, e a disciplina é mais voltada para análise teórica, ao menos para início, os audiovisuais ficam como "dever de casa".

Dentre as opções do primeiro trecho dela, utilizo como base o livro "Economia Política: uma introdução crítica" (PAULO NETTO; BRAZ, 2007) - que apresentei rápidos comentários sobre neste blog. Além de ser pontual e creio que mais didático para a agilidade necessária frente aos objetivos que propus para a disciplina, ele tem a vantagem de sugerir uma série de livros e audiovisuais que de alguma forma tocam no que foi debatido no capítulo.

"A acumulação capitalista e o movimento do capital" explica, a partir das bases marxistas, a reprodução ampliada, o movimento do capital, as tendências de concentração e centralização por conta da necessidade de acumulação de capital - o que mais me interessava no capítulo -, a acumulação capitalista e os trabalhadores e frente à "questão social". Tem explicitações sobre o processo de rotação do capital e explicita, novamente, como a exploração da mão de obra é necessária para se produzir valor (mair-valor/mais-valia), além de explicar o porquê da massa de desempregados e da existência da pauperização sob o capitalismo.

Dentre os filmes sugeridos está "O homem que virou suco", dirigido por João Batista de Andrade, exibido em 1980 e restaurado para exibição em 2010. Segundo o diretor, o filme foi pensado na década anterior, em meio aos piores momentos da ditadura militar no Brasil, gerando um cordel que serviria como roteiro do longa que foi retomado e produzido em 1979, ano da explosão das greves especialmente no ABC Paulista. De visão pessimista e apocalíptica, transformou-se num final mais suave.

Apropriação da força de trabalho
Das definições clássicas marxistas, o modo de produção ocorre com a aplicação do dinheiro do burguês para adquirir meios de produção (máquinas, alugueis, etc.) e a força de trabalho para produzir uma mercadoria que, gerando a necessidade humana, ocorrerá enquanto tal durante a circulação, refletindo as relações sociais de produção que a formam porque seu valor é definido pela expropriação do trabalho humano - não sendo definido apenas enquanto lucro, pois a importância é a mais-valia, única coisa que geraria valor neste processo.

Da tradicional fórmula D-M-D' já estaria engendrada a reprodução, pois o capital precisa seguir circulando, com a aplicação da mais-valia em capital variável e fixo, numa proporção maior do primeiro, pois quanto melhores as máquinas, aumenta-se a mais-valia relativa. Quer dizer, com a melhoria da estrutura de produção, um trabalhador gastará menos tempo para produzir um produto, produzindo mais a partir da venda da sua força de trabalho no mesmo tempo de antes.


O filme
Revisão feita, o filme trata da exploração do trabalho a partir da figura de Deraldo, imigrante paraibano confundido com um quase sósia seu, só que cearense, que matou o patrão estadunidense no dia que receberia o prêmio de "operário padrão". O paraibano estava longe de ser operário-padrão, era poeta, repentista e que só pensava em produzir sua arte para vender na rua, pois trabalhar não estava na conta - discussão sobre trabalho intelectual/cultural não aparece aqui...

Enquanto sofre por conta da dúvida, que se acelera por Deraldo ainda não ter nenhum documento na "cidade grande" (São Paulo), ele passa a ter de vender sua única mercadoria, a força de trabalho, para poder sobreviver. Trabalha em obra, em casa de família rica, como carregador na feira, em obra do metrô e sai de cada um deles se irritando com o mau tratamento seja dos patrões ou dos representantes deles (caso do chefe de obra). Mesmo quando vai se tratar numa clínica beneficente, há a exploração da precariedade da vida das pessoas para deixar boa a imagem de uma condessa portuguesa - o que pode ser usado como exemplo de se ter pessoas em estado de pauperização.

Há a exposição das contradições entre as classes e a dificuldade enfrentada, especialmente por quem é imigrante, para conseguir um emprego qualificado quando não se tem formação adequada e, repito, a única coisa disponível é a mão de obra para qualquer tipo de trabalho.

Claro que aqui se tem uma pessoa com nenhum pingo de paciência e sem nenhum dependente (filho/família) que o faça ter a necessidade de um pouco mais de calma para lidar com a exploração e o assédio moral do dia a dia. Ele até dormiu na rua, mas a situação poderia ser diferente quando se tem mulher e filhos...

