sábado, 26 de dezembro de 2015

Hora de virar a página

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"Um ano difícil!". A maioria das pessoas devem estar terminando 2015 e afirmando isso. São diversos problemas, os internacionais, a crise mais política que econômica no Brasil, as coisas individuais. Neste momento, não confunda, carx leitorx, trata-se de uma avaliação em retrospectiva deste ser que vos escreve. Perdão pelo individualismo.
 
2015 foi um ano mais difícil que eu imaginava. Entrei nele com a perspectiva de iniciar um ano nas melhores condições de trabalho possíveis, especialmente quando comparado aos inícios anteriores. Mesmo que viessem coisas ruins, um ponto importante para mim estava minimamente resolvido: um trabalho regular e com o que gosto de fazer. Enganei-me, para variar. Termino 2015 sabendo que é impossível controlar a vida em duas caixas: a maior para as coisas de trabalho; a menor para as questões emocionais. Mas, assim, menor a ponto de escondê-la embaixo da cama ou do tapete, como sempre fiz.
 
 
Ainda que o trabalho andasse, e muito bem, por sinal, ao longo do ano, com publicações e viagens já no primeiro semestre, sentia um mau humor crescendo junto com a falta de paciência. Cada dia, cada semana, cada mês maiores. Isso me incomodava. Em junho, veio a resposta a tudo. O corpo deu TILT. Foram duas semanas de azia, disenteria, dor de cabeça, corpo mole e que só saía da cama por conta de alguma atividade. Poderia viver dias ali, sem comer, sem ir ao banheiro, sem tomar água.
 
Nunca ocorrera de eu ficar sem conseguir escrever nem no "automático". A única coisa que conseguia era ler e li muito quando a cabeça deixava. Foi um ano emocionalmente complicado, entretanto este Anderson nunca deixou isso se sobrepor. Quando ocorria, era por raros momentos, nada a ponto de atrapalhar o dia a dia de trabalho. Desta vez, não.
 
Sabia que terapia era uma opção que iria procurar. Conheço-me bem para saber disso há alguns anos - além do histórico familiar. Mas foi preciso quase desabar ao fundo do poço emocional para que eu procurasse em julho a ajuda que para mim é quase impossível pedir para as outras pessoas. Ainda em julho, em meio às atividades de comando local de greve, o falecimento da minha avó trouxe outros problemas emocionais em paralelo. Mais pela forma de algumas pessoas não se preocuparem comigo. Percebi que é culpa minha. Não deixo ninguém se aproximar e mesmo quando deixo, e quero, as pessoas não se aproximam.
 
 
Afetou-me fisicamente para além daquelas semanas. Uma taquicardia em Vitória, do nada, que me fez pedir a palavra depois para saber se era por nervosismo, e não era. Esse problema voltou em outros momentos, do nada, sem jogo de futebol ou nervosismo provocado. No início de dezembro foi o contrário, a sensação do coração quase parar, batendo bem fraco, antes de dormir. Uma noite que não consegui dormir. Sabia que quando estou preocupado com muitas coisas sofro de insônia e dor de barriga, mas coração, a quem tanto coloco à prova?
 
Creio que foi o acúmulo de uma vida sem saber dizer não, de me isolar com medo de me frustrar com as pessoas ou de causar frustração a elas, de não me preocupar comigo, de diminuir a carga de trabalho num momento em que fazer melhor é mais importante que fazer mais.
 
Sei que tive a gota d'água para extrapolar tudo de onde mais acreditava que poderia ter forças para mudar o que apontei no parágrafo anterior, mas não foi por isso. Lidar melhor com frustrações, experiências que passam a ser ruins, passa a ser um processo menos traumático quando se tem um acúmulo também nisso. Saber lidar com pessoas diferentes e mudanças de uma pessoa só pode vir quando eu aprender a querer me aproximar delas para além do trabalho. Conversar, rir, sair, divertir-se com outrxs, algo que tenho dificuldades enormes mesmo tentando mudar desde 2011.
 
Vem sendo um processo em que há semanas que estou super empolgado e outras em que estou deprimido novamente - como vem sendo estes dias de recesso na universidade. Até pegando o que aconteceu a partir de 2012 - que contei aqui no ano passado -, era para eu estar melhor, mais regular e isso me incomoda.
 
Um ano de muitas dúvidas desde o início. Como mudar em Maceió, lugar em que as pessoas se acostumaram com um Anderson que não sai? Como mudar se quem mais você esperava apoio e entendimento sobre mal percebeu que você vem tentando? Será que dá? Será que vai mudar algo mesmo?
 
Avancei este ano na pesquisa sobre direitos de transmissão de torneios esportivos, depois de quase ter parado após a dissertação. Perdi a força de determinadas parcerias que eu apostava muito, sendo um ano de muito trabalho sozinho de novo - com raros momentos de exceção. Voltei a respirar fundo e tentei, no que pude, entender o porquê de ser tão difícil trabalhar com outras pessoas.
 
É algo que também sempre gerou agonia. Tive problemas sérios no período mais importante do ano, quando temos mais próximos os deadlines de eventos da área, e ainda assim consegui com muita dificuldade dar conta. Tenho um monte de coisas a fazer, a lidar, e recebi muitos contatos em que se dizia que "não pude fazer antes porque tenho uma série de atividades". E eu?
 
Enfim, 2015 foi um ano de aprendizado na marra, de o meu corpo mostrar que já passei a algum tempo dos meus limites e não dá mais para viver passando o limite aceitável da paciência e da mente. Que não há maneira de se estar bem no trabalho se eu não estou bem. Não dá mais para esconder os problemas.


Dezembro, apesar de uma preocupação que permeou este mês e sobre a qual não pude fazer nada, acabou me dado um fôlego para focar no que tenho a fazer já para os meses iniciais do ano que vem e serviu para eu tentar diminuir certas pressões para acontecimentos que (não virão).

Na sessão final do ano, a terapeuta me pediu para escrever uma lista das coisas que deixo em 2015 e outras que pretendo levar a 2016. Na falta de um aspecto que foi comum nas nossas conversas no ano, ela me perguntou se eu deixaria ou levaria. Não soube responder. Seria desonesto comigo mesmo ter algo fechado sobre, porque não há. Estou pensando nisso há mais de uma semana - talvez em grande parte do ano - e por mais que o racional me diga que o melhor talvez seja deixar, o emocional não concorda. Essa é uma guerra que quem mais perde sou eu, mas que me ensinou a entender que não há divisões possíveis, daí o "talvez" do racional neste momento.

Por mais que seja comum eu escutar que a mudança de ano é só de uma data, é importante para avaliar determinado período que passou e tentar melhor no período seguinte. A ideia de virar a página não só do calendário, mas de algumas coisas da própria vida. Para alguém que gosta de controlar as coisas, como eu, é algo inevitável. Do mesmo jeito que sei que é impossível exercer tal controle, vide este texto tão disperso. O eu completo e complexo é o grande desafio que tenho para 2016.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Avaliação da prática docente

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Ao final das atividades de aula, antes dos seminários, tanto de Lógica, Informática e Comunicação (1ºs períodos de Contábeis e Economia) quanto de Economia Política da Comunicação (eletiva do 8º período de Economia), montei um questionário no Drive para que xs estudantes me avaliassem. Obtive 24 respostas em LIC (quase 50% dxs estudantes) e 6 respostas de EPC (pouco mais de 50%). Aproveitarei as respostas para me avaliar também. Assim, farei este texto com algumas considerações iniciais gerais e depois divido entre LIC e EPC, por se tratarem de disciplinas diferentes.


