quarta-feira, 30 de outubro de 2013

[Circo a motor] O tetra seguido

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há alguns GPs que Galvão Bueno falava que Vettel entraria na história da F1. A única coisa que me vinha à cabeça era discordar. Como alguém que é o campeão, o bicampeão e o tricampeão mais novo da história, tricampeão mundial (como feras do naipe de Ayrton Senna e Nelson Piquet) seguido, como pouquíssimos, já não estaria na história do automobilismo?

O que as 36 vitórias, 10 delas em 2013, cuja segunda metade da temporada, com 6 vitórias seguidas; 43 poles; e, especialmente, agora 4 títulos consecutivos mostram, na verdade, que ele entrou num patamar para gênios do esporte, independente da qualidade do carro em que se anda. Com 4 títulos só ele, Michael Schumacher, Alain Prost e Juan Manuel Fangio. Com 4 títulos seguidos, só ele, seu  compatriota e Fangio. Ainda assim, ele o fez aos 26 anos e de forma seguida a partir do primeiro.

Ah, e é preciso lembrar que em 2009, ano de sua estreia pela RBR, ele quase chegou ao título, ficando com o vice-campeonato porque a Brawn GP foi a única equipe que soube ler a brecha dos difusores duplos no regulamento, com Button disparando com uma sequência de vitórias logo no início da temporada.


Há quem diga que Adrian Newey e a Red Bull Racing dão a Vettel condições primorosas para ter chegado tão cedo em lugar tão alto. É verdade que falavam algo parecido na supremacia de Schumacher de 2000 a 2004 pela Ferrari. Olha que na equipe italiana, o piloto número 2 claramente era definido, enquanto que na austríaca isso acabou ocorrendo com o tempo, após inúmeras disputas entre seus dois pilotos, inclusive com Webber em melhores condições para o título em 2010. Foi depois daquele ano, e de certo olhar mais voltado ao carro do alemão, que o australiano começou a se desmotivar. Ainda assim, já em 2013, houve uma dobradinha melancólica.

É claro também que se compararmos a F1 dos tempos atuais com os pré década de 1990 e, por que não, da era mais profissional da categoria - com pilotos só pilotando, sem quaisquer pitacos na área de engenharia mecânica -, a situação é bem diferente. O piloto do período anterior era mais um super motorista que hoje. Felizmente, correr também contra a morte é um lema que pouco pode se utilizar para a categoria nos dias atuais. Tudo muda, ainda mais quando se trata do avanço tecnológico das últimas seis décadas, não seria diferente com as necessidades do automobilismo.

Também parece ser algo óbvio que a RBR é uma super equipe, com recursos e capacidade técnica o suficiente para fazer um bom carro e, principalmente, como mostra a temporada atual, que começou equilibrada, desenvolvê-lo. Este ponto, por exemplo, foi a grande falha da Ferrari neste ano, com os resultados da segunda metade sendo muito mais pelos pilotos que pelas condições oferecidas pelo carro.

Neste conjunto de ingredientes, há ainda a sorte. Se o GP de Buddh foi vencido de forma inconteste, ainda que o carro não andasse bem com os pneus macios, a ponto de ter de trocá-los com apenas duas voltas de uso, Vettel só teve ameaças de quebras, seja de câmbio - principal problema do RB9 - ou, na última prova, do alternador, enquanto Webber ficava (ou era forçado a ficar) no meio do caminho.

Resta muito pouco para o resto da temporada, com o mais importante sendo os US$ 25 milhões de dólares a mais para a equipe que ficar com o 2º lugar. Depois do 4º lugar de Massa, mas apenas do 11º lugar de Alonso, a Ferrari perdeu o segundo posto para a Mercedes, que viu Rosberg chegar em 2º e Hamilton em 6º. O placar está em 313 a 309 para a equipe alemã faltando 3 provas para o final.


MALABARES
- Na quarta-feira, o assessor de imprensa de Hélio Castroneves (Indy), o jornalista Américo Teixeira Jr. cravou que Felipe Massa estava por assinar contrato com a Willians. Maldonado, que critica e é criticado na equipe, estaria de partida para a Lotus. A promessa era que a situação de Massa fosse comunicada em questão de horas ou dias, mas não foi. Porém, a negativa que poderia ter surgido também não apareceu;

- Duas coisas. Sobre Massa na Willians, não gosto. Por mais que não seja com investimento, a equipe vem muito mal das pernas nos últimos anos, a ponto de estar beirando a cair de média para as menores da categoria. Bruno Senna e Rubens Barrichello sabem o quanto sofreram, olha que em momentos pouco melhores que o atual. Restaria torcer para que a revolução nas regras ajude;

- Com o Eric Boulier, chefe da Lotus, afirmando para todo mundo que o melhor no lugar de Raikkonen é Hulkenberg, assinar com Maldonado por conta da grana da PDVSA - em meio à crise financeira estatal - seria mais um ponto extremamente negativo para uma F1 com mais da metade das vagas compradas;

- Sorte da equipe poder contar com Roman Grosjean. O piloto francês vem de três pódios seguidos e neste ano está longe do piloto problemático de largadas que chegou a ser sua marca em 2012;

- Voltando à Massa, mas falando de Ferrari. Ele peitou na tática do treino oficial, largou em 5º, chegou em 2º ainda na primeira volta com uma espetacular dupla ultrapassagem sobre os carros da Mercedes, liderou a corrida por 7 voltas, mas viu os italianos errarem na estratégia. Não é possível que com pneus feitos para se desgastar e sem necessidade de reabastecimento, a Ferrari não tenha entendido ainda que se o piloto atrás parar antes, ele passar. Afinal, pneus com menos desgaste fazem o carro andar mais rápido... Em vez de Rosberg, Massa poderia ter chegado em 2º;

- O circo já está colocando a sua lona em Abu Dhabi, o GP do lusco-fusco será neste final de semana.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] 43 anos

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"Quando me vejo assim, com bancos em boa parte de mim, quase esqueço que lá no início era todo mundo em pé. Se hoje cabem, no máximo, 18 mil pessoas, no dia da minha inauguração, um jogo do Santos (de Pelé) contra a Seleção Alagoana, foram mais de 45 mil. O tempo foi passando e a minha capacidade diminuindo. 26 mil em 1992 e para a quantidade atual há poucos anos.

Vi o rei do futebol e recebi o nome dele logo após o tricampeonato mundial. Aliás, bem melhor que ter o nome do governador de então. Também vi a rainha jogando aqui, mas aí era bem mais fácil, já que foi em parentes bem menores e mais pobres que eu que ela pôde iniciar a sua jornada. Até tentaram mudar o meu nome para o dela, mas no final perceberam que não importa se o Pelé veio aqui apenas uma ou duas vezes, mas sim o que ele fez dentro dos gramados pelo mundo, como bem sabe lembrar o Edson, que faz aniversário dias antes de mim.

Quanto ao nome, os mais chegados me conhecem mesmo é como Trapichão. Se o agora remodelado Mário Filho é conhecido pelo nome do bairro onde fica, mantivemos esta tradição por aqui com mais esperteza. Afinal, o Trapiche onde nos localizamos tem tanta coisa importante, o maior hospital do Estado surgiria depois, que a imponência de um gigante de 7 andares, com um gramado no limite do tamanho, tinha de gerar um aumentativo.

Vi muitos sofrerem nas minhas arquibancadas, fossem sentados ou em pé. Vários títulos alagoanos sendo decididos em mim, especialmente pela dupla CSA e CRB, que assim o fizeram este ano numa final por pênaltis inédita entre os clubes no Estadual. Recebi também vários jogos de competições regionais e nacionais, mesmo quando eram de times do interior, casos de Coruripe, Murici e até mesmo o ASA, na última década, quando pegaram clubes como Flamengo e Palmeiras. Até mesmo decisões nacionais e uma internacional, com o lado azul lotando o estádio e ficando no vice-campeonato.