Vivia-se um momento de início de transição após os limites impostos pelos militares nos anos 1970, com o desenhar de uma sociedade que poderia lutar por seus direitos - greves e a lei da Anista, ainda que depende para o lado de lá, servindo como contextualização.

Deraldo explicitava a impaciência quanto às situações de opressão, mas tinha como problema a individualidade, não tentando se juntar com os colegas de trabalho para propor melhores condições de vida - é demitido da obra porque não tinha equipamentos de proteção, pois "não era besta de pagar" por algo que o chefe deveria ter dado, ao reclamar disse frente ao dono do imóvel, gera atritos com a chefia.

Especialmente no caso dos imigrantes, sempre há quem acredite no sonho da cidade grande, pois, como diz um personagem, é melhor pedir esmola em São Paulo do que na própria terra. Tendo um grande número de pessoas precisando de emprego, fica bem mais fácil apostar num ramo específico quando este tem período de crescimento e, principalmente, negociar para baixo questões ligadas a pagamento de salários e o cumprimento de direitos trabalhistas.

A importância da coletividade aparece no trecho final e ainda assim para denunciar os problemas desse tipo de união e como os patrões tentam despistar qualquer ameaça com demissões dos líderes dos protestos tendo em vista melhorar a produção e ganhar mais, fazendo o que fosse necessário para isso.

O patrão morto no início ser estrangeiro demonstra também a presença de empresários de fora do país nos negócios locais, prometendo ajudar a desenvolver o Brasil propondo novas formas de opressão aos trabalhadores de indústrias locais, cuja mão de obra era mais barata que a de seus países de origem, movimento que se seguirá nas décadas seguintes, como prova a fuga de indústrias deste país para outros lugares.

Livro e filme
Apesar do exagero ao explicitar os efeitos do que ocorre, acredito que o filme serve como um bom exemplo ficcional para explicar a lógica capitalista tendo em vista o confronto que a marca: operário X patrão, perpassando, portanto, não só o capítulo sugerido, mas o anterior (relativo à exploração do trabalho) e outros, caso do último, que trata do capitalismo contemporâneo (presença do capital estrangeiro incluída).

Confesso que não gostei tanto do desenvolvimento do filme, que me pareceu poderia ter evoluído mais em alguns momentos de contradições, o que acabou por gerar um personagem mais caricato que só no tempo final é que se normaliza em meio à loucura de seu sósia, este que acabou tendo seu cérebro derretido pelo que ocorreu no seu ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS
PAULO NETTO, José; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2007. - (Biblioteca básica de serviço social; v. 1).

O homem que virou suco. Brasil. 1980. Direção: João Batista de Andrade. Duração: 94 min.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Do caixa à banca

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Último dia de trabalho em 2014, hora de utilizar este cano de escape que eu chamo de Dialética Terrestre para refletir sobre as questões do labor deste ano. Período em que vivi os opostos. Sair do "fundo de um poço sem fundo" para o extremo disso, alcançando um sonho que eu só imaginava realizar em médio prazo. Chegou a hora de expurgar os males, deixá-los por aqui e pensar em construir as melhores coisas possíveis, ainda que com as dificuldades "tradicionais" que aparecerão.

Contei a algumas pessoas o que estive fazendo antes dos concursos públicos que fui aprovado na UFAL (um para substituto e outro para efetivo), realizados em duas semanas, do final de março ao início de abril. Outras pessoas ficaram na curiosidade. Uma chegou a me perguntar. Mas era difícil contar. Se sempre coloquei na minha cabeça que não era motivo de vergonha, também não era algo para me orgulhar, longe disso.

Comecei 2014 com os resultados de decisões tomadas em novembro do ano anterior. Naquele momento, tinha deixado tudo o que havia de pendência acadêmica acertada - incluindo a revisão e o fechamento de um ebook - porque eu não sabia o que faria. Em meio à total falta de opções, agravada com um resultado de seleção de doutorado que me frustrou enormemente, a melhor delas era, literalmente, largar tudo, algo que já tinha deixado os meus pais de sobreaviso - na época, o Baleia morava comigo. O pragmatismo me manteve vivo. Tinha cursos a terminar em dezembro e uma conta a pagar que não deixaria para eles.

A morte veio de uma maneira diferente: largar tudo o que eu gostava de fazer. Isso passou por esquecer que era jornalista e que era mestre, até mesmo porque naquele momento não teve serventia alguma. Avisei a quem mantinha algum contato de trabalho (voluntário) ligado à pesquisa. Achava que não voltaria, ainda que eu não tenha deixado o tamanho das dificuldades de maneira clara.

Em dezembro até apareceu uma seleção para faculdade particular, cujo resultado não houve e que deixou só boatos percorrerem a minha cabeça - o mais forte deles é que eu e a amiga que fizemos a seleção seríamos muito novos para dar aula.

Comecei janeiro da mesma forma que terminei a última semana de novembro. Acordava 4h15, porque tinha que chegar ao trabalho antes das 6h, saía uma hora para almoçar na casa da minha tia - cheguei até a ficar com alguma cor no rosto por conta do sol do caminho - e batia o ponto ao final às 14h. Dias de maior movimentação, podia até ficar sem almoçar, pegando direto.

Para explicar melhor, uma situação. Eu lá embalando compras alheias e comento com a cliente que tinha morado por 2 anos no Rio Grande do Sul...

- Mas o que você foi fazer lá, tão distante?

- Fiz o meu mestrado lá?

- Você é mestre?

- Sim, sou jornalista e mestre em Comunicação?

- O que você está fazendo trabalhando aqui. Eu sou especialista, você tem uma formação melhor que a minha...

Era isso. Um jornalista e mestre em comunicação trabalhando na "frente de loja" de um supermercado, com a função de caixa assinada na carteira, mas que na verdade era "suplente de caixa", já que o cargo é preconceituosamente quase que exclusivo para mulheres; tendo que fazer tudo. Embalar, recolocar os produtos na loja, carregar caixas e compras...

Era o único lugar que nunca tinha pensado em trabalhar. O motivo é simples: a precarização da profissão ao extremo. Ou, como costumava e costumo dizer, a relação é de semi-escravidão. Ao menos terei o que dizer caso alguém no futuro afirmar para mim que "ser revolucionário de classe média é fácil". A experiência me marcou muito e foi muito diferente de tudo o que fiz antes.

Vivi a luta de classes como membro da classe oprimida, dos trabalhadores em maior número no mercado hoje, os de setor de serviços, que, no nosso caso, não tinham hora certa para almoçar, não tinham dia certo para folgar e que trabalham domingo sim, domingo não, sem qualquer certeza de ficar no emprego porque haviam relações pessoais que poderiam te garantir mais que o seu trabalho. Tudo bem, eu estava "seguro" porque o meu tio era o gerente. Por isso até que arranjei algum trabalho que me pagasse ao menos um salário mínimo, pois não tinha experiência nenhuma com aquilo. Trabalhar no comércio não rolava porque eu não sei vender nada - prova maior disso é que por mais que eu tenha produzido/estudado/respeitado xs demais não tinha conseguido nada no que eu era formado.

Assédio moral; assédio sexual; ver instigados o confronto entre pessoas de mesmo nível hierárquico; o cara que ganha um pouco mais e oprime mais até do que o dono (na estratégia do capital de criar cisões de classe); desvio de função; pessoas de mesma classe que tratavam mal os seus semelhantes por entenderem estar numa situação de empoderamento (supostamente eles pagavam os nossos salários), ... Ouvir coisas como "vocês têm que vir maquiadas, religião é outra coisa", mas tudo é mercadoria; ou "você é casada? Não importa. Não quer ir ao cinema?"; ou "você trabalha para o supermercado, não tem isso de desvio de função". E tantos e tantos outros exemplos que me deixaram em agonia monstruosa desde os primeiros dias. Mas, conta zerada, eu dependia daquilo para sobreviver, literalmente.

O auge foi no domingo em que teve Sport X CSA, quarta de final do Nordestão, e Palmeiras X Corinthians pelo Paulista. Os dois principais confrontos da minha vida. E eu lá trabalhando. Até a televisão que mostrava o jogo local teve que ser desligada porque o dono poderia achar ruim. Livros? Um lido aos trancos e barrancos em cinco meses. Enquanto eu estava acostumado a, pelo menos, dois por mês.

Ah, por indicação, consegui uma "chance" na principal TV do Estado. Trabalhar de graça até aparecer uma vaguinha. Era a fresta numa janela com grades que apareceu. Saía direto do supermercado para lá. Morto de cansado, sem qualquer contato, sem qualquer disposição de fazer o que muitxs fazem para garantir seu lugarzinho como jornalista; vendo o quanto o ambiente televisivo é extremamente (e babacamente) competitivo. Troquei o horário no final de janeiro, dava para eu cochilar em casa, mas retornava pelas 22h30 para sair com o Baleia, comer algo rápido e despencar na cama.