Metodologia da pesquisa
A ideia de fazer uma avaliação da minha prática docente surgiu ainda nas primeiras turmas que peguei ao chegar na UFAL, o mês final de 2014.1. Preocupava-me por se tratar de um período que teve greve docente e troca de professores na disciplina. Deixei um dia para entregar os trabalhos/dar as notas e que avaliássemos em conjunto aquele semestre. Quando houve, tirando um caso, as respostas foram "foi bom". No semestre seguinte acabei não fazendo, pois presencial não rolou.

Em 2015.1, participei de um curso para usar a plataforma Moodle da UFAL e dentre as atividades iniciais estava uma avaliação da prática docente. Fiz um questionário no Drive após o primeiro terço da disciplina de LIC, obtendo 34 respostas. Repeti o modelo para a avaliação final e também para a eletiva, sem ter a necessidade de identificação - dando liberdades axs estudantes para serem honestxs -, só ampliando, no caso da disciplina do tronco inicial, as questões, trazendo também uma avaliação por parte da disciplina dentre as perguntas com respostas de 1 a 5. Por fim, uma pergunta direta: "O que devo mudar na minha prática pedagógica?".

Prelúdio
Antes de partir para os dados, é importante dizer que foi um semestre também irregular. Tivemos greve docente e de técnicos por 4 meses, tempo de um período, que chegaram na metade das disciplinas. Ainda que, especialmente em LIC, a divisão que está no nome da disciplina me permitiu não interromper conteúdo, atrapalha o desenvolvimento enquanto universitárix por se tratar de pessoas que acabaram de entrar na universidade - e no ritmo de leituras que o tronco inicial exige. Então, mais que um semestre distinto, foi quase que um ano dentro dele, iniciando em março e terminando em dezembro (um Brasileirão mesmo rs).

Para mim, foi um ano muito complicado, convivendo com uma depressão que fez meu mau humor crescer a cada mês, especialmente do primeiro semestre, junto com uma maior falta de paciência - algo que normalmente tenho até demais. Com estresse acumulando também, tive uma crise grande em duas semanas de junho que, para minha sorte, foi o primeiro mês de greve. Consegui controlar mesmo tendo participado de algumas atividades naquele período.

O segundo semestre, tirando um momento de outubro, foi particularmente mais tranquilo. Iniciei terapia em julho e apesar do cansaço de trabalhar ainda mais durante a greve, vem servindo para eu avaliar certas coisas. Mesmo assim, tive que conviver com problemas frequentes de domingo para a segunda (insônia, indisposição, etc.). Lembro de uma noite em específico de fechar os olhos, respirar fundo e querer sair da sala. Felizmente, ou não, a responsabilidade venceu e eu continuei.

É o tipo de coisa que não exponho, até porque antes de tudo há essa responsabilidade com xs estudantes e com o meu trabalho. Além de não servirem como justificativa para alguma aula ruim. Isso pode acontecer mesmo quando achamos que preparamos "a" aula.

LIC
As disciplinas do tronco inicial têm horas de aula semanais, quatro num dia e duas no outro, o que abre mais espaço para recursos multimídia e um pouco mais de tempo para algum debate a ser preparado. Não haviam "respostas obrigatórias" para fechar o questionário, então haverá perguntas com mais  ou menos respostas que outras. Vamos aos dados...

- Figura 1 - Prática Docente e Ação Didática
Algo a melhorar é a descrição dos tópicos, mas creio que a ideia era de a "prática docente" ser algo relativo ao conjunto da obra, por assim dizer. A avaliação foi de regular a excelente. Os demais comentários servirão para pensar uma melhor prática docente também.

Da segunda pergunta, uma resposta "ruim". Realmente tenho algumas coisas a melhorar. Há aulas que consigo trazer mais outros elementos - para além do futebol rs -, mas em alguns tópicos fica muito o conteúdo pelo conteúdo, o que pode se mostrar cansativo. Consegui incluir um segundo momento de debate este período e esse é um caminho que instiga xs alunxs a participar. Uma ferramenta importante para seguir sendo utilizada na didática nos próximos semestres. Ah, uma coisa que o semestre anterior me fez reparar, a quantidade de expressões repetidas (enfim, então, etc.). Dei-me conta do exagero na primeira aula após a greve, ao menos do "enfim". Estamos tão acostumados ao nosso próprio discurso que não percebemos isso - e tive professorx a falar "né" centenas de vezes também.

- Figura 2 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente
Vou pular a parte de "construção do conhecimento", até porque o problema identificado no ponto anterior sirva para cá também; partindo para a resposta com mais problemas, "Relação professor-discente", que de certa forma até me assusta. Minha "briga" desde o início do semestre é fazer com que entendam que a relação tem que ser a mais horizontalizada possível, porém, com os dados limites que cada lugar que ocupamos gera, até mesmo pelos processos que existem na universidade.

Este semestre tive algumas reclamações sobre as avaliações realizadas para compor a primeira avaliação, querendo perguntas com alternativas ou de Verdadeiro ou Falso. O problema, como voltei a identificar na dinâmica do capítulo inicial de "A Galáxia da Internet", é a dificuldade de interpretação de uma construção isolada; acaba sendo pior para xs estudantes que texto dissertativo. Além disso, há a necessidade identificada de fazê-lxs escrever, algo importante independente de curso. Outra reclamação foi sobre o tempo dos seminários, de 20 minutos. É o tempo médio das apresentações acadêmicas e saber lidar com ele é algo que vai para além da universidade - podemos ter poucos minutos para vender um produto ou ideia. E do mesmo jeito que tento não ser autoritário dada a minha posição de docente, não posso aceitar diálogos mais agressivos, como ocorreu em alguns momentos nestes meses. Deixar mais clara as possibilidades dessa relação é um aprendizado importante para mim.

- Gráfico 1 - Métodos de avaliação
Outra questão mais equilibrada para baixo. Neste semestre incluí maior participação, com pontuação extra, da participação em sala de aula. Deixando claro os dias em que este processo seria mais observado. Ainda que as atividades escritas e seminários não sejam suficientes para avaliar o aprendizado, continuam sendo ferramentas importantes. Continuar na observação da atenção e diálogo presenciais é algo importante, ao mesmo tempo de propor avaliações que explicitem melhor a importância de apreender o conteúdo e relacioná-lo com a prática do cotidiano, algo que ainda é de muita dificuldade para quem vem de uma forma de aprendizado mais ligado ao decorar conteúdo que aprendê-lo.

- Figura 3 - Avaliação de conteúdos de Lógica e Comunicação
As duas partes da disciplina lecionadas antes da greve, por isso incluir o "lembra" na questão. Respostas parecidas, mas com comunicação com um "ruim" a mais. Processo normal de uma disciplina que brinco ser "Frankstein", quase que fatia em três partes. Um desafio é criar mais perspectivas de união entre os três trechos, algo que fica mais presente na transição Comunicação e Informática - prejudicado este ano pela distância temporal.

- Figura 4 - Avaliação de conteúdo de Informática e utilidade da disciplina
O único "péssimo" do questionário me surpreendeu. A parte de informática foi a última e é uma temática muito mais presente que as anteriores no nosso cotidiano, algo que tento puxar com memes e trabalhos voltados ao uso e à apropriação de mídias sociais e seus conteúdos. Importante que eu revise no semestre que vem para entender quais os grandes problemas.

