segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

4.121 tuítes e quase 11 meses depois...

Em fevereiro de 2011 acabei me rendendo a um algoz de muito tempo: o Twitter. Como contei aqui no Dialética Terrestre, o intuito era mais para saber o potencial da mídia social que moveu muitas opiniões e trabalhos científicos por conta de um possível potencial contra-hegemônico e, além disso, como as empresas não estavam sabendo utilizá-lo.

Acabei prometendo em fazer uma análise sobre a forma que utilizei o Twitter e por vários motivos não pude fazê-lo para além dos primeiros dias. Até que muitas das dificuldades apresentadas no único relatório de atividades acabaram, com a assimilação pela empresa de outras ferramentas que acabaram por melhorar sua utilização - sem a necessidade de se usar outros instrumentos para, por exemplo, postar uma simples imagem.

Acostumei-me com a série de manchetes - afinal só são 140 caracteres... - publicadas e muitas vezes fiquei e ainda fico com muitas abas abertas por conta da velocidade das notícias e dos meus interesses em ler. Nem sempre dá para acompanhar. Afinal, em questão de minutos já tem dezenas de postagens; apesar de nem sempre serem coisas interessantes - como anúncio de chegadas de festas ou puxa-saquismos governistas.

Por mais que mantenha a crítica quanto à quantidade de caracteres, que restringe, e muito, as discussões, tendo que dizer que esta mídia social foi muito útil para mim durante este quase um ano de utilização. Pude reencontrar um colega/amigo ou outro, que perdi o contato ao longo dos anos, alem de poder trocar tuítes até com algumas referências de produção acadêmica/profissional. Porém, também arranjei por conta do Twitter o meu maior problema profissional em terras gaúchas - por mais idiota que possa ter sido.

Produção própria
Desses 4.121 tuítes até agora, a maioria devem ter sido mesmo sobre futebol. Houve quem reclamasse que eu só tuitava sobre aquilo e até mesmo quem me provocava para usar esta mídia social para escrever em menor quantidade reclamar que eu estava enchendo sua Timeline com informações sobre futebol - especialmente, na final da Libertadores deste ano.

Fazer o quê? Além de apaixonado quase que desde sempre por futebol - e de quase todos os esportes, ao menos todos os que conheci até agora -, ele virou realmente o meu trabalho. Sou editor de uma coluna que se propõe escrever "Além das quatro linhas" ao menos uma vez por semana, logo, tenho que ler muito sobre o assunto. Além disso, a minha pesquisa de dissertação também é sobre futebol, logo nada mais normal do que falar mais dele.

Ainda assim, não é só sobre futebol. Afinal, não é porque sou fissurado por isso que só falo sobre ele, tendo toda a minha vida cultural com ele relacionado - sei lá, ler só sobre ele, ver filmes só sobre esportes ou ouvir músicas que tratem dele e coisas do tipo,...

Quem me conhece de forma razoável sabe que não costumo ficar fazendo só uma coisa. Então, análise crítica da mídia, pensar em políticas de comunicação, além de pensar sobre mobilizações sociais dos mais diversos tipos são temas que devem aparecer também.

Hoje tenho exatos 115 "seguidores". Nunca imaginei que passaria dos 50, imagina dos 100. Sei que é muito, mas muito pouco mesmo, mas nunca disse que queria fazer resultados com isso. Acho que serve mais para um desabafo momentâneo. Surpreendo-me que dentre estas pessoas há quem eu não conheço e quem eu conheço bem, mas que nunca esperava que fosse me seguir, dentre outros, casos de nos nomes da música brasileira, blogueiros "famosos" e professores da área com renome, casos de Martín Becerra e de Laurindo Leal Filho.

Em tom de crítica
Ah, se os indivíduos sabem usar melhor mídias sociais que as corporações em que eles trabalham? As pesquisas mostram que sim. Os jornalistas, apresentadores e atores têm mais "seguidores" que suas empresas. Muitos perfis de programas de TV continuam a falar mais só quando ele está no ar, até mesmo no caso dos jornalísticos (!). A "notícia" a cada minuto, ou a cada segundo, ainda anda longe de ser verdade na maioria dos casos - por isso, ainda temos que dar vivas ao rádio!