Ah, não poderia esquecer que sediei por dois anos (2000 e 2001) com um parceiro nordestino a Copa dos Campeões. A nata do futebol nacional jogou no meu gramado antes do Campeonato Brasileiro. Alguns vinham só para visitar as praias, mal entrando no gramado, mas muitas emoções nacionais foram vistas nestas arquibancadas e pela transmissão televisiva.

Se ainda não vi título além da esfera estadual, vi a Seleção Brasileira atuar por aqui em quatro momentos. A última vez em 2004, com Adriano, Ronaldo e companhia empatando sem gols com a Colômbia pelas Eliminatórias da Copa.

Mas eu também sofri. Foram 2 anos parado para reforma no início da década de 1990 e um bom tempo funcionando remendado na segunda metade dos anos 2000, até resolverem fazer uma reforma mais adequada. Meu gramado sofreu com uma praga há pouco tempo, mas pouquíssimas vezes alguém pôde reclamar que, por exemplo, ele estava com muita água. Pode chover à vontade que quase sempre a drenagem resolve.

Entre gols, títulos e paradas forçadas para reforma, considero que sou uma das obras mais importantes deste Estado de belíssimas praias. Se nasci com nome de rei, tornei-me mais fundamental que um desses para várias pessoas daqui, independentemente de opções de camisa.

43 anos... Tudo bem que não parece que foi ontem. Até porque nem poderia ser. Relembro cada passe, cada passo, cada pulo do torcedor... Espero que me mantenham com a saúde em dia para eu ver e propiciar ainda mais momentos de alegria".

terça-feira, 22 de outubro de 2013

As tentativas de interatividade da Globo no futebol

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Antes de escrever este texto, recorri ao arquivo deste Observatório para relembrar as vezes em que comentei os problemas que as emissoras de TV têm para se adequar ao processo de avanço tecnológico que propicia maior participação do público. No caso do futebol, a intervenção do torcedor segue sem encontrar parâmetros adequados, entre os extremos da leitura de muitos comentários e brincadeiras em mídias sociais ou abrir um pequeno espaço para que uma pergunta do telespectador seja lida.

A Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos campeonatos de futebol no Brasil, vem tentando diferentes coisas para criar um laço com o público. A emissora que criou um formato de enquetes através de votação telefônica para que o público decidisse o final das histórias do Você Decide, ainda na década de 1990, voltou ao formato para as transmissões deste esporte.

Eu comentei em outro momento (“O novo bate-papo para a transmissão do futebol“) que após uma frustrada tentativa de escolher um vídeo por tempo de jogo para mostrar na transmissão, a emissora, que já via isso como algo ruim – porque o público reclamava da interrupção da narração da partida para mostrar um torcedor “excêntrico” em casa –, teve seu exemplo derradeiro numa partida entre Botafogo e Palmeiras pela Copa Sul-Americana de 2012, quando saiu o gol palmeirense enquanto aparecia um vídeo com um torcedor botafoguense cantando o hino do clube.

Testar a criação de conteúdo

A Globo voltou ao modelo antigo, com a leitura da “pergunta do internauta” em cada etapa, enquanto testou novos formatos do programa Futebol 2013, com o que eu chamei na época de “novo bate-papo para a transmissão do futebol”, em que os torcedores cujas reações eram mostradas eram famosos – algo que continua com menor força durante o Brasileirão.

Em meados do torneio nacional, após a Copa das Confederações, surgiu o Vote agora, em que uma ou duas enquetes são feitas durante as partidas. A pergunta serve também para que o público sirva como comentarista e dê a sua opinião, porém, isso se dá com um formato de interatividade longe do ideal, já que ocorre através de opções já prontas. É o tipo de interatividade voltada apenas à reação, em que opções e realimentações são dirigidas, com mínimo controle do usuário sobre a estrutura do conteúdo. Os narradores globais pedem para que os torcedores que costumam ver os jogos com tablets, smartphonesou notebooks entrem no site Globoesporte.com e façam a escolha. Aqui, há a certeza da presença de outras telas ao lado da TV e se busca manter o telespectador que fica conectado em paralelo às mídias sociais.

Há pouco tempo, as transmissões buscavam antes ou no intervalo pessoas que estivessem assistindo ao jogo pelo celular no estádio, com os locutores pedindo para que acenassem para a câmera mais próxima. Hoje em dia, algumas telenovelas da emissora apresentam pequenas entradas com alguma personagem assistindo um programa pelo smartphone ou tablet. Além disso, algumas propostas na ficção já foram utilizadas para testar a criação de conteúdo específico para outras mídias, complementando a transmissão principal, realizada pela televisão.

Novas alternativas de interatividade

Num texto mais recente (“O problema das TVs com as mídias sociais“), apresentei dados sobre a importância de se manter este novo telespectador, que divide sua atenção entre diversas telas. Permanecendo na análise de programas esportivos, segundo a pesquisa Esporte Clube Ibope Media, divulgada em 2011, das pessoas que assistem esporte pela TV ou na arena no Brasil, 58% o faz de maneira a consumir simultaneamente mais de um meio de comunicação, com maior sobreposição de TV + internet, que representa 30% do valor anterior.

Só que uma das coisas que me fizeram falta neste pedido dos narradores é a utilização da interatividade possibilitada pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital-Terrestre (SBTVD-T), um dos principais argumentos para a opção de aprimoramento do padrão japonês, além da mobilidade do sinal. Se a última vem sendo estimulada, uma simples enquete destas poderia usar o canal de retorno da transmissão digital como mais uma alternativa para a votação, principalmente porque não faria com que o telespectador desviasse a sua atenção para outra tela.

Com o apagão analógico marcado para 2016, parece-me cada vez mais que um dos grandes triunfos sociais para a TV digital segue relegada, vendo o estímulo muito maior para a melhor qualidade do sinal, a mobilidade da transmissão e, consequentemente, para a aquisição de TVs conectadas. Como 2014 é ano de Copa do Mundo Fifa, evento que historicamente num contexto mundial é marcado por inovações tecnológicas na transmissão comunicacional, resta esperar para que o fato de o evento ser no Brasil estimule novas alternativas não só para a exibição – e nas diferentes telas possíveis –, mas também na utilização pelos grandes meios de comunicação da interatividade que é possibilitada pelo SBTDV-T.

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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

E se em 1938...

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1938, a Europa vive um clima politicamente pesado. Se a preocupação de países capitalistas era com o avanço do "ideal" soviético (stalinista) que se espalhava, o nazi-fascismo crescia sob as suas barbas. A Copa do Mundo a ser realizada na França seria a última antes de uma lacuna causada pelos desastres da Segunda Guerra Mundial.

A seleção italiana era a maior prova que o clima já estava tenso. Com a permanência de apenas dois jogadores da campanha da Copa anterior, os atacantes Giuseppe Meazza e Ferrari, e o técnico Vittorio Pozzo. Azzurra foi vaiada em todas as partidas pela torcida francesa, o que deve ter sido ainda maior na quarta-de-final contra os donos da casa, quando jogaram de preto, cor símbolo do fascismo.

Já a Alemanha jogou com o reforço de jogadores austríacos, cujo território havia sido incorporado pelo Reich de Hitler, num processo que foi chamado de "Aunschluss". Não adiantou muito, já que a Alemanha foi eliminada ainda na primeira fase, no jogo desempate contra a Suíça. Mesmo assim, a "decisão" entrou para a história, já que a Áustria é o único país que, classificada para o torneio, não foi. A Suécia ganhou a partida por W.O.

Ainda assim, deu tempo para esta imagem na partida da eliminação alemã...
Após uma péssima campanha no Mundial anterior, o futebol brasileiro acabou com as brigas de direção e começou a mostrar que viria a ser multi-campeão do mundo, através de craques como o marcador Domingos da Guia (pai do ídolo palmeirense Ademir da Guia) e o diamante negro Leônidas da Silva.

