quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Em busca do El Dorado: Apresentação na Fabico

Mais uma noite de insônia me faz voltar mais rápido que eu imaginava a escrever aqui. Quer dizer, a insônia até que não está tão comum quanto a dor de cabeça, que se continuar como nas últimas semanas passarei a colocar como coautora dos meus trabalhos. Enfim, o assunto não é tratar desses pequenos problemas que vêm e vão.

No primeiro semestre deste ano tive a oportunidade de cursar uma disciplina do outro grupo da linha de pesquisa com um mestrando da UFRGS que também estuda as relações dos meios de comunicação com o futebol, só que sob outra perspectiva teórica. Acabamos fazendo um trabalho juntos, com a companhia de outro colega do Cepos, que foi tratar os conceitos dados nas aulas da disciplina na transmissão de futebol. Ficou muito bom e muito além das expectativas, inclusive nossas, a ponto de apresentarmos sobre o assunto em novembro no Seminário Internacional de Comunicação da PUC-RS.

Através deste colega, pude conhecer uma mestranda da UFRGS que analisa a produção cinematográfica que tratam do futebol de alguma forma. E desde o início do ano, vínhamos trocando emails com sugestões de artigos/livros e outras informações sobre pesquisa ou prática do jornalismo esportivo.

Do Rei Pelé ao Messi Playstation: o futebol também é pop

No mês passado, recebi o convite para participar da Semana de Comunicação da Fabico (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação) da UFRGS. A mesa seria sobre futebol e faria parte de atividades relacionadas ao Clube do Pop, grupo que organizará mesas também sobre o tecnobrega e o forró eletrônico (hoje) e sobre as celebridades da internet (amanhã) - vejam a imagem de divulgação, que me lembrou do pior clipe que eu já vi em toda a minha vida, superando os dos anos 1980.

O que achei ainda mais legal foi que houve um diálogo sobre o que cada um ia apresentar, qual seria a melhor ordem de acordo com os diferentes pontos de vista sobre o futebol e, inclusive, a difusão entre nós do material a ser apresentado. Uma construção coletiva de fato - e que alguns amigos de outras atividades acham que seria utópica. A ideia era falar sobre coisas relacionadas às nossas pesquisas, mas que não fosse algo tão teórico, com várias citações.

Enfim, vestido com o símbolo da melhor representação futebolística alagoana neste século, uma camisa da Agremiação Sportiva Arapiraquense - sou colecionador de camisas e, apesar de ser "sofredor" azulino, não tenho problemas em vestir a camisa do ASA, até mesmo porque sempre ganhamos em Maceió e perdemos em Arapiraca, já o CRB...

Um problema na Internet da Fabico fez com que atrasássemos um pouco a apresentação, já que havia a necessidade de apresentar alguns vídeos do Youtube - coisas de universidade federal e de um país com uma das piores bandas largas do mundo... Comecei a minha apresentação falando um pouco da minha pesquisa e, consequentemente, da minha perspectiva sobre o futebol. Algo que venho construindo nos últimos meses e que pretendo deixar claro em qualquer evento que participar é que a minha visão sobre o futebol é crítica, entendendo os meandros econômico-políticos ligados a ele, mas jamais poderia ser apocalíptico, do famoso bordão "futebol é o ópio do povo".

Logo em seguida, mostrei o vídeo "Da paixão aos negócio: o futebol além dos torcedores", que produzi para a disciplina Economia Política do Audiovisual, que resume de certa forma o que as negociações de direitos de transmissão do futebol afeta diretamente a vida dos torcedores (veja o audiovisual no final deste texto).

Após isso, fiz a ressalva quanto às questões de início formal do futebol, de sua prática em muitos séculos antes de Cristo, levando em conta que se começa a praticar da forma como a atual através da criação de um conjunto de regras a partir do século XIX na Inglaterra, assim como ocorreu com outros esportes, que foram difundidos graças à importância do Reino Unido enquanto potência mundial, com forte setor naval - aqui a apresentação

A partir daí, veremos que o esporte enquanto lazer, prática cotidiana que permanece a ser praticada nas ruas, volta ao torcedor no século XX através da Indústria Cultural, com uma grande importância para garantir a audiência dos meios de comunicação de massa. O futebol é um dos principais programas do rádio, com primeira transmissão em 1931, e foi o primeiro evento a ser registrado por câmeras de televisão, em 1948 em Juiz de Fora-MG.

Daí, partimos para João Havelange, que definitivamente transforma o futebol no "maior entretenimento do mundo", com seus pontos positivos e (muitos) pontos negativos. Por fim, conclamei aos torcedores de clubes gaúchos que também passassem a ver "Além das Quatro Linhas", já que o que ocorre nas relações de poder e econômicas nos clubes interferem diretamente na qualidade ou não do clube em campo. Ainda assim, sem esquecer da paixão que todos temos pelo esporte, desde que não fiquemos "cegos por situação", como diria a professora da disciplina do primeiro semestre.

A seguir, a apresentação da Ana Acker. Ela trouxe alguns conceitos teóricos que trabalha antes de se centrar na análise do documentário Pelé Eterno, de Aníbal Massaini (2004), onde houve a reconstrução  digital do que teria sido o gol mais bonito da carreira do Rei do Futebol, numa partida do Santos contra o Juventus, na Rua Javari. Em seguida, ela apresentou uma construção midiática feita pela O2 Filmes para a Vivo, que foi a realização de um grande desejo de Pelé, que seu último gol fosse contra a Argentina e do meio de campo.

Por fim, Marcio Telles apresentou algumas relações do futebol como entretenimento, com destaque para alguns dados sobre como a indústria do futebol movimento muitos recursos no mundo, a ponto do Havelange dizer em 1998 que direta e indiretamente tal esporte empregaria um terço da população mundial (!). Além disso, algumas propagandas foram mostradas, das quais não tenho como esquecer das produzidas na Argentina, expressando uma paixão que parece ser maior do que a dos brasileiros, pois não aceitamos a derrota.

Mesmo que o público tenha parecido um pouco tímido de início para fazer colocações, ao longo do debate a participação aumentou e deu para passar os diferentes pontos de pesquisa sobre o futebol e sua relação com os meios de comunicação. Como bem destacou uma das presentes, os nossos trabalhos estabelecem um grande diálogo, mesmo que as escolhas teóricas sejam diferentes. A ideia, inclusive, é fazer novas coisas aqui no Rio Grande do Sul no ano que vem.

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