quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

[Em busca do El Dorado] Enfim, mestre!

Foi tanto tempo pensando no que iria escrever após a defesa de dissertação, tantas vezes imaginando o que deveria relatar após estes quase 2 anos de Rio Grande do Sul, quase dois anos de Mestrado, que na hora que já podia fazer isso, acabei adiando. Eis a hora de escrever sobre a experiência acadêmica - não ainda sobre a experiência geral de vivência nestas terras, isso fica para depois.

Alegria, orgulho, alivio, tranquilidade e, sendo justo, um pouco de frustração. Vários sentimentos passaram por mim após a leitura da avaliação da minha dissertação pelo orientador. A primeira reação foi não ter praticamente reação alguma. A minha velha mania de não demonstrar sentimentos em público. Vá lá que também por aquele tempo que se demora para a "ficha cair".

Por mais que eu tenha passado por vários problemas, muitos dos quais inimagináveis e concentrados em 2012 - especialmente de maio a agosto -, com aquele turbilhão de mudanças com a morte do orientador da pesquisa, do líder do grupo e de um dos principais pesquisadores e articuladores da linha teórica trabalhada antes mesmo de se ter algum professor para acompanhar a rotina de estudos, a minha preocupação era com o passado.

FRUSTRAÇÃO PASSADA
Meu processo de produção da monografia do TCC foi muito difícil. Optei por ficar um a mais na graduação por conta de um projeto de pesquisa que em nada tinha a ver com o que me propunha para a monografia. Além disso, trabalhava em dois lugares e ainda tinha um núcleo de estudos cuja coordenação sobrou para mim. Ao menos de maio a outubro era trabalho das 6h30 até às, em média, 20h de segunda a sábado. Como se isso não bastasse, não contava com boas condições para me concentrar em casa - por vários motivos, os quais não quero explicitar.

O meu TCC foi sobre a experiência de um telejornal da TV estatal alagoana. O que seria, na proposta inicial, a análise de discurso do telejornal a ser criado, virou, por conta do ano de mais influências da EPC, na tentativa de se entender o porquê deste jornal ter durado apenas 4 meses, analisando o contexto da comunicação não comercial no Brasil.

Li várias coisas sobre o assunto e, inclusive, busquei uma possível (co)orientadora ainda em maio de 2010. Lembro de naquela primeira reunião dizer a ela que gostaria de fazer o trabalho aos poucos e, se possível publicar os capítulos ao longo da produção, de maneira a poder extrair algumas sugestões durante o percurso. Acabou sendo tudo diferente. Devo ter dito outras duas reuniões de orientação no ano seguinte, principalmente por conta de tantas atividades, e apareceu - e é esta a palavra - a possibilidade do Mestrado numa universidade privada gaúcha que havia visitado em 2007.

Saí da rádio em outubro para terminar a monografia, mas não conseguia escrever. Passou outubro, passou novembro e só conseguia fazer o que estava no "automático", caso do rastreamento das edições do telejornal que poderia utilizar. Vim fazer a entrevista de seleção do Mestrado com pouquíssima coisa escrita, apesar do muito que sabia sobre o assunto. Aqui, em menos de uma semana, devo ter escrito metade dela. Boa parte em folhas de rascunho, com uma parte delas conseguindo passar para o computador ainda no Rio Grande do Sul.

Voltei a Maceió e consegui manter certo ritmo para terminar na semana seguinte o trabalho. Tive problemas de agenda dos professores para conseguir marcar a banca, virei a noite revisando o TCC e fui trabalhar sem dormir. Quando cheguei, a impressão dava erros. Fui ao ponto de ônibus e este não passava. No meio do caminho, um engarrafamento de uma hora que fez com que eu dormisse e acordasse praticamente no mesmo ponto um pouco antes da Av. Fernandes Lima. Chegando à universidade, o professor orientador já não estava. Ficaria para a segunda-feira seguinte.

