sexta-feira, 11 de maio de 2012

[En busca de El Dorado] No hay

O tema do último texto publicado em terras uruguaias poderia até ser a apresentação realizada no Congresso da ALAIC - que foi ruim, no final das contas, por causa da pressa para apresentar. Mas não. 

Como costumo dizer, pareço que atraio desconhecidos. O bom é quando são pessoas legais, que querem fazer amizade e tal. Tem também os casos em que a pessoa quer só tirar uma dúvida sobre o ônibus que passa ou não naquele local, reclamar do mesmo que não passa ou falar do tempo. O pior é quando se trata de "chatos" e eu também os atraio.

Hoje resolvi dar uma volta após o Grupo de Trabalho e antes de ver o vídeo com o Jesus Martín-Barbero, que não pode vir receber o título de doutor Honoris Causa da Universidad de la República. Por mais que não goste de praia, por conta da pele que frita, morar numa cidade que não tem região litorânea por perto gera saudades de andar de ônibus e passar por uma delas. A possibilidade de dar um passeio no final da tarde e coisas do tipo.

Mesmo num dia que beirou os 10º, para mais e para menos, resolvi andar as quadras por trás da Udelar e reencontrar o mar. Achei a orla muito bonita, por mais que a ventania não tenha permitido ficar por muito tempo. Porém, para quem conhece o mar de Maceió - exceto o setor que desemboca o Salgadinho na Praia da Avenida, que se deixe claro -, a água daqui é uma das mais escuras que conheci. Muito diferente do litoral alagoano.

Enfim, na volta, acabei sentando no pátio da Facultad de Derecho, "matando" o tempo até o início da homenagem ao pesquisador comunicacional. Do nada, surge um uruguaio dizendo que está fazendo uma pesquisa. A pergunta: "O que ocorre depois da morte?". A resposta: "No hay".

Inconformado, ele logo que me perguntou se acreditava em Deus, a resposta: "No, por eso dice que no hay cualquer cosa después de la muerte". Daí em diante, tudo foi pregação. Perguntas de o que eu faria se morresse e encontrasse Deus "cara a cara", se o agradeceria, se eu tinha cometido pecados na minha vida e blá, blá, blá.

Ao final, ele perguntou de novo a pergunta inicial e teve a mesma resposta. Óbvio, não para ele, já que eu tenho que abraçar Jesus para não ter de ir ao inferno. Do nada, surge a esposa dele - ambos novos, por mais que quando disse a minha idade ele tenha balbuciado um "por eso". Ele continua, continua e depois me diz que só estava ali porque via que a minha alma precisa ser salva.

Enfim, de todos os minutos ali a única coisa que ele falou de certo foi que eu nunca imaginava que teria algo deste tipo aqui em Montevidéu - muito menos numa universidade! Passou um livreto e colocou o número atrás para quando eu estiver passando por qualquer momento de angústia. Quando estou angustiado, o problema é meu, quero lá importunar os outros, muito menos por telefone e ainda menos sendo de outro país.

Fora isso, de forma geral, o Congresso da ALAIC é o mais crítico que participei até agora. Não é à toa, já que conheço parte dos dirigentes da entidade e sei que isso a criticidade é praticamente um pré-requisito. Alguns problemas na organização, mas as mesas e a maioria dos trabalhos apresentados no GT de Economía Política de la Comunicación y Información serviram de contrapeso, por mais que os problemas  com o tempo tenham atrapalhado nosso GT.

O próximo Congresso da ALAIC será daqui a dois anos, em Lima. Não sei nada do que estarei fazendo, se vou então, muito menos. Amanhã será o último dia desta viagem e, provavelmente, já escrevo algo em terras brasileiras. Hasta!

Um comentário:

  1. Pior coisa que existe é "religioso" posando de pregador e salvador alheio. Realmente, também não imaginava algo do tipo em Montevidéo.

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