domingo, 24 de maio de 2020

2020.16 Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol

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Enquanto pesquisador de futebol, era um problema não ter lido antes "Entradas e bandeiras" do Gilmar Mascarenhas. O saudoso pesquisador publicou o livro em 2014 apontando a partir da geografia "a conquista do Brasil pelo futebol".

Meu arquivo com fichamento de citações cresceu bastante, pois ele trata de diferentes tópicos que me interessam na pesquisa: a normatização do jogo a partir da Inglaterra, já apontando ali um "futebol de espetáculo"; a entrada e expansão que é diferente em diferentes lugares no Brasil; as mudanças que a mercantilização existe, com destaque para os efeitos da metropolização do país, com clubes periféricos sendo cada vez mais extintos; e, por fim, o modelo neoliberal que afasta a torcida mais efusiva, encarecendo o acesso ao jogo.

Em suma, vai ser o livro que passarei a indicar a qualquer pesquisador que queira estudar o futebol, pois instiga diferentes possibilidades de pesquisa. Ah, e o melhor, está disponível de forma gratuita para ser baixado no site da Eduerj, na Biblioteca da Quarenta: https://www.eduerj.com/eng/?product=entradas-e-bandeiras-a-conquista-do-brasil-pelo-futebol-2

MASCARENHAS, Gilmar. Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol. Rio de Janeiro: Eduerj, 2014.

A socialite do Graciliano Ramos

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Casada há mais de uma década, um casal de filhos, uma cachorra fofinha. Mãe coruja, dona de casa que é a grande referência dos amigos para resolver alguns problemas do cotidiano... Se não fosse tão ruim hoje em dia falar isso, seria a “típica família brasileira”, nada demais que gerasse uma crônica específica. Eita, “rapidinho, só uma coisa que eu lembrei agora”.

Um “Meninaaa, nem te conto!” assim que o zap do outro lado é atendido. Assuntos diversos do cotidiano, fala de uma parente ou vizinho, mas também sobre quem ocupa o cargo de presidente da República. São tantas conversas diárias que já pediram para anunciar como “o grande debate” de certo canal de notícias da TV fechada – falta só ter as divergências do mundo da imaginação que criam por lá.

“Vou ligar aqui rapidinho!” num momento da conversa quando precisa ligar o liquidificador. Porque a conversa é com o celular na estante da cozinha enquanto vai fazendo a mágica da culinária para deixar o almoço ou o jantar pronto. E é ainda mais difícil quando alguém em casa não come a carne de determinado jeito ou outro prefere o suco de maneira diferente. Haja trabalho!

Como se não bastasse o comando de três pessoas e uma cadela em casa, ainda tem os irmãos, que falam, escrevem, mandam áudios; os dois sobrinhos, especialmente, que qualquer dúvida batem na porta ou, para ser mais direto, mandam aquela mensagem de áudio pelo zap ou ligam, não importando se ela está ocupada com as coisas de casa, cochilando depois do almoço ou vendo os filmes. Aliás, valem os parênteses. A pessoa não gosta de série, mas vê filmes aos poucos COMO SE FOSSEM SÉRIES!

Voltando. Está ali à disposição para saber como abrir uma lata – algo que não sabia porque não é ela que faz isso –, temperar a carne, algum contato para arrumar a casa, escutar os desabafos e rir das piadas, fora que é a especialista em como limpar os alimentos e as compras nesses tempos de pandemia! Por sinal, ninguém melhor que ela, que se preocupa com tudo algumas vezes mais do que qualquer pessoa que você ache que está se ocupando demais com isso. Afinal, ela se preocupa com toda a família.

Mas, pera aí, onde que isso é vida de “socialite”?

Quantas vezes você já foi para festa de aniversário de cachorro, com direito a pedaço de bolo para a cadela que ficou em casa, que até hoje dorme com a manta que foi o brinde do aniversário?

“Mas eu gosto do Alok, como vocês não sabiam quem era?” quando alguém falou que não sabia como ele era fisicamente. Dias depois, após a live do famoso DJ: “a gente até puxou o sofá mais para o canto, só não dancei mais por causa da hora, vai que os vizinhos reclamassem!”.

E as amizades? A amiga super jovem, com alguns anos à frente, que se espanta com certas coisas porque na “nossa época” era de outro jeito. O “faz-tudo” das proximidades que a considera como mãe porque sempre arranja uma maneira de ajudar. Mas como seria diferente para alguém que há mais de uma década recebe as felicitações de aniversário de outra amiga dias depois da data real sem reclamar, pois não quer constranger? A “socialite do Graciliano” parece ser a típica dona de casa que a nossa sociedade patriarcal acaba gerando de exemplos, mas é única não só por tudo isso que relatei aqui, mas por ser uma pessoa de um coração gigante – também quando pega ranço, mas aí seria tema para uma outra crônica.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O “novo normal” do futebol ou evolução da mercantilização sobre o jogo?

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Após a K-League recomeçar no dia 8 de maio, foi a vez de uma das consideradas grandes ligas retornar no dia 16. A Bundeliga voltou com as partidas com portões fechados e uma série de diretrizes para evitar novas contaminações em meio à pandemia global da Covid-19. Acompanhei especialmente o jogo entre Borussia Dortmund X Schalke 04, observando possíveis novos elementos do futebol profissional, da transmissão à marcação. Será que vimos ali um “novo normal” desse esporte?

Parênteses

Primeiro, é importante ratificar a diferença de como o governo federal da Alemanha tratou nos cuidados para diminuir os impactos do coronavírus em relação ao Brasil. Ainda que, pessoalmente, eu critique a volta do torneio – que teve forte pressão da UEFA e alguma prioridade ao cumprimento dos contratos de exibição –, voltar agora me parece muito menos absurdo do que as pressões realizadas aqui no Brasil ainda neste mês de maio, com alguns clubes servindo de vias de propaganda das piores visões políticas sobre as pessoas.

Dito isto, importante citar as exigências do protocolo da Bundesliga: quarentena obrigatória para os clubes, com isolamento obrigatório – um técnico saiu e não pôde seguir para o jogo no sábado; sem cumprimentos como abraços e apertos de mão; distância de 1,5m entre jogadores no banco de reservas; todo mundo fora de campo utilizando máscara, com exceção aberta aos treinadores nos momentos em que forem passar instrução, mas só se tiverem com o mínimo de 1,5m de distância; cada equipe sairá de forma separada.

Jogo para mediação de uma plataforma digital
Acompanhei Borussia X Schalke usando o Twitter como bloco de notas. Importante dizer que não acompanhava o torneio alemão com frequência, então a primeira surpresa ficou com a diferença de nível de atuação das duas equipes, muito bem representada pela goleada dos aurinegros por 4 a 0.

A título de provocação, é necessário delimitar que sempre fui contrário a jogos sem público, clássicos sem a torcida adversária e qualquer medida semelhante. Então já vejo como outro jogo quando há restrição à representação torcedora dentro do estádio.

Mesmo considerando que a Alemanha tenha passado pela fase neoliberal da mercantilização do futebol com mais exceções, o modelo atual, sem público ou com representação virtual (cartazes ou telões mostrando torcedores, como em alguns casos) parece antecipar certa tendência que considera como mais adequado para o “futebol de espetáculo” dos estádios modernos, como afirma Mascarenhas (2014, p. 170), “um público menos apaixonado, menos ‘viril’ e mais comportado”. Além de uma prioridade para que se tornasse “um bem simbólico consumido basicamente através dos meios de comunicação de massa” (idem, p. 178). A transmissão dos torneios, mesmo com portões fechados, permitem entrada de receitas consideráveis, logo, a tentativa de se manter o cronograma normal, com a partida ocorrendo de maneira adaptável.