O primeiro mundial de futebol transmitido pelo rádio para o Brasil, através da Rádio Club do Brasil, a PRA-3, teve de tudo: gol descalço, vaias aos italianos, goleiro que quebrou partes do corpo num jogo, artilheiros numa partida, W.O., zebra...

* Antes de ir a 1938, aquela velha notinha: os textos da série E Se... não tem nenhuma intenção de se tornar referência histórica, ou seja, não adianta comentar, como fizeram no outro espaço, que eu estava errado. Eu não só sei disso, como afirmo que a intenção é esta. Sejamos criativos, amig@s! Como disse no primeiro texto, a coluna E se... não chegou para mudar a história do futebol, mas para contar o seu principal evento de uma forma diferente. Assim, veja como a Argentina ganhou em 1930 e a Checoslováquia em 1934.

>> E SE EM 1938...
Foram 16 escolhidos num processo eliminatório que envolveu 36 seleções. Apenas 15 países, como vimos acima, disputaram a Copa do Mundo de 1938, que teve uma fórmula das mais simples: mata-mata até a final.

Os destaques das oitavas-de-final vieram do continente americano. Cuba, única representante da centro-América, classificou-se no jogo desempate contra a Romênia com um 2 a 1 - empate de 3 a 3 na primeira partida.

Já os do Sul, o Brasil, mostraram já no primeiro jogo que cada partida seria uma verdadeira batalha. Mesmo sofrendo quatro gols de Wilimowski - o homem que mais marcou contra o Brasil em Copas -, venceu a Polônia por incríveis 6 a 5!

Nesse jogo ainda houve um fato mais incrível ainda. Há uma "lenda", confirmada por seu protagonista, que Leônidas da Silva fez um gol descalço. Como estava chovendo bastante, a visibilidade era péssima e o bico da chuteira direita dele abriu, imediatamente o Diamante Negro jogou para o banco para lhe darem outra. Foi o tempo de uma bola sobrar para ele marcar o quarto gol do Brasil de forma irregular, já que faltava uma peça do vestuário.
O árbitro da partida foi o sueco Ivan Eklind, o mesmo da final entre Itália e Tchecoslováquia, na Copa anterior - e que fora expulso de seu país por beneficiar os donos da casa.

Mas a história do Brasil na Copa de 1938 não parou por aqui. Nas quartas-de-final, uma "batalha campal" contra a Tchecoslováquia a ponto de o jogo terminar empatado em 1 a 1. Além das duras entradas, num chute do botafoguense Perácio, o goleiro tcheco Planicka se chocou na trave e quebrou braço e clavícula. Na partida desempate, o Brasil venceu por 2 a 1.

Os jogos das semifinais eram Brasil X Itália, o confronto do fascismo e rigor técnico italiano/europeu contra a ginga da maioria negra brasileira, e Hungria X Suécia, que vinham de goleadas - 6 a 0 dos húngaros sobre as Índias Holandesas e a de 8 a 0 dos suecos sobre os cubanos.

Enquanto a Hungria venceu a Suécia com mais uma goleada, desta vez por 5 a 1, o confronto entre sul-americanos e brasileiros foi emocionante. Até que alguns jogadores brasileiros tentaram comemorar antes do jogo com muita champanhe, mas os líderes do grupo proibiram até a CBD de comprar as passagens de avião para o jogo da final. A Itália era a única seleção com jato particular.

Na dúvida se deveria poupar Leônidas da Silva para uma possível final, o técnico Ademar Pimenta resolveu escalar o homem que "inventou" a jogada da bicicleta. Pimenta só não esperava que em meio à pressão brasileira no segundo tempo, após um primeiro tempo sem gols, o zagueiro Domingos da Guia fizesse um pênalti estúpido num jogador italiano, que não tinha chances de arrematar - foi daí que surgiu o termo "domingada" para qualquer lance assim no futebol e que foi muito famoso naquelas décadas.

Quando a partida no Estádio Parque dos Príncipes - utilizado em seis partidas na Copa ocorrida na França 60 anos depois - ia se encaminhando para a vitória italiana, Romeu marcou aos 42 minutos do segundo tempo. O jogo ficava nervoso e a torcida francesa era toda do time vestido de branco - uma boa contraposição aos fascistas, numa curiosa oposição quando se leva em consideração os ideais puristas e a ideia que cresceria nas décadas seguintes no Brasil do mestiço como fundamental para o desenvolvimento do seu povo. Num cruzamento da esquerda, Leônidas da Silva deu um voleio espetacular para marcar o gol da classificação para a final.

Assim como ocorrera nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, um negro calou o xenofobismo europeu. Após tantas partidas difíceis, o Brasil partiria para a final com um moral incrível. Já a Hungria vinha de uma campanha com 13 gols a favor e apenas um contra, um futebol espetacular décadas antes da turma de Puskas e cia.

Uma curiosidade, o árbitro da final e da decisão de terceiro lugar foi o mesmo, o belga Langenus. A decisão começou com tudo. Logo aos 7 minutos, Pal Titkos marcou para os húngaros. Após bate-rebate na área, a bola sobrou livre para ele colocar os encarnados na frente.

Já no final do primeiro tempo veio o gol brasileiro. Aos 43 minutos, a zaga húngara falhou e Romeu recebeu bola cruzada da entrada da área para apenas empurrar ao gol. A população brasileira vibrava ouvindo a partida pelo rádio!

O homem que virou marca de chocolate - até hoje existente - e de cigarro, o artilheiro desta Copa, apareceu no segundo tempo. Aos 18, após uma jogadaça de Romeu, que limpou o zagueiro na grande área e tocou para Leônidas. O craque daquele Mundial virou o marcador para o Brasil!

Não contente com isso, aos 28, Leônidas recebeu bola num rápido contra-ataque da seleção brasileira, adentrou na área e tocou no canto do goleiro húngaro. Brasil 3 a 1 e as ruas do Brasil, naquele 19 de junho, já viviam um carnaval fora de época.

Mas como final de Copa do Mundo tem que ter muita emoção, ainda mais se tratando de um adversário de alto nível, como a Hungria, o resultado ficou novamente apertado. Foi a vez de Savosi, aos 35 minutos, receber passe no meio da área e dar chances ao seu país. 

No Brasil, a tensão só aumentava, todos querendo tanto dentro de campo, quanto no banco de reservas, e para os que ouviam com segundos de atraso no país, apenas uma coisa: o fim da partida. E ele veio antes do apito do árbitro.

Leônidas da Silva partiu para a ponta e confundiu a zaga húngara num contra-ataque surgido logo após o segundo gol adversário, aos 37 minutos. O Diamante Negro, autor de oito gols naquele mundial, não foi fominha e tocou para trás, para a chegada do "quebrabraço" Perácio marcar o tento que colocava de vez o nome do Brasil na história do futebol mundial.
BRASIL, CAMPEÃO DO MUNDO DE 1938!

Vídeo com gols da final "original"

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O resgate

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Ontem à noite, ao abrir a porta do quintal lá estava uma bola. Como ando muito cansado nestas semanas, não tinha ouvido barulho algum. Logo me veio à cabeça o que fazia para resgatas as bolas que caíam nas casas vizinhas.

Primeiro que a bola não era nem perto desta que caiu por aqui. Como a avó do meu amigo não deixava que ele tivesse uma bola, acabávamos fazendo uma. Era bem simples: um monte de folhas de cadernos antigos, uma sacola de plástico e zás! Para aumentar a durabilidade e para deixar a bolinha mais firme, amarrávamos até o limite, passando a sacola de um lado para outro. Ficava a ponta do nó, que sempre desviava a bola ao tocar no chão ou num chute, mas isso não era problema.

As calçadas da casa dele e da casa vizinha eram da mesma altura - algo bem difícil por estas terras. Assim, ficava um de um lado e o outro do oposto. Provavelmente nem era tão grande assim, mas as memórias de infância tendem a ampliar os espaços. A casa dos meus avós paternos, mesmo, sempre me pareciam maior quando criança que das últimas vezes que fui.

Enfim, voltando ao jogo. Às vezes a bola entrava na casa da vizinha. Com sorte, ficava ao lado do sofá e aí era só rastejar e pegar rápido. Porém, outras vezes ela passava pela sala. Como sempre havia ameaças de "cortar essa bola", entrávamos rapidamente, puxávamos a bola e corríamos.

Se a brincadeira era no quintal, a tendência era pular o muro, que nem era tão alto. Mas aí vinha outra tática que exigia: escada, vassoura, balde e arame. Amarrávamos o balde na vassoura e subíamos a escada. Como quase sempre não tinha ninguém, empurrávamos a bola para o canto da parede e puxávamos com o balde. Quantas vezes não fizemos isso!!! Cheguei a té a salvar uma bola que caíra na casa vizinha à minha neste esquema. Olha que a altura era grande. Quer dizer, grande segunda a minha memória de infância.

Sobre a que caiu aqui em casa ontem, segue por aqui. Alguém até bateu na porta à noite - antes de eu ver a bola -, mas saíram antes de eu chegar. Há crianças das casas dos lados e na de trás, mas ninguém veio perguntar nada hoje, então a bola continua por aqui, bem melhor que a da minha infância. Se fosse comigo naquela época, já estava louco, chorando desesperado pela bola perdido. Isso se já não tivesse inventado algo para resgatá-la.




terça-feira, 15 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] As vagas que faltam

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Faltam apenas duas convocações e três jogos para Luiz Felipe Scolari definir os 23 convocados para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Na partida de hoje contra a Zâmbia, o treinador mudou em 7 posições. Para alguns, foi a garantia de continuidade, ao menos de brigar pela vaga até o último momento. Para outros, a confirmação de que só uma melhora acentuada nos clubes pode dar jeito.

GOLEIROS
Dos 3 goleiros, Felipão já havia confirmado Júlio César como titular. Ainda que escanteado no Queen Park Rangers e com a lesão recente em 3 dedos. Essa é uma posição de confiança e Felipão sabe muito bem, já que em 2002 optou por Marcos como titular quando tinha a disposição Dida e Rogério Ceni com a mesma faixa etária e também em grande fase. O ideal ainda é que Júlio arranje um lugar qualquer que possa jogar meses antes da Copa, pois tempo de bola é essencial para goleiros.

Fora ele, Jefferson, titular na ausência de Júlio, é um nome praticamente certo na convocação. Titularíssimo no Botafogo, sempre que assume o posto na Seleção vai muito bem. O crescimento do Botafogo, que deve voltar à Libertadores após 18 anos, ajudar ainda mais a testá-lo para 2014. Parece ser nome mais certo até do que o titular da Copa das Confederações.

A última vaga é que ainda está aberta. Diego Cavalieri, que jogou hoje contra Zâmbia, se mal tocou na bola, segue com a mesma moral com o treinador, já que ocupou a posição na Copa das Confederações. Mas tem fortes concorrentes. Se Cássio, ao menos para mim, não tem fôlego para entrar na disputa a esta altura do campeonato, as boas atuações de Victor até aqui em 2013 podem abrir espaço, especialmente se manter a tradição de sucesso de goleiros no (novo) Mundial Interclubes.

ZAGUEIROS
A posição com nomes mais certos e seguros e com a vaga com mais briga. Thiago Silva e David Luiz estão entre os zagueiros melhores do mundo, sendo também os mais disputados a cada janela de transferência. Titulares em quaisquer seleções. Dante chegou com Felipão, mas não parece. Da mesma forma que fez no Bayern, agora só na segunda temporada, chegou e tomou a posição.

Réver, que atuou na Copa das Confederações, Dedé e Henrique brigam pela última vaga. O Dedé de 2011 e antes de se lesionar em 2012 seria nome mais certo que o de Dante, mas só agora é que começa a dar lampejos do que já foi, especialmente por ter uma boa dupla no Cruzeiro, Bruno Rodrigo, e com Fábio salvando quando sobra algo. Hoje foi bem e marcou gol, ganhando pontos importantes na disputa.

Posso falar de Henrique com certeza. Na minha opinião, faz uma de suas piores temporadas no Palmeiras. Ainda que tenha se dado bem com Vilson na defesa alviverde, vem cometendo falhas de posicionamento mais frequentes que o normal. Porém, pesa a favor dele o fato de ter jogado bem como volante na reta final da Copa do Brasil do ano passado, podendo fazer o que Edmilson realizou em 2002 e o que David Luiz também o pode em caso de necessidade, avançar como primeiro homem do meio.

Já Réver traria segurança, mas falta maior destaque na imprensa, vender mais suas atividades. E isso pode pesar muito na hora da lista final. Vaga ainda muito aberta.

LATERAIS
Se Daniel Alves e Marcelo parecem mais que garantidos como titulares - ainda mais com o peso de também o serem em dois dos principais times do mundo, Barcelona e Real Madri -, os reservas não estão. E essa é uma preocupação particular minha, já que Marcelo é esquentado e Daniel Alves no primeiro tempo não só cometeu muitas faltas, como reclamou de forma explícita do árbitro. Como comentei no texto anterior, é necessário ter calma em momentos difíceis num torneio com tanta pressão como será a Copa do Mundo em casa.

Bem, na esquerda, Filipe Luís perde cada vez mais espaço como reserva, apesar de ter ocupado este posto nas Confederações. Sempre que entrou, Maxwell mostrou tranquilidade na defesa e no ataque para ajudar a equipe. A fase rica do PSG também deve ajudar, além da experiência em outros grandes clubes europeus, como Barcelona e Internazionale.

Já a outra lateral está bem mais complicada. Jean não foi bem nos treinamentos das Confederações e mal foi chamado depois. Maicon reassumiu a posição assim que voltou a jogar, agora na Roma, mas não me convenceu, apesar de ser o que melhor aproveitou a chance. Marcos Rocha corre por fora, esperando o que sobra. É bom, mas não tem a experiência para vestir a amarelinha.

VOLANTES
Começando pelos volantes, três dos quatro chamados para as Confederações estão tranquilos. Os titulares Luiz Gustavo e Paulinho e o "primeiro reserva" Hernanes. Fernando perdeu espaço, ainda mais com a ida ao Shaktar, onde nem sempre joga. De titular nos amistosos em junho a nome fora da principal competição do mundo. 

Lucas Leiva, como primeiro volante de ofício, ganhou também bastante fôlego nesta reta final, aproveitando muito bem as oportunidades na Ásia, fazendo o seu papel com louvor. Basta seguir jogando num Liverpool que parece ter se redescoberto para esta temporada.

Além disso, Ramires é um dos principais nomes da posição no mundo, atuando no Chelsea e disputado por grandes clubes europeus, tendo como vantagem a variação de posições em que pode atuar. Não à toa, Felipão engoliu os problemas de sua desistência para amistoso - e comentários da esposa via mídias sociais - e o reconvocou. É o jogador que garante a variação no estilo de jogo, especialmente quando entra no lugar de Hulk, mais à frente, podendo revesar nas subidas ao ataque com Paulinho, que fica menos preso assim.

MEIAS
Oscar é incontestável, como já disse, é o grande legado da Era Mano Menezes, o "10" que chegou sem muito alarde e assumiu a posição da mesma maneira. É ainda mais importante no Chelsea  com a chegada de Mourinho e o jogo de hoje contra a Zâmbia mostra que na Seleção se dá o mesmo. O problema é ter um bom reserva para si, algo que já deu problemas em 2010, quando Kaká era o único na posição - naquela época via Ganso como grande alternativa para a reserva, mas não foi chamado.

Jadson perdeu muito espaço, inclusive no São Paulo, caindo de rendimento junto com o clube em 2013. Ganso voltou a atuar bem pelo tricolor paulista, mas sempre pairará a dúvida sobre ele. Quanto a meias-atacantes, Lucas definitivamente caiu de produção, após as novas contratações do PSG e com o "menino da alegria nas pernas". Bernard é uma das grandes apostas de Felipão e que encanta a todos. Mesmo em início na Ucrânia, vem se destacando por lá e na seleção dá um novo ânimo à equipe toda a vez que entra.