Por fim, a utilidade da disciplina. Importante dizer que o modelo de tronco inicial é exclusivo dos campi do interior, obrigatório, ao menos até 2016.1, para todos os cursos, independente de eixo. Tenho colegas que não veem sentido em ele existir, creio ser importante para os casos de formação básica precária e a introdução ao espaço acadêmico, possibilitando discussões e interpretações do cotidiano que a especificidade de alguns cursos não permite. Resultado importante.

- Figura 5 -  Algumas respostas de "O que devo mudar na minha prática pedagógica?"
Separei as respostas do que deveria mudar. A primeira é "pedir para o pessoal conversar menos", um problema recorrente desde que aula é aula e estudante é estudante. Para não ter de gritar, costumo falar mais baixo ou me aproximar de alguém que quer comentar algo e não consegue pelo barulho alheio. Normalmente xs colegas diminuem a voz. Uma ou outra vez que é necessário dar bronca.

Da segunda, achei engraçado, pois acho até que incluo poucos conteúdos de futebol nas aulas e atividades. É fato que adoro futebol e, para além disso, este é o meu principal objeto de estudo nos últimos cinco anos. Acaba sendo natural eu trazer exemplos dele porque é o que está mais próximo, mas terei o cuidado de não ser "só futebol".

Por fim, o perfeccionismo que realmente é um problema meu, mas eu me cobro muito mais que às outras pessoas. Minhas notas costumam ser nas casas decimais até para ter mais justiça na diferença de avaliações entre xs estudantes, além de ter tido meio ponto no primeiro e um ponto no segundo extras, inviabilizando arredondamentos. Ainda assim, este semestre dei dez a uma equipe em LIC e a outra em Seminário Integrador, só que mais porque achei que foram muito bem que por ter relaxado na avaliação - vide outras equipes. Não defendo o "dez é do professor".

EPC
O caso de EPC foi diferente por ter sido o primeiro semestre que eu lecionei a disciplina, voltada ao oposto de estudantes que costumo trabalhar, do 8º período, por ser a área em que eu pesquiso e pela diferença de carga horária - 40 horas presenciais e 20h não.

Depois de dois dias de aula, muitas vezes após 16h de aula, EPC servia como um relaxamento, em que creio ter brincado bem mais que com o pessoal do primeiro período, com alguns problemas de ter sido flexível quanto a alguns textos, que debati menor. A disciplina foi sendo construída ao longo do semestre, com a escolha dos textos tentando dialogar com os curtas e/filmes que pedia para elxs assistirem e comentarem como complemento da carga horária fora de classe. Vamos às avaliações...

- Figura 6 - Prática Docente e Ação Didática

- Figura 7 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente

Esta figura expressa alguns dos problemas. O efeito da greve em EPC é maior pela distância dos conteúdos de base iniciais, voltados à Economia Política de forma geral, e a parte específica, das análises dos mercados comunicacionais. Assim como estar na reta final de curso, com outras demandas entre artigos, TCC e disciplinas.Por fim, representado no último gráfico da Figura 7, há a distância natural de eu não ter sido o professor delxs no tronco inicial. Só a partir de novembro que o 1º período subiu para o espaço ocupado pelos demais, então há muitos estudantes que nunca me viram, apesar de eu estar há um ano e meio na unidade.

- Gráfico 2 - Métodos de Avaliação
Acabei tendo problemas nesta parte no segundo bimestre da disciplina. Percebi que falta um maior cuidado em formar para produção acadêmica, além das dificuldades normais de primeiros artigos. Da minha parte, estabelecer relações melhores do conteúdo para o trabalho final, pois na maioria dos artigos temas tratados na disciplina apareceram, mas sem referências usadas em sala de aula, mesmo que algumas encaixassem bem e até facilitassem a escrita. Talvez para um futuro seja não pedir o artigo, mas algo num formato menor, mantendo a apresentação.

- Figura 8 - O que devo mudar na minha prática pedagógica?
Das sugestões, concordo com a primeira crítica, como apontei acima. Senti dificuldade em estabelecer atividades que justificassem as outras 20 horas. Da apresentação com slides, fiz na primeira aula e não senti que tenha funcionado bem, pois fiquei muito preso a ela, além dos comentários terem sido nulos sobre o texto, por isso optei por não usar nas demais. Mas vejo ser necessário usar de didática semelhante da que trabalho no primeiro período, agora com maior noção sobre como dar 2 horas/aula por semana, e não 6.

Da segunda, a ideia de círculos de debates é boa, pedir para alguém apresentar os textos em vez de mim, apesar de ter pedido comentários gerais já na segunda metade, o que gerou um pouco mais de participação. Mas falta, talvez um problema na formação da unidade, mostrar melhor como relacionar o conteúdo com objetos de estudo práticos, como comentei acima. Sobre a quantidade de textos, é difícil ter a noção do ritmo de leitura por se tratar de estudantes que estão no 8º, mas com disciplinas também de outros períodos. Não acho que um artigo por semana seja muito, mas pode ser quando se tem outras disciplinas pedindo o mesmo tanto. Uma possibilidade é saber quantas disciplinas xs estudantes estão para além da eletiva.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

[Viagem] Vai para Cuba, sim!

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Ao contrário de algumas outras pessoas de esquerda, eu não tinha nenhuma vontade de ir à Cuba por achar que seria um "paraíso revolucionário". Minha vontade era de ir e tentar observar as deficiências de um modelo político centralizado, mas prestando a atenção para as diferenças positivas, que normalmente são escamoteadas quando se trata do país, uma das quais passou a aparecer aqui no Brasil após o Programa Mais Médicos.

Quando surgiu a possibilidade a partir de uma atividade de trabalho, o congresso da ULEPICC, comecei a me preparar financeiramente para a viagem e coloquei o evento como um dos que iria em 2015. Financeiramente foi ainda mais necessário pelos cortes de verbas na educação este ano. Havia pedido só diárias no início do ano para um congresso internacional em São Paulo e nada consegui, imagina passagens e/ou diárias para outro país...

Como tive problemas emocionais este ano, com uma forte crise derivada de estresse em junho, meu calendário de produção acabou atrasando e por diferentes momentos decidi por não ir à Havana. Pela primeira vez não consegui escrever o trabalho a tempo, mas depois prorrogaram o prazo. Havia desistido novamente porque o grupo que ia desistiu devido ao aumento do dólar e, consequentemente, do valor da passagem para lá. Mas fui convencido em outubro da necessidade de ser mais uma vez brasileira no evento.

Como ir
Para ir à Cuba, o visto pode ser pedido nas embaixadas no Brasil, com cópia das primeiras páginas do passaporte, comprovante das passagens e endereço do local em que se vai ficar. Se presencialmente, o retorno é na hora. Por Sedex, tempo de ir e vir, mais um prazo de 72h na embaixada. Fiz por Sedex e foi tranquilo, recebendo a tarjeta de turista. Além disso, recomenda-se tomar vacina contra febre amarela e ter seguro de saúde, apesar que não cobraram nenhum deles por lá - e felizmente eu não precisei.

Optei por hotel por não conhecer ninguém por lá, mas há muitas casas de famílias que alugam quartos. Depois que reservei o hotel é que tive uma oferta de ajuda para uma destas casas, entretanto acabei mantendo a ideia inicial até pela praticidade por conta do evento. O hotel era à beira da praia, num trecho não desfrutável, com estrutura antiga - dois dos três elevadores sempre quebrados -, mas próximo do Palacio de Convenciones de La Habana, onde ocorreria o evento; entretanto, distante de Habana Vieja, ponto turístico.