Ainda nesse sentido, a transmissão do jogo tentou ao máximo esconder as arquibancadas vazias, com a câmera central focando mais no gramado, com plano mais recuado para o centro do gramado, de maneira a exibir apenas as primeiras fileiras de cadeiras do outro lado. Sobre isso, observei ainda que o foco nos jogadores que iam cobrar falta ou escanteio parada era ainda maior que o normal, para apagar o quão diferente é o estádio sem torcida.

Mudanças no jogo
De movimentação de jogo, aparentemente a marcação fica mais frouxa. Mesmo na bola parada eu observei muito menos momentos de empurra-empurra. A procura pelo corpo do adversário apareceu em raros casos de proteção para o goleiro chegar na bola. Não lembro de ter visto situações de proteção no corpo para subir na bola ou medir a distância do adversário.

Destaco como exceção na partida em como Haaland, centroavante do Borussia, parecia ser o único que procurava o jogo de corpo. Isso é exemplar quando, aos 24 minutos, ele empurra o marcador e é necessário que o árbitro se aproxime, mantendo certa distância, de ambos, com um sorriso no rosto talvez também expressando a estranheza pelo contato.

Do pouco que vi do final do primeiro tempo ao início do segundo de Union Berlin X Bayern de Munique, realizado no dia seguinte, pareceu-me que os jogadores estavam mais próximos do “normal” anterior que o de maior preocupação com o contato físico. Vendo os replays das comemorações de gols das outras partidas, houve contato em algumas situações, abraços e apertos de mão que se confundiam com o cuidadoso toque de pés ou cotovelos.

Ainda que não seja meu interesse de estudo, tentei observar as coisas referentes especificamente ao contato físico natural do jogo de futebol. Resta acompanhar se os jogadores retornarão ao que era costume maior, considerando a rotina de testes e o controle protocolar do dia a dia; ou se seguirão presos aos limites de como lidar com a preocupação psicológica das novas “regras” a que estão impostos.

Concluindo, do lado da transmissão, será um grande teste sobre a importância da participação torcedora in loco no estádio, considerando ainda que as plataformas de comunicação também vendem seus jogos com a participação torcedora. Que nós não sigamos para um caminho de ser melhor sem qualquer torcedora ou torcedor num novo processo de mercantilização pós-crise.

domingo, 3 de maio de 2020

2020.14 Mafalda/ 2020.15 Mayara & Anabelle - Hora Extra

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Sou fã da Mafalda e sua turma e lamento muito não ter sentado no banco com ela na minha única ida a Buenos Aires. Pretendia fazer isso no tempo que iria ficar por lá para a pesquisa da tese, algo que não deve ocorrer mais. Ganhei "Mafalda: todas las tiras" da minha companheira no aniversário de 2018. Dias antes ela me perguntou se eu lia em espanhol, mas por causa de um suposto artigo que ela tinha que avaliar e eu poderia tirar algumas dúvidas.

Com a quarentena por causa da pandemia, a necessidade de boas distrações se faz cada vez mais presente. Coloquei as mais de 600 páginas com todas as tiras da Mafalda em espanhol como parte da minha rotina, após o almoço e antes de pegar o computador para trabalhar. Fui lendo, me divertindo e vendo algumas críticas tão atuais presentes ali. Agora, resta a saudade da companhia de toda a turma.


Verificando os e-mails antigos e que deveriam ter algo para baixar, encontrei o que foi enviado via Catarse para quem ajudou à edição "Hora Extra" da HQ "Mayara & Anabelle", cujo roteirista é aqui de Maceió. Como eles não conseguiram enviar todas as recompensas, inclusive a edição impressa, por causa da quarentena, resolveram compensar mandando o arquivo em .pdf.

Ao contrário das outras edições, aqui as duas assistentes contra monstros têm histórias em paralelo à linha oficial sendo contadas. Li enquanto ouvia a live de Lulu Santos.