ATACANTES
Precisamos falar de Neymar? Não. Hulk também se garantiu, com maior aceitação pelo torcedor brasileiro, ainda mais sem a sombra popular de Lucas, e no Zenit os "inimigos" saíram. Fred, depois do que fez na competição FIFA deste ano, também poderia estar garantido tranquilamente, e como titular, mas a lesão que o tirou dos últimos meses de 2013 pode pesar. A favor, a confiança de Felipão em Rivaldo e Ronaldo em 2002. Podendo jogar, como o fez até no sacrifício em junho, é nome certo. Resta ver como voltará em 2014.

Na posição que falta para a posição, Jô, por maior implicância que tenha com ele, também se garantiu. Quase sempre marcando gols quando sobra uma oportunidade de entrar na equipe. Com Damião muito mal no Internacional, deve lamentar por algum tempo a lesão antes das Confederações. Já Pato, que eu nem convocaria, foi mal nas oportunidades que teve e a má fase do ataque corintiano também não ajuda. 

Cabe ainda a Felipão optar por levar mais um atacante de ofício ou meia-atacante, para atuar nas pontas. Esta é uma posição que deve gerar a disputa dos nomes que não foram bem e que pode sobrar para Diego Costa, jogador do Atlético de Madri assediado pela seleção espanhola. Artilheiro de La Liga até aqui, ele já vinha aparecendo mesmo ao lado de Falcao García e a estrela aumentou sem ele - mesmo com a contratação de Villa. Lembra o caso de Amauri, que foi chamado por Dunga quando ia bem na Itália, mas depois desabou - não que isso irá se repetir com certeza com Costa. A vaga, tem; cabe a ele decidir.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] Um ano (quase) para se esquecer

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Três clubes em três divisões diferentes do Campeonato Brasileiro e o melhor resultado foi a manutenção na nos últimos minutos na Série C. Este é o saldo, ainda que provisório, para Alagoas na principal competição nacional em 2013.

Se o ano indicava um bom caminho, com o vice-campeonato do ASA na Copa do Nordeste e o avanço do time arapiraquense até a 3ª fase da Copa do Brasil, quando foi eliminado pelo Flamengo, as péssimas campanhas do time do interior na Série B e do CSA na Série D, além da eliminação precoce do CRB na Série C, mostram que tudo não passou de uma ilusão.
CSA
Começando pelo maior campeão estadual, acompanhamos bem de perto a campanha na Série D deste ano, marcada por 3 derrotas seguidas nas primeiras partidas, desmonte do elenco e cumprimento de tabela a partir de então. O resultado final foi a última colocação no grupo, com apenas uma vitória e um empate (4 pontos) em 8 partidas disputadas.

Para quem comemorou em 2013 o centenário de sua existência, o vice-campeonato do Alagoano, título perdido nos pênaltis para o arquirrival, a eliminação para o Cruzeiro no primeiro jogo da Copa do Brasil, e a eliminação muito cedo na Série D deixaram os torcedores azulinos ainda mais impacientes.

Ao menos o futuro indica a união (possível) na política do clube, com uma gestão em que nomes de peso assumiram algumas diretorias, apesar de todos eles terem fugido da presidência do clube. Já há a confirmação de Oliveira Canindé, campeão do Nordeste com o Campinense em 2013, como técnico do clube. Além disso, a base, usada no sufoco final do Brasileiro, ganhou o bicampeonato do Alagoano sub-20 e, desde que se queira trabalhar com os jogadores daí oriundos, alguns bons nomes podem surgir.

O primeiro semestre de 2014 vai ser cheio para o clube. Disputa a Copa do Nordeste a partir de 12 de janeiro, em que caiu num grupo forte, ao lado de Bahia, Santa Cruz e Vitória da Conquista. Além disso, entrada no Estadual via hexagonal; e a Copa do Brasil que, espera-se, desta vez ninguém peça um adversário de primeiro nível já de início.

CRB
O segundo time local a encerrar suas participações em 2013 foi o CRB. O atual bicampeão alagoano teve participação discreta na Copa do Brasil, passando da primeira fase e sendo eliminado pelo Botafogo em seguida. Mas viveu fortes emoções no disputadíssimo Grupo A da Série C.

De início, uma campanha muito ruim, com o ápice sendo a derrota para o Rio Branco, que entrou no campeonato às vésperas e via acordo judicial. O time acriano só marcaria seis pontos em 20 jogos (!), tirando 3 do Galo. Até que veio Roberval Davino, ídolo do clube como jogador na década de 1970 e com boa participação como técnico no início dos anos 2000. Sequência de 8 jogos sem perder e a certeza de brigar por uma vaga às quartas-de-final.

Um empate fora, uma vitória em casa; entrar no G4 no domingo e sair na quarta-feira. Praticamente foi esta a realidade regatiana durante a Série C. O caminho para a classificação até poderia ser tranquilo, se não fossem mais tropeços. A primeira derrota de Davino foi contra o Treze, clube que o CRB venceu na estreia do treinador, por 1 a 0 em pleno Estádio Rei Pelé - com direito a reclamação do presidente(-deputado) e peitaço do técnico.

Ainda assim, o time seguiu com bons resultados, não perdendo fora de casa. No antepenúltimo jogo, também em casa, o adversário era o Cuiabá. O resultado foi o empate no Rei Pelé, que só não foi pior por conta das condições da partida, já que o gol saiu nos últimos minutos da partida. Faltando dois jogos, restava ao menos empatar fora de casa, contra o Sampaio Correa, e vencer o último jogo contra o rebaixado Baraúnas.

Em São Luiz, o time fez um bom primeiro tempo, mas só saiu com o empate por 1 a 1. Na segunda etapa, o CRB caiu de produção e viu o Sampaio vencer o jogo. Para a última partida, a classificação dependia de uma vitória e de uma  difícil combinação de resultados. Ah, e ainda havia a chance do rebaixamento para a Série D em caso de derrota.

A confiança da torcida aumentou com o gol de Denilson logo no início do segundo tempo no Rei Pelé, mas depois as coisas esfriaram com dois gols em seguida do Baraúnas. Para piorar, na casa dos 30 minutos, o Cuiabá virava fora de casa contra o Brasiliense e empurrava o time alagoano para a Série D. Denilson empatou o jogo aos 35 e ainda sobrou tempo para Léo virar no final da partida. 3 a 2 e um grande suspiro nas hostes alvirrubras.

(O equilíbrio no grupo ficou marcado pelos gols no final. O Treze, que ficou boa parte do tempo na zona de rebaixamento até a saída de Vica, que assumiria o Santa Cruz, venceu o atual time de seu ex-técnico com gol aos 44 minutos, garantindo a 3ª vaga. Num Castelão ineditamente lotado, o Fortaleza abriu 2 a 0 frente o Sampaio, mas levou o gol de empate aos 47, perdendo a vaga. Assim, Santa Cruz, Luverdense, Treze e Sampaio passaram para as quartas de final. Brasiliense, Baraúnas e Rio Branco foram rebaixados).

O CRB tem o mesmo calendário que o CSA no primeiro semestre, mais a garantia da Série C no segundo. No Nordestão, um grupo que promete ser equilibrado, com Ceará, Treze e Potiguar. Ainda que sendo o melhor time alagoano em termos de resultados, ao menos o que menos sustos deu aos seus torcedores, é preciso entender o que deu errado na Série C e confirmar a manutenção de Davino para o ano que vem.

O que ocorreu com o ASA?
Altos e baixos. Este é o ano do representante alagoano na Série B do Brasileiro. Para começar, a surpreendente campanha na Copa do Nordeste. Depois de 3 derrotas, o time correu atrás do prejuízo e não só se classificou, como chegou até a final do torneio, perdida para o Campinense. O técnico Leandro Campos foi embora para o Ceará em busca de melhor salário.

No Alagoano, o time passou em 3º no hexagonal, mas foi eliminado na prorrogação para o CSA, quebrando uma longa sequência de presença do time em finais do Estadual, o que ocorria desde 2008.

Indo para a Série B, o primeiro turno foi no modo normal quando comparado às 3 participações anteriores na competição. Vitória aqui, derrota ali, e 22 pontos marcados em 19 jogos. Se estava a 9 pontos do G4, estava a 3 do Z4, mas com a certeza de que se mantivesse a campanha a manutenção na competição para o ano que vem viria.

Porém, o time desandou totalmente. Nos 10 jogos seguintes foram 9 derrotas e 1 empate. O curioso é que no primeiro turno o time já vinha jogando bem, mas perdendo alguns resultados, principalmente por falta de qualidade nos arremates - em meio a lesões dos 3 principais atacantes, Lúcio Maranhão, Elionar Bombinha e Léo Gamalho, que sairia para o Ceará também por um salário melhor. Além disso, mesmo num período ruim do goleiro Gilson, com falhas consecutivas, o clube não perdia tanto e de forma tão feia.

Nos últimos 6 jogos foram 23 gols sofridos. Para não falar da quantidade de técnicos que já passaram pelo clube ao longo do ano. Foram 7 mudanças, se eu não estou enganado, com Leandro Campos voltando e saindo no início da fase ruim do clube; e o curioso caso de Ricardo Silva, que foi demitido, mas voltou a pedido dos jogadores, durante por 3 goleadas sofridas pelo clube.

Algo precisa ser dito. Afinal, o time desabou na tabela e faltando poucas rodadas para acabar a Série B parece que não sairá do lugar. São 4 pontos para o penúltimo e 9 para o ABC, primeiro fora da zona de rebaixamento, e com uma recuperação espetacular, já que ocupou a lanterna nas condições atuais do ASA por um bom tempo, mas venceu ponteiros como Palmeiras e Paraná no Frasqueirão - ainda que super lotado.

Ainda faltam 9 jogos para o ASA e matematicamente é possível que o time saia dessa situação, por mais difícil que possa parecer. Independentemente do que ocorrer, é fundamental que a diretoria exponha o que ocorreu especialmente no segundo turno. Uma campanha péssima desta tem de ter alguma explicação plausível.

Para o ano que vem, o time arapiraquense participará do Estadual por completo - campeão e vice da Copa do Nordeste deste ano não disputarão o torneio em 2014 - e a Copa do Brasil. No segundo semestre, tem vaga garantida no Brasileiro, seja na Série B ou na Série C.

domingo, 13 de outubro de 2013

[Circo a motor] A F1 sem brasileiros

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Algumas coisas aconteceram no circo da Fórmula 1 do último post para este. Ricciardo foi anunciado como substituto de Webber (que irá se aposentar) na RBR; Massa dará lugar a Raikkonen na Ferrari; e, dentro da pista, a volta da supremacia de Sebastian Vettel. São cinco vitórias nas cinco últimas corridas de uma temporada que prometia um equilíbrio razoável, como fora a última. Longe disso.

A Mercedes não consegue acertar o carro para a prova e passou a ter dificuldade para tirar as poles da RBR. A Lotus sofre com falta de dinheiro, a ponto de não pagar os salários dos pilotos, e não consegue melhorar o carro, que ainda mantém seus bons momentos por ser o que menos desgasta os pneus. Já a Ferrari, bem, a equipe não conseguiu evoluir durante a temporada, pelo contrário. Alonso está em segundo muito mais por sua regularidade e habilidade que pela equipe.

Com o campeonato esperando um 5º lugar em uma das 4 provas que faltam para Vettel conseguir o tetracampeonato consecutivo, resta apena a briga pelo segundo lugar do Mundial de Construtores entre Mercedes e Ferrari. Se os alemães são favoritos, a prova desta madrugada mostrou que ainda falta algo. Ainda assim, a diferença só aumentou de 1 para 10 pontos, muito graças ao drive trough de Felipe Massa por excesso de velocidade nos boxes. E é para falar sobre ele que resolvi largar o meu período sabático sobre o tema.

MASSA
Quem acompanha a F1 já imaginava que a saída de Felipe ocorresse no ano passado. Porém, (provavelmente) sem melhores opções no mercado e com a boa recuperação na metade final da temporada passada, ele renovou com a equipe italiana por mais um ano. 2013 começou no mesmo ritmo que 2012, com indicativos que ele daria trabalho para Alonso e poderia rememorar seus melhores tempos.

Engano nosso. Ainda na primeira parte a falta de sorte, como ter pneu estourado numa corrida, e outras coisas a mais, como bater em momentos seguidos, entre treinos e corridas. Ali eu já vislumbrava que não iriam renovar, por mais que a experiência para 2014 parece ser elemento fundamental perante a nova revolução causada por novas regras.

Se no ano passado ele teve tempo para recuperar, este ano o momento ruim surgiu no período que fora decisivo para o brasileiro no ano passado. Além disso, retorno a dizer que a Ferrari pouco evoluiu nesse período. 

Primeiro foi Webber ter afirmado que havia sido sondado. Depois, Hulkenberg admitir conversas e um quase acerto. Até que o que poucos imaginavam aconteceu. Montezemolo e companhia engoliram o orgulho e recontrataram Kimi Raikkonen, a quem demitiram em 2010 para a chegada de Alonso - e com o salário do último ano de contrato sendo pago sem qualquer serviço prestado.

Felipe foi quem anunciou, através de seus perfis em mídias sociais, para depois dar entrevista dizendo que iria dar o máximo possível nas corridas finais. Além disso, reafirmando que se fosse para correr em equipe menor, tendo de pagar pela vaga, preferia sair. Algo que já dissera sobre Barrichello no ano passado.
Massa foi o que mais se aproximou de um título após Senna
Lotus, McLaren, Sauber, Force India. São estas as equipes que apareceram como possibilidades. Nas últimas semanas, a McLaren foi descartada. Era a minha favorita, tendo em vista o péssimo carro deste ano, o que, teoricamente, garante a equipe mais tempo para preparar o novo carro do ano que vem - por mais que a mudança de motor, a volta da Honda em 2015, possa trazer prejuízos na evolução dos novos V6 pela Mercedes, que tem equipe própria.

Fora ela, a Lotus era a principal oportunidade, dado o que fizeram nas últimas temporadas. E desde o início era a principal oportunidade e a mais próxima de se concretizar. Entretanto, o adversário para vaga, o alemão H:ulkenberg, com 6 anos a menos que Massa, vem fazendo boas corridas, com resultados expressivos para a atual fase da também em crise Sauber. 4º e 5º lugares na Coréia do Sul e no Japão.

Por um futuro a médio e longo prazos, Hulkenberg seria a melhor opção. Para o ano que vem, Massa seria melhor, dada a sua experiência de uma longa jornada pela Ferrari. Conta a favor do brasileiro o seu maior poder de atração de capital para ajudar as combalidas finanças da histórica equipe. Se ele não paga para correr, pode fazer a intermediação para isso. A briga nos bastidores segue fortíssima.

Quanto às outras alternativas, a volta para a Sauber poderia ocorrer pela parceria com a Ferrari. Uma espécie de agradecimento pelos anos de serviço prestados por Felipe através da equipe que a italiana cede os motores. Pelo que vem andando, não se encaixaria na proposta do brasileiro. Já a Force India depende das provas em que a aerodinâmica do carro se dá bem, ainda que o final desta temporada também não venha sendo bom.

NASR
A outra alternativa do Brasil é a entrada de Felipe Nasr, que corre na GP2 e chegou a ter mais fôlego na briga pelo título da categoria graças à sua regularidade. Com um carro carregado de patrocínios brasileiros e com claro apoio da Rede Globo, vinha sendo um nome que aparentava certeza, mas caiu nos meses decisivos. Piloto que fez parte do programa de formação da RBR, praticamente foi negado o posto de Ricciardo na STR, sobrando poucos lugares a disputar para 2014.