Dos voos, há pela Copa Airlines e pela Avianca. Fui pela segunda e escolhi um trajeto que demorasse menos tempo tanto na ida quanto na volta devido à reta final do semestre, que me fez também estar lá só nos dias do evento. O cansaço é ainda maior porque tive que pegá-lo em São Paulo. Então foram três voos seguidos com algumas horas nos aeroportos entre um e outro, o que cansa bastante. A diferença de fusos - sair de -3 para -2 e depois chegar em -5 - não fez tanto impacto. Colegas tiveram problemas de atraso da Avianca na ida via Lima. Comigo não houve problema.

Houve também quem conseguiu uma promoção de última hora, em novembro, e pagou cerca de R$ 1700 saindo de Recife. Então, planejar e ficar de olho em promoção até o último instante é uma boa. Com o aumento do dólar, só houve promoção para lá em julho e esta inesperada de novembro.

Economia
Sabia do embargo econômico promovido pelos Estados Unidos que, com a fragmentação da União Soviética, piorou a situação de manutenção do país. Nestes dias de mudanças na América Latina, em alguns momentos percebia-se a incerteza sobre o que pode ocorrer caso os parceiros que existem fossem governados por políticos não bolivarianos.

Não pude tirar dúvidas sobre como o governo paga, dá a ração básica aos locais. Mas uma das funcionárias do hotel falou de ter um filho estudante Medicina nos Estados Unidos e uma amiga brasileira comentou que no caso dos médicos cubanos no Brasil, mesmo com a contrapartida ao governo, eles ganhavam muito mais que lá, podendo enviar dinheiro às famílias.

A cidade e a população conta bastante com o turismo. E eram vários de diferentes países, mas com uma presença pequena de brasileiros no dia a dia da cidade. A outra língua era o inglês, "porque todo mundo fala em inglês". Perguntei a uma garçonete se brasileiros não iam muito por lá e a resposta foi não. Quando dizíamos que éramos brasileiros a resposta era algo como "gosto muito do Brasil. Samba, Ronaldo, Neymar Júnior". Segundo a garçonete, vão lá italianos, franceses, europeus de forma geral e estadunidenses em menor quantidade.


Sobre a moeda, o diferencial é que o impacto da estrangeira é ainda maior. Em peso cubano tudo é muito barato, por exemplo, você vai ao cinema pagando algo em torno de R$ 0,50. Como há o peso conversível (CUC), quase que a 1 dólar por CUC, a diferença é imensa. Para turista, o ideal seria conseguir trocar por peso cubano, mas isso é muito difícil de se conseguir. Em CUC, a viagem acaba ficando um pouco mais cara, ainda que se consiga procurar comidas não tão caras e transportes colectivos locais - destaque aos Ladas cheirando à gasolina e tremendo em cada parada -, em que se paga bem menos que em transportes privados. Ônibus que vi, geralmente lotados e sem qualquer preocupação de entrar mais outra pessoa.

Do que me incomodou, a ofensiva ao turista. Quando fui com colegas ao Museu da Revolução, houve uma aproximação para ajudar a tirar fotos. Fomos a um forte à beira-mar e tinha mais cubanxs querendo oferecer ajuda que turistas. Eu particularmente não gosto de aproximações deste nível de desconhecidxs, mesmo nas cidades turísticas brasileiras. Além das ofertas por olhar das mulheres, algumas menores de idade, em Habana Vieja. Ainda que tais características sejam de áreas turísticas. 

Algumas mulheres brasileiras reclamaram bastante de assédio: "cosita muy linda" e alguém dizer que tem dois sonhos, o Brasil e ver os seios. Os preconceitos específicos seguem mesmo com uma formação educacional muito boa e acaba demonstrando outros problemas que deveriam ser pensados e discutidos. Quanto a homossexuais, vi bem poucos casais nas ruas de lá, mas houve uma reclamação no evento para que a Universidad de Habana e o Ministério da Educação se preocupasse mais com a diversidade de fato.


E isso era uma curiosidade que tinha: como são as críticas ao governo? No evento, algumas apareceram e ninguém reclamou ou foi autoritário, como muita gente acredita no Brasil quando manda alguém ir à Cuba como algo depreciativo. A infraestrutura de internet é, em especial, muito criticada, por faltar políticas ideais para isso. Para se ter uma ideia, a proposta do governo é de até 2020 metade da população ter acesso à banda larga, que lá equivale a 256 kps.

Há uma defesa do processo revolucionário e do governo, mas de forma crítica. Professorxs que tiveram maior contato com estudantes da universidade se surpreenderam com o alto nível de formação educacional. Entende-se que a educação é fundamental, ainda mais num país que precisou formar médicos, arquitetos, engenheiros e demais "profissões nobres" após a revolução, já que a elite cubana fugiu para os Estados Unidos.

Do dia a dia, uma experiência interessante foi quando um amigo professor pediu o crachá de uma cubana que estava num evento paralelo no Palacio, da indústria farmacêutica, para pegar um refrigerante do coffee break deles. Ela disse que precisava de um ticket, mas dividiu o dela com ele. Depois, todxs do círculo de sofás dividiram conosco o refrigerante Uma solidariedade que me impressionou.


Para turista ver
Havana é uma cidade belíssima, com várias construções mantidas há décadas e com cuidado em se reformar - igrejas nelas incluídas -, alguns carros antigos muito bem conservados e uma série de museus. Apesar de imaginar que não conseguiria sair, na terça à tarde e à noite andei bastante por Habana Vieja, conhecendo o Museu da Revolução, em especial, além de outros locais. Há a história passo a passo do processo revolucionário, mas pouco destaque para a participação feminina nele - parece que há outro local em que elas aparecem. Fiquei impressionado com a montagem em tamanho real com Che Guevara e Cienfuegos (na foto acima).

Saímos para o Museu de Arte Contemporânea, mas estava fechando, e ficamos apenas no térreo, com obras interessantes, com destaque para uma reprodução de cela de prisão, que ao lado contava com uma sala de aula, para que o visitante sentisse na pele a prisão antes da revolução. A ideia de não esquecer as agruras do passado, que no Brasil pouco incentivamos.

Cheguei a passar por duas vezes pela La Bodeguita del Medio, bar/restaurante mais conhecido de Havana, com assinaturas dos visitantes nas paredes e uma série de fotos com pessoas de todos os lugares do mundo, incluindo Lula e artistas brasileirxs, de quando visitaram o lugar. Além disso, quase sempre há música ao vivo na entrada do bar, com as pessoas cantando junto.

Isso é algo interessante de apontar, culturalmente também é fantásticos estar em Cuba. Música e cinema, em especial, são coisas bem presentes no dia a dia. Estava em andamento o Festival de Cinema da cidade, não pude acompanhar ou conhecer cinemas por lá, mas me disseram que há salas com capacidade de até 700 pessoas e filas enormes de cubanos para assistir aos filmes do festival - dentre os quais estava "Que horas ela volta?". Sessões muito baratas.

Vai para Cuba!
Parando por aqui porque já falei demais, mas há muita coisa para se ver e analisar em Havana. Há uma representação sociocultural bem diferente da que vemos em outros lugares do mundo e aproveitar a estadia lá é algo muito bom e tranquilo - não há violência, nem meninxs de rua, nem pedintes, no máximo alcoólatras, que não mexem com ninguém.

Eu fui a trabalho, que cumpri, mas deu vontade de voltar e saber ainda mais da cidade. Além disso, por se tratar de um evento, faz parte da parte boa os encontros e reencontros, que para mim fizeram valer ainda mais o tanto que eu gastei com a viagem.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Gritemos, choremos. Somos campeões!!!

