quarta-feira, 8 de agosto de 2012

[Londres 2012] Desilusão, desilusão/ Danço eu, dança você

Eu sou fascinado por esportes desde criança, a ponto de lembrar algumas poucas coisas da vitória brasileira no vôlei masculino em 1992 e, com toda certeza, saber que graças a Atlanta 1996 que tive os primeiros sinais de que queria ser jornalista, a ponto de anotar coisas de uma decisão de terceiro lugar na disputa individual do tênis.

2012 não vem sendo igual aos outros anos olímpicos. Quer dizer, vem sendo bem pior que os outros anos. Por mais que eu tenha mais condições de acompanhar os Jogos de Londres, tanto por ter mais tempo quanto por ter acesso à internet com boa velocidade - e ver várias coisas por um site apenas, o Terra -, estou num ponto em que vem faltando vontade até para ver futebol nas quartas e nos domingos.

Enfim, não é (só) disso que trata a desilusão do título deste texto, trecho "roubado" de "Dança da Solidão", do grande Paulinho da Viola. Vamos às decepções brasileiras até que nestes jogos de verão: Diego Hipólyto, Fabiana Murer, César Cielo, Felipe França, revezamento 4X100m livre masculino, Maurren Maggi, Leandro Guilheiro, Tiago Camilo, Juliana e Larissa, etc.

Provavelmente devo ter esquecido algo/alguém nesta lista. Não incluo o futebol feminino porque a culpa da eliminação ainda nas quartas de final, contra o atual campeão mundial Japão, está na conta do técnico Jorge Barcellos, que amplificou os erros do seu antecessor, Kleyton Lima, ao inventar nas escalações. Defendo a hipótese de que neste ciclo olímpico outras equipes cresceram e o Brasil parou no tempo, com uma Marta já não tão excepcional, até por conta do avanço da idade, do que antes, o que aumentava a responsabilidade de uma melhora em termos coletivos.

COMEÇANDO COM O HANDEBOL
Recuso-me à colocar uma "legenda feita" (Foto: EFE)
Nesta terça-feira, resolvi acordar cedo, às 6h, para ver as brasileiras do handebol contra a Noruega, atuais campeãs olímpicas e mundiais, que passou em 4º lugar para pegar um caminho "mais fácil" - e este só foi um caso. Com uma campanha muito boa na primeira fase, na liderança de seu grupo e apenas uma derrota, o Brasil me trazia esperanças também por conta da excelente campanha no Mundial passado, em São Paulo, quando perdeu a vaga para as semifinais frente a Espanha numa falha pontual no último minuto de jogo.

O tempo de ligar o computador me fez perder alguns minutos e já estava 5 a 3 para o Brasil. Seguimos mantendo uma boa diferença no primeiro tempo, que terminou 12 a 9, com grande atuação da goleira Chana - a quem o narrador do Terra teimou a chamar assim, por motivos óbvios, optando por Masson até o segundo tempo. O técnico dinamarquês Morten Soubak vem fazendo um trabalho muito bom e fora da quadra acompanhava e gritava o tempo inteiro

O início do segundo foi animador, com três gols brasileiros e duas grandes defesas de Chana, com direito a pegar um tiro de sete metros. Parecia que aqueles "apagões" que eu sempre vi que ocorria com o nosso time de handebol em partidas de torneios importantes tinha ficado no passado. Parecia. Até os 21 minutos o Brasil ficou na frente, mas deve ter passado mais de dez deles parado nos 18 gols até que a Noruega virou e não saiu mais da ponta do placar, vencendo o jogo por 21 a 19.

É bom destacar também que a goleira reserva da Dinamarca, Grimsbo, fez defesa até como se estivesse num campo de futebol, pegando chutes no canto, com muita força. Porém, o time de handebol continua a esperar aquele (bem) pouco mais que ainda falta para se colocar em termos de resultados como uma das principais forças do esporte, o que na prática dos confrontos já se mostra claro e evidente.

