sexta-feira, 11 de março de 2011

Em busca do El Dorado: As últimas horas de toda uma vida e as primeiras de outra a começar

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Foi muito, muito difícil mesmo ter de me despedir dos meus pais no Aeroporto de Maceió. Na verdade, o domingo inteiro havia sido bem difícil. Quando li algo que o Renato escreveu no Etnografia Potiguar, sobre que os pais dele não imaginavam o quanto ele era agradecido a eles, eu decidi que tinha que falar o quanto os meus foram fundamentais para mim.

A ideia era falar durante o tempo de o táxi chegar, mas dessa vez ele não demorou tanto e mal deu para eu olhar os cachorros, só a mais velha que eu ainda fiz um carinho, numa cabeça repleta de pelos que só na quinta-feira desta semana iria ser podada.

Sobrou para o Aeroporto. Eu não queria nem dormir no domingo para não perder nenhuma hora em casa, mas atendi ao conselho dos meus pais e fui para cama descansar por cerca de três horas. Quando eu acordei, eles já estavam prontos. E eu ali, não querendo que o tempo passasse, mas passou e muito rápido.

A primeira pessoa quem abracei no Aeroporto foi a minha mãe, ela chorou muito e eu acompanhei o embalo. Apesar dos problemas de saúde dela, que se agravaram nos últimos anos e, de certa forma, atrapalham a família, eu gosto muito dela e ela de mim. Filho caçula, sabe como é que é né? As preocupações dela eram sobre como eu iria me virar com as coisas de casa, lavar roupa, comprar ferro para passá-las, arranjar uma casa...

Meu pai é mais duro na queda. Chorou contido. Na verdade, como eu mal consegui olhar para os olhos dos dois, eu só percebi porque a voz dele diminuiu a gravidade e porque pegou um lenço para secar as lágrimas.

Eu disse a eles que o que havia conseguido até agora era por conta deles. O meu pai respondeu que era porque eu merecia, tinha lutado por aquilo, mas como disse o Renato no texto dele, eles não sabem o quanto foram importantes, ainda mais no meu caso, que sou tão chato e que tanto reclamei que queria sair de casa e, em algumas vezes, sei que os magoei por conta disso.

Enfim, em alguns momentos nos aviões, quando eu parava e pensava no que este 07 de março significa para mim, eu tinha vontade de chorar. Ratifiquei algo que já verificara em outras ocasiões: é muito ruim viajar sozinho. Eu queria ter um ombro para chorar e não tinha. Se antes o meu orgulho me impedia disso na maioria da vezes, agora são as condições materiais que impedem.

Tive alguns problemas para entrar em contato com o pessoal de São Leopoldo quando cheguei no Aeroporto. Acabei errando na hora de passar o número de um dos rapazes para o novo celular e faltou um número. Não lembrava de ter o número do outro e tive que gastar muitos dos meus créditos em telefonemas interurbanos.

Optei por vir de táxi, paguei caro pela viagem entre as cidades. Ao menos o papo com o taxista valeu à pena. Ele criticou muito o trânsito nas rodovias da região metropolitana de POA e o Aeroporto, o qual já havia percebido na minha viagem do final do ano passado que está muito ruim em termos de quantidade de voos simultâneos possíveis. Ele ratificou que deve ser a maior vergonha durante a Copa do Mundo, apesar de o Rio Grande do Sul possuir condições esportivos muito boas, com provavelmente dois estádios aptos.

Ah, o motorista estuda numa faculdade em Canoas, Administração. Trabalha dia sim, dia não para pagar o curso. Disse-me que estudar na UFRGS (fala-se “Urgues”) seria difícil não só pela concorrência para entrar, mas também porque o curso é pulverizado nos três turnos, o que não permitiria que trabalhasse.

Neste momento, estou sozinho no apartamento. O casal que mora aqui, além dos dois já citados, saíram e só voltam amanhã. Um dos rapazes está em POA e também só volta amanhã. Sou muito tímido para conversar com as pessoas e às vezes sinto que as pessoas podem pensar que é falta de educação minha. Quando é um casal, então, travo ainda mais.

Enfim, já assisti o RBS Notícias, o Vale Mais (da TV Unisinos) e já comi um pedaço de bolo pronto que comprei no único local aberto nesta segunda-feira de Carnaval, o posto de combustíveis da esquina.

A saudade dos meus pais não passa. O negócio está bem mais difícil que eu pensava. Inclusive, quando liguei para avisar que tinha chegado, quase não consegui falar. É melhor, ao menos por enquanto, não ligar tão cedo para Maceió. A sensação é que o coração ficou lá. Só espero que a cabeça esteja no lugar para arranjar um canto para morar durante esses dois anos e para iniciar as atividades no Cepos já nesta quinta-feira.

Ah, sobre música, algo que isso sim posso ouvir aos montes enquanto leio/estudo. Fica a sugestão abaixo:

domingo, 6 de março de 2011

Em busca do El Dorado: Despedidas III

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Eu comentei no início que vinha pensando nestes textos de despedidas há algum tempo, mas esqueci de citar duas fontes importantes para elaboração dos mesmos, apesar de fugir um pouco do que foi feito.