De todas as críticas possíveis, ainda tenho sérios questionamentos sobre o caráter revolucionário das mídias sociais. Em alguns espaços tratei disso durante o ano. Tudo bem, hoje temos mais possibilidade de que nossa voz seja ouvida - nossa, entenda de conteúdo fora das grandes corporações. Porém, a possibilidade de difusão de uma mídia massiva no Brasil é infinitas vezes superior ao de uma mídia social. Se temos muitos exemplos de casos de protestos que começaram na Internet, também temos os que não deram certo também partindo dela.

De forma geral, uma coisa é se dizer revoltado num computador e outra bem diferente é afirmar isso nas ruas. No caso da Primavera Árabe, as redes sociais tiveram importância fundamental para o início dos protestos, mas sem acesso a elas, o que seria deles se as pessoas não continuassem indo às ruas?

Hoje eu li, também por conta de um link do Twitter, uma entrevista com o jornalista Ignácio Ramonet, que foi diretor durante 17 anos da Le Monde Diplomatique. Ele dividiu o cenário atual como "entre a luz e a sombra". Vejamos um trecho:

"Por um lado, as mídias sociais são um fenômeno altamente positivo. É uma possibilidade de os cidadãos intervirem em debates que antes só eram restritos a quem a grande mídia quisesse. [...] A internet é uma ferramenta de fácil utilização e barata. Mesmo que se necessite comprar um mínimo de equipamento, é possível gerir um veículo com recursos cada vez mais reduzidos. Trata-se de uma reviravolta considerável e que pode ser considerado altamente positiva. Essa é o lado da “luz”. Há, no entanto, o lado “sombrio”. Também não podemos simplesmente acreditar que essa transformação na maneira de se comunicar ocorra sem que novas corporações sejam as grandes beneficiadas. Entre as principais temos o Facebook, o Twitter e o Google. Às vezes não nos damos conta de que, toda vez que utilizamos essas novas mídias, estamos tornando essas corporações cada vez mais lucrativas. Você pode ligar para um amigo para planejar a “grande revolução anticapitalista”. Para a empresa de telefonia pouco importa: ela lucra com a sua chamada. Também não devemos acreditar que, ao conseguirmos oferecer a possibilidade de qualquer pessoa expressar sua opinião, chegamos à era da democratização da comunicação. Sim, ela está mais acessível, mas os cidadãos não produzem nem são fonte dessas informações. Eles participam, na realidade, nos comentários. Em terceiro lugar, deve- se considerar que todo esse sistema é vigiado. Quando você se exprime através das novas mídias sociais ou por novas tecnologias de informação, está entregando informações que poderão ser rastreadas. Claro, o que ocorreu na Tunísia e no Egito foi muito positivo. Porém, pelo mundo, nem sempre é assim. É um sistema de dupla face".

Acredito que Ramonet foi muito feliz em suas considerações, especialmente nos pontos que eu destaquei. Afinal, vivemos um monte de uma "crise" - ou uma fraude chamada de crise, como nós no NIEG falamos -, com muita produção audiovisual sobre o assunto, independente de posicionamento político. O domínio do capital financeiro sobre a economia mundial é visível até mesmo para produções hollywoodianas - este primeiro modelo de Indústria Cultural - e, ainda assim, os interesses políticos das principais potências mundiais são para a manutenção deste domínio sem face, sem matriz geográfica.

Enfim, por mais que use, e utilize muito o Twitter, sou defensor da análise consciente da situação social e da cada vez mais necessária ação para que haja mudança. Difundir as informações sob outro ponto de vista é essencial, e as mídias sociais ajudam muito para isso, mas só isso não basta.

PS: Ainda esta semana pretendo escrever sobre os primeiros dias utilizando o Facebook - após várias pressões e argumentos vindo de vários lados.

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