quinta-feira, 27 de março de 2014

Um ano só de inquietudes


Primeira parte da viagem feita. Só restava a outra perna da viagem. Todo mundo na aeronave, todas as malas nela. Só restava subir, passear por cima das nuvens e descer. Bastava só isso. Mas não.

- Atenção senhores passageiros, aqui é o comandante. Nós tivemos um pequeno problema e pedimos para que se retirem do avião. Procurem nossos funcionários que os explicarão o que fazer.

Todo mundo desceu atônito. Uns reclamavam, outros tentavam acalmar os companheiros de viagem. Eu, sozinho, ria um pouco. Será que não deveria voltar mesmo?

Desci, esperei por informações e nenhuma apresentava argumento que justificasse aquilo. Beleza, chovia muito no Rio, mas descer do avião com tudo já pronto?

Era um aviso. Como sou de atendê-los, ainda mais com um monte de dúvidas na cabeça, resolvi sumir. Mala? Já bastava eu. De resto, a única coisa importante que seguia nas malas era o que sobrara da coleção de camisas de futebol. O que importava quando não se tinha nada de certo para o futuro?

Saí no meio da chuva. Deixei tudo para trás e segui para o desconhecido que não foi uma série de erros ou azares que me empurraram. No meio da chuva, com uma mochila pesada nas costas. Um rio das águas que rolavam com a chuva, um rio de incertezas, um rio de feitos largados, um rio de frustrações deixadas. Uma vida ao Rio.

Liga o som e prepara a paciência


Bem que poderia ter sido assim. As previsões de voltar a Maceió, mais uma vez, não eram boas. Mas, como quase sempre, as coisas sempre pioram para mim. Hoje faz um ano que saí do Rio Grande do Sul, após uma jornada de 2 anos. Amanhã fará um ano que cheguei a Maceió.


Só para ninguém ter o trabalho de ir ao longo texto, destaco algumas das previsões realizadas no dia da viagem:

Ah, ia esquecer de dizer que vejo que a minha situação de dúvida de agora tem como grande antagonista eu mesmo. Fui incompetente ao não conseguir construir uma situação bem melhor que a atual. Afinal, sabia que a pior das hipóteses desenhava a minha volta a Maceió após o mestrado e numa situação bem pior do que a que eu vim - quando eu tinha emprego de carteira assinada, ainda que não fosse como jornalista, e uma quantia maior de dinheiro na reserva. Acabei desenhando duas possibilidades e nas duas eu vi uma espécie de auto-boicote.


Até que tentei não demonstrar o meu total pessimismo quanto ao futuro. Acho até que consegui na maior parte das vezes, mas estou me sentindo quase que "no fundo de um poço sem fundo". Tirando a ida ao Rei Pelé, com quase toda certeza, e talvez a um show de um coral sobre o Luiz Gonzaga, não tenho muita vontade de ver pessoas conhecidas.

Por fim, eu reclamo muito, sou pessimista quase que nato, mas não paro, por mais que o que mais me preocupa no momento é não saber como e por onde recomeçar. De início, a tentativa de uma nova mudança pessoal, provavelmente retomando a sociopatia, por vontade própria, que geralmente as pessoas acreditam que eu tenha assim que me conhecem - e talvez eu tenha mesmo.


Meus pais se mudaram de casa no início de maio. Aquela velha vontade de morar sozinho se confirmando. E ainda com a possibilidade de criar o Baleia - apesar de ele, no início, latir comigo em qualquer horário, por estranheza. Ainda assim, o chato aqui se sentia mal, imaginando que a casa poderia ser alugada e pagar o aluguel de onde eles passaram a morar, no interior. Provavelmente porque as coisas costumam dar muito errado comigo, eu sempre quis ter propriedades que surgissem por tanto trabalho. Claro que o excessivo orgulho ajuda nisso.


Até que uma proposta de trabalho não demorou, produção de vídeos, com velhos (e uma nova) conhecidos. Uma quantia que dava para me manter, ainda que em certo aperto. Aí veio mais uma daquelas decisões que eu tomo e que no futuro vão ser mostrar equivocadas. A escolha de a partir do meio do ano priorizar totalmente a sequência da vida acadêmica. Tudo bem que outras propostas, para o jornalismo mesmo, nunca sequer passaram pela minha porta, mas...

Ah, além disso, teve um erro de interpretação meu num trabalho para um site. Li o que não estava e o que daria uma tranquilidade maior ainda virou um problema porque a previsão se equivocara. O que daria liberdade virou mais um trabalho voluntário, dos que eu prometi a mim mesmo evitar fazer. Demorei para ver e o desespero começou quando descobri. Futuro mais incerto ainda. O que fazer nos meses antes do passo seguinte na academia?


Nada. Setembro veio e as seleções junto. Estudos para várias coisas diferentes. Cabeça a mil. A aposta real e até com um otimismo inédito era que numa delas fosse mais tranquilo passar. Viagem feita, Maracanã e Vila Isabel conhecidos e hora da verdade. Uma fase passada, entrevista realizada e... A sensação de que havia algo de estranho.

Semanas depois veio a resposta. A minha aposta era que meu currículo servisse para me dar certa distância em relação aos concorrentes, mas não foi isso que aconteceu. Quer dizer, longe disso. No dia, sensação de que valia muito mais eu saber falar fluentemente determinada língua estrangeira do que ter várias publicações e, pode ser até que por falsa modesta, num nível incomum para o meu nível acadêmico e minha idade. Além disso, a sensação de não ser aceito por quem achava que poderia me orientar no trabalho, que também esteve lá e não pareceu dar bola à minha proposta e, muito menos, preocupou-se com o meu histórico com o objeto.

A segunda foi menos traumática. Prova num dia que a cabeça não estava boa igual à eliminação precoce. Não muito o que dizer a mais, nada a quem dividir responsabilidades. Conheço quando estou bem e, especialmente, as poucas vezes em que não estou nada bem. Aquela manhã de sábado era um desses momentos.

Frustração a mil. Passagem cancelada, mas parte a ser paga. Como se não bastasse isso tudo, antes mesmo de voltar, ainda no aeroporto na volta, a notícia de que o "emprego" seria encerrado, no mínimo, um mês antes do que eu previa.

Nada de emprego à vista, aposta errada, poucas seleções a vir ou em andamento e a preocupação na sobrevivência muito maior. Não só não haveria tempo como tampouco poderia haver dinheiro. Para que passar por tudo aquilo logo após uma imensa frustração?

O que fazer?

Amigos eu praticamente não tenho. O que possuo mesmo é a incrível capacidade de não conseguir me relacionar com as pessoas. Algo que pode ser traduzido pelo conceito de sociopatia, como me indicou um dos colegas em terras gaúchas. Há casos que fiz propositadamente, afastei-me de uma ou outra pessoas; outras não, foi algo "automático". Não demonstro necessidade de contato e o tempo vai passando. Os outros se acostumam a isso - ainda mais com tanta experiência como aqui em Maceió - e pronto.

Da família, a certeza de que a paciência poderia durar uns dois meses virou dúvida. Uma semana de sugestão ingrata e outra também. Bronca como resposta e a certeza que ressurgiu foi a de que não dava. Por mais que ajudassem tudo teria um limite.

Honestamente, e pouquíssimas pessoas sabem disso. A opção era acabar com o jogo e isso só não ocorreu porque eu sou "sério demais" - expressão com maior quantidade de pessoas a concordar - e muito pragmático. Tinha que terminar de pagar as passagens, para não deixar dívidas, e encerrar os semestres dos cursos de línguas.

Acabei optando por um outro tipo de morte, que explicarei amanhã...


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