Eu fiquei muito agoniado, já que por conta da hora não podia gritar, mas ficava falando em defesa e ataque o tempo inteiro, comemorando cada jogada perdida pelas adversárias e cada gol nosso. Creio que deveríamos ter permissão para superar qualquer problema com companheiros de apartamento ou vizinhos em casos de Jogos Olímpicos, Copas do Mundo e decisões de campeonato de futebol...

É SÓ A CADA QUATRO ANOS!
Até o Zé Roberto!!! (Fonte: Terra)
Mas o dia e a tensão não pararam por aí. O time de vôlei feminino veio de uma primeira fase ruim, com duas derrotas e classificação só na última rodada. Muito pouco para as atuais campeãs olímpicas. Para piorar, a barreira de muitos torneios, a Rússia, já nas quartas de final. E que jogo!

Comecei a vê-lo em casa, com a Rússia vencendo o primeiro set e o Brasil o segundo. Saí para a universidade no final do terceiro e cheguei na sala do grupo de pesquisa para ver o quarto, e a nossa vitória. Um colega de trabalho estava lá, nervoso, olhando e gritando com o time como se tivesse na quadra. Juntei-me à torcida. Vencemos o quarto set e veio o tie-break.

O Brasil vencia por 13 a 10 mesmo com um erro bizarro da arbitragem momentos antes. Parecia que as meninas não iam se descontrolar como em tantas outras vezes. Parecia. A Rússia virou para 14 a 13 e teve seis match points a favor. Eu já estava em pé quando o jogo estava lá pelos sete pontos para o Brasil, mas nesta hora comecei a andar em torno do computador. O meu colega já estava a ponto de comer um pedaço de plástico. Isso porque batia na mesa, batia com os pés no chão, gritava "vai, gurias!" e tudo o mais.

Num momento ele até que me disse que tinha gente trabalhando no andar de baixo e eu respondi que não havia problemas, Olimpíadas só a cada quatro anos. Fora que uma partida que nem essa não sei quando irá se repetir.

Após as seis manutenções de jogo, quatro delas com a espetacular (e linda) Sheilla, Fernanda Garay acertou um ace e Fabiana confirmou o contra-ataque seguinte. 21 a 19 que fez até José Roberto Guimarães a dar dois peixinhos na quadra e quebrar o relógio. Parecia um título, mas foi uma enorme espinha retirada do pescoço, já que as russas nos tiraram da final olímpica em 2004 e dois títulos mundiais, 2006 e 2010.

Meu colega de trabalho gritou, pulou e me deu um abraço muito forte. Mas nós merecíamos uma emoção (boa) daquelas, dados os acontecimentos das últimas semanas.

Ainda lá, pude acompanhar os erros da arbitragem e a vitória tranquila do Brasil contra a Coreia do Sul por 3 a 0,  com enorme destaque para o "sempre ele!" Leandro Damião, autor de dois gols. O time brasileiro não vive um grande momento em Londres, mas chegou à final. No sábado, o "título que nos falta" vai ser disputado contra o México, que em muito evoluiu na última década, com alguns títulos mundiais em categorias de base.

Para fechar o dia, peguei o final da derrota da dupla Juliana e Larissa para a segunda dupla dos Estados Unidos e frustraram o que seria uma final histórica, contra a melhor dupla do vôlei de praia feminino de todos os tempos, Walsh e May.

BRASIL X ARGENTINA
Esta quarta-feira marcava dois importantes confrontos contra os hermanos. Tudo bem que por conta da viagem recente por lá e a fascinação pelo país que eu não tenho tanta raiva deles, mas...

Para começar, uma fácil vitória no vôlei masculino, pelas quartas de final do torneio olímpico. 3 a 0 muito tranquilos, num jogo que expôs a diferença de nível entre as duas equipes, com o Brasil muito superior. Mas haveria no final da tarde um jogo de fortes emoções, em que o favoritismo invertia, só que no basquete masculino.

