domingo, 13 de outubro de 2013

[Circo a motor] A F1 sem brasileiros

Algumas coisas aconteceram no circo da Fórmula 1 do último post para este. Ricciardo foi anunciado como substituto de Webber (que irá se aposentar) na RBR; Massa dará lugar a Raikkonen na Ferrari; e, dentro da pista, a volta da supremacia de Sebastian Vettel. São cinco vitórias nas cinco últimas corridas de uma temporada que prometia um equilíbrio razoável, como fora a última. Longe disso.

A Mercedes não consegue acertar o carro para a prova e passou a ter dificuldade para tirar as poles da RBR. A Lotus sofre com falta de dinheiro, a ponto de não pagar os salários dos pilotos, e não consegue melhorar o carro, que ainda mantém seus bons momentos por ser o que menos desgasta os pneus. Já a Ferrari, bem, a equipe não conseguiu evoluir durante a temporada, pelo contrário. Alonso está em segundo muito mais por sua regularidade e habilidade que pela equipe.

Com o campeonato esperando um 5º lugar em uma das 4 provas que faltam para Vettel conseguir o tetracampeonato consecutivo, resta apena a briga pelo segundo lugar do Mundial de Construtores entre Mercedes e Ferrari. Se os alemães são favoritos, a prova desta madrugada mostrou que ainda falta algo. Ainda assim, a diferença só aumentou de 1 para 10 pontos, muito graças ao drive trough de Felipe Massa por excesso de velocidade nos boxes. E é para falar sobre ele que resolvi largar o meu período sabático sobre o tema.

MASSA
Quem acompanha a F1 já imaginava que a saída de Felipe ocorresse no ano passado. Porém, (provavelmente) sem melhores opções no mercado e com a boa recuperação na metade final da temporada passada, ele renovou com a equipe italiana por mais um ano. 2013 começou no mesmo ritmo que 2012, com indicativos que ele daria trabalho para Alonso e poderia rememorar seus melhores tempos.

Engano nosso. Ainda na primeira parte a falta de sorte, como ter pneu estourado numa corrida, e outras coisas a mais, como bater em momentos seguidos, entre treinos e corridas. Ali eu já vislumbrava que não iriam renovar, por mais que a experiência para 2014 parece ser elemento fundamental perante a nova revolução causada por novas regras.

Se no ano passado ele teve tempo para recuperar, este ano o momento ruim surgiu no período que fora decisivo para o brasileiro no ano passado. Além disso, retorno a dizer que a Ferrari pouco evoluiu nesse período. 

Primeiro foi Webber ter afirmado que havia sido sondado. Depois, Hulkenberg admitir conversas e um quase acerto. Até que o que poucos imaginavam aconteceu. Montezemolo e companhia engoliram o orgulho e recontrataram Kimi Raikkonen, a quem demitiram em 2010 para a chegada de Alonso - e com o salário do último ano de contrato sendo pago sem qualquer serviço prestado.

Felipe foi quem anunciou, através de seus perfis em mídias sociais, para depois dar entrevista dizendo que iria dar o máximo possível nas corridas finais. Além disso, reafirmando que se fosse para correr em equipe menor, tendo de pagar pela vaga, preferia sair. Algo que já dissera sobre Barrichello no ano passado.
Massa foi o que mais se aproximou de um título após Senna
Lotus, McLaren, Sauber, Force India. São estas as equipes que apareceram como possibilidades. Nas últimas semanas, a McLaren foi descartada. Era a minha favorita, tendo em vista o péssimo carro deste ano, o que, teoricamente, garante a equipe mais tempo para preparar o novo carro do ano que vem - por mais que a mudança de motor, a volta da Honda em 2015, possa trazer prejuízos na evolução dos novos V6 pela Mercedes, que tem equipe própria.

Fora ela, a Lotus era a principal oportunidade, dado o que fizeram nas últimas temporadas. E desde o início era a principal oportunidade e a mais próxima de se concretizar. Entretanto, o adversário para vaga, o alemão H:ulkenberg, com 6 anos a menos que Massa, vem fazendo boas corridas, com resultados expressivos para a atual fase da também em crise Sauber. 4º e 5º lugares na Coréia do Sul e no Japão.

