quarta-feira, 9 de maio de 2012

[En busca de El Dorado] Mas despácio, por favor!

Há um acordo informal dos pesquisadores brasileiros que conheço em que quando vem alguém de fora do Brasil, é "permitido" que a pessoa profira uma palestra ou uma aula na sua língua nativa. Da mesma forma, quando nós saímos eles saem do Brasil, poderiam falar em português - a não ser que seja diretor de uma associação latino-americana, já que se fala espanhol nos outros países, maioria.

Brasileiros por aqui em Montevidéu pude encontrar aos montes, principalmente por conta do Congresso da Alaic, o que é bom, pois retira um pouco do isolamento de alguém que já tem dificuldades de se comunicar com outras pessoas, desconhecidas, que nem eu. É uma sensação estranha quando você está num lugar cheio de pessoas em que não se entenda nada em meio a tanto barulho. Ah, no albergue em que estou há um paulista.

Enfim, pude encontrar alguns amigos de grupo no Rio Grande do Sul e dialogar um pouco com o pessoal da EPC que conheço e estava por aqui e uma mestranda da Unisinos, que mal falei lá no Rio Grande do Sul, mas que conversamos bem antes uma das mesas de hoje.

Acabei almoçando num lugar em que se escolhe qual o tipo de salada, o tipo de carne e o tipo de molho - na brincadeira, o Subway daqui, só que com carne no melhor estilo centro de São Paulo, com pedaços de carne sobre os outros. Por conta de encontros, eu, alagoano morador do Rio Grande do Sul, almocei com um amigo carioca morador do Rio Grande do Sul, mais um maranhense morador do Rio Grande do Sul (doutorando na UFSM), um sergipano e uma mineira.

Entre idas e vindas de conversas sobre as diferenças de universidades, acabou rolando um bom papo sobre situações de violência e/ou políticas. O pavio foi aceso porque numa curiosidade vinda do Periscópio da Mídia, perguntamos ao maranhense sobre o assassinato de um jornalista que trabalhava num jornal do Grupo Mirante (José Sarney). Conseguiu esclarecer algumas coisas sobre o caso, dúvidas que tínhamos foram retiradas.

Além disso, é chato perceber como estamos distantes, em termos de conhecimento de língua, dos hispanos, tão próximos. Ontem, no credenciamento, vi uma das pessoas da organização dizendo que falava inglês, mas não português. Já vi e ouvi brasileiros que entendem menos que eu de espanhol; mal o "permiso" no lugar do "licença" sai.

Na hora da apresentação, no Grupo de Trabalho em que estou, alguns brasileiros optaram em falar em espanhol. Na vez do português, sempre houve pedido para falar com "mas despácio" - por mais que um professor brasileiro experiente, numa das mesas "gerais", tenha falado rápido até para quem sabe português... Nós da América Latina temos maior aproximação, em termos de linguagem, com o inglês do que com o espanhol ou o português, dependendo de onde se é.

Ah, mas há outra grande diferença. Na mesa de abertura, realizada no paraninfo da Universidad de La República, local em que Ernesto Che Guevara pronunciou um discurso revolucionário quando esteve por aqui, pudemos perceber que a "cultura política" é diferente. Ou alguém imagina um reitor de universidade brasileira vestido de abrigo de couro e começando a falar com um "companeros e companeras? Além de falar que a universidade deveria produzir para uma mudança social "maior" que vivenciamos nesta fase da América Latina?

A mesa seguinte, com um paraguaio formado em agricultura, Juan Díaz Bordenave, que em fuga da ditadura passou alguns anos no Brasil - e é pai do ator Chico Díaz. Só fala sem rodeios que, dentre outras coisas, imagina que se cremos que "un nuevo mundo es posible", como aponta o Fórum Social Mundial, precisamos acreditar que uma nova comunicação é possível e necessária para que a primeira coisa ocorra. 

Ele fez uma interessante reflexão sobre como o marxismo teria sido "desviado" nas práticas stalinistas e, principalmente, na China, onde o capital fez a parceria com o seu inimigo, o "comunismo" para criar aquilo que virou o país asiático atualmente. Isso, dentre outras provocações sobre a comunicação de alguém que assumidamente não é um pesquisador.

Amanhã tem mais e espero que consiga fazer a visita ao único monumento que tenho a "obrigação" de passar por lá. Hasta!

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