No dia da apresentação, um professor resolveu pegar o datashow mesmo este tendo sido reservado para a banca. Tive que esperar um do Instituto ao qual o curso faz parte para apresentar. Ainda bem que cheguei com certa antecedência e, de qualquer modo, poderia apresentar sem ele. No fim, a apresentação que deveria durar, no máximo, 20 minutos, terminou com 37. E, honestamente, foi ela que me salvou.

Tudo bem. Eu sempre me cobrei muito e mais do que qualquer outra pessoa, mas me daria 9 pelo texto. Falo isso, inclusive, porque voltei a ele para publicar artigos e vi que tinha muita coisa a ser melhorada. A apresentação ajudou para demonstrar que eu tinha muito conhecimento sobre o assunto. No final, veio o 10 da banca, com correções a serem feitas. 

Aquilo ficou registrado em mim até esta segunda-feira.
ALÍVIO
Sabia da dificuldade de conseguir apresentar algo com o triplo do tamanho da qualificação, mas com 50% a mais de tempo. Acabei por cortar algumas informações que sabia que na apresentação não seriam tão essenciais, principalmente porque a comissão examinadora leu o texto. Ah, se a anterior teve uma semana para analisar o material produzido, esta teve um mês a mais.

Depois de muito tempo (ao menos cinco anos), consegui ter mais de uma semana de folga. Enviei a dissertação ao orientador no dia 03 de janeiro, com um alívio imenso, e depositei no PPG no dia 17. Depois daquele período só voltei a olhar em qualquer coisa de trabalho depois do carnaval. Vivi quase como um náufrago. Barba crescendo, livros sendo lidos, textos sendo escritos apenas para este blog - e uma ou outra coisa "mais séria" a fazer em determinado momento.

Se eu consegui isso foi por conta de um processo bem mais tranquilo. A bolsa permitiu dedicação total aos estudos e aos projetos que apareceram ao longo destes anos. Além disso, optei por me focar mais nos estudos da Comunicação e, principalmente, em coisas que tangenciassem a pesquisa principal. Por fim, um esquema de orientação que tinha um ritmo que eu gostava. A qualificação foi com menos de 8 meses de pesquisa e a entrega do material só não foi um ano depois por conta da morte do orientador, agregada a outros problemas. 

Ainda assim, entreguei o trabalho com folga de tempo. Porém, o principal era saber que, não só por se tratar de um objeto que sou fissurado desde criança, este foi até aqui o trabalho da minha vida. Por mais que eu soubesse que os membros da banca costumam ter elevados índices de exigência com trabalhos acadêmicos, tranquilizava-me por saber que desta vez fiz o melhor possível.

Volto a frisar que não foi um período fácil. Por conta do meu jeito de ser quase solitário, com um silenciosamente quase que total quando estou me sentindo mal, só eu sei pelo que passei neste período. Os momentos de insônia provocados pelos problemas que eu custava a acreditar, as lágrimas que caíram pelo reconhecimento de que certas coisas não deveriam ocorrer, ou outras que ocorriam normalmente com as demais pessoas, comigo sempre eram extremamente mais complicadas e infinitamente trabalhosas; instantes que fizeram com que eu conhecesse um Anderson que muito me preocupou. Ainda assim, foram aqueles momentos que me fortificaram para o que viria depois, mesmo tendo que aprender a duras penas que para certas coisas não se têm como correr atrás - nem num ritmo de Usain Bolt.

Chegar à banca de maneira tranquila e com a confiança de ter um trabalho em que fiz o máximo que podia me trazia o alívio, independente da avaliação da banca. Fora a felicidade de me sentir assim estudando futebol. Ter apagado o receio de misturar o lazer de sempre com o trabalho de alguns anos. Ter a certeza que é isso mesmo que eu quero estudar; que o prazer em pesquisar só aumentou.
ORGULHO
A apresentação deveria durar 30 minutos e, creio eu, deve ter terminado com 38. Levando em consideração o quanto demorei na monografia, foi um avanço daqueles (risos). Apesar dos cortes e da rapidez ao final, creio que consegui explicar a pesquisa, especialmente para o agradável público que se deslocou para a universidade numa segunda-feira de manhã na primeira atividade acadêmica pós-férias.

