segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Manchas de cidadania na Rede Globo

São poucas coisas que despertam-me ao consumismo. Uma são as camisas de futebol e outra, até mais incontrolável, são os livros. Eu tenho que estar de muito mal humor - acontece... - para chegar numa livraria e não levar pelo menos dois livros. Assim, a prateleira dos livros que eu não li vai crescendo em casa. O 2014 de menos da metade de leitura que a minha média habitual fez com que a dívida aumentasse.

Voltei ao pique e já se foram 5 até agora, entretanto, por mais que eu até separasse trechos para comentar aqui no blog, outros compromissos me tomavam a atenção e deixava para lá - como comentei no post anterior. Desta vez acho que consigo ao menos tecer comentários rápidos, como fazia em anos anteriores.

"Rede Globo: Mercado ou Cidadania?" estava esperando desde 2011 ou 2012. A autora, Jacqueline Lima Dourado, é do grupo de pesquisa CEPOS, lançou o livro para nós no Rio Grande do Sul, contando os problemas de se pesquisar a Rede Globo, que proibiu qualquer menção, de símbolo a cores, na capa do livro. Jacqueline é professora da UFPI e trabalha com a Economia Política do Jornalismo - organizando um evento e um livro sobre o tema - e estudos sobre a representação de gêneros nas telenovelas.

Partindo para o livro, a escolha por ele agora é para eu observar a transição de um trabalho acadêmico para uma publicação impressa, pois o meu intuito é fazer isso com a minha dissertação ainda este ano.

No caso de Mercado ou Cidadania?, Jacqueline segue o modelo dos trabalhos acadêmicos, com a apresentação e discussão sobre as escolhas teórico-metodológicas no início, junto a explicitações sobre o conceito de cidadania. Seguindo, posteriormente para a discussão do espaço midiático e o lugar histórico ocupado pela Rede Globo de Televisão. Antes de chegar à análise, traz também apontamentos sobre a importância do social como estratégia de mercado.

A análise começa na última parte, mais longa. Nela, Jacqueline observa a presença do que chama de "manchas de cidadania" ao longo da programação da Globo. Para isso, desenvolveu a análise da grade por sua transversalidade, escolhendo numa semana determinados programas de acordo com o seu gênero e em dias mais "normais" - sem a presença de eventos ao vivo que modifiquem a programação, como o futebol às quartas-feiras. Desta forma, ela passa por diferentes caminhos e vai analisando onde o social aparece e sob qual forma, realizando as críticas necessárias. 

Desenvolvimento de uma proposta metodológica interessante para os estudos sobre a televisão num panorama mais amplo, para além de um gênero e formato, e também para os estudos em EPC, que costumam se apropriar de outras metodologias para explicar seus objetos de estudo, valendo uma olhada para quem se interessa em algum visualizável da TV e em estudar via este eixo teórico-metodológico.

A análise de Jacqueline se encaminha para uma conclusão a partir de um estudo exaustivo, esquecendo os conceitos pré-concebidos que levam em consideração a posição de classe da líder do mercado de comunicação sem uma mera análise. A partir disto, ela conclui que:

Logo, vemos a TV Globo como espaço público. Como tal, busca promover o exercício da cidadania, apesar de situações precárias e adversas, uma vez que está organizado por um agente privado, cujos interesses são, em sua essência, particulares. Quer dizer, a maneira como a cidadania é tematizada na grade, imprime a essa tal cidadania uma feição de prática capitalista, ou seja, emerge como configuração do capital (DOURADO, 2011, p. 335).
No final do ano passado, realizamos uma entrevista com Jacqueline para o Portal EPTIC. Dentre outros temas, ela trata de seu livro. Acesse: https://novo.eptic.com.br/jacquelineentrevista/


Referência bibliográfica
DOURADO, Jacqueline Lima. Rede Globo: Mercado ou Cidadania? Teresina: EDUFPI, 2011.

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