quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Esse time joga por música

Em meio às retrospectivas de final de ano, meu parceiro de blog esportivo falou sobre a lista musical dele. No mesmo instante defini que se fosse fazer um “top música” teria que ser no mínimo um time de futebol, pois neste ano escutei mais coisas diferentes do que nos anos anteriores.

Unindo uma idéia do jornalista José R. Torero – que fez um time de escritores – com a retrospectiva do ano, resolvi escalar o meu time musical de 2008, entre grupos e cantores que pude conhecer, de verdade, neste ano que acaba.

No gol, Chico Science e Nação Zumbi.
- Nada como ter um líder na posição de goleiro. O líder do transformador movimento pernambucano mangue beat representa toda uma Nação Zumbi.

Na lateral-direita, Clara Nunes.
- Soube interpretar muito bem músicas de um povo que viveu, e alguns de seus descendentes ainda vivem, à margem da sociedade, os negros. A lateral-direita não é só uma homenagem, mas um protesto.

Na defesa:
Fernanda Takai.
- A descendência japonesa dá velocidade para se antecipar aos atacantes. Ainda por cima, é capaz de demonstrar um bom entrosamento em grupo, com o Pato Fu, e ser habilidosa no combate individual, cantando Nara Leão.

Cartola.
É para quem gosta de clássicos. Como Domingos da Guia, Cartola é um desses. É o tipo de jogador que se quer ver vestindo a camisa de qualquer time. Neste caso, é o tipo de música que gostamos de ouvir em outras tantas boas vozes.

Na lateral-esquerda, Chico Buarque.
- Além da evolução sofrida pelo esporte, Chico já não tem tanto fôlego para atuar na ponta-esquerda. Mas continua a distribuir letras, o que para quem gosta de futebol é muito bonito de se ver. E ainda faz seus gols, afinal sempre está apto para marcar com as suas músicas.

Volantes
Novos Baianos.
- Para ser volante tem que vestir a camisa. E a brasilidade é evidente para os Novos Baianos. Além disso, a segurança em campo não parava a criatividade.

Nara Leão.
- Neste time é a responsável por ligar a defesa ao ataque. É a típica atleta versátil ao conseguir passar rapidamente da Bossa Nova à Jovem Guarda, muito atacada pela imprensa, com muita precisão e qualidade.

Meias
Os Mutantes.
- É o capitão de um time inovador. Os Mutantes gritam na hora certa; falam com os árbitros em outra língua. Além de tudo isso, sabe misturar o melhor das táticas estrangeiras, a guitarra, com a criatividade típica do Brasil.

Pixinguinha.
- Para vestir a camisa 10 tem que ser um verdadeiro maestro. Com a bola no pé, tem que se possuir a cadência de um choro à velocidade de um bom samba. Pixinguinha foi um dos primeiros brasileiros a entender de música nos seus mínimos detalhes e a última contratação da nossa equipe.

Atacantes
Secos e Molhados.
- Poucos sabem com tanta maestria irritar os adversários com composições musicais irreverentes e, ao mesmo tempo, fazê-los ficarem impressionados com seus tentos. Chama a atenção dos marcadores com a inusitada forma de se apresentar no palco de jogo. Uma lição a ser levada para além-mar.

Noel Rosa.
- Ronaldo, Luís Fabiano, Adriano, Amauri? Não, Noel Rosa. Poucos conseguem num tempo de carreira tão curto ultrapassar a marca de 200 músicas criadas. Este carioca conseguiu passar disso até os 26 anos!

No banco de reservas convocamos a novidade musical pernambucana Mombojó, o alagoano-catarinense Wado, o samba de Maria Rita, o espetáculo d’O Teatro Mágico, a criatividade de Zeca Baleiro e a irreverência de Tom Zé, alguém a ser explicado.

P.S.: Não posso deixar de agradecer pessoas que serviram de diretores do meu time neste ano. São dois pernambucanos. Um que me fez conhecer os aspectos culturais da sua terra e me forçou a sair da modernidade vazia a qual vive a cultura alagoana; e outro que me fez conhecer mais do samba – seja no agradabilíssimo Samba Sim de 2007 ou no Malacada, em 2008. E mais dois alagoanos, que muito me ajudaram nas discussões sobre os atletas da música. Um com gosto que vai do Oiapoque ao Chuí e outro que até em coral canta.

3 comentários:

  1. Anderson! Parabéns pela postagem adorei ler sua escalação muiscal.

    E aproveitando o espaço, desejo-te um ano novo repleto de sucesso e realizações! Grande Beijo

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  2. Texto muito criativo e escalação musical primorosa! Não colocaria Mombojó no banco de reservas, mas entendendo sua escolha de verdadeiros clássicos da música brasileira, acabei por aceitar a posição dos pernambucanos.

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  3. Meu irmão, o que é isso hein? Que texto delicioso! Rapaz, sinto-me muito feliz de saber que estudo com um cara crítico e intrigante (?) como vc!

    Rapaz, e enorme tb a minha felicidade em saber que a minha pessoa, de alguma forma, contribuiu em alguma coisa na sua vida. E ainda por cima ser citado por causa do SambaSim e do Malacada. Rapaz... tô muito contente mesmo com isso.

    Só me resta agradecer e dizer que você cada vez mais se torna um excelente jornalista! Ao último ano!

    Abraço e sem palavras mais...

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