Aprendi muito sobre as rotinas de produção da TV. Adorei aprender a editar, especialmente porque minimamente me vi trabalhando com o futebol - o que sempre me motivou a ser jornalista, desde os 8 anos. A matéria do dia seguinte, que nem sempre tinha como ver, tinha sido eu a editar. Aprendi bastante com um profissional que era exceção à regra dos profissionais da área. Mas sabia desde o início que não tinha chances. Ali fui um suplente de estagiário.

Em março me lembraram dos concursos da UFAL. Tinha olhado antes, mas não tinha vaga em Comunicação. Apareceram, uma para substituto em Telejornalismo em Maceió e uma para efetivo para o tronco inicial em Penedo. Vi os editais quando faltavam três e quatro dias para o limite. Quinze dias para as provas. Fiz e decidi mudar tudo.

Se era para viver daquele jeito era melhor não viver. Encararia as cobranças que viriam caso fosse morar com os meus pais - cobranças que vieram indiretamente em outubro do ano anterior e se agregaram ao ser orgulhoso que não queria depender mais deles após cinco anos sem isso, os dois anteriores totalmente sem ajuda financeira -; os comentários de uma família extremamente conservadora de que "ele estudou tanto...", sem querer entender o porquê disso, em que talvez fosse mais importante eu ter dado umx netx à minha mãe...

Falei com o tio que sairia, não tinha mais paciência nem mesmo para os dois meses que faltavam para ter direito ao seguro-desemprego (ideia inicial). Ele ligou preocupado para a minha tia para saber o que eu iria fazer da vida. Quando souberam, xs colegas de trabalho achavam que eu era maluco. Por mais que eu conversasse com uns ou outrx mostrando a importância de lutarmos pelos nossos direitos, o medo prevalecia entre elxs, o "eu bem que queria fazer isso, mas dependo". Na TV foi muito mais fácil, não pude fazer nada para me destacar minimamente. Foi o único espaço em que trabalhei que tenho a noção que não fui eu, o cara que geralmente se dedica 120%, 200% às coisas.

CONCURSOS
Estudei muito pouco para os concursos. No de substituto, nenhum dos cinco pontos para a prova era para telejornalismo, por mais que a vaga fosse. Na prova teórica, as TICs nas assessorias de comunicação. Sem paciência para fazer provas, desacostumado, com um tema longe de mim, entreguei rápido. Já seria muito se passasse dali. Passei com sete, em terceiro, empatado com o quarto, e bem distante do primeiro.

Mas a didática foi sobre a convergência midiática, um dos temas principais do CEPOS (o do projeto com a Fundação Ford), e poderia acrescer os meus estudos (de curioso) sobre mídias sociais. Quando soube, decidi que ia me divertir dando aula. Foi o que fiz no dia seguinte. Veio o resultado e eu consegui na didática ganhar uma posição. Estava plenamente satisfeito. No dia seguinte, numa aula, ganhei elogios e surgiram possibilidades de reaproveitamento do concurso.

Só que os problemas apareceram do nada. Saí mais cedo do supermercado na terça porque a prova era à tarde. Na quarta tinha avisado que iria faltar por conta de uma disciplina que cursava no doutorado em Linguística. O cara acima chiou e quando cheguei na quinta de manhã soube que "não precisava" ir mais trabalhar, mesmo tendo sido eu a definir o sábado como limite, até para facilitar a contratação de outra pessoa. Fiquei MUITO irritado. Ali não havia uma mínima coisa a falar do meu trabalho naqueles 4 meses e 1 semana. Olha que eu poderia fazer corpo mole, mas eu não sei fazer corpo mole.

Irritado, não consegui estudar mais nada dos 10 pontos para a prova de efetivo que misturaria Lógica, Informática e Comunicação. Pensei até em desistir, mas a experiência ao menos valeria para o futuro. Prova escrita e o ponto foi sobre a "sociedade da informação". De novo, hora de escrever com diversão, com prazer. Veio a surpresa com a nota alta e mais segurança para seguir adiante.

A didática foi separada em dois grupos. Para variar, o pior dos temas veio para o meu: Lógica. Tinha sido o que mais estudei dentre uma preparação bem precária, mas faltava uma parte do ponto. Dar 50/60 minutos de Lógica Formal numa aula inicial é dificílimo para quem tem formação em Comunicação e o diálogo com os estudos da linguagem. Se tinha passado em 2º com boa distância para xs demais, a didática tirou toda a diferença.

Veio o tal do PAA e já estava satisfeito em ter passado por todas as fases presenciais. Nova aprovação, mudança de posição (para terceiro), mas a certeza que tinha passado pelo concurso por inteiro, afinal a Prova de Títulos não é eliminatória. Com ela, voltei a segundo e sabíamos, ou soubemos lá, que o segundo tinha imensa chance de ser aproveitado em Santana do Ipanema. Fui aprovado em ambos os concursos muito mais pela minha mania de saber/ler sobre tudo do que pela minha formação de graduação e Mestrado. A minha necessidade de aprender/conhecer mesmo que não fosse utilizar aquilo em determinado momento foi o que me garantiu sobrepor à falta de estudar minimamente para os concursos.

Tive a sorte de encontrar 3 pessoas que se tornaram quase que amigxs ao longo do processo e depois dele. Voltei com dois deles a Maceió e um me perguntou como me sentia por ter sido aprovado e ter quase a certeza que seria professor efetivo da UFAL. Não tinha caído a ficha. Era incrível! Quando cheguei em casa, desabei! Era a certeza de que tinha tomado a decisão certa de jogar tudo para o alto. Não era aquilo dos cinco meses anteriores que gostava de fazer. Não deveria ser.

POSSE
A espera pela nomeação demorou. Mais alguns meses de o mínimo (do mínimo) de gastos possível em casa. Nada de avisar a qualquer outra pessoa para não gerar expectativas. Até mesmo porque sei muito bem que comigo sempre pode dar algo errado. Tinha de esperar a primeira tomar posse. Ela demorou uma semana a mais. Tive exame que demorava três dias para ser entregue e só me foi duas semanas depois.

Pela primeira vez na minha vida pós-Aracaju não tive como respirar fundo e aguentar a emoção. Voltar à UFAL já seria emocionante de qualquer jeito, mas depois daquilo tudo, especialmente após a morte do Valério, meu orientador, tinha um significado muito maior. A partir dali, com exceção da minha dissertação, minha vida desabou. Era ressurgir das cinzas já jogadas num lixão qualquer. Era ver que a melhor decisão nem foi sair do subemprego, mas saber que o meu pragmatismo muitas vezes exacerbado salvou a minha vida e me permitiu chegar a este momento.

Não era na comunicação, mas era para Contábeis e Economia. Esta última que eu via necessidade de me reaproximar, ou aproximar para valer, depois do Mestrado. Tive sorte ainda maior de chegar numa unidade que por mais que tenha problemas, especialmente por conta da estrutura, quase todo mundo se dá muito bem, independentemente de diferentes posicionamentos político-acadêmicos em dados instantes. Tive sorte gigantesca de encontrar dois professores na Economia marxistas e que, pasmem, são palmeirenses!!! A roda realmente tinha girado.

Era e ainda é muito estranho ser chamado de "senhor" na sala de aula. É ainda muito estranho ser chamado de professor, por mais que eu tenha me formado pensando que um dia seria isso. Mais ainda voltar aos espaços de debate e disputa epistemológica depois de dois anos - e quanta falta isso me fazia! - e ver todo mundo feliz e fazendo questão de me chamar de "professor". A ficha vem caindo aos poucos, mas acho que com esse texto, expurgando o passado recente, mas fundamental para a minha construção, esse processo se complete.

A VOLTA E AS INESTIMÁVEIS PARCERIAS
Comentei sobre o grupo que foi aprovado no concurso e um deles eu volto em particular. O professor Victor, chamado para Delmiro, tem características de trabalho bem parecidas com a minha, apesar de a formação ser mais para os Estudos Culturais que para a EPC - linhas que partem de uma origem comum, mas que seguem destinos diferentes e que de certa forma disputam espaço parecido no campo -, e isso vem nos fazendo desde lá a ter várias ideias de trabalho em conjunto, cada qual respeitando os interesses de pesquisa do outro. Isso é bastante difícil na Academia. Falo isso porque já é muito difícil quando as pessoas compartilham de mesmos objetos ou perspectivas teórico-metodológicas.