O primeiro texto foi "Cordialmente seu", de Miguel Falabella em sua coluna até então mensal na IstoÉ. É uma despedida da coluna, já que ele irá escrever mais uma novela na Rede Globo. Falabella está longe de ser ídolo meu, mas tem certas coisas no texto dele que são interessantes.

Uma delas é:

"Apenas as palavras, cada uma delas, todas arrumadas, em seus vestidos alegres, as bocas vermelhas, agrupadas para uma fotografia num dia claro de verão. As palavras que dissemos e, principalmente, aquelas que não conseguimos dizer a tempo, antes que partisse o avião. Se alguma coisa sobrar, vão ser essas palavras, não tenho dúvida".

Uma das minhas preocupações no início de fevereiro era ter chateado alguém que não queria chatear. Sair de Maceió com pessoas queridas, mas que o tempo e as atividades nos fizeram ir para lados opostos, algo bem comum para alguém que tenta ser desapegado de outras pessoas, que nem eu. Consegui resolver o que poderia ser um problema dias depois numa conversa com uma dessas pessoas.

Por incrível que pareça - ou porque as pessoas queriam comemorar minha saída de suas vidas -, tive três despedidas. A primeira foi a do trabalho, numa pizzaria sábado antepassado, apesar de trabalhar ainda até a sexta-feira passada. Não teve muita conversa por deficiências do espaço, maximizadas por uma rápida chuva.

A segunda foi no dia seguinte, domingo. Os companheiros do Núcleo de Estudos Cepcom resolveram almoçar juntos numa churrascaria. Marcaram para um lugar longe, eu estava sem vontade de sair de casa, mas fui convencido a ir e fiz uma baita força para isso. Conversamos na medida do possível para um lugar tão cheio.

A última delas foi na quinta-feira, com colegas da época da Ufal, em outra pizzaria. Foi bem legal rever as pessoas pela última vez antes da viagem e consegui me divertir bem. Pena que a noite não tenha terminado bem com a necessidade de fugir de um ônibus sendo depredado.

A outra fonte foi um blog de outro colega da Ufal, que foi para o outro Rio Grande fazer Mestrado, o qual chegou uma semana antes da minha viagem ao Sul. Renato Medeiros escreve um pouco da sua trajetória em Etnografia Potiguar.

Para finalizar, não é muito a minha praia - nem de praia eu gosto -, mas queria agradecer no final deste texto a todos os verdadeiros companheiros que apareceram durante esses onze anos de Maceió, em especialmente os que tiveram a preocupação de pegar um pouco dos seus tempos para gastar com alguém que nem eu, que não preza por amizades.

Devo ficar um tempo sem ter acesso a internet, mas quando possível o Em busca do El Dorado entrará no Dialética Terrestre para contar as aventuras deste imigrante nordestino no Rio Grande do Sul.

Em busca do El Dorado: Despedidas II

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Último dia em Maceió. Dia bem difícil esse. Primeiro, ter de jogar o máximo de coisas em duas malas e uma bolsa, de forma a pensar em que não fiquem tão pesadas. Quase impossível! Além disso, a emoção de ter de deixar a casa dos pais após uma vida inteira.

Para dizer a verdade, eu já queria sair da casa deles há alguns anos, mas não esperava que quando isso viesse seria para um lugar tão longe. O Rio Grande do Sul fica bem longe de Alagoas e os preços das passagens aéreas ainda não são tão baratos quanto o que propagandeiam algumas matérias na TV e as promoções das companhias aéreas. Para vir para cá e voltar teria que gastar, pelo menos, R$ 700,00, que para quem terá que se virá sozinho em outro Estado é muito.

Apesar de todos os problemas nos últimos anos aqui em casa, por mais que em muitos momentos preferira não estar mais aqui, ainda assim eu sei que vou sentir falta. Meu quarto é uma espécie de fortaleza particular, onde posso me trancar e fazer as minhas coisas dentro do limite do que a convivência em família, na minha ao menos, permite.

A mudança será um enorme passo. Uma mudança em todos os aspectos da minha vida. A independência tão sonhada vindo com outros tantos passos importantes que terei que dar sem perguntar ou informar nada a ninguém.

Ainda faltam algumas horas para a viagem e já sinto que o negócio mais tarde será bem mais difícil que eu imaginava.

Daqui a pouco escrevo sobre como foram as minhas despedidas por aqui...

sábado, 5 de março de 2011

Em busca do El Dorado: Despedidas I

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"Vão-se as antigas despedidas para que novas possam chegar, pois assim é a vida, o que se há de fazer" - Miguel Falabella (IstoÉ, 23/2/2011).

Há mais de uma semana venho pensando que deveria escrever algo aqui sobre a minha despedida de Maceió. Nos últimos dias acabei protelando, protelando, mas hoje resolvi que deveria começar. É, começar. Quem me conhece sabe que não sou de escrever em poucas linhas, apesar da minha entrada recente no mundo dos 140 caracteres de uma rede social.

Será a minha terceira mudança de cidade com quase 23 anos. Com dois anos saí de Maceió para Aracaju. Dez anos depois, retornamos. Agora, onze anos depois, estou eu para mudar de novo. Mas agora é diferente.

Nas outras vezes, por mais que tenha sido sem a minha vontade expressa, eu não tinha responsabilidade com a parte burocrática das mudanças. Ajudei na última, é claro, mas tinha pai e mãe para se preocuparem com dinheiro, aluguel de caminhão e coisas assim. Além do que, por mais que deixasse amigos e contatos sociais - ao meu estilo -, a base viria junto.

A ESCOLHA PELO RS

Desta vez, não. Na verdade não estava nos meus planos até o início do segundo semestre do ano passado sair de Maceió tão cedo. Apesar da falta de um curso de Mestrado em Comunicação Social por aqui - por incompetência docente -, a minha ideia, por falta de dinheiro e tempo para estudar, era fazer alguma seleção de pós por aqui para depois de um ano tentar algo fora.

Rio Grande do Sul, então, jamais foi uma alternativa. Dado o meu interesse específico, políticas de comunicação, minhas alternativas seriam a UFRJ e a UnB, onde pretendia realizar as seleções no ano seguinte à minha conclusão de curso.

Para variar, os meus planos não seguiram esse rumo. Recebi um convite informal para tentar a seleção da Universidade do Vale do Rio dos Sinos-RS, a qual visitara sem nenhum interesse em 2007, durante um evento que o meu núcleo de estudos organizava e fiquei de pensar, mas a resposta  aquele momento havia sido negativa.

Depois, pensei, pensei, e vi que poderia ser uma chance única e que não custava nada tentar. Estive errado de novo. Custou muito. Para fazer a inscrição tive que convencer o pessoal de lá que mesmo sem data de colação de grau marcada iria me formar antes da matrícula, caso fosse aprovado.

Além disso, pareceu impossível escrever o TCC, por mais que tivesse lido a maioria dos livros necessários e estivesse muito por dentro do assunto. Em casa, tudo o que era prejudicial para quem estava fazendo um trabalho deste nível ocorria. Após quatro meses trabalhando das 6h30 às 19h30, saí do estágio da tarde para ter mais tempo, porém as mulheres da família só atrapalhavam.

Fui para a entrevista em São Leopoldo numa depressão braba. Achando que nada para mim dava certo por minha culpa. Na maior parte do tempo achava que não ia conseguir terminar o TCC à tempo. Graças ao local em que fiquei lá não só consegui a tranquilidade mental que precisava, como fiz boa parte do Trabalho, a ponto de chegar aqui e marcar a apresentação.

A entrevista foi boa. O ruim da viagem fora a necessidade, por conta do trabalho, de ter de perder uma passagem porque não podia antecipar. Os gastos pesaram nos meses seguintes.

Aprovado na seleção, restava saber quanto às bolsas. Faculdade particular, em outro estado, sem qualquer parente,... Apresentei o TCC - que ficou longe do que eu esperava mas que a minha apresentação garantiu a nota máxima, e após problemas para marcar com os professores da banca - com a dúvida quanto a isso.

Dias depois veio o resultado: não havia sido contemplado. Um pouco de tristeza, mas também de certeza de que o ano que ficaria parado seria para me qualificar melhor.

Até que quando dei entrada na colação de grau recebo um telefonema com a informação que o meu orientador havia me garantido uma bolsa. Tinha feito um novo planejamento para 2011 e fiquei na dúvida se valera à pena lutar pela antecipação da colação, correr.

Entrei rapidamente em contato com o meu orientador e ele disse que já estava tudo certo. Só faltou me avisar... Voltei ao mesmo tema quando decidi participar da seleção: poderia ser uma chance única. Além disso, poderia ser uma queimação para o grupo alagoano de estudos ao qual faço parte.

Mais corrida, colação de grau no dia seguinte à solicitação, conversa com vice-reitor sobre os problemas do curso e quando achava que todos os problemas já tinham ido embora, a minha preocupação com a entrega dos documentos para a pessoa que faria a matrícula para mim por lá me transtornou. A pessoa viajara e a entregar voltara duas vezes. Até que tudo se resolveu no dia.

Estou acostumado a problemas, costumo dizer que se tem gente que nasce com a bunda virada para a lua dada a sorte, a minha deve ter nascido enterrada!

De domingo para segunda estarei indo para São Leopoldo, morando temporariamente num apartamento próximo a Unisinos, com muita pressa em achar algo definitivo. Para além disso, ter certeza que a bolsa estará garantida e refazer um planejamento de pesquisa que terá que antecipar a qualificação em cerca de dez meses.

Daqui a pouco a segunda parte, a mais difícil, sobre as despedidas propriamente ditas.