Foram algumas críticas - dentre elas, um número razoável que imaginava que poderia aparecer -, algumas sugestões para polimento do trabalho pensando numa publicação futura e elogios que em muito me envaideceram. Escutei dos professores que o trabalho estava "acima do nível das dissertações normais", que se tratavam de sugestões para "polir um diamante" e que as críticas, que exigiam novas leituras para determinados pontos que eu não me aprofundei, eram justamente porque sabiam da minha seriedade com a pesquisa. São coisas que ficarão marcadas.

Se naquele 20 de dezembro de 2010, eu comemorei a aprovação com nota 10 - ainda que em pouco tempo, já que devia correr para conseguir entregar a monografia e colar grau a tempo de fazer a matrícula no Mestrado -, neste 25 de fevereiro, pude retirar um peso enorme de mim. Por mais eventos que tenha ido, por alguns artigos aprovados inclusive em revistas científicas, pelo orgulho que dá ter hoje muito bom contato com excelentes pesquisadores renomados, eu sabia que precisava ter um resultado que me trouxesse um imenso alívio. O alívio de olhar para trás e ter a certeza de que se naquele momento não saiu o trabalho dos meus sonhos, foi porque não pude me dedicar ao máximo a ele.

Vou falar algo que eu não gosto de explicitar, mas o momento merece. Só quando cheguei em casa é que as lágrimas caíram, que as comemorações boleiras vieram junto. Como já disse, sempre me exigi muito, por isso que sempre trabalhei muito - por conta também do excesso de falta de sorte que eu tenho - e ter o resultado atual é a garantia que valeu a pena.
Imagem: Graham Franciose.(Projeto One a day)
Frustração
Claro que em meio a essa autocobrança exacerbada fica ainda certa frustração de não ter conseguido construir algo viável a curto prazo. A incerteza do futuro vem tirando o meu sono há alguns meses e deve seguir pelos próximos. A frustração por ter feito muito, especialmente nestes dois anos, mas de não ter sido o suficiente. De, provavelmente, ter de pela segunda vez na vida ser "obrigado" a voltar a um lugar. Não que eu o odeie, só não o queria por agora; voltar noutras (e melhores) condições.

Eu sei, eu sei. Não deveria estar pensando nisso, que com título de mestre é outra coisa. Mas só eu sei de onde eu vim e do que me espera. Do quanto parece até outra realidade, já que o convívio é com pessoas que pensam muito diferente, cujos modelos de vida geravam questionamentos irritantes e intragáveis.

Realmente tenho muito a comemorar. Sou neto de avós paternos analfabetos. A primeira pessoa a entrar numa universidade (federal), entre os parentes paternos e maternos, foi o meu pai, e isso aos 40 anos - eu o auxiliando para o vestibular e nos trabalhos acadêmicos e num péssimo momento familiar. Ao menos nos últimos 13 anos tive que separar as coisas de trabalho com as coisas familiares, não misturar os problemas, não deixar que um transparecesse no outro ambiente.

Enfim, já falei de mais das "coisas que eu não sigo". A hora agora é de entregar a criação para o mundo - por mais que alguns filhotes, em forma de artigos, já estejam por aí há algum tempo. Como costumo dizer, eu sei muito tem que problemas para mim não vão deixar de aparecer, que eu não deixarei de reclamar deles, de tentar entender porque para mim as coisas parecem ser muito mais difíceis, mas também nunca vou parar.

Ah, inclusive, se eu parasse nunca teria chegado aqui, já que a universidade não queria aceitar a minha inscrição naquele processo seletivo. Depois, consegui colar grau (e um salve à UFAL!) apenas três dias depois de requerer o processo, nos primeiros dias de janeiro.

Sigamos lutando!

Um comentário:

  1. fico feliz que você tenha ficado satisfeito com seu trabalho, anderson. quem te conhece sabe do empenho e da seriedade com que você faz suas coisas, mas vc costuma ser bastante rígido consigo próprio para ter a mesma opinião que os demais. sua satisfação é mais que merecida!

    siga lutando, siga vencendo!

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