segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

“Odeia a mídia? Seja a mídia!” Problematizações sobre o Centro de Mídia Independente do Brasil


Desde outubro que o post sobre este artigo estava salvo no rascunho do blog. Só postando outras coisas que eu relembrava dele, deixando para depois os comentários. Melhor fazer logo hoje para ele não seguir como rascunho por mais meses...

No Mestrado, tinha que cumprir alguns créditos em disciplinas de outras linhas de pesquisa. Uma forma mais rápida de cumpri-las, especialmente depois do primeiro semestre, era partir para os seminários de grupos/linhas. De forma geral, tive experiências muito boas com as minhas andanças em outras linhas. Este caso foi exemplar. Afinal, o tema do seminário sempre foi muito caro a mim: "Las disputas por democratizar las comunicaciones en Latinoamerica. Las tomas de posición de las organizaciones de la sociedad civil en el siglo XXI".

A aula, dividida em dois dias, foi ministrada pela professora argentina Maria Soledad Segura e a experiência da discussão foi bem interessante, especialmente porque a Argentina vinha de recente aprovação da Ley de Medios e a visão dos pesquisadores de lá sobre ela é bem diferente do otimismo exagerado com que nós costumamos olhá-la.

A proposta como trabalho final era de analisar algo alternativo/crítico do Brasil, algo que fizemos como exercício durante o seminário. Estávamos livres para escolher meio ou associação da "sociedade civil" que achássemos melhor. Muito me interessa a forma como os meios (ditos) alternativos e/ou contra hegemônicos se estruturam e produzem conteúdo. Hoje vejo que esse interesse vai ao encontro de uma busca por um espaço que garanta realmente a liberdade de opinião, não apenas a que nos convêm.

Resolvi analisar o Centro de Mídia Independente do Brasil por já tê-lo utilizado para um ou outro conteúdo e também por ter visto a tentativa de montar um coletivo aqui em Alagoas, pouco antes de eu fazer parte da gestão do Diretório Acadêmico. Enviei o artigo e recebi importantes considerações da Soledad, inclusive devido à diferenciação que se faz nos outros países da América Latina entre produtores de informação alternativa e observadores do que a mídia produz.

Dos artigos das disciplinas do primeiro ano de Mestrado, quase todos eu consegui publicar em algum lugar. Neste caso, arrisquei numa revista com qualificação importante, publicada em espanhol, tive que reduzir bem o artigo, mas o periódico mudou a plataforma e o meu artigo foi junto, nunca sendo analisado - algo que aparentemente ocorreu novamente no final do ano passado, em outro periódico e com outro artigo...

Ano retrasado, se não me engano, a Soledad me mandou um e-mail convidando a participar de um ebook que ela estava organizando. Achei muito bom. Atualizei o artigo, ela fez outras considerações, que tomei em conta, e em outubro do ano passado o ebook foi lançado. Se não foi uma publicação em espanhol - apesar de eu já ter publicado um texto sobre rádios comunitárias para uma revista venezuelana nesta língua -, o artigo poderá ser lido por pessoas de outros países, o que é importante para a circulação do conhecimento.
Segue abaixo a introdução do artigo que pode ser lido/baixado no site da revista:
http://humanas.unsl.edu.ar/Agitar_la_palabra.pdf

"Por un lado, Anderson David Gomes dos Santos analiza el funcionamiento en Brasil de un medio alternativo que trabaja en red a nivel internacional y pone en discusión la relación entre lo local, lo nacional y lo global. Vincula las limitaciones de los medios alternativos en un contexto de alta concentración de la propiedad privada de medios, con la necesidad de impulsar la reforma de las leyes de radiodifusión en ese país".

Introdução

Criado em 2001, na esteira de protestos antiglobalização no mundo, responsá-veis pelo nascimento da rede Indymedia, o Centro de Mídia Independente do Brasil (CMI-Brasil) se propõe a produzir informação alternativa e crítica de qualidade, oferecendo liberdade de publicação para aqueles que não teriam espaço nos grandes grupos de comunicação.

Utiliza-se aqui da base teórico-metodológica da Economia Política da Comunicação e dos estudos sobre produção alternativa de comunicação para analisar a forma de produção de conteúdo e a estrutura organizativa do portal colaborativo CMI-Brasil.

Esta análise leva em consideração o contexto de neoliberalismo e de Fase da Multiplicidade da Oferta, no caso brasileiro a partir da Lei do Cabo (1995) e de um início de maior difusão da Internet a partir de meados da década de 1990, para verificar como esta mídia alternativa utiliza-se de brechas para publicar seus conteúdos.

As observações relatadas a seguir partem de um acompanhamento do objeto empírico realizado na última semana de outubro de 2011. Por conta disso, procurou-se visualizar novamente o site em outubro de 2013 para verificar possíveis alterações tanto nas referências textuais que caracterizam o CMI-Brasil quanto no que se refere às páginas comentadas e copiadas na versão anterior do trabalho.
Assim, quando parecer necessário, haverá uma discussão sobre as alterações visibilizadas neste período.

Este trabalho desenvolve como movimentos de explicitação de análise: a situação da comunicação no Brasil, verificando os espaços que são ou não abertos para produções alternativas; um debate sobre a importância e possíveis restrições de observatórios e sites com iniciativa de mobilização social; a constituição do Centro de Mídia Independente do Brasil com suas características estruturais e de conteúdo; e a apresentação de problemas relatados sobre o site mostrando os limites deste instrumento.

SANTOS, Anderson David Gomes dos. Odeia a mídia? Seja a mídia!” Problematizações sobre o Centro de Mídia Independente do Brasil. In: SEGURA, María Soledad; VILLAZÓN, Mariela; DIAZ, Emiliano (Coord.). Agitar la palabra: participación social y democratización de las comunicaciones. San Luis-ARG: Ciudadanía y medios, articulaciones y contextos, 2014. p. 109-121.

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