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Na chuteira direita do Fernando Prass estava a vontade dele ser campeão, mas também a minha, que não vi os minutos iniciais por culpa da Globo/horário de verão e passei a ver voltando do trabalho no interior a partir do smartphone; era a vontade do amigo de filhos e filhas à neta recém-nascida palmeirenses; do grande amigo, com quem fui ao nosso estádio pela primeira vez, mas com que não pude dialogar por mensagem porque iria descer para ver de mais de perto; era dos camaradas de Santana, do segurança/aluno que gosta de apostar e fica nervoso três dias antes de final, do outro que compra camisa do time para dar a professor italiano e do que é casado com uma tricolor paulista. A vontade dos quase 39 mil dentro do renovado Palestra Itália, dos tantos milhares que ficaram de fora e dos milhões no resto do mundo.

O grito que veio depois foi do Prass e de cada um de nós. Os meus foram bem escutados pela vizinhança. Que seja! Os xingamentos vieram logo em seguida e creio que também de muita gente, não só do Dudu dentro de campo. As lágrimas então, nem se fala. Ano passado estávamos gritando, xingando e chorando graças a um resultado alheio que nos mantinha na primeira divisão do Brasileiro. Este ano é por um título e que final!

Como já disse em alguns textos aqui neste espaço, minha relação com o Palmeiras é especial. O futebol em si é o que me faz sair do controle tradicional, da seriedade exacerbada. Não à toa que recebi parabenizações e li comentários de pessoas de diferentes Estados e de convívios comigo em distintos momentos da minha vida. Palmeiras, minha vida é você! Faz parte de mim desde a infância.


Os gritos a mais foram também por um ano complicado, instável. No meu caso, o melhor ano em termos profissionais, com direito a presença em meios de comunicação para falar da minha pesquisa, algo que sempre sonhei. Mas o pior em termos emocionais. O corpo entrou em TILT por conta de estresse, coração sinalizando problemas físicos e esses problemas interferindo num melhor desempenho nas questões de trabalho pela primeira vez na vida.

O Palmeiras viveu um ano com melhor estrutura graças ao retorno do estádio próprio e de um time de verdade em campo. Ainda assim, quando pensávamos que ia seguir em frente, voltava, tropeçava. O melhor dos últimos anos sempre tinha uma pedra no meio do caminho. Gabriel e Arouca lesionados, defesa levando gols a rodo, time sem armação de jogadas, etc. Tudo o que sabemos e que justificaria o favoritismo do Santos nas finais da Copa do Brasil.

O título era muito importante para mim. Nos pênaltis pedia até para morrer do coração, mas que saíssemos campeões - parafraseando o Marcos na preleção da partida final do Paulista de 2008. Posso morrer, mas sejamos campeões! Fomos, somos campeões! Eu que havia gritado bem no segundo gol e já tinha abalado a voz, detonei de vez após o último pênalti do Prass. Nunca gritei tanto e acho que nunca chorei tanto também. O Palmeiras precisava. Eu ainda mais.


Minha terapeuta acha curioso que eu consiga ter uma relação tão livre quando se trata do Palmeiras, mas que seja totalmente diferente quando se trata do meu relacionamento com pessoas. Impossível de explicar! Palmeiras é minha vida bem ou mal, longe ou perto.


domingo, 1 de novembro de 2015

"É o tal do tecnobrega"

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A definição mais usada para os estudos em EPC diz que a economia política se preocupa em estudar as relações de poder que envolvem a produção, a distribuição e consumo dos bens simbólicos. Um audiovisual que melhor reflete essa definição, com a transformação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação no produzir cultura, é Brega S/A.

Na turma de Economia Política da Comunicação, em Economia na UFAL, foi um dos primeiros vídeos que separei para que s estudantes vissem e comentassem. Em Lógica, Informática e Comunicação, não deu tempo de mostrá-lo nos semestres anteriores e talvez não dará neste também, por forte concorrência com outros filmes/documentários.

Eu o "descobri" zapeando e vendo na (saudosa) MTV Brasil que estava passando um documentário sobre a indústria da música. Fiquei, revi depois e mais uma vez hoje. Dirigido por Gustavo Godinho e Vladimir Cunha, apresentado em 2009 no Youtube e no Vimeo, o documentário está cheio de comentários sobre na internet - basta procurar no Google para perceber -, pois trata de um modelo de negócio surgido na periferia do Brasil.

Isso, por sinal, era o que me interessava provavelmente desde antes do documentário, quando em meados dos anos 2000 via uma propaganda do novo CD da Banda Calypso, com a marca da Som Livre, mas com o anúncio do preço: R$ 10. Acostumado a ver os shows do forró eletrônico em que a venda de CDs por R$ 5 era comum, achei interessante que a ida de uma banda do Pará para uma importante gravadora não mudasse tanto o preço do CD. Modelo este, por sinal, até hoje não repetido.

Nunca me aprofundei, até por estudar a indústria da televisão, neste caso, mas Brega S/A ajuda a explicar que para as 2 mil, 3 mil bandas do Pará é mais interessante esse novo modelo, ainda que Calypso seja de uma geração anterior ao que é mostrado no doc. O tecnobrega tira qualquer instrumento acústico, basta um teclado, um computador e alguém para gravar. Nos shows, playback e o cantor e olhe lá - casos das aparelhagens.

Se por um lado barateou a produção, com música sendo feita em 20 minutos, retirou do negócio instrumentistas que veem nestas bandas a chance de tocarem - mesmo que não necessariamente gostem das músicas que toquem. A popularização veio, entretanto com novos controles, caso da necessidade de venda de músicas para empresas pequenas e para as equipes, que controlam o que será tocado nas aparelhagens do Estado. Contradições (re)aparecem mesmo com a mudança de modelo de negócio, que tende a baratear e popularizar o acesso às músicas.

O filme abre espaço para uma série de comentários a partir do eixo teórico-metodológica da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC), sobre trabalho, produção cultural, consumo, etc. Entretanto, para não me prolongar muito na análise, deixo aqui um player com Brega S/A e abaixo frases que saí retirando hoje: 


- "Nesse mercado tem que ser polivalente"

- "A gente tem que sugar o que tem que sugar deles [sucessos descartáveis]"

- "É a fuleiragem que pega"

- "Ele ganha dinheiro com show. Quanto mais música, mais show ele faz"

- "Aparelhagens são boates itinerantes"

- "Nós vamos voltar para  música da Idade da Pedra"

- "As bandas só ganham dinheiro fazendo música para as equipes e com shows"

- "A pirataria se propagou muito pelas aparelhagens"

- "O mercado tem a necessidade de sempre ter uma coisa nova"

- "A música de massa sempre vai existir, mas problemas, como a falta de qualidade, também"

- "No Pará, o Vetron [quem faz as coletâneas piratas] é mais potente que a Globo"

- "O tecnobrega surgiu com a pirataria" "um divulgador gratuito"

- "Quando a gravadora empurrava os Dominó da vida ninguém reclamava"

- "A grande fonte do sucesso hoje é o mercado informal"

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Las estrategias de mercado del mercado del Esporte Interativo: la regionalización y la presencia del capital extranjero

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Sobre frustração, orgulho e responsabilidade

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Com fortes dores nas costas, ontem eu seguia carregando caixas, bandeiras e um tanto de coisas nos atos que o Comando Nacional de Greve do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior) fazia no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e no Ministério da Educação. Enquanto isso, em Maceió, após e-mail direcionado por um tal de Fórum dos Diretores, a assembleia definia a saída da greve, mesmo sem qualquer conquista e ainda que naquele exato momento estivéssemos em Brasília conseguindo reuniões com os dois ministérios pela militância de docentes e estudantes.

