terça-feira, 10 de abril de 2012

ESPORTE & ENTRETENIMENTO: Em busca de novas formas de narração




Galvão Bueno anunciou na África do Sul, há dois anos: 2014 seria sua última transmissão de Copa do Mundo da Fifa. O anúncio pegou de surpresa a todos, inclusive à própria Rede Globo, que não sabia dessa decisão. O que poderia ser motivo de comemoração para muitos telespectadores, virou preocupação para a líder do oligopólio televisivo brasileiro: quem poderá substituí-lo?

Esse possível novo nome tem que dar conta ainda do enfrentamento vivenciado com novos agentes noutras mídias. Mesmo que em TV aberta as barreiras da Rede Globo ainda se mantenham, a audiência do produto futebol vem em constante queda. De 2005 a 2011, a participação de TVs ligadas na transmissão dos jogos caiu 17%, chegando a uma média de 21% em São Paulo, no ano passado. Ainda assim, o valor da cota de publicidade cresceu 123%, o que reflete o potencial, com muito ainda a ser explorado, e a concentração sobre o direito de transmitir este produto.

Para além disso, há o novo “modelo” de apresentação dos programas esportivos com ampla repercussão popular, especialmente com Tiago Leifert no Globo Esporte São Paulo, e uma nova preocupação em relação às transmissões de partidas de futebol. Se a tecnologia permitiu a visualização das partidas das mais diversas formas, plataformas e velocidades possíveis, os narradores continuam utilizando métodos parecidos com os de décadas atrás. A diferença está apenas no conjunto de informações que eles têm à disposição para repassar. Talvez seja até por esse motivo que a Globo esteja tão preocupada com a aposentadoria de Galvão. Afinal, por mais que tantos reclamem dele – e sua voz o deixe na mão num evento aqui outro ali –, é inegável o carisma do principal narrador do país, que recentemente passou a transmitir até o fenômeno midiático do MMA.

Equipe virtual

As Organizações Globo passaram a utilizar a internet para testar novos formatos, sem qualquer custo extra para isso, já que os torneios transmitidos são comprados para todas as plataformas, mas principalmente para serem transmitidos para a TV aberta, e os profissionais já trabalham para o grupo. O principal evento usado como teste para novas formas de narração foi a Copa América do ano passado, em que o portal Globoesporte.com transmitiu todas as partidas do torneio sul-americano – até mesmo porque, por contrato, o YouTube era proibido de transmitir para o Brasil, tendo esta possibilidade em outras dezenas de países do mundo.

Ao contrário das transmissões corriqueiras, os responsáveis pela narração muitas vezes deixavam a partida de lado para fazerem comentários sobre qualquer outra coisa – especialmente em partidas monótonas. A utilização de efeitos, como imagens virais da internet, frases conhecidas de outros narradores – geralmente os bordões – e até mesmo áudios de programas de sucesso de outras emissoras, como o clássico Chaves (SBT), eram colocados no ar de acordo com o momento da partida. Além disso, o diretor do portal fazia comentários sobre a transmissão a todo o instante. Em algumas partidas, houve o acréscimo de repórteres e apresentadores do Globo Esporte, caso de Alex Escobar.

O que seria algo impensável para o rígido “padrão Globo de qualidade”, foi tornado possível na internet e o fato de “brincar” com a transmissão do jogo dividiu aficionados do esporte. Porém, alguns dos resultados foram inesperados até para quem trabalhou nas partidas. Para se ter uma ideia, o clássico sul-americano das quartas de final entre Argentina e Uruguai foi assistido por mais de 200 mil pessoas!

O novo modelo seguiu em 2012, com a transmissão dos jogos da Liga dos Campeões da Europa tendo a dupla mais tradicional da “casa”, Cássio Barco e Marcelo Russo, mas também uma equipe que aparecia em forma virtual (desenho) nos intervalos: a presença do apresentador Alex Escobar enquanto narrador, do produtor do televisivo Esporte Espetacular e a presença de convidados de fora do futebol, como o lutador de MMA José Aldo, campeão entre os pesos-penas do UFC.

Atrativo de audiência

Mas o humor em transmissões de futebol não é só para a internet. As equipes de transmissão da TV Esporte Interativo, no ar desde 2007 – e agora em treze cidades do país por UHF, na TV fechada e pela internet (site e Facebook) –, já se utilizam de uma narração mais descontraída dos eventos esportivos do canal. A dupla André Henning e Victor Sergio Rodrigues não poupa jargões, brincadeiras entre si e o diálogo com o telespectador através das redes sociais, que vai além da pergunta em cada bloco vista na Globo.

Mas utilizar o humor é ainda mais antigo, se for lembrado Silvio Luiz, atualmente na Rede TV!, ou Osmar Santos, um marco para a narração menos formal ao lançar apelidos para jogadores e jargões como “ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”. Porém, cantar, brincar com jogadores e tudo o mais lembra mesmo as transmissões do Rock Gol, na MTV Brasil, que a partir da década de 1990 juntava músicos para uma competição de futebol sob a narração de Paulo Bonfá e Marco Bianchi.

Esta nova fase do futebol cada vez mais se deslocando da área de jornalismo, criando um setor próprio, muito ligado ao entretenimento, fez com que a brincadeira esporádica viesse muito à tona para renovar o formato de transmissão. O sucesso em termos de audiência, mas também as críticas, mostram que se está num processo que pode levar a uma transformação na transmissão de eventos esportivos, um setor de grande importância enquanto atrativo de audiência para os grupos midiáticos e, consequentemente, para o setor publicitário.

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Por Valério Cruz Brittos e Anderson David Gomes dos Santos

Originalmente publicado no Observatório da Imprensa.

2 comentários:

  1. Eu sou um fãzaço do trabalho que Paulo Bonfá e Marco Bianchi fizeram na MTV e que esse ano foi bem conduzido pelo Marcelo Adnet e sua equipe. Mas o caso do Rockgol era diferente. Tratava-se de um campeonato de músicos querendo jogar sério, porém longe da qualidade técnica necessária para o futebol. Era um produto que pedia a brincadeira, a resenha.
    Trazer isso para uma transmissão de futebol profissional é banalizar o espetáculo, por mais que alguns jogos não possam ser chamados disso.
    Aí chegamos ao ponto de ver as coisas cada vez mais idiotas que a Globo tem trazido para o seu acervo: João Sorrisão, o Central da Copa, os cavalinhos rumo ao topo do brasileirão e por aí vai.
    Talvez o Tiago Leifert e o Tadeu Schmitt tenham trazido público novo para essas transmissões, mas não terá afastado alguns também?
    Tentei assistir a Copa América pelo Globoesporte.com, mas achei muito sem graça e olhe que humor idiota é uma coisa que gosto bastante.
    Posso estar sendo conservador nesse aspcto, mas o espaço para humor é um programa específico do gênero e não durante um jogo de futebol que, para o torcedor, é coisa muito séria.

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  2. Bruno, até que para o Fantástico não acho tanto problema; mas para o Globo Esporte, que envolve entrevistas e matérias diárias nos clubes, chega a beirar os desrespeito - como Barcos e Loco Abreu já deixaram claro. Além disso, falar o que de alguém que diz que o futebol não tem que ser levado a sério?

    Sobre as transmissões do Globoesporte.com, algumas na Copa América foram muito ruins, pois esqueciam o jogo. Nos jogos da Champions, dependendo da dupla de apresentação, tinha uma graça ou outra, mas a narração fluía.

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