quinta-feira, 4 de abril de 2013

[Baú do Por Trás do Gol] Futebol de mesa


*Postagem programada . Texto do extinto blog Por Trás do Gol, publicado no dia 1º de janeiro de 2009.

A infância atual, de crianças trancafiadas em casa se divertindo em frente ao computador, é bem diferente da minha e de amigos meus. Olha que só chego a duas décadas de idade, não passa uma da minha infância. Ainda tive oportunidade de jogar bola de gude (ou “ximbra”, como queiram), soltar pipa, “rachar” inclusive os dedos do pé no jogo de bola e até, mesmo, jogar videogame através de cartuchos.

Mas nada me traz tanta saudade que o bom e velho “jogo de botão”. Ao jogar contra alguém ou até mesmo sozinho, esta era a minha chance de comandar um jogo; desde pequeno sou um apaixonado pelo futebol. Os confrontos com amigos despendiam regras, as mais variadas possíveis, e o respeito à que era escolhida para determinado jogo.

Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Vasco, Corinthians, Brasil, Espanha, Inglaterra, Itália, Sergipe, Santos... Tantos foram os times que pude presenciar no meu estádio particular, o quadro do jogo, e também em locais dos mais inóspitos possíveis: o chão da casa de um amigo, ou uma mesa. Todos esses espaços serviam para colocar “nossos” times em campo.

Recentemente resolvi pegar meu acervo para brincar. O quadro − agora atrás da porta do quarto − estava cheio de poeira, até mesmo as caixas com os times estavam dessa forma. Percebi que cresci, o tempo não me permite jogar como antes, narrar um gol feito com o atacante de plástico. O velho “botão” me mostrou o quanto deixamos poeira em coisas do passado, esquecemos o quanto era bom ser criança.

A realidade nos dá uma tapa para acordar de vez em quando, esta foi a minha vez. No mundo infantil, o desejo de crescer é para ter independência. O mundo adulto só nos permite desejar voltar a ser criança, para podermos brincar com os amigos durante uma tarde inteira, falar quanta besteira puder e ainda ter garantido imediatamente o colo da mãe quando algo nos irrita.

Ser adulto acaba por se tornar uma briga constante por adquirir dinheiro, a independência buscada é a financeira. Estudamos para que no futuro tenhamos dinheiro, estagiamos para ter dinheiro, trabalhamos para ter dinheiro. Só que o dinheiro serve para quê mesmo? Para divertir não dá tempo, pois não podemos largar o emprego ou chegar atrasados para trabalhar no dia seguinte. Eis que só nos resta como passatempo a televisão, essa é a diversão diária. A tecnologia é a responsável pelo lazer. O pior é que as crianças
dessa geração, posterior à minha, preferem-na ao bom convívio social que nos traz um jogo na rua ou às estratégias e habilidades desenvolvidas pelo bom futebol de botão.

Ah! Nada como gritar o gol do time por nós dirigidos! Vibrar e zoar sem violência do colega que torce por um time diferente e perde o clássico “caseiro” com seu time. Que saudade dos tempos em que jogava, mesmo sozinho, na sala de casa e narrava meu próprio jogo, como se estivesse num estádio lotado
de torcedores escutando só a minha voz ao transcrever a partida.

Que saudade da imaginação de criança quando do meu tempo de futebol de botão! A forma adulta até mudou o nome da minha brincadeira, que se transformou em futebol de mesa e nas minhas lembranças de um passado muito recente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário