quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020.30 A Bicicleta que tinha Bigodes/ Retrospectiva

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Voltando a Angola e a Ondjaki, terminei o ano com o infanto-juvenil "A Bicicleta que tinha Bigodes", que traz novamente a AvóDezanove como a senhora que acolhe as crianças, mas sem ser uma das personagens principais. A leitura flui bem e é boa para crianças e pré-adolescentes.

Aqui, o neto entrar numa aventura para escrever uma estória para um concurso da Rádio Nacional com JorgeTemCalma, porque o corpo todo tem pressa, e Isaura, que coloca nome de pessoa em todos os animais. Eles são guiados por Tio Rui, escritor que ao cortar o bigode as letras que ficam presas nele são guardadas numa caixa, mas que apresenta muitos ensinamentos importantes ao falar com as crianças.

Referência

ONDAKI. A Bicicleta que tinha Bigodes. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.

Ler me ajuda muito em momentos difíceis e creio que qualquer outra retrospectiva pessoal de um ano tão complicado e complexo quanto foi 2020 iriam trazer à tona as pedras roladas. Dos 30 livros deste ano, entre autoras e autores, romances, quadrinhos, contos e livros teóricos organizados ou gerais, sugiro, sem necessariamente estar numa ordem de importância:

- A casa dos espíritos (Isabel Allende): Muito bom para conhecer a história política do Chile até o golpe militar, mas a partir de uma boa ficção, que perpassa diferentes gerações de uma família;

- Mafalda: Todas las tiras (Quino): Foi a minha salvação nos meses iniciais do isolamento social por causa da pandemia, mas é caso de amor eterno;

- Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol (Gilmar Mascarenhas): demorei mais que deveria, livro fundamental para discutir futebol no Brasil a partir da perspectiva acadêmica;

- Por favor, cuide da mamãe (Kyung-Sook-Shin): Das descobertas possíveis por participar do Leia Mulheres Maceió, autora sul-coreana que retrata a vida de uma família a partir do ponto de vista de diferentes personagens sobre a mãe;

- Sobre os ossos dos mortos (Olga Tokarczuk): Quando a escolha do Leia Mulheres Maceió foi por um livro em defesa da causa animal, fiquei preocupado em ser mais um manifesto. Ledo engano. Livro muito bom e com um final espetacular;

- Informação, Conhecimento e Valor (Ruy Sardinha Lopes): Outro livro que demorei para ter lido, mas que se torna essencial, desta vez para quem estuda a tecnologia de forma crítica, independentemente de ter sido publicado em 2008. Para a EPC, pelo trabalho de Ruy, mais essencial ainda;

- Todos os contos (Clarice Lispector): Os contos de Clarice não precisam de descrição, é só viajar por eles;

- Ânsia Eterna (Júlia Lopes de Almeida): Espetacular livro de contos e um lamento gigante de ser pouco conhecido;

- AvóDezanove e o segredo do soviético (Ondjaki): faz com que conheçamos um momento difícil de Angola, guerra civil, mas com um olhar (revolucionário) de criança.

Enfim, minha escolha ficou em 9 dos 30 livros lidos. São 5 autoras e 4 autores, muito pela influência que o Leia Mulheres Maceió faz para mim desde 2016, com algumas descobertas interessantes e que me fazem conhecer mais da obra das autoras que me encantam. A lista ainda representa autoras e autores de diferentes países: Angola, Argentina, Brasil, Chile, Coreia do Sul e Polônia.

Porém, academicamente leio mais homens que mulheres e isso apareceu nas duas únicas referências de pesquisa da lista, que se tornaram essenciais para as duas perspectivas que trabalho, objeto e teoria para estudar a apropriação midiática do futebol.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020.29 Terra Sonâmbula

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Permanecendo na África de língua portuguesa, tirei da fila, após anos de compra, o "Terra Sonâmbula", de Mia Couto. O autor moçambicano usa um estilo bem peculiar para contar os problemas do país pós-independência.