Antes disso, acompanhei a decisão do bronze no vôlei de praia feminino. Juliana e Larissa tinham levado uma "surra" no primeiro set, por 21 a 11 (!) e iam perdendo o segundo por 19 a 16, o que seria um final trágico para a melhor dupla da contemporaneidade. Com Larissa no saque, a dupla virou para 21 a 19 e venceu o jogo no tie break, para muitos palavrões e gritos desde que vos escreve.

Até o doodle de hoje ajudaria os brasileiros...
No basquete, o trabalho era mais duro. O confronto era "só" contra nomes como Scola e Ginóbili do outro lado, com um título olímpico (2004) e uma medalha de bronze (2008). Ainda assim, com grande atuação de Marcelinho Huertas, que fez 13 pontos (3 bolas de três), o Brasil venceu por 26 a 23. No segundo, o time cochilou um pouco e perdeu o primeiro tempo por 46 a 40. No terceiro quarto, o Brasil deixou para jogar quando faltavam apenas dois minutos, o que acabou evitando uma catástrofe, 64 a 54.

No último quarto, a Argentina abriu bem, chegando a uma diferença de 14 pontos, até que Leandrinho resolveu aparecer, acertando lances de três pontos e reduzindo a diferença para três com posse de bola nossa, faltando pouco mais de um minuto. Mais uma vez parecia que iríamos nos superar. Parecia. Perdemos a bola e a Argentina começou a acertar todos.

A vaga na semifinal ficou na atitude ridícula da Espanha, que perdeu de propósito para pegar uma chave mais fácil. O Brasil precisa urgentemente treinar lances livres, já que o índice de acertos foi risível, e isso fez muita diferença numa partida decisiva e tão equilibrada. No final, Argentina 82, Brasil 77. Pelo menos valeu para voltarmos a ser uma das forças do basquete masculino mundial. Torço para que os dirigentes da CBB continuem o bom trabalho que vem sendo feito, com grande destaque para o técnico Rúben Magnano.

Ah, não poderia esquecer que acompanhei o boxe também. Torci bastante para a Adriana Araújo conseguir a vaga na final, mas a juizada ajudou muito a russa, que levou. Mas valeu a bronca que ela deu no presidente da Confederação Brasileira de Boxe. Treinada por nada mais nada menos que Luiz Dórea, ela disse que o presidente da CBB chegou a desmerecer o que ela fazia e a medalha era uma prova de que o trabalho é certo.

Por fim, enquanto escrevia este texto, Yamaguchi Falcão venceu o atual campeão mundial Julio de La Cruz e garantiu, pelo menos, mais uma medalha de bronze. Ele se junta ao irmão Esquiva Falcão na busca por um inédito ouro olímpico na categoria, que não via medalhas desde 1968 e garantiu três em 2012.

Triste, chateado, frustrado, decepcionado e cada vez mais solitário. Mas, como dizem os gaúchos, "não tá morto quem peleia". Seguimos peleando...

2 comentários:

  1. Concordo que muitas derrotas doem demais, mas acho que brasileiro tem um problema seríssimo em Olimpíada. Esperar que os outros esportes tragam resultados similares ao que o futebol consegue.
    O investimento em outras modalidades é pífio e esperar medalhas de ouro aos montes é um convite a desilusão.
    Mas não dá para colocar na conta de decepções o handebol e o basquete masculino.
    O basquete daqui vem se redescobrindo e o handebol crescendo demais.
    Todo mundo quer ver mais, a derrota dói, mas esses dois grupos de jogadores devem ser vistos como heróis.

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  2. Concordo plenamente. A minha raiva após o jogo, principalmente no caso do handebol, é por saber que elas poderia ir mais longe. Mas não coloco no rol das desilusões, assim como não deixo o futebol feminino. Os problemas são outros. E o basquete masculino voltou a disputar com as grandes seleções, um avanço de 16 anos num ciclo olímpico, é bem verdade.

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