Dentre as ideias, uma já foi aprovada. O projeto "A reinvenção do Sertão: Economia Política, identidade e tecnologia da comunicação no desenvolvimento da cultura jovem em Delmiro Gouveia" foi aprovado e ano que vem é por em prática algumas das coisas que pensamos aqui para o Campus Sertão. Se não somos levados à Comunicação em Maceió (para nada, registre-se), traremos a Comunicação, da melhor maneira que a gente entende, para cá.

O projeto conta com seis bolsistas e um colaborador e o meu interesse maior é em aprimorar o conceito do alternativo através do padrão tecno-estético, dando sequência aos trabalhos do CEPOS da época que era liderado pelo Valério. Além disso, temos parcerias com um professor da UFPE, Jeder Janotti, e com uma professora da UFS/OBSCOM, Verlane Santos. A ideia é montar uma rede entre os três Estados, ao menos com o intercâmbio entre as pesquisas de cada um sobre música, em especial, mas também sobre cinema.

Modéstia à parte, participar de um projeto com Economia Política no título é muito massa. Poder fazer com que a EPC torne-se razoavelmente conhecida para valer por aqui é um dos meus objetivos e que espero conseguir até 2020; que Alagoas seja um dos Estados com abertura para a temática e uma referência neles - por mais que o CEPCOM tenha dado um passo importante, e maior que as suas pernas, até 2010.

Quanto a pesquisas, este ano eu só não parei por conta de duas pessoas. Sou fascinado por futebol e a melhor coisa que já fiz na vida foi querer estudá-lo e isso gerou o que acho que é a melhor produção que já realizei, a minha dissertação. Porém, não tive tempo nem para revisá-la, ideia lá de novembro do ano passado. Só produzi graças a um baiano, formado em jornalismo na UFS, e que fiz uma co-orientação não oficial de TCC do final de 2013 para 2014.

Irlan Simões me fez entrar na seara dos estudos mais ligados à identidade, já que eu analiso a apropriação dos esportes enquanto produtos midiáticos e as relações de poder e econômicas nisto. Produzimos dois artigos, apresentamos dois trabalhos, mas ainda aguardamos espaços para a publicação. Um é sobre as possibilidades de estudos da EPC sobre futebol, outro é um histórico de tratamento dos torcedores no Brasil, com o processo de elitização marcando início e as mudanças atuais.

Os encontros até que foram poucos neste ano, mas a parceria é frutífera, especialmente pelo interesse mútuo em construir os estudos sobre futebol numa perspectiva crítica comunicacional, a qual acreditamos e defendemos que seja a EPC. Não estou mais sozinho nesta batalha e isso é muito bom.

Por fim, mas numa ordem de importância pessoal inversa, retomar os estudos sobre a EPC. Ano passado, fui convidado pelo então presidente da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura no Brasil para coordenar um mapeamento dos estudos da EPC no país, tendo em vista que em 2014 comemoramos 10 anos da entidade. Não pude fazê-lo. Assim que acabou o concurso, voltei a entrar em contato e ele me disse que uma orientanda do professor Bolaño estava fazendo algo parecido na UFS.

Mandei e-mail para ela para saber se poderia ocorrer uma parceria, mas imaginando que o conflito de interesses não fosse permitir, afinal esta era a base do tema de pesquisa dela. Mas não. Foi o contrário. Ela topou e apesar de algumas dúvidas na primeira reunião, conseguimos encaixar uma programação de trabalhos interessante.

De abril para cá foram três artigos, três apresentações e a certeza de uma vontade em comum: ir para a frente de batalha em prol do crescimento da EPC. Estivemos juntos apenas em três espaços, mas imagino que xs demais companheirxs deste eixo tenham percebido o tamanho da nossa disposição para isso ocorrer. Dentre as coisas incríveis da parceria estão as broncas que demos simplesmente ao maior nome da EPC da América Latina, um dos principais do mundo. Eu voltei para casa depois de ir a Sergipe em novembro pensando: "pôxa, demos bronca no Bolaño...".

No Rio de Janeiro, no final do mês, por mais que eu estivesse muito mal naquela semana, ela foi brilhante e demarcou espaço importante para a nossa proposta. Aliás, ela é brilhante! O que passei a ver desde o início da parceria em abril, de carregar um grupo nas costas, com direito a seminários e conseguir recursos através de editais mexendo neles sozinha, só me faz pensar que se eu fosse professor de um PPG e fosse da EPC me aproveitaria que em Sergipe não tem doutorado e trazia. Dentre as nossas características em comum, está a de se tiver de carregar vários pianos sozinhx, nós o fazemos.

