domingo, 26 de agosto de 2012

Não inventaram palavras para descrever

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Passei o dia muito cansado, sem vontade de fazer muitas coisas por conta de (mais) outro problema recente, mas não poderia deixar de escrever sobre os 98 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras. Falava outro dia que sou apaixonado por esportes, sou um amante inveterado de esportes e aprendi a amar o Centro Sportivo Alagoano nos últimos anos, mas para o que sinto em relação ao Palmeiras acredito que não inventaram ainda palavra para descrever.

Quando criança, foi paixão à primeira vista, ainda que via tela de TV. Para quem nasceu na era de glórias da  parceria com a Parmalat era vencer ou vencer. Segundo lugar, jamais. E como "incorporei" isso, o quanto vibrei das alegrias da época, perturbei a irmã corintiana e o quanto também briguei e esperneei a cada derrota, a cada perda de título. A criança geralmente quieta virava o menino nervoso, de pés e mãos geladas, de corpo quase trêmulo a esperar o gol de tantos craques que passaram na década de 1990 e torcendo para que os nossos grandes goleiros salvassem os dia novamente.

O título da Libertadores de 1999 veio nos pênaltis e eu não lembro como comemorei. Seria o marco para uma mudança de comportamento. Ufa! Não precisava brigar com o mundo, por mais que o mundo não tenha vindo naquele jogo, por conta daquele rara falha, de Marcos.

Posso até ter acreditado num "São Marcos" por muito tempo, venerá-lo, acender vela virtual, emocionar-me com um cara muito simples e que ganhou fãs de várias torcidas no Brasil, mas as outras divindades caíram com o tempo. Afinal, onde havia justiça de ver seu time vencer por 3 a 0 e levar uma virada histórica, em casa, numa final de campeonato sul-americano? O que adiantava rezar para tudo e para todos para não perder para o Vitória e jogar a Série B no ano seguinte?

Mas superstições às vezes continuam independente disso. Quantas vezes não pensei que, por conta da frequência, sempre deveria ter cuidado para não usar camisa nova do time em clássicos ou partidas decisiva, porque perdíamos. 

Na Série B resolvi pagar uma aposta para mim mesmo antes da partida que seria a decisiva para voltarmos, contra o Sport. Quando levamos o primeiro gol no segundo tempo e tivemos um jogador expulso em seguida, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi "maldita camisa" - ainda que escondida no armário. Depois, o gol de empate saiu de Magrão, o jogador que usava a 8 que estava impressa na última verde que tinha na loja. Só foi esperar o jogo terminar, com direito a corte de transmissão da Record nos últimos minutos, vestir a camisa e voltar a chorar como até anos antes.

Depois disso, pouca coisa. O time só disputava, num modelo à lá Barão de Coubertin. A minha vida seguia o mesmo ritmo e em paralelo fomos em busca de vitórias que, quando vinha, eram para lá de difíceis, mas sempre com muitos obstáculos à frente. Em 2008 veio o Paulistão e esperávamos que tudo mudaria para melhor. Não. Dois fracassos seguidos em Brasileiros e o time voltou à fuga do rebaixamento nos anos seguintes.

Até que veio este 2012, ano que está a inventar uma categoria acima do péssimo. Jogo a jogo, parecia que o passado se repetiria. Eliminação precoce no Paulistão, time muito desfalcado e prejuízos da arbitragem a rodo. Para o meu lado, só problemas, dos mais variados tipos e exageros. Um sentimento para além do "não é possível, mais um ano assim"; não, CRB campeão alagoano e Corinthians campeão da Libertadores me mostravam, para além das demais milhares de coisas, que seria bem pior.

A partida inicial contra o Grêmio, pelas semifinais da Copa do Brasil, tinha dado a indicação de que ao menos nisso poderia ser algo bom. Mas só no sofrimento mesmo. No final, o título veio com um grande número de dificuldades, mais que qualquer um poderia imaginar. Afinal, nem o mais otimista dos palmeirenses, se é que esse ser existe, imaginaria ganhar um título nacional com Barcos machucado por apendicite e Betinho (!!!) de titular, quando mais com este marcando o gol que quebrou um tabu de 12 anos.

Naquele dia, voltei a tremer, com muita ajuda do frio. Voltei a ver lágrimas caindo. Num ano que nem esse, nem sei como estaria se tivéssemos perdido o título da Copa do Brasil para o Coritiba. Ainda bem que não.