O chefão da F1, Bernie Eclestone, acenou com a possibilidade de ajudá-lo, mas com Massa em condições parecidas, já prometeu o mesmo para ele. 


O FUTURO DO BRASIL
Há um claro desejo de manter um piloto brasileiro por questões de mercado. A Globo é uma das principais transmissoras da categoria há décadas; o Brasil tem um GP que sempre lota as arquibancadas também há muito tempo; e aqui muitos carros são vendidos, ainda mais na última década de situação econômica no mundo. Mas em que condições isso pode se dar?

O caso de Luiz Razia, comentado lá no início da temporada, mostra o quão é difícil um brasileiro ter a aposta de empresas locais. Ele perdeu o posto na Marussia (!!!) às vésperas da temporada porque os investidores estrangeiros desistiram do negócio. Nasr conta com Banco do Brasil, Sky e OGX como patrocinadores, mas a última vê seu dono perdendo bilhões de dólares em tempo recorde e os gastos para uma F1 são bem maiores.

Volto a reclamar da situação atual do automobilismo do país, sem boa formação na base e com imensa dificuldade para apoiar pilotos locais, que cada vez mais optam pela Fórmula Indy ou por correr em carros de turismo (Stock Car).

Repito o que escrevi em 14 de março:

"Em meio à (sensacional) série de propagandas para o novo Ford Fusion, que gerou uma nova disputa nas pistas entre Mansell e Piquet, o brasileiro falou numa entrevista à Sportv que a gerência do automobilismo brasileiro era nula. Não se pensava em evoluir, montar categorias de base, gerar um apoio para o jovem começar no kart e chegar até à F1, como ocorre em outros países. Afinal, este é um esporte (?) caro.

Não é preciso ir muito longe. Quantas categorias de base de monopostos existem no Brasil atualmente? Quantas tentativas, algumas particulares (apoios da família Diniz e de Felipe Massa), surgiram e sumiram em poucos anos? 

Principalmente, o que ocorreu com o Autódromo de Jacarepaguá, que diminuiu por conta do Pan-Americano e acabou com os Jogos Olímpicos, serve para demonstrar esta dura realidade. O acordo dizia que o autódromo que recebeu a F1 na década de 1980 só encerraria as suas atividades com a construção de um novo no Rio de Janeiro. Confusão com o terreno a ser cedido - que teria explosivos, era das Forças Armadas - e a obra mal começou. De qualquer forma, literalmente, o Autódromo Internacional Nelson Piquet fechou as suas pistas

[...] é necessário repensar o automobilismo no país. Não dá para esperar o pior dos cenários para tentar reconstruir um novo modelo de formação."

Ainda que Massa mantenha chances razoáveis para 2013, ao menos por enquanto, o pior dos cenários nunca esteve tão perto. O que seria catastrófico para um país que teve pilotos como Fittipaldi, Piquet e Senna e seus 8 títulos mundiais e que desde 1970 conta com alguém representando o país na principal categoria do automobilismo mundial.

sábado, 12 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] A qualidade dos amistosos

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Muito se falou e ainda se fala desde a derrota para a França em 1998 sobre amistosos da Seleção Brasileira contra adversários "absurdos", especialmente porque a maioria deles se realizam por conta de contrato, seja o que perdurou nos 10 primeiros anos com a Nike, ou com a empresa (árabe) que compra o direito de organizá-los. Os amistosos com Coréia do Sul, realizado hoje, e com Zâmbia, na próxima terça, restabeleceram tal discussão.

Confesso que para além do problema de poucos amistosos a serem realizados no ano que vem, creio que apenas um antes da fase de preparação para a Copa do Mundo, e do fato de não serem realizados no Brasil, estas duas seleções até que foram bem escolhidas.

CORÉIA
Começando pela Coréia do Sul, a seleção se garantiu para seu oitavo mundial seguido, ainda que pelo critério de saldo de gols e se em 2002 ela alcançou o 4º lugar em casa - ainda que contando com (muita) ajuda da arbitragem) - houve um natural desenvolvimento dos jogadores até aqui. Além disso, representa um tipo de jogo que não costumamos ver com frequência, o asiático. 

Entendo ser muito importante enfrentar na fase de preparação seleções com diferentes formas de jogar, afinal serve como teste para diferentes situações. Se já pegamos a Suíça, bem menos retrancada que de outrora, enfrentar a tal "correria" asiática, ainda que cada vez mais estereótipo que realidade, serve para preparar a marcação para outras situações.

No jogo de hoje, o Brasil começou errando muitos passes, e muito disso graças à marcação mais pesada dos sul-coreanos. Neymar sofreu 8 faltas só no primeiro tempo, mas a maioria delas longe da área, atendendo a um pedido de Felipão para jogar de forma mais flexível, saindo da ponta esquerda. Só quando ele partiu em diagonal de forma mais ofensiva é que saiu uma boa falta a cobrar e ele a cobrou bem, no canto, marcando o primeiro gol no final do 1º tempo.

Destaque negativo para o destempero dos jogadores brasileiros. Neymar segue parecendo se irritar bastante quando recebe uma jogada mais dura, uma série de faltas de um mesmo jogador. Ele, mais do que ninguém, deveria saber disso, ainda mais agora com a atenção sobre ele em nível mundial. Para além disso, o cuidado com a fama de "cai-cai" deve seguir, de maneira que ele não leve cartões por reclamações mais acintosas.

Se Neymar precisa de mais cuidado, o que falar de Marcelo? O lateral-esquerdo brasileiro segue indiscutível na posição, mas fraqueja naquele que é o seu ponto negativo: o temperamento. Contra a Suíça ele já havia exagerado, mas o árbitro não viu, desta vez mais uma mão na cara do adversário... Imagina-se algo assim numa fase de mata-mata - vide Felipe Mello em 2010 - e todo o trabalho pode ser jogado fora.

Veio o segundo tempo e Felipão colocou Ramires no lugar do Hulk, que havia desperdiçado a principal jogada com bola rolando. Como sempre, Paulinho fica mais livre e logo na primeira bola acertou um bom passe para Oscar driblar o goleiro e ampliar o marcador. Mais um gol nos extremos das etapas. Oscar, o "10" que naturalmente se colocou na posição em meio a jogadores mais idolatrados pela imprensa (Ganso, R10 e Kaká) e grande herança da Era Mano Menezes.

Daí em diante, uma série de modificações em ambos os lados. No Brasil, além de Lucas não ter entrado, o que comprova que é necessário que o ex-Marcelinho comece a jogar mais e melhor agora também no PSG; a entrada de Lucas Leiva no lugar de Luiz Gustavo. Este Lucas parece ter a calma que se necessita para a posição e com o Liverpool voltando a bons dias depois de muito tempo pode alcançar a última vaga do meio com a ida de Fernando para a Ucrânia.

Sobre a Coréia, é um time em reconstrução, que deve ser bem rápida e destaque para o comando de um sul-coreano, Myung-Bo, jogador que atuou em 4 Copas do Mundo. O time tem muitos jogadores jovens, com habilidade e com um esquema de forte marcação quando a bola está com o adversário. Um aprimoramento do jeito que nos acostumamos a ver e que pode gerar frutos a médio prazo.

ZÂMBIA
Sobre a Zâmbia, apesar de desconhecida pela maioria dos brasileiros, foi campeã do Campeonato Africano das Nações em 2011, passando por Gana nas semifinais e pela Costa do Marfim na final. Na edição deste ano parou na primeira fase após três empates, num grupo que tinha a futura campeã Nigéria. 

