segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

[Por Trás do Gol] "The favela is here"

Yokohama. Goleiro adversário como melhor jogador da partida, dezenas de chances desperdiçadas e gol saindo com volante participando da jogada e o principal, um time brasileiro vencendo por 1 a 0 o time inglês campeão da rica Champions League. Rafael Benítez já tinha visto isso há sete anos, quando treinava o Liverpool contra o São Paulo. Porém, desta vez foi bem diferente.

Como tratamos no texto escrito às vésperas do confronto deste domingo a final do Mundial de Clubes FIFA 2012 seria a mais equilibrada da história do torneio. Indo bem além do confronto chavão entre o ataque europeu e uma defesa bem fechadinha durante toda a partida do time sul-americano. O Corinthians preza pela tática, com a metáfora disso sendo representada dentro de campo por Paulinho, o volante que aparece no ataque com bastante frequência - ou também o Jorge Henrique, terceiro atacante que vira primeiro lateral quando o time é atacado.

Apesar de começar com Moses no lugar de Oscar, o Chelsea teve mais oportunidades no primeiro tempo, nelas apareceu a figura do veranense Cássio. Primeiro, em cabeceio de Cahill, com uma defesa que contou com a sorte de sequer ficar perto da linha para testar o chip da Cafusa. Depois, numa das poucas boas jogadas do nigeriano na partida, Moses acertou um chute à lá Neymar, com a bola perto dos pés e a colocando no canto. De mão trocada, Cássio fez a principal defesa da partida.

O Corinthians não relembrava as melhores partidas da Libertadores, principalmente pela pouca participação de Emerson Sheik na partida, que forçava Paolo Guerrero a sair do centro e buscar a bola pelas laterais - e não é que o peruano tem habilidade? Paulinho poucas chances teve e a primeira etapa terminou com um bom equilíbrio na posse de bola, cujos números variavam a cada dez minutos, e também dentro de campo.

O segundo tempo rolava e pouco de diferente ocorria. Quer dizer, o belga Hazard tinha ainda menos espaço para articular as jogadas. Na única chance que teve, aparecendo em cruzamento diagonal de Lampard, jogada que foi a melhor dos blues na partida, também parou em Cássio.

Até que Paulinho apareceu. Tabelou com Jorge Henrique, que ainda pequeno devolveu a bola de cabeça, caminhou pela entrada da área do Chelsea até clamar para que Danilo chutasse. O meia, canhoto, cortou para a direita e ficou no zagueiro. A bola subiu e encontrou Paolo Guerrero, no melhor estilo Basílio. Três homens na frente dele e cabeceio triscando a trave, impossível de ser alcançado. Gol do Corinthians e festa de um "bando de loucos" com dinheiro suficiente, ou com carros vendidos e dívidas futuras, para ir ao Japão.

O louco Benítez resolveu colocar Oscar em campo, mas o Chelsea pouco criou com o ex-jogador do Internacional. O time partia para a clássica jogada inglesa, ainda que num time recheado de estrangeiros, de bolas alçadas na área, por trás dos laterais e marcadores. Como corintiano se orgulha de ser "maloqueiro" e "sofredor", ainda houve tempo para os torcedores acenderem sinalizadores dentro do comportado estádio de Yokohama e verem a última grande defesa de Cássio. A bola sobrou para Torres que, como quase sempre, perdeu o gol, ou melhor, teve a bola defendida. No final, ainda houve tempo para, no último segundo, a bola acertar a trave esquerda.

Final de jogo, Cássio escolhido como melhor jogador da partida e do torneio; o incansável David Luiz, ainda que corintiano na infância, foi o que mais se esforçou na partida e sentiu a derrota, ficou com a bola de prata; e Guerrero, o centroavante que o time buscava, autor dos dois gols corintianos na final, ficou com a bola de bronze.

O time que "só ganhava de um a zero", que muitos viam como retranqueiro sob o comando de Tite, que só não foi demitido em 2010 após a eliminação para o Tolima porque Andrés Sanchez o segurou no cargo. Este time, que disputou a Série B em 2008, aprendeu dentro de campo e fora dele, com o marketing, e se reergueu. Para infelicidade da torcida que é contra ao time - o qual este escritor se inclui -, o Corinthians não precisa ter vergonha ao dizer que é campeão do mundo. 

Como a torcida mostrou - além da lembrança corriqueira ao Palmeiras com frases como "Chora Porco" - e Tite pegou a faixa depois, mais que o mundo ser de "um bando de loucos", é mais aceitável dizer que "The favela is here", no Brasil, no Japão e em todo o mundo.
Foto: Rodrigo Nogueira/Folhapress

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