Não me importa se alguém queria interpretar que sou mais um viciado no "ópio do povo", que se tivéssemos a mesma vontade para as causas sociais o mundo seria diferente ou qualquer besteira deste nível - até porque não se aplicaria à maneira que vejo a sociedade e o futebol nela. Que fujamos o quanto antes desta possibilidade maldita de rebaixamento e sigamos à nossa vida como o maior campeão nacional que de fato somos.

É incrível pensar hoje que são, pelo menos, 18 anos palmeirenses, destes 24 anos de vida. A relação parece ser para além disso. Vem de séculos antes do nada - desculpem-me Nelson Rodrigues e o Fla-Flu - e deve seguir para depois da vida, mesmo que eu não acredita em vida além da morte. Porém, se eu acredito que o que sinto pelo Palmeiras é para além de qualquer palavra conhecida, se eu "adorei" um santo vivo por tantos anos, posso tentar acreditar que isso continuará, nem que seja pelos textos sobre este clube que eu escrevo na internet.

Mais que um parabéns, obrigado Palmeiras/Palestra Itália por existir para mim e para tantos milhões de torcedores há 98 anos!


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

[Por Trás do Gol] Para ajudar o Sapucaiense

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O que faz com que cerca de cem pessoas enfrentarem um super calor, mais de 30º em pleno inverno gaúcho, para ver uma partida de uma Copa criada para manter os times do Rio Grande do Sul atuando? Ah, do lado do time da casa, o saldo de um rebaixamento em 2012 da Divisão de Acesso (segunda divisão) para a Segunda Divisão (terceira divisão)? Calor no inverno do Sul, segunda divisão que é terceira...

Enfim, aparentes contradições à parte, havia decidido voltar a olhar os torneios em andamento da Federação Gaúcha de Futebol, 2ª Divisão e Copa Hélio Dourado, para assistir algumas partidas dos times próximos. Por conta de outros compromissos, não pude acompanhar o Aimoré, aqui de São Leopoldo, na sua primeira partida no Estádio Cristo Rei pela estreante Terceirona gaúcha. Porém, vi que o Grêmio Esportivo Sapucaiense, da vizinha Sapucaia do Sul, jogaria numa quarta-feira à tarde contra o São José, de Porto Alegre.

Para quem não pode conhecer o clube, o Sapucaiense disputou a Copa do Brasil deste ano, empatando com a Ponte Preta no Passo D'Areia, em Porto Alegre, a partida de ida por 0 a 0 e perdendo em Campinas por 5 a 2 na primeira fase da competição nacional.

Achava que seria na quarta da semana passada, mas percebi que seria só no dia 22, mas iria. Ainda que não soubesse informação alguma da partida, para além que aconteceria às 15h de hoje no Estádio Artur Mesquita Dias. O clube não tem site oficial, ao menos eu não o encontrei, e não havia nada na internet sobre o assunto. Procurei no regulamento da Copinha e vi que a FGF obrigava que o ingresso fosse, no mínimo, R$ 5,00, e eu não imaginaria que cobrassem caro - por mais que o time deva precisar muito.

O ESTÁDIO
O Estádio Artur Mesquita Dias fica em frente à placa,
que avisa que os sócios precisam pagar
Tinha visto pelo Google Maps onde ficava o estádio, bem perto da Estação Sapucaia de trem, é só descer pela Avenida Mauá e seguir reto da praça mesmo. Além disso, também tinha visto como era a entrada, praticamente sem identificação e com um estádio "típico" de clube de bairro. Só isso já garantiria uma nova experiência para mim.

Chegando lá, confirmo a imagem que tinha na internet e o preço mais barato: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia para estudantes e idosos). R$ 5,00 pagos e entrei sem precisar passar por roleta, só entregando parte do ingresso, e, melhor ainda, sem precisar ser revistado pelos dois policiais que estavam ali até aquele momento.

Realmente uma cancha pequena. Do lado de cá, o bar (que vende cerveja mesmo em dias de jogos, sem problema algum!), que também serve como museu de troféus do clube. Andando mais um pouco, à direita, estava o espaço destinado aos torcedores do time visitante, uma arquibancada de madeira. Do lado esquerdo, alguns espaços para guardar as coisas do clube, um banheiro sem qualquer presença de vaso sanitário, com uma árvore frondosa em frente. Um pouquinho mais adiante, um jogo de arquibancadas de cimento e outra menor, de madeira/ferro, mas coberta. "Espaço destinado aos sócios" e com faixas da torcida organizada deles, a "Camisa 12".

Sócios estes que hoje, como avisava um papel na entrada do estádio, teriam que pagar a entrada caso quisessem ver o jogo. Era "para ajudar o Sapucaiense". Um senhor de idade, sócio do clube, tentava convencer alguém a ir ao jogo também: