segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eleições, mais eleições e pecados


Domingo de eleições e aquela vontade de criança de ir lá acompanhar os pais para colocar o papelzinho na urna ou apertar as teclas quando nos primeiros anos de urna eletrônica ficam só na memória. Junto a uma forte dor nas costas desde o dia anterior e a um tempo abafado típico da úmida São Leopoldo então... 

Enfim, foram as minhas primeiras eleições como eleitor fora de Maceió. Mais que isso, foi a primeira experiência como eleitor de cidade do interior e a diferença é enorme e olha que São Leopoldo não é tão pequena assim e fica na região metropolitana, ainda que correspondendo ao Vale do Rio dos Sinos. 

Primeiro que eram só três candidatos a prefeito, um do PT, outro do PSDB e um último do PPS. Ou seja, siglas que, por opção ideológica, eu não vejo diferença de uma para outra. Se bem que, por opção ideológica, eu não voto em nenhuma, já que discordo completamente do sistema de representação que conforma a, em que você oferta a uma pessoa o direito de gerir a cidade em que se mora e a algumas dezenas o dever de fiscalizar a atuação desse gestor e propor alterações nas leis. Poder popular? Nem em outra galáxia. 

Além disso, é nesta situação que se percebe a importância do horário eleitoral. Por mais que até eu tenha tentado ler alguma coisa nos portais de notícia da região durante a semana sobre as propostas dos três candidatos, mais para ver as contradições entre eles do que qualquer outra coisa, só se conhece aqueles que aparecem em placas espalhadas em casas e nas cidades. O candidato do PPS mesmo, sem recursos, pouco vi – mais em noticiários do que nas ruas. 

Porto Alegre 

Ah, o que víamos na TV no horário eleitoral? Os candidatos a prefeito e a vereador de Porto Alegre. Confesso que a minha curiosidade me fez ver o primeiro dia, dedicado aos candidatos a vereador, e, provavelmente, só o sotaque muda de um Estado para outro; e vi um dia dos candidatos a prefeito, além de vê-los constantemente nos intervalos comerciais. 

Tecnicamente, surpreendeu-me a campanha da Manuela D’Ávila (PCdoB), que tinha uma movimentação de câmera diferente quando ela falava. Politicamente, a tentativa do candidato do PSDB de defender a austeridade, com corte nos gastos públicos, porém, criticando a falta de gastos em setores primordiais – no debate, ele chegou a questionar o candidato do PT sobre o porquê do governador Tarso Genro não ter cumprido a promessa de garantir o piso salarial aos professores, como se Yeda e cia. fossem cumprir... 

No final das contas, Manuela começou a campanha liderando, mas perdeu o fôlego para máquina administrativa sob comando de Fortunatti (PDT), que venceu ainda no primeiro turno e com porcentagem de votos bem tranquila. Em terceiro, Villaverde (PT) diminui até mesmo a média normal de votos petistas na capital. Com as duas forças de oposição na capital divididas e demorando para atacar a gestão de Porto Alegre – até mesmo porque os três partidos são base do Governo Tarso e do Governo Dilma – deu no que deu. O prefeito que fecha bares, privatiza praças, parques e espaços culturais e que ajuda a defender tatu-bolas de plástico foi reeleito. 

Voltando a São Leopoldo, eu li algumas coisas sobre a confusão do PT para indicar o nome para a prefeitura. O prefeito de então era do partido, mas não podia se recandidatar por estar num segundo mandato. Tiraram o representante do Governo do RS em Brasília para ser candidato na cidade, mas derrubaram o nome do cara internamente. Sobrou para um terceiro que, conforme papos da barbearia, não conseguiria a simpatia nem da família, imagina da população. 

Dois dias antes do pleito, vi um jornal da região com a pesquisa do mês na capa. Ela invertia o que pesquisa do mês anterior dizia, o candidato do PT tinha pulado para a liderança, muito à frente do candidato do PSDB. A mania de ler tudo me fez ver que esta pesquisa foi contratada pelo candidato da situação, enquanto a outra foi do candidato da oposição. Ou seja, alguém confia mesmo em pesquisas – alguém falou no DataFALHA aí ? 

No sábado, acometido por uma forte dor nas costas, ainda fui obrigado a passar algumas horas da tarde deitado ouvindo carreatas, buzinaços e fogos de artifício de um dos candidatos em frente ao prédio. Ô vontade de votar... 

No dia seguinte, a dor só deu trégua à tarde e fui votar. Perto de casa, fui a pé ao Centro de Espiritualidade Cristo Rei, onde “treinam” os padres. Antes de chegar lá, um carro passa por mim com a bandeira com o número 45 e grita o nome do candidato. Respirei fundo e deixei na mente o que queria ter xingado falado. Antes da entrada do CECREI, chega alguém para indicar o candidato que ajuda a vila – e nenhum policial por perto para um lugar com cinco secções, se não me falha a memória... 

Ao menos, não havia ninguém na fila. Até arrisquei votar numa legenda para vereador só para ver no que ia dar, mas a cidade não deve ter nem representantes de partidos mais próximos à esquerda, então só apareceria “VOTO INVÁLIDO”/“VOTO NULO”, nesta ordem, mesmo. 

À noite, o resultado mostrou que as duas pesquisas estavam erradas. O candidato do PSDB venceu as eleições, mas por uma diferença menor que 10%. A tempestade que caiu em seguida impediu maiores comemorações, ao menos de forma audível. 

