domingo, 24 de maio de 2020

A socialite do Graciliano Ramos

Casada há mais de uma década, um casal de filhos, uma cachorra fofinha. Mãe coruja, dona de casa que é a grande referência dos amigos para resolver alguns problemas do cotidiano... Se não fosse tão ruim hoje em dia falar isso, seria a “típica família brasileira”, nada demais que gerasse uma crônica específica. Eita, “rapidinho, só uma coisa que eu lembrei agora”.

Um “Meninaaa, nem te conto!” assim que o zap do outro lado é atendido. Assuntos diversos do cotidiano, fala de uma parente ou vizinho, mas também sobre quem ocupa o cargo de presidente da República. São tantas conversas diárias que já pediram para anunciar como “o grande debate” de certo canal de notícias da TV fechada – falta só ter as divergências do mundo da imaginação que criam por lá.

“Vou ligar aqui rapidinho!” num momento da conversa quando precisa ligar o liquidificador. Porque a conversa é com o celular na estante da cozinha enquanto vai fazendo a mágica da culinária para deixar o almoço ou o jantar pronto. E é ainda mais difícil quando alguém em casa não come a carne de determinado jeito ou outro prefere o suco de maneira diferente. Haja trabalho!

Como se não bastasse o comando de três pessoas e uma cadela em casa, ainda tem os irmãos, que falam, escrevem, mandam áudios; os dois sobrinhos, especialmente, que qualquer dúvida batem na porta ou, para ser mais direto, mandam aquela mensagem de áudio pelo zap ou ligam, não importando se ela está ocupada com as coisas de casa, cochilando depois do almoço ou vendo os filmes. Aliás, valem os parênteses. A pessoa não gosta de série, mas vê filmes aos poucos COMO SE FOSSEM SÉRIES!

Voltando. Está ali à disposição para saber como abrir uma lata – algo que não sabia porque não é ela que faz isso –, temperar a carne, algum contato para arrumar a casa, escutar os desabafos e rir das piadas, fora que é a especialista em como limpar os alimentos e as compras nesses tempos de pandemia! Por sinal, ninguém melhor que ela, que se preocupa com tudo algumas vezes mais do que qualquer pessoa que você ache que está se ocupando demais com isso. Afinal, ela se preocupa com toda a família.

Mas, pera aí, onde que isso é vida de “socialite”?

Quantas vezes você já foi para festa de aniversário de cachorro, com direito a pedaço de bolo para a cadela que ficou em casa, que até hoje dorme com a manta que foi o brinde do aniversário?

“Mas eu gosto do Alok, como vocês não sabiam quem era?” quando alguém falou que não sabia como ele era fisicamente. Dias depois, após a live do famoso DJ: “a gente até puxou o sofá mais para o canto, só não dancei mais por causa da hora, vai que os vizinhos reclamassem!”.

E as amizades? A amiga super jovem, com alguns anos à frente, que se espanta com certas coisas porque na “nossa época” era de outro jeito. O “faz-tudo” das proximidades que a considera como mãe porque sempre arranja uma maneira de ajudar. Mas como seria diferente para alguém que há mais de uma década recebe as felicitações de aniversário de outra amiga dias depois da data real sem reclamar, pois não quer constranger? A “socialite do Graciliano” parece ser a típica dona de casa que a nossa sociedade patriarcal acaba gerando de exemplos, mas é única não só por tudo isso que relatei aqui, mas por ser uma pessoa de um coração gigante – também quando pega ranço, mas aí seria tema para uma outra crônica.

4 comentários:

  1. E ainda tem que aguentar um marido chato, mais enfezado que cachorro mordido!

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  2. Cristiane é uma mulher fantástica em todos os sentidos. Agradeço por fazer parte dos amigos dela, porque só quem a conhece sabe o quanto ela é especial. Te adoro Cris!!!! Feliz aniversário minha amiga👏👏🎁🥳🎂💝

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  3. Agradeço o carinho!Nossa me sinto muito lisonjeada por saber que represento tanto,nem eu mesma sabia.

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