Por um futuro a médio e longo prazos, Hulkenberg seria a melhor opção. Para o ano que vem, Massa seria melhor, dada a sua experiência de uma longa jornada pela Ferrari. Conta a favor do brasileiro o seu maior poder de atração de capital para ajudar as combalidas finanças da histórica equipe. Se ele não paga para correr, pode fazer a intermediação para isso. A briga nos bastidores segue fortíssima.

Quanto às outras alternativas, a volta para a Sauber poderia ocorrer pela parceria com a Ferrari. Uma espécie de agradecimento pelos anos de serviço prestados por Felipe através da equipe que a italiana cede os motores. Pelo que vem andando, não se encaixaria na proposta do brasileiro. Já a Force India depende das provas em que a aerodinâmica do carro se dá bem, ainda que o final desta temporada também não venha sendo bom.

NASR
A outra alternativa do Brasil é a entrada de Felipe Nasr, que corre na GP2 e chegou a ter mais fôlego na briga pelo título da categoria graças à sua regularidade. Com um carro carregado de patrocínios brasileiros e com claro apoio da Rede Globo, vinha sendo um nome que aparentava certeza, mas caiu nos meses decisivos. Piloto que fez parte do programa de formação da RBR, praticamente foi negado o posto de Ricciardo na STR, sobrando poucos lugares a disputar para 2014.

O chefão da F1, Bernie Eclestone, acenou com a possibilidade de ajudá-lo, mas com Massa em condições parecidas, já prometeu o mesmo para ele. 


O FUTURO DO BRASIL
Há um claro desejo de manter um piloto brasileiro por questões de mercado. A Globo é uma das principais transmissoras da categoria há décadas; o Brasil tem um GP que sempre lota as arquibancadas também há muito tempo; e aqui muitos carros são vendidos, ainda mais na última década de situação econômica no mundo. Mas em que condições isso pode se dar?

O caso de Luiz Razia, comentado lá no início da temporada, mostra o quão é difícil um brasileiro ter a aposta de empresas locais. Ele perdeu o posto na Marussia (!!!) às vésperas da temporada porque os investidores estrangeiros desistiram do negócio. Nasr conta com Banco do Brasil, Sky e OGX como patrocinadores, mas a última vê seu dono perdendo bilhões de dólares em tempo recorde e os gastos para uma F1 são bem maiores.

Volto a reclamar da situação atual do automobilismo do país, sem boa formação na base e com imensa dificuldade para apoiar pilotos locais, que cada vez mais optam pela Fórmula Indy ou por correr em carros de turismo (Stock Car).

Repito o que escrevi em 14 de março:

"Em meio à (sensacional) série de propagandas para o novo Ford Fusion, que gerou uma nova disputa nas pistas entre Mansell e Piquet, o brasileiro falou numa entrevista à Sportv que a gerência do automobilismo brasileiro era nula. Não se pensava em evoluir, montar categorias de base, gerar um apoio para o jovem começar no kart e chegar até à F1, como ocorre em outros países. Afinal, este é um esporte (?) caro.

Não é preciso ir muito longe. Quantas categorias de base de monopostos existem no Brasil atualmente? Quantas tentativas, algumas particulares (apoios da família Diniz e de Felipe Massa), surgiram e sumiram em poucos anos? 

Principalmente, o que ocorreu com o Autódromo de Jacarepaguá, que diminuiu por conta do Pan-Americano e acabou com os Jogos Olímpicos, serve para demonstrar esta dura realidade. O acordo dizia que o autódromo que recebeu a F1 na década de 1980 só encerraria as suas atividades com a construção de um novo no Rio de Janeiro. Confusão com o terreno a ser cedido - que teria explosivos, era das Forças Armadas - e a obra mal começou. De qualquer forma, literalmente, o Autódromo Internacional Nelson Piquet fechou as suas pistas

[...] é necessário repensar o automobilismo no país. Não dá para esperar o pior dos cenários para tentar reconstruir um novo modelo de formação."

Ainda que Massa mantenha chances razoáveis para 2013, ao menos por enquanto, o pior dos cenários nunca esteve tão perto. O que seria catastrófico para um país que teve pilotos como Fittipaldi, Piquet e Senna e seus 8 títulos mundiais e que desde 1970 conta com alguém representando o país na principal categoria do automobilismo mundial.

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