domingo, 4 de janeiro de 2015

Da proximidade da morte


Eu nunca tive grandes problemas em saber que um dia vou morrer. No meu pessimismo sarcástico, costumo dizer quando estou doente que o pior que pode acontecer é isso e morrer não é um problema. "Se morrer, morreu".

Mas isso, é claro, quando se trata desta pessoa. Se tem um momento terrível, que eu não sei como agir - vá lá, quase todos que envolvam outro alguém e carinho é quase assim... - é o que fazer quando alguém próximo ou de uma pessoa próxima morre. O que dizer, o que fazer,... Abraçar, consolar, deixar a pessoa?

Pior que isso só se a pessoa morresse ao meu lado e é aí que esta crônica realmente engrena. Da viagem mais longa, ao Rio de Janeiro, à mais "próxima", para Delmiro Gouveia-AL. Duas experiências de aparente quase-morte e a dificuldade de reagir.

Começando pelo Rio. Viagem a trabalho em novembro. Tempo para lá de encoberto na metade do país. Aeroportos de São Paulo e Brasília fechados. Depois do avião rodar um tempo, a única alternativa era parar em Goiânia, encher o tanque e esperar.

Sinal de cintos atados ligado e hora de colocar a poltrona no lugar. Recoloquei a minha, o vizinho também, mas o senhor de terno e gravata na poltrona da janela, não. Cabeça baixa, fones no ouvido, dormindo. A comissária de bordo (alguém sabe a diferença para aeromoça?) chega e chama: "Senhor, a poltrona, por favor!".

Nada. Ela toca no braço dele. "Senhor!". Nada. O vizinho de poltrona faz o mesmo e nada. O desespero começa a aparecer. Ela olha para o cara que estava ao meu lado. Ele tenta mexer, chamar, mas nada. O avião quase aterrissando. Ela o balança forte. "Senhor, senhor!". Nada. Todo mundo passa a olhar para a nossa fileira. Desesperada, ela aciona o botão para chamar ajuda de algum colega.

Mais de um minuto ali e eu me dou conta de que ele estava com fone de ouvido - ele tinha se mexido rapidamente também, morto provavelmente não estava, mas nada de acordar. Falo para o vizinho tirar o fone. Ele o faz, ela o chama e ele finalmente atende. O sono estava tão forte que ele não achou nada de estranho ao acordar. Ah, no voo ainda foi necessário chamar atendimento médico para outra passageira, mais atrás, que começou a se sentir mal...

DELMIRO
Fui a Delmiro para participar de uma banca de seleção para professor substituto. Uma colega, que passou no mesmo concurso que eu, ficou no mesmo hotel na cidade. Aproveitamos para trocar experiências daqueles meses iniciais de aula, especialmente na hora das refeições.

No último dia de atividades, estávamos tomando café da manhã (vocês não sabem o quão estranho alguém que não toma café dizer isso para a primeira refeição do dia...) e ela começou a bater no peito. Aparentemente tinha entalado com algo, mas não tossia. Faltava o ar. Ela tomou o suco, mas nada. Ela seguiu aflita. Segundos passando e ela resolve se levantar e me chamar.

Eu levanto sem saber como proceder. Não sabia se tratava de algo que ficou entalado ou se era algum problema mais sério. Toquei as costas e o pescoço. Ela volta a tomar o suco e consegue voltar a respirar. Passou o resto do dia com medo do que comia, já que de manhã não tinha sido por nada "clássico", como cuscuz ou mesmo bolo.

De fato, as experiências mostram que sempre é bom saber algo de primeiros socorros. Por via das dúvidas, e por enquanto, que ninguém precise de mim para essas coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário