sábado, 13 de dezembro de 2008

Última Parada em favela movie’s?


A primeira coisa que se pensa quando se sabe que está no cinema um filme cujo pano de fundo é o Rio de Janeiro é se este será mais um filme que, acompanhando a tendência iniciada por Cidade de Deus, entrará para o rol do que se convencionou chamar de favela movie.
Pois bem, o diretor de Última Parada, 174, filme brasileiro apontado a uma indicação ao Oscar como melhor filme estrangeiro, afirma que não, que buscou justamente o oposto disso. Segundo Bruno Barreto (O que é isso, Companheiro?), o seu filme mostra mais condição humana do que a condição social.
Além de um assunto trágico ser tratado no filme - os bastidores do seqüestro ao ônibus 174, que fazia a linha Gávea-Central de Deus pelo jovem Sandro Nascimento, no dia dos namorados de 2000 -, a primeira vez que o filme veio à imprensa foi devido ao nome. José Padilha, diretor do recente sucesso Tropa de Elite, produziu um documentário em 2002 sobre o mesmo assunto, denominado Ônibus 174, nome o qual não foi permitida a reprodução.
Ainda não tive a oportunidade de ver o documentário de José Padilha, muito elogiado por sinal, para poder fazer uma comparação minha tanto entre gêneros cinematográficos, quanto do próprio roteiro e temas abordados.
Segundo especialistas, a diferença entre as duas produções cinematográficas está na maneira que permitem seus diferentes gêneros. Enquanto o filme de Padilha é um documentário, o que permite o distanciamento racional do observador; o de Barreto é uma ficção, que busca focar mais na busca da mãe de uma criança em encontrar o seu filho Sandro, o que diminui o espaço do assalto em si.
Quanto ao filme, confesso que fiquei com a sensação do cansaço em ver favela movie’s. Tudo bem que não sou nenhum especialista em Cinema – ainda estou aprendendo a escrever sobre cultura -, mas sou um dos que quando acabou o filme ficou estafado com o que vi.
Concordo plenamente com Barreto, que ficou mais revoltado ainda com a situação do Rio de Janeiro após gravar o filme – inclusive chorou após a primeira exibição -, porém, acredito que um outro ponto de vista, talvez demonstrar os motivos reais de termos em nosso país, o dito “país do futuro”, tal situação. Será que a favela existe só por causa do tráfico e de alguns policiais que se vendem a ele?
Realmente, quando comparado a Cidade de Deus, Carandiru e demais filmes, Última Parada procura mostrar mais o humano, o que as pessoas têm que fazer para sobreviver num campo social tão difícil e preconceituoso. Porém, as possíveis confusões com o estilo supracitado vão além do pano de fundo, certos elementos que mostram o Brasil ao mundo estão presentes lá também: sexo, tráfico de drogas e violência.
Eu preciso assistir mais filmes, mais “culturais”, clássicos, para poder falar melhor sobre o assunto, mas este filme em especial me deixou numa incrível dúvida: deve-se mostrar o lado estereotipado do Brasil, só que como uma forma de denúncia, mesmo que isso só influencie para aumentar um estereótipo?
Tivemos um exemplo recente de produção estadunidense (Turistas) – sempre eles! – sobre o Brasil e vários erros foram cometidos. Eles ainda acreditam em macacos nas ruas e drogas sendo utilizadas por todos em qualquer lugar. Ou seja, nós somos o “país de ninguém”.
Mas, de certa forma, não vemos o nosso país nos grandes meios de comunicação de forma maquiada? Não somos a maravilha que nos faz acreditar o senhor do “nunca na história desse país...”.
Condição humana X condição social. Quer dizer, por que temos que separar a relação entre os dois? Por que os cineastas terão que se preocupar se os seus observadores irão achar que é “social demais”?
O sujeito individual está intrinsecamente ligado ao que é a sociedade, faz parte dela enquanto ser social, algo que caracteriza e diferencia homem/mulher de outros animais. Talvez esteja aí o X da questão para os filmes que queiram mostrar a dura realidade brasileira: explicar o porquê acontece aquilo, mesmo que seja difícil em 90 ou 120 minutos sair da superficialidade cotidiana.
Enquanto isso eu tentarei aprender mais. Quem sabe me entender no meio disso tudo para poder tentar entender o que sai da cabeça de cineastas e telespectadores assíduos de cinema.

3 comentários:

  1. É, escrever sobre cultura não é fácil viu? Ainda mais cinema, ôôô... é muito difícil, é preciso ser apaixonado, ou pelo menos, se for obrigação profissional, assistir a muitos filme e ler muita literatura especializada.

    Continue tentando, este eu dou nota 7,5. Isto por saber que o seu nível em outros assuntos é 10.

    Parabéns!

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  2. Anderson! O ensaio por enquanto vai ficar na net mesmo e na Revista Bula!

    Qunato ao que você escreveu, eu ainda não vi o filme para comparar, mas esse assunto é bastante discutido entre os entendidos..rsss favela movie´s já está virando moda.

    Gosto muito de cinema, mas eu sei que não tenho base suficiente para escrever sobre os filmes, preciso ainda aguçar meu olhar cinematográfico.

    Ah! Para quem não ecsreve sobre cultura, foi um bom começo! Beijos

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  3. Concordo com o Salomão, é preciso muita bagagem pra escrever com propriedade sobre algum tema. Eu bem que queria conseguir escrever sobre cultura, mas acho que o meu entendimento dos processos culturais nunca vai ser suficiente pra conseguir explicá-los da forma que eu quero.
    Prefiro ficar como ouvinte, espectador e leitor mesmo.
    Parabéns!

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