Mania desde criança, quando ficava até altas horas ouvindo a apuração pelo rádio e as análises na televisão, acompanhei a apuração pela internet também em outras cidades. 

Em Maceió, se em 2008 foi “óbvia” a reeleição do prefeito com uma avalanche de votos (80%), a fácil vitória do candidato ligado ao governador, do PSDB, surpreendeu. Travestido de novo, mas filho do ex-ministro do TCU e senador Guilherme Palmeira e sobrinho de Vladimir Palmeira, Rui Palmeira representa a oligarquia política local, com vistas às eleições ao governo em 2014, quando Teotônio Vilela não poderá mais se candidatar. 

Vence um governador que teve um primeiro ano de mandato terrível, lá em 2007, com greves em todos os setores do funcionalismo público estadual. Fora que a eleição de 2006 foi contra o usineiro João Lyra, que até hoje sofre para repor as perdas financeiras de campanha – com direito à falência, que vai e vem, do grupo empresarial que conta também com um jornal de periodicidade diária. Em 2010, o enfrentamento foi contra os ex-governadores Ronaldo Lessa e Fernando Collor (ex-presidente também). Em 2012, o candidato do governador venceu o do “chapão” da base aliada da presidenta Dilma. 

Ronaldo Lessa foi o grande derrotado. Se já seria derrotado, segundo as pesquisas mais recentes, ainda no primeiro turno, ainda viu sua candidatura não ser permitida pela justiça eleitoral, forçando o “chapão” a indicar de última hora Jurandir Boia. A fritura de Serra em São Paulo não chega nem perto do que Lessa sofreu de derrotas políticas nas últimas duas eleições. Para mim, em meio a uma nova candidatura a Governo e uma super disputa para a vaga do Senado (de Collor) que se avizinha, com a volta de Téo para disputa-la, de repente é hora do ex-governador, que já representou a mudança no Estado, reduzir o ímpeto e disputar para deputado federal em 2014. 

Ah, vale a pena dizer também que foi uma campanha com vários candidatos. Do lado do Governo, o DEM do vice Nonô lançou o apresentador de programa policial e deputado estadual Jeferson Moraes. Do lado do chapão, Galba Novaes, vereador e fiel escudeiro de Collor, também concorreu, ficando em terceiro. Além disso, tivemos candidaturas de PSB e PSL, para além da “tradicional” do PSOL-PSTU, que conseguiu mais de 5% dos votos, num bom crescimento em relação às últimas eleições. 

Conheço o Fleming, candidato do PSOL nessas eleições. Nome novo no partido de Heloísa Helena e Mário Agra, é amigo de amigos meus, mas tenho divergências em relação a algumas coisas – que acabam por agregar ao PSOL também. Confesso que não sei se votaria nele se estivesse em Maceió, mas, ao menos, fez uma campanha interessante e com maior aproveitamento e diálogo através das mídias sociais. Pena que não vi debates – e a Gazeta, afiliada da Globo em Alagoas, não fez o dela. 

Votos expressivos também em Aracaju, terra que vivi minha infância. Nomes velhos como João Alves, Almeida Lima (que desistiu no debate, há dias da votação) e Valadares (ainda que o filho do senador) na disputa. A dobradinha PT-PCdoB e base aliada, há 12 anos no poder, perdeu para o velho João Alves Filho, do DEM, e ainda no primeiro turno. 

No Rio de Janeiro, onde estou agora, apesar de uma excelente campanha de Freixo (PSOL), o Eduardo Paes levou ainda no primeiro turno. Ainda assim, o PSOL conseguiu 28% dos votos numa importante capital do país e se mostra a oposição real num Rio de Janeiro sob comando do PMDB na cidade e no Estado. Vale lembrar também que uma campanha muito elogiosa a do deputado estadual, colocando a militância nas ruas e sem nada em troca. 

Em São Paulo, Russomano foi o cavalo paraguaio e após crescer muito, gerando dúvidas sobre a dualidade PT-PSDB na capital, ele perdeu fôlego nas últimas semanas e viu Serra e Haddad o deixarem bem para trás. Serra joga a vida política neste segundo turno, ainda que com uma rejeição imensa, na casa dos 40%, que tendem a colocar o petista como favorito. 

SUPRESAS 

Por fim, as surpresas. As maiores delas foram as eleições de vereadores do PSTU, isso mesmo, PSTU, em duas grandes capitais. Cláudio Roberto no Pará foi alçado à “fama” num debate a governador em 2010, mostrando-se como alternativa – debates “bipolares” sempre abrem espaço para a esquerda mais crítica aparecer, desde que haja nomes que se aproveitem disso. O outro nome foi o de Amanda Gurgel em Natal. Professora conhecida por um depoimento na ALE do Rio Grande do Norte em maio do ano passado publicado no Youtube – com direito à participação no Faustão –, é a vereadora mais votada da história da capital potiguar. Ah, Heloísa Helena foi reeleita em Maceió, mas com um PSOL com muitos candidatos acusados de compra de votos – a ver... – e com 10 mil votos a menos que em 2008. 

Resta ver como será o posicionamento e a pressão a esses nomes que, para além de esquerda, são de partidos que defendem o poder sob as mãos do povo de forma efetiva, algo bem distante do que ocorre em câmaras de vereadores. A experiência de HH em Maceió não é muito animadora...

Um comentário:

  1. This is a good blog message, I will keep the post in my mind. If you can add more video and pictures can be much better. Because they help much clear understanding. :) thanks Cavalieri.

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