Óbvio que, ainda que inevitável, o sentimento de frustração é enorme por estar representando algo que seguia um rumo contrário ao que defendemos enquanto universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Indo mais na direção do gerenciamento empresarial, do patrão mandando e dxs empregadxs atendendo, mesmo antes de aprovação de Organizações Sociais. Mais que as dores no corpo, doía a alma ao vivenciar tamanha contradição. Estando de corpo aqui em Brasília e via whatsapp acompanhando as coisas em Maceió.

Mas tem também o sentimento de orgulho por mim e pelxs bravxs camaradas que trocamos a tal da "férias extensas remuneradas" por trabalhar bem mais em prol da universidade do que se estivéssemos sem greve. De receber acusações altamente levianas via mídias sociais - caso da que dizia, como foi explicitado em assembleia, que professor grevista não produzia pesquisa (acho que eu não escrevi três artigos, fui a dois congressos, um internacional, e sou um dos coordenadores de dossiê de uma revista B1 e o meu nome deve ser diferente desse do Lattes...). Como digo nas minhas aulas de Lógica, mais fácil as falácias opressivas que a troca de argumentos, especialmente quando não os têm.

Orgulho de quem ficou com a imunidade baixa e pegou várias doenças, de quem teve que se afastar por um período porque tinha que conciliar com outras atividades de família e de pesquisa - vejam só... -, de quem defende a universidade da privatização e das más condições de trabalho que afetam professorxs, técnicxs e estudantes. Eu mesmo passei por uma situação bem complicada de saúde em junho, em que corpo e mente chegaram muito perto de dar TILT, e só entrei no mês seguinte no Comando Local de Greve, mesmo sem poder e não estando na assembleia que deliberou a greve, mas simplesmente porque fazia parte da minha responsabilidade.

Mas não é só na greve que defendo uma sociedade justa, livre e igualitária, para além de uma universidade sob os princípios acima narrados. Foi assim no meu tempo de graduação, dentro ou não formalmente do movimento estudantil, foi assim no mestrado ou agora neste 1 ano e 1 mês enquanto professor. No ensino, na pesquisa, na extensão, na gestão ou na militância, a luta nunca parou e não para. Não vai ser a saída formal da greve que vai me tirar da luta cotidiana, este é apenas o melhor instrumento - estamos esperando um melhor há 3 décadas.

A luta é todo dia, os ataques são rotineiros, mas do lado de cá sempre haverá quem está pronto a não se submeter a poderes hierárquicos em prol da defesa de princípios basilares para a educação e para a sociedade!

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Diário de greve - Dia 4

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O final de semana foi de reuniões durante quase todo o sábado, com uma hora para o almoço e algumas horas para que uma comissão fechasse o comunicado com as novas estratégias para a negociação com o governo. De resto, das 10h às 0h10, reuniões, debates e propostas sendo apresentadas, discutidas e deliberadas.

Por isso que chego a me irritar quando vejo que a cobrança sobre a greve vai sempre nas postagens do sindicato nacional, das seções sindicais e perfis de professores que constroem o movimento paredista. "Ah, mas vocês estão ganhando salário mesmo sem aulas". "Ah, mas fazer greve e gerar férias é bom". "Ah, mas isso prejudica só os alunos", etc.

A minha experiência é de trabalhar por conta da greve mais que se estivesse na rotina de aula, creio que esse é o ritmo dxs camaradas que estão nos comandos locais e no nacional. Sem falar que tem questões de pesquisa que não param, então tive artigos, articulações acadêmicas e eventos a fazer/participar. Além do enfraquecimento da resistência interna, que derruba de vez em quando eu e outrxs colegas com problemas de saúde.

Pelo que vi e ouvi dxs camaradas que sairão do Comando Nacional, voltando à sua base, percebe-se o cansaço de todxs que constroem a greve, mas a vontade de conseguir vitórias, ou evitar derrotas - dado o caminho de governo e do Legislativo em 2015. Para além disso, em todas as falas, há a percepção que essa é apenas uma luta numa guerra muito maior, que não parará agora, tendo em vista a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária, independente de onde se milita (em termos de outros movimentos sociais e partidos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Diário de greve - Dia 1

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Alguém pode estar se perguntando: diário de greve após 100 dias dela? A novidade é que este é o primeiro dia enquanto delegado da seção sindical que sou associado. Ainda que aqui não vá, nem deva, colocar informações cruciais do Comando Nacional de Greve Docente, minha ideia é relatar as experiências deste professor recente, um ano de universidade federal, num espaço de importante construção política num momento extremamente delicado para os direitos sociais.

Cheguei na manhã desta sexta em Brasília. Apesar de construir o Comando Local de Greve em Alagoas desde julho, e ter participado de uma marcha em Brasília naquele mês e de ser o delegado da seção local no Conselho Nacional do Andes-SN (CONAD), é importante destacar o meu lugar de fala.

Fui de Diretório Acadêmico e observei o movimento estudantil em diferentes esferas. Apesar de anão ter seguido para além daquele ano de gestão, a escolha político-ideológica não mudou e isso acabou sendo refletido nas opções de pesquisa, caminho que sigo desde então com a Economia Política da Comunicação.

Greve nunca foi sinônimo de férias, mesmo quando eu via enquanto outra categoria - acabei pegando greve apenas no segundo ano do técnico subsequente no CEFET; nenhuma em 5 anos de UFAL. Lutar pelos direitos não é problema; problema para mim é não lutar, especialmente quando tudo piora.

Professor de UF desde agosto de 2014, sabia que se ocorresse um movimento paredista, eu teria que ajudar a construir, mais ainda ai me deparar com uma unidade educacional em funcionamento em prédio alugado há 5 anos. O mês para entrar foi por conta das atividades em Santana do Ipanema, onde leciono, e por conta do ápice de uma crise de estresse em junho. Ainda assim, mesmo quase não "podendo", entrei no comando em julho e passei a trabalhar muito mais que se tivesse no cotidiano de aulas sem greve.

Mas isso não me fez parar a pesquisa. Junho e julho são os meses de deadlines de importantes eventos acadêmicos da Comunicação no ano. Dei conta de tudo o que foi possível, indo aos eventos e praticamente me mudando de casa para diferentes cidades desde agosto. Confesso que não consigo entender que pesquisa possa parar, independente de área.

DIA 1
Dito isto, cheguei direto do aeroporto ao ANDES-SN, em meio a uma reunião de avaliação de conjuntura, que se seguiu à discussão sobre a produção do comunicado que avalia a semana de atividades e os encaminhamentos a serem levados à base.

Como todo espaço político, especialmente de perspectiva de construção horizontal, há abertura para o contraditório e discussões. O processo está em andamento e isso pode gerar avaliações e perspectivas diferentes. O Comunicado poderá ser visto de hoje para amanhã no site do ANDES-SN e traz elementos diferentes para o debate.

Curioso como a comunicação se torna importante, é destacada como fundamental em movimento sindical há décadas e a discussão tanto de produção quanto de contexto de mercado ainda não andou. Enfim...

O final de semana deverá ser marcado pela análise da conjuntura e ver possibilidades ainda mais reais dadas as dificuldades de mais de 100 dias de greve e da tentativa do governo de separar, no que tange à perspectiva salarial, as entidades representativas dos servidores públicos federais; para além de pouco caminhar nas pautas específicas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

1 ano de UFAL

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365 dias e, pelos meus cálculos, algo como 200 estudantes a passarem por Lógica, Informática e Comunicação, Seminário Integrador 1 e Economia Política da Comunicação. Passou rápido, passou devagar. Muitas coisas feitas, ainda mais por fazer. Daquela manhã de 19 de agosto de 2014 para esta tarde, a certeza de estar fazendo o que eu gosto e a consciência ainda maior da responsabilidade de um docente e de um pesquisador.

Confesso que em determinados momentos nestas tantas horas de aula dadas aqui em Santana, batia uma certa frustração. A ideia que não dava certo, a aula que não chamava a atenção dxs estudantes, o bocejo e às vezes até o cochilo em sala ou a conversa enquanto eu lecionava. As leituras não feitas; os textos com comentários contrários ao que eu tentei explicar na aula, as dúvidas que via nos rostos, especialmente às vésperas de provas ou trabalhos. Incomodava.

Mas quando via a aula sobre o Sherlock gerando um debate que facilitava a argumentação da parte de Lógica. Ou da empolgação em determinado debate. Também quando via que determinada conversa "socialmente referenciada" fazia aparecer questionamentos sobre o que vemos no dia a dia. Ver que, ainda só num semestre, eu pude marcar a vida de algumas pessoas, ajudar a construir melhores pensamentos e vidas. Estimulava.

Lembro de uma conversa com um amigo de núcleo de estudo, na época professor de faculdade particular em Pernambuco, em meio a um dos meus momentos de incômodo e ele destacar a importância de pessoas como nós para fazer com que as mentes pensassem sobre assuntos que mesmo nós demoramos a ter acerto, a pontos de vista diferentes do que estamos acostumados. E isso fica cada dia mais claro, mesmo quando as opiniões são distintas. O debate tem que ser possível e direito tem que ser exigido, mesmo que seja um embate frente ao professor.

Como escrevi aqui e disse naquele dia, ser professor de universidade federal é motivo de um orgulho imenso. Ser professor da Universidade Federal de Alagoas ainda mais, porém também traz uma responsabilidade enorme. Porque é muito bom voltar para o espaço que me formei, ainda que não no curso que passei.

Fazer parte de uma disciplina de um primeiro semestre que, no modelo da interiorização da UFAL tem a função de fazer uma análise geral/conjuntural é um grande desafio. Ainda maior quando as condições locais são de um prédio em início de construção, logo lecionando em escola alugada (há 5 anos!), que xs estudantes são escolhidos pelo curso e se identificam com ele durante a graduação e de um eixo gestão, que às vezes demonstra a sua diferença, mesmo que num ambiente (raro na academia) de convivência agradável.

Ser professor da UFAL me permitiu também voltar às pesquisas e poder desenvolvê-las com mais calma, tranquilidade e estabelecendo novas relações ao longo deste ano. Vida acadêmica também é militância, pois estudar via uma área crítica é ter a certeza de enfrentar ainda mais obstáculos pela frente. Evitar o individualismo, lutar pela construção coletiva, é bem mais difícil que parece.

Ainda veio um processo de construção de greve que não imaginava que seria ainda em maio. Por conta de sérios problemas particulares e algumas reuniões locais, só em julho pude entrar no Comando Local e lutar contra as dificuldades de articulação e da falta de diálogo de um país em que defender a educação pública e de qualidade é exceção, mesmo com tantos ataques às questões sociais como neste ano - em que o ápice disto está representado nas esferas de Governo federal e Congresso.

Que venham mais anos de aulas, pesquisas, atividades de gestão pela melhoria das nossas condições de ensino e trabalho e de pequenas batalhas cotidianas. Que eu consiga de mais momentos de estímulo em sala de aula e que os que aparecerem para gerarem incômodos sejam pequenos e não tão marcantes.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Divertida Mente ao avesso

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Assistir a um filme em sala de cinema de multiplex de shopping. Assistir a um filme de animação. Assistir a um filme sozinho com um monte de crianças na sala de cinema. Experiência totalmente diferente do que costumo fazer e que me submeti na semana passada.
 
Um grande motivo para isso foi a série de textos destacando que Divertida Mente, apesar de animação, traz à tona discussões importantes para os tempos atuais, independentemente da idade: como lidar com mudanças e frustrações do cotidiano. A mente é de uma menina de 11 anos, mas poderia ser a de pessoas de diferentes idades e momentos de vida. Além disso, o filme resgataria o saber-fazer da Pixar, que teria se perdido após a união com a Disney.
 
Dos textos que eu li, um trazia essa visão mais personalizada sobre como uma pessoa mais velha pode se identificar com a situação relatada - que no meu momento atual até me incentivou a ver o filme; o outro traz uma discussão sobre a escolha de representação mental expressa no roteiro do filme, algo mais para evolução e controle darwinista que algo freudiano.
 

"Agora me engane!"

Nunca tinha visto uma animação no cinema, mas sabia que é tradição da Pixar colocar um curta-metragem antes. Após os trailers de futuros lançamentos infantis - como o de Carrossel, que segue o modelo Globo/Globo Filmes de aproveitar o sucesso na TV para expansão ao cinema, mas partindo do SBT, algo inédito por essas bandas -, apareceu uma ilha com um vulcão em erupção. A menina ao lado, acho que com 7 anos, explicava a avó que ainda não poderia ser o filme.
 
Já aí aparece um tema também comum, e acho até que de mais fácil identificação por parte deste que escreve: a solidão. Sempre feliz, o vulcão movimenta um sistema biológico que deixa a todos felizes, até que percebe que todos os outros seres têm seus parceiros, menos ele. A tristeza modifica a música que canta diariamente e faz sua lava sumir, destruindo todo o ecossistema do entorno e fazendo com que a ilha vá sumindo aos poucos.
 
Até que ele percebe que uma possível companheira estava no fundo do mar, também esperando por este encontro, mantendo-se pela música dele. Quando ela surge, ele já está sem forças para cantar e a solidão quem passa a sentir é ela, que não o vê.
 
A história continua e, claro, com um final feliz, mas já traz uma temática diferente, inclusive porque vulcões dificilmente são humanizados, estando mais ligados a tragédias, que a um movimento natural da natureza.
 
 
A Alegria no comando
Rapidamente, a história se desenrola dentro da cabeça de Riley, uma menina de 11 anos que vê sua vida mudar completamente quando sua família muda de cidade - sei bem como é e quase que com a mesma idade. Com o tempo, a melhor amiga arranja uma substituta para jogar no time de hóquei na cidade, as dificuldades de entrosamento na nova escola e no novo ciclo de idade, a ausência do pai por conta do trabalho,...
 
Isso se torna visível a partir da sala de comando da sua cabeça. Alegria foi a primeira a aparecer, assim que ela abre os olhos na maternidade, sendo acompanhada ao longo do tempo pelo Medo, Raiva, Nojo e Tristeza - a quem ela não vê sentido algum de existir, porque "estraga tudo". Num desses "estragos", Alegria e Tristeza saem da sala de comando e a história segue essa trajetória.
 
Até por prestar mais atenção nas duas meninas no entorno, e nos comentários dos adultos responsáveis, quase não consegui sentir algo mais próximo. Quer dizer, o quase fica por conta da parte que a "ilha do hóquei", uma das lembranças-base da vida, desaba. Já tive perto da minha "ilha do futebol" sumir, foi justamente aí que vi que as coisas tinham que mudar. É o tipo de lembrança que se desaparecer eu provavelmente também desapareça junto.
 