Ter alguém com a mesma força para entrar numa guerra do tamanho que é o da luta epistemológica do campo, mesmo com todas as dificuldades que temos por estarmos iniciando uma carreira acadêmica e por uma conjuntura que pouco nos favorece, é, com toda a certeza, a melhor coisa deste 2014. Não sei se ela já percebeu, mas é incrível quando os dois se juntam para conversar sobre isso com qualquer outra pessoa. Acredito que não fazemos a crítica pela crítica e isso dificulta qualquer imputação sobre uma maior maturidade acadêmica.

Penso ainda o que ocorreria caso trabalhássemos juntos num mesmo espaço, fosse no velho CEPOS que dava muitas condições de trabalho para pessoas que nem nós - com um claro apoio para isso -, ou mesmo no OBSCOM, na UFS, cuja possibilidade de construção desta luta é central por conta da presença de Bolaño em Economia e na Comunicação.

POR FIM, ENFIM...  
Aí, nos últimos dias de 2014 me vejo como professor efetivo da universidade que eu prometi a mim mesmo que um dia retornaria para mostrar que é possível construir; vejo-me retomando um processo de construção intelectual que parou por 1 ano e meio; vejo-me com segurança para poder fazer tudo que a minha cabeça de maluco produtivo resolve pegar para fazer; vi-me numa banca de seleção para professor de universidade federal esta semana!

São muitos os desafios para 2015. Exigirão muito de mim e espero que eu consiga dar conta deles da melhor maneira possível, para que eu chegue neste meu cano de escape contando o tanto que consegui evoluir.

Teria muitos agradecimentos a fazer. À tia que me ouviu reclamar muito de tudo no início do ano. À enorme paciência dos meus pais em ter um filho tão desapegado que nem eu. Aos amigos, casos de Homero e Victor, os poucos que me viram no pior momento da minha vida - e talvez tenham se assustado. Mas uma pessoa que eu citei e que, por mais que pequenos contatos já tivessem ocorrido em 2013, 2014 proporcionou um conhecimento e uma relação de companheirismo de forma efetiva.

Aprendi muito ao perceber que estava num poço sem fundo. Aprendi muito mais ao sair dele. Aprendi até Lógica Formal rs. Mas se teve alguém que me ensinou mais neste ano se chama Joanne Santos Mota. Dentre várias outras coisas porque o convívio me deu a possibilidade de perceber deficiências e contradições em mim - e jornalista odeia admitir erros. Como disse a ela noutro dia, já está no meu panteão de heroínas e heróis, independente de qualquer coisa. Se hoje eu posso dizer que todos os milhares de problemas que passei de junho de 2012 até aqui de certa forma valeram à pena - por mais que pudessem ter pego mais leve... -, ter tido a oportunidade de conhecê-la foi a melhor coisa de 2014.

domingo, 27 de abril de 2014

[Por Trás do Gol - Comentários] O Bom Senso FC e o fair play financeiro

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Em tempos de mídias sociais, há alguns assuntos que, inesperadamente, podem tomar nossa atenção e nos instigar um comentário. Muitas vezes, não há tempo de retomar aquele assunto em particular, de forma mais pensada e melhor descrita. Por conta disso, e até para facilitar futuras buscas, resolvi publicar por aqui alguns comentários que ando fazendo por aí. Espero que não se restrinjam ao futebol, então podem esperar por uma participação mais assídua neste espaço.

E o primeiro tema a ser abordado nem é tão novo assim. Além de viver, infelizmente, um período de recuo, frente à grande atuação no final do ano passado. O Bom Senso FC discutiu no início de abril com representantes da CBF e da Comissão de Clubes a criação do "fair play financeiro" aqui no Brasil, de maneira a garantir o pagamento de salários dos jogadores.

A proposta (ver aqui) é criar uma entidade reguladora, composta por CBF, clubes e Governo federal, que trabalharia em conjunto com uma auditoria externa e poderia contar com R$ 3,5 milhões de investimento, inicialmente bancados pela Confederação.