Ainda que não tenha conseguido uma vaga para a fase final das Eliminatórias locais, é um time a ser observado para o futuro e que deve imprimir um estilo de jogo diferente do que o Brasil enfrentou até aqui. A ser realizado em Pequim, o jogo tende a ser aproveitado por Felipão para testar jogadores nas posições que restam dúvidas, com três ou quatro alterações a serem utilizadas em relação ao time que jogou hoje. O que me parece ser bastante válido.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Bom Senso F.C. e a relação com quem transmite

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O anúncio do calendário oficial do futebol brasileiro por parte da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 23 de setembro causou algo até então inédito nesta prática esportiva no país. Um grupo de jogadores, a maioria de grandes clubes brasileiros, juntou-se para exigir da CBF melhores condições para o trabalho em 2014. Com a realização da Copa do Mundo Fifa, a proposta tem como principal reclamação o não cumprimento dos 30 dias de férias, direito do trabalhador garantido pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Pela proposta, esta deveria ser dividida em duas partes, uma a partir de dezembro, após a realização do Campeonato Brasileiro, e outra durante o torneio mundial.

Outros pontos indicados na reunião realizada em São Paulo, no dia 30 de setembro, referem-se: ao crescimento do período de pré-temporada dos clubes – encurtado especialmente após a adoção do sistema de pontos corridos no Brasileirão, com a manutenção dos Campeonatos Estaduais nos primeiros meses do ano; à utilização do fair play financeiro, algo exigido pela federação europeia para os clubes, de maneira que se gaste de acordo com a receita, garantindo que os salários dos jogadores serão pagos em dia; por fim, uma maior representatividade dos atletas nos conselhos técnicos de competições e federações.

O problema com o calendário e um prazo menor de preparação é antigo, mas que se agrava com os torneios mundiais realizados no Brasil. No âmbito local, além do aumento do Brasileirão em suas três primeiras divisões na última década, recorda-se também que já em 2013 a Copa do Brasil ganhou um formato com mais datas, passando a ser disputada também pelos times brasileiros que disputaram a Copa Bridgestone Libertadores e seguindo no segundo semestre. Tal decisão serviu também para garantir as transmissões de TV no meio de semana já que os clubes brasileiros costumam não dar tanta importância para a Copa Sul-Americana.

Cessão dos direitos de transmissão

Os jogadores assumem que uma mudança será difícil para 2013, porém pressionam para que, ao menos, passem a ser escutados pela CBF. Não é do interesse deste texto analisar o que ocorreu na reunião, tampouco observar que o grupo acabou desmerecendo os sindicatos de atletas de futebol existentes, ao pular a instância que os deveria representar. A nossa questão é perceber o movimento da detentora dos direitos de transmissão dos principais campeonatos de futebol do país em meio a isso.

O argumento utilizado para não criar atrito com as Organizações Globo é que com mais tempo de preparação o espetáculo oferecido ao público, seja nos estádios ou pela TV, será ainda melhor, abarcando melhores resultados para quem torce, para quem joga, para quem transmite e para quem patrocina. A Globo Comunicação já anunciou que é a favor de se adiar em uma semana o início dos torneios em 2014, do dia 12 para o dia 19 de janeiro, cumprindo o prazo mínimo de 10 dias de preparação após o retorno das férias. As federações estão acatando e, em alguns casos, há a discussão para a diminuição do tamanho do Estadual já no ano que vem, como deve ser aprovado no Rio de Janeiro – de maneira a aumentar o período de preparação para os quatro grandes clubes do estado.

Além disso, o conglomerado indica que os clubes terão 45 dias no meio da temporada para realizar uma nova preparação – como ocorreu este ano por conta da Copa das Confederações e ocorria quando o Brasileiro era disputado em menos datas. Para 2015, há conversas para que os estaduais comecem apenas em fevereiro, garantindo quase um mês para a pré-temporada. Independente disso, é claro que como se trata de uma relação de negócio previamente estabelecida pelos clubes, sem qualquer contato com os seus empregados, há um contrato assinado para a cessão dos direitos de transmissão das equipes num determinado torneio. Assim, apesar do protesto, tanto clubes quanto federações estariam obrigadas a cumpri-los de alguma forma.

Reunião dos clubes

Até mesmo porque as empresas que transmitem também vendem seus pacotes anuais de patrocínio, que são assinados com determinada quantidade de partidas a serem transmitidas no ano ou torneio e, consequentemente, com a quantia de inserções. Uma mudança nas datas de disputa deve levar em conta os contratos já assinados e uma necessária renegociação dos mesmos. Claro que considerando o potencial da líder do mercado no Brasil e, especialmente, a importância do programa futebol para atrair uma audiência fiel, o “convencimento” das empresas pode ser mais fácil.

Fato é que a temporada de 2013 vai mostrando que maior tempo de preparação traz mais resultados em campo de maneira mais rápida. O Atlético-PR optou por colocar o time sub-23 para disputar o Campeonato Paranaense deste ano por achar que o Estadual não valia muita coisa e, consequentemente, para preparar seus jogadores para torneios nacionais, casos do Brasileirão e da Copa do Brasil – além disso, sob a presidência de Mario Cesar Petraglia, o Furacão resolveu que produziria seu próprio conteúdo para o site oficial do clube, chegando até a proibir que os jogadores dessem entrevistas a rádios ou TVs. O Atlético está nas quartas de final da Copa do Brasil e vem com um bom desempenho, brigando por vaga na Libertadores do ano que vem, no Brasileirão.

Outro caso de pré-temporada mais larga e que aparenta dar certo – além de outros fatores, é claro – é o dos clubes mineiros. O Campeonato Mineiro começa mais tarde que os demais Estaduais, tendo início no final de janeiro ou no início de fevereiro, garantindo mais semanas de férias e preparação. O Atlético-MG foi campeão da Libertadores e o Cruzeiro lidera com folga o Brasileirão. Se para a TV o ideal seria que o futebol ao vivo não parasse, a organização e a definição da quantidade de datas do torneio, por mais pressões que possam ocorrer por quem detém os direitos de transmissão, deve ser definida pelos clubes em reunião com a respectiva federação, realizada meses antes do início do certamente – ainda que segundo o Estatuto de Defesa do Torcedor, tenha-se que manter a mesma fórmula de disputa, ao menos, por dois anos seguidos.

Estruturas medievais

Se a pressão dos jogadores é inédita no Brasil, por conta da aparente desunião da classe, não o é no histórico dos esportes. Ficando com um caso recente do futebol, as ligas da Espanha e da Itália adiaram as rodadas iniciais da temporada 2011/2012 por conta de greve dos jogadores, que exigiam garantias que os atletas de equipes menores receberiam os salários em dia – em meio à crise econômica geral do continente que também afetou, e ainda afeta, os patrocínios para o esporte. Mesmo jogadores de grandes equipes, como o capitão da Espanha e do Real Madrid, o goleiro Casillas, encamparam o movimento. No caso brasileiro, por exemplo, dois dos jogadores com maior visibilidade internacional atuando por aqui, Ronaldinho (Atlético-MG) e Seedorf (Botafogo) ainda não fazem parte do Bom Senso F.C [Seedorf participou da reunião com a CBF na segunda-feira].

No continente sul-americano, greves de jogadores já ocorriam na década de 1920! O que reflete também uma série de problemas gerais da população brasileira frente a manifestações sociais, com a difusão de certa repulsa em realizar protestos ou frente a movimentos grevistas de trabalhadores.

É importante ressaltar que em meio a tantas manifestações por direitos no país, que tiveram seu ápice em junho, a iniciativa de exigir os direitos dos trabalhadores do futebol, ainda que apenas dos jogadores que disputam grandes torneios no país, vem num momento oportuno, tanto por conta da adesão aos protestos quanto pela visibilidade da Copa do Mundo Fifa. Imagina-se que uma paralisação dos principais jogadores do “país do futebol” em ano de Copa aqui no Brasil geraria um estardalhaço muito grande. Só não se sabe se a ponto de estremecer as estruturas quase que medievais do comando futebolístico por aqui.

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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

*Há outro texto nesta edição do Observatório sobre o assunto: O gol mais importante está prestes a sair, de Thiago Cury Luiz.