quinta-feira, 8 de junho de 2017

Apontamentos sobre "Coronelismo, enxada e voto"

O livro de Victor Nunes Leal faz um panorama histórico das questões que envolveram a constituição do coronelismo, vendo causas e consequências, que demarcam, na visão do autor, a decadência do modelo agrário brasileiro que, apesar de ter então maior parte da população vivendo no meio rural, não apresentava desenvolvimento cultural e econômico. As mudanças políticas, estruturais e administrativas desde a época do Brasil Colônia até então acabam por manter o predomínio da necessidade de se contar com os velhos oligarcas do interior, vide ainda que estes locais não tinham quaisquer condições financeiras de se manter, dependendo dos governadores, daí Leal denominar o período como o da “política de governadores”.

Para o que nos interessa, importa especialmente o primeiro capítulo, que faz uma descrição e diferenciação do processo coronelista, valendo posterior releitura. Já ali aparece uma das coisas que mais nos chamaram a atenção, que é indicar o avanço das comunicações (em plena era do Rádio, anos 1940) como um aspecto de possível mudança dessa situação no país – além da melhoria nas redes de transporte e de possível melhoria na industrialização, levando as pessoas para a cidade, o que se daria depois.

Esse fator nos interesso porque, no balanço que podemos fazer 68 anos após a escrita do livro, é que muitos dos fatores apontados na relação política e com a comunidade rural ainda permanecessem, mesmo com tanta suposta evolução na educação, na busca de informações e com redução de distâncias (nos mais diversos sentidos de acesso). Talvez aqui que esteja algo que ele aponta logo no início e depois na conclusão, que é a capacidade desse modelo de atualizar, com o poder centrado em certas famílias, mesmo que esses descendentes tenham se preparado melhor a partir de educação em outros lugares.

Podemos dizer que o modelo de controle segue presente, especialmente quando a principal atividade das cidades passa a ser o setor de serviços que, no caso do interior, terá uma preponderância importante dos empregos gerados a partir da prefeitura. Por outro lado, a distribuição de concessões de rádios no Brasil, como diversos estudos nas décadas seguintes apontaram, gera o que Suzy dos Santos e outros autores indicam como “coronelismo eletrônico”. Ou seja, uma das formas de atualização de como definir o poder nos municípios foi conseguir esta concessões, a partir de relações políticas muito semelhantes às que Leal aponta.

Da mesma forma que então, apontamos em determinado trabalho, a partir de leituras sobre o “coronelismo eletrônico”, que esta forma precisa se reinventar mais uma vez com a maior quantidade de oferta de informações mesmo em lugares mais afastados, em que a radiodifusão é substituída por formas de consumo não programados, mas escolhidos, de conteúdo. Resta, portanto, observar como esse processo irá se dar – levando em conta, ainda, do ponto de vista das ciências políticas e sociais a necessidade de atualização histórica desse processo em comparação aos dias atuais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LEAL, Victor, Nunes. Coronelismo, enxada e voto: O município e o regime representativo no Brasil. 7.ed. Companhia das Letras: 2012.

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