A história é dividia em duas. O velho Tuahir recupera a saúde do menino Muidinga após uma fuga, fazendo com que ele volte a andar, ler, escrever e sonhar, mesmo tendo que morar num ônibus quase queimado após bater numa árvore numa estrada abandonada. Lá eles encontram um corpo e uma mala, nesta há cadernos que contam a história de Kindzu. As duas histórias são narradas a cada capítulo. Uma atualização do velho e do menino e a leitura de Muidinga de um caderno.

Como está na contracapa do livro, há uma construção poética e fabular e isso me causou estranhamento em diversos momentos, pois não é o tipo de literatura que vai me agradar de primeira - racional que sou. Ao menos tempo que tira certo peso do contexto, coloca muito mais força em determinados momentos, com várias frases que poderiam ser recortadas para tratar de dificuldades de vida.

Referência
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

2020.27 Ânsia Eterna/ 2020.28 AvóDezanove e o segredo do soviético

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Mais um livro lido no #LeiaMulheres Maceió, "Ânsia Eterna", de Júlia Lopes de Almeida, é um compilado de contos publicado no início do século XX. Eu cheguei até ele pelo conto "Incógnita", que li a partir de projeto da minha companheira no IFAL e que, numa situação cotidiana de uma mulher encontrada morta no mar, nos leva a várias discussões sobre o motivo, quase todos eles refletindo o machismo.

Quase todos os contos, em menor ou maior profundidade, discutem situações geradas pela sociedade patriarcal, só que mais para interpretarmos assim do que de forma muito clara, representando a sociedade do momento no típico realismo que demarca esse período literário. A diferença aqui é o tanto de surpresas que aparecem nos contos, que misturam ironia, horror e grotesco, que ao ler eu sempre imaginei que poderiam gerar vários audiovisuais.

Júlia Lopes de Almeida foi abolicionista e uma das grandes defensoras da formação da Academia Brasileira de Letras, mas foi o marido dela, poeta, quem ocupou uma das cadeiras - a primeira mulher só estaria na ABL na década de 1970. A grande surpresa que o livro nos dá, por sinal, é tentar entender como uma obra tão variada, na temática, mas sem perder a qualidade, ficou desapercebida.

É mais uma obra que foi reeditada por ter "desaparecido", desta vez pela editora do Senado Federal. Vi que também teve três contos transformados em HQ em 2018. Para baixar o livro: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/559746/AnsiaEterna.pdf.


Minha companheira é fã do autor angolano Ondjaki a ponto de ter quase todos os livros, ainda que prefira os romances dele. Em suma, as histórias passam por Angola em meio à ocupação soviética, misturando lembranças da infância do autor com ficção, normalmente contadas a partir do ponto de vista de uma criança.

"AvóDezanove e o segredo do soviético" conta a história da PraiaDoBispo, em que os soviéticos constroem um mausoléu para o corpo de um ex-presidente. O local viraria um ponto turístico a beira-mar, forçando a saída dos moradores nos meses seguintes, num claro exemplo de gentrificação.

O romance é contado por uma criança a partir da aventura da construção de um plano para "desplodir" o mausoléu. Mas a sua visão traz personagens muito interessantes, como EspumadoMar, 3,14, AvóDezanove, Avó Catarina, Botardov, dentre outros. Fiquei encantado pelo livro, de final que já vem no começo, mas que traz surpresa até depois que ele termina.

Referência
ONDJAKI. AvóDezanove e o segredo do soviético. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

2020.26 Úrsula

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"Úrsula" é um romance da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, publicado no século XIX e que demarca no aspecto literário as marcas da época, mas reproduz também num romance com final surpreendente - ainda que o formato tenha me incomodado por falta de costume de leitura - alguns aspectos da escravidão existente no período.

O romance está, com outras obras, disponível gratuitamente no site das Edições Câmara, que com esta coleção em específico objetiva resgatar autoras que foram esquecidas ao longo dos séculos apesar de terem feito sucesso no momento de publicação: Úrsula e Outras Obras (camara.leg.br)