quinta-feira, 18 de março de 2010

Notícias por “motivação política”

Uma notícia movimentou os meios de comunicação alagoanos neste início de mês. Segundo a gerente de um cinema recém implantado num shopping da capital, policiais civis tentaram entrar de graça na primeira sessão de uma segunda-feira (08/03). Como ela não permitiu, eles chamaram reforço e levaram-na presa. Os policiais afirmaram que estavam numa operação para verificar tráfico de drogas no cinema. Porém, não apresentaram nenhum documento e depois não continuaram na suposta operação.

O assunto infestou o noticiário durante toda a semana, com direito a matérias em telejornais nacionais (Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Record e Fala Brasil). Em meio às tentativas de explicação, o secretário de Estado da Defesa Social, Paulo Rubim, afirmou, no dia seguinte ao ocorrido, em entrevista coletiva que a atuação da imprensa, especificamente do grupo Gazeta de Alagoas neste caso tinha motivação política.

A base para tal possibilidade é o cada vez mais próximo período eleitoral, que nos bastidores já começou desde o fim do ano passado. Como alguns devem saber, o maior grupo comunicacional de Alagoas pertence à família do senador Fernando Collor de Mello (PTB). O ex-presidente do Brasil é um dos nomes que formam o “chapão”, agora “Frente Popular”, que aturará em oposição ao atual governador do Estado, o ex-senador Teotônio Vilela Filho (PSDB).

Fazem parte do grupo, que se caracteriza por ser formado pelos partidos da base do Governo Lula, nomes como o do senador Renan Calheiros (PMDB) e o ex-governador, e pré-candidato a um novo mandato, Ronaldo Lessa (PDT), além de partidos como PT e PCdoB.

CORONELISMO ELETRÔNICO

Com o período de disputa eleitoral praticamente em vigor, ficará difícil afirmar por essas bandas o que é ou não produção de matéria por motivação política. Afinal, sempre é mais fácil apontar a ausência de determinado assunto na pauta desse ou daquele noticiário do que a existência de matérias que prejudiquem alguém.

Em Alagoas, fixando nos grupos televisivos, as três TVs privadas pertencem a três grupos políticos: a TV Gazeta, à Organização Arnon de Mello; a TV Alagoas, à família Sampaio (do ex-vice-governador Geraldo Sampaio); e a TV Pajuçara, à uma sociedade entre o ex-deputado federal José Thomaz Nonô (DEM) e o senador João Tenório (PSDB), que também possui ações na TV Gazeta.

Neste caso específico da “carteirada” no cinema, a TV Pajuçara, cujos dois sócios são aliados do governador Téo Vilela para as próximas eleições, também fez matérias e teceu comentários sobre o assunto. Além disso, a TV Record, cuja emissora é retransmissora, também noticiou o fato – com o erro de afirmar que a gerente do cinema era bilheteira.

A única diferença que pode ser apontada é que em dois dias os apresentadores do ALTV 1ª Edição, jornal do horário do almoço da TV Gazeta, dialogaram por cerca de dez minutos sobre o tema, mostrando a proibição da entrada gratuita dos policiais, até mesmo com citação de artigos de lei, estando fora de serviço. Porém, isso ocorreu depois da reclamação do secretário.

Se isso ocorre no ramo televisivo, imagina o que vai ocorrer com as rádios, a imensa maioria nas mãos de políticos espalhados na capital e no interior. Além dos candidatos oriundos de programas de rádio e de TV, que já começaram a campanha, seja apontando ainda mais os erros dos governantes ou, até mesmo, largando estúdios com condicionador de ar para fazer matérias nas favelas da capital.

O período para afastamento dos meios de comunicação – algo que esse tipo de candidato reclama – está próximo, mas os repórteres saem na frente dos demais por terem ampla divulgação de suas visitas e de suas propostas.

Do outro lado, os meios de comunicação continuarão a mostrar o que quiserem de quem quiser. O período eleitoral só vai focar um ponto ou outro da pauta “jornalística”, no que a lei eleitoral ainda permite.

Se o secretário reclamou de motivação política numa notícia que só existiu pela tradicional (em todo o Brasil) “carteirada” de policiais, ele não perde por esperar o que virá nos próximos meses.

Um comentário:

  1. Ânderson,

    não vou comentar sobre o assunto do texto.

    Só quero dizer que gostei da capitulação no início e do intertítulo. Manias de jornalista ficar observando essas coisas.

    Tem um texto meu sobre Marisa Monte que um colega criticou dizendo que era pra eu ter colocado intertítulo. E, de fato, ele está certo. Eu não coloquei, mas da próxima vez que for colocar um texto mais longo, terei que inserir os intertítulos.

    O link do texto é esse: http://salomaomiranda.blogspot.com/2007/10/universo-esttico-de-universo-ao-meu.html

    Abraço!

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