 
 
O filme consegue trazer temas de uma profundidade grande até para nós adultos, mas com a suavidade e o humor suficientes para as crianças, que ainda não estão acostumadas a lidar com a depressão, algo que Riley alcança na reta final da animação com a ausência de quaisquer sentimentos. Além de algo também inesperado para um filme infantil, a importância dos momentos de tristeza, algo que costumeiramente negamos quando vemos as outras pessoas sentindo.
 
De curioso, os comandantes das salas de sentimentos do pai e da mãe serem, respectivamente, a raiva e a tristeza, com referências ao esporte - quando o pai está "viajando" na mesa de jantar - e ao modelo ideal de homem - quando a mãe percebe que ele não está prestando a atenção. 
 

 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

"Não há arte fora da vida" - O velho Graça

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2012 marcou o 120° ano de nascimento de Graciliano Ramos. Algumas atividades e publicações foram destinadas à data. Dentre elas, uma reedição da biografia "O Velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos", escrita pelo jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Dênis de Moraes.

Li a versão de 1992 após entregar a dissertação, ainda no Rio Grande do Sul, em 2013. Importante frisar, buscava lá me manter ligado a Alagoas, especialmente a partir dos livros, e Graciliano serviu como importante elo. No mesmo ano, a Bienal do Livro de Alagoas teve como homenageado o mestre Graça, 60 anos após a sua morte, e assisti a uma palestra de Dênis sobre o autor alagoano.

Por motivos que não vêm ao caso, só pude adquirir a nova edição no ano passado, aproveitando para comprar a versão fotográfica de Vidas Secas a partir das lentes de Evandro Teixeira, que daria de presente a alguém importante. Por sinal, foi este mesmo alguém que me estimulou a finalmente tirar "O Velho Graça" da fila.

Na biografia, vemos como um autor como Graciliano foi forjando sua intelectualidade a partir de uma formação sociocultural tão nossa. É a Alagoas da capital ao Sertão, com seus problemas individuais e coletivos, que está exposta em sua produção literária. Além disso, é a construção aqui e no Rio de Janeiro, com passagens na prisão na ditadura Vargas e na União Soviética, já enquanto membro do Partido Comunista do Brasil, que passamos a conhecer.

O homem de normalmente poucas palavras aparece a partir de suas faces e de falas e textos seus e de outros que o acompanharam. Como não consigo ser próximo na escrita, há determinada característica que talvez me acompanhe - talvez também como construção de uma marca:


Graciliano fora "descoberto" graças a dois relatórios mandados ao governador de Alagoas para prestar contas sobre a prefeitura de Palmeira dos Índios, já na casa dos 30 anos, publicando Caetés aos 40, mais velho que seus companheiros da geração regionalista (de 1930) do romance brasileiro - caso de nomes como Rachel de Queiróz, José Lins do Rêgo e Jorge Amado.


Uma marca que segue na sua vida é não conseguir viver da literatura, apesar de posteriormente ser reconhecido como um grande escritor - por mais que ele não achasse seus livros lá grandes coisas. Saiu da prefeitura para ir a Maceió trabalhar rapidamente na Imprensa Oficial, seguiu a serviço do Estado até ser preso anos depois por supostamente ser ligado ao comunismo.

De navio, sairia do Rio de Janeiro para ficar mais de 10 meses no total na prisão por crimes os quais nunca foram investigados, na verdade, mal havia de concreto a dizer - mesmo depois de morto alguém do DOPS telefonaria ao hospital para confirmar se o "comunista" morrera e encerraria o fichário apenas 30 anos depois disso. Ainda assim, Graciliano chegou a ir para a pior das prisões na ditadura Vargas, em Dois Rios. Observador, é dessa experiência que surgiram os volumes de Memórias do Cárcere, que até hoje gera certa polêmica.


Graciliano encontraria com Getúlio Vargas ao acaso numa praia do Rio de Janeiro anos depois. O presidente estenderia a mão e recebia um desdém do escritor, que não esquecera do que vivera - e quase morrera - apesar de precisar de trabalhar também em alguns serviços do governo, que no setor cultural nomeara importantes nomes da literatura como servidores.

Só na década de 1940 é que Graciliano entra no PCB, especialmente porque não se via no ofício da luta, pois a sua única arma era a escrita - algo também que admito para mim. Entra no partido principalmente por sempre se colocar contra os desmandos com as classes trabalhadoras, mesmo não tendo ideais revolucionários, como aponta em determinados trechos Dênis de Moraes, entretanto o momento era fundamental para um posicionamento, ao final da Segunda Guerra Mundial e em plena Guerra Fria.


Graciliano viveu muitas situação complicadas no partido. Discordava de muitos posicionamentos, caso do aparelhamento da Associação Brasileira de Escritores, com direito a brigas entre literatas nacionais, mas cumpria as decisões vindas. Por exemplo, candidato a deputado em Alagoas, faz uma espécie de contra-campanha, ganhando poucos votos, mas ocupando o espaço e a ordem dada.
 
Sua principal batalha fora contra o realismo soviético, baseado nos informes de Zdanov, que pretendia forçar que os escritores produzissem obras que expusessem os problemas do capitalismo e apontassem o socialismo como única fonte salvadora. Graça defendia a liberdade do autor, que exibiria as contradições do sistema dada a impossibilidade de ir a fundo num relato social sem bater de frente com casos assim, mas sem interferências diretas sobre como a história deveria ser ao final.
 
Concordo com ele e essa é uma temática que muito me interessa desde a iniciação científica sobre a estética marxista a partir principalmente da obra de Lukács - e das leituras de clássicos literários que fiz antes e depois da pesquisa. A arte tem o poder de desvelar a realidade, mostrando coisas, inclusive, à frente do seu tempo, independente do posicionamento político-ideológico de quem produz. Forçar uma história é tirar o véu de algo maquilado, não mostrando a verdadeira face por trás.
 
Isso o deixou muito desmotivado, principalmente por conta da pressão vinda do partido para que alterasse o livro de memórias da prisão, Memórias do Cárcere, que acabaria sendo publicado após a sua morte sem o término. Nele, Graça humaniza tanto os criminosos presos com ele quanto as figuras do partido, que eram exaltadas enquanto militantes, mas com defeitos (físicos) expostos - sem qualquer edição à lá Stálin. Essa mini-perseguição junto ao excesso de trabalho necessário para ganhar dinheiro para sobreviver o levaram a atrasar o término do livro.


Como o livro foi publicado após a sua morte, há uma pendenga que de vez em quando aparece sobre uma possível edição a mando do PCB antes da publicação, algo negado ao se comparar os originas manuscritos com o que fora publicado. O relato Viagem já traria problemas pelos questionamentos feitos ao longo da visita aos países soviéticos, já que importunara com perguntas inesperadas.
 
Essa preocupação de Graciliano traz uma visão sobre a produção literária muito importante, além de expor uma opinião - que eu tendo a concordar também - de que a obra não necessariamente alcançaria e descreveria a vida dos operários, pois os autores geralmente estão na burguesia e não poderiam vivenciar as reais necessidades das classes subsumidas.


Para encerrar, ainda nesse quesito de forma de produção, Graciliano fora reconhecido pela secura de seus textos - talvez com exceção do inicial Caetés. Como diria Heloísa, sua esposa, do jeito que ele cortava os textos, com auxílio de uma régua a realizar dois traços paralelos e proporcionais, acabaria apagando todo um livro - algo que quase fizera em suas traduções, ao tirar "exageros" presentes em obras de autores estrangeiros.
 
Retiro o comentário que carrego comigo quando tenho que cortar palavras, parágrafos e/ou páginas para chegar no limite permitido pelas publicações:


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MORAES, Dênis de. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. São Paulo: Boitempo, 2012.