A pergunta feita a mim era a seguinte: "Anderson Santos, qual o impacto que isso pode ter? Tem algum prognóstico ou arrisca?"


  • É algo que, se aprovado, vai demorar. A Europa entra nesse processo aos poucos e em breve - e com algumas tentativas de burlar o fair play financeiro com patrocínio de empresas dos próprios donos de clubes. Imagina aqui.
  • Anderson Santos Lá, mesmo com a proposta do fair play financeiro aprovada e andando, os jogadores paralisaram rodadas de La Liga e do Calcio, com apoio completo, inclusive com Puyol e Casillas na linha de frente da entrevista coletiva da associação dos jogadores. O Bom Senso F.C. representa todos os jogadores para ter um apoio nesse nível? Os jogadores no Brasil teriam coragem de fazer algo parecido?
  • Anderson Santos Fora que a postura do Marin é ouvir a todos, independente de serem críticos ou não - malufismo mode on. Daí a aplicar é outra coisa. Por fim, auditoria com participação do governo pode levar à interpretação de que há interferência estatal no futebol num futuro, o que é proibido pela FIFA"


Explicando, rapidamente, algumas coisas que citei. O fair play financeiro é um conceito aprovado pela UEFA  (veja mais no site) em setembro de 2009, cujos pontos principais são os seguintes:

- Introduzir mais disciplina e racionalidade nas finanças dos clubes de futebol;
- Diminuir a pressão sobre salários e verbas de transferências e limitar o efeito inflacionário;
- Encorajar os clubes a competir apenas com valores das suas receitas;
- Encorajar investimentos a longo prazo no futebol juvenil e em infraestruturas;
- Proteger a viabilidade a longo prazo do futebol europeu;
- Assegurar que os clubes resolvem os seus problemas financeiros a tempo e horas.
Um Comitê de Controle Financeiro foi criado em 2010 e segue avaliando a saúde financeira dos clubes por temporada, aumentando as obrigações a cada ano. Há um limite de 5 milhões de euros de prejuízo por temporada, mas podem superar este limite até 45 milhões no acumulado do período de análise, desde que os acionistas cubram o prejuízo. Mas há clubes importantes do cenário europeu que estão bem perto de sofrer sanções (ver aqui). Ainda assim, não há expectativa de exclusão de torneios europeus, especialmente pela força de clubes como PSG e City, apenas sanções.

O caso brasileiro é bem diferentes. Como costumo dizer, o futebol representa uma mentalidade arcaica, muito mais do que a da sociedade do país em que está constituída, repleta de preconceitos e maneiras de administrar que mais se confundem com sentimentalismo - e muitos se aproveitam disso. Os jogadores, com raras exceções geralmente citadas, não buscam a melhoria de suas condições de trabalho, mesmo após a Lei Pelé. Não à toa, o Bom Senso FC surgiu por fora da representação classista, as associações de jogadores por não haver sentimento de pertença e representatividade.

Toquei no assunto, vendo possibilidades e problemas lá no início, ainda em abril (ver aqui). E se mudou algo de lá para cá, além de reuniões com a cúpula do futebol brasileiro, o que mostra o intuito de revisão das normas, não de modificação radical, foi para pior, com o assunto saindo da pauta de jogadores - alguns deles saindo do país - e dos meios de comunicação. Assim, continuamos a ver times e atletas atuando por três ou quatro meses no ano e jogadores de grandes clubes sem receber até 3 meses de salário, limite para a saída "automática".

No âmbito gerencial, vimos Marco Polo Del Nero ser candidato único à presidência da CBF apesar das críticas à entidade nacional terem voltado com força nos últimos anos. Nem Sanchéz, nem Ronaldo, nem Carlos Alberto Torres, muito menos Noveletto. Não se conseguiu um nome a se apresentar, ao menos, como oposição numa eleição onde os eleitores são os presidentes de federações e dos clubes da Série A (apenas!).

Por fim, a presença do governo federal para realizar auditoria é algo que pode gerar inúmeros problemas. Quando da CPI Futebol/Nike, após a Copa de 1998, a FIFA ameaçou suspender o Brasil por 2 anos por conta de possível interferência estatal no football association, de sua propriedade. Além disso, a Constituição Federal do Brasil dá independência às associações. Assim, pensar uma presença estatal é algo que pode gerar inúmeros problemas futuros.

Visão pessimista? Talvez. É que sempre se espera mais para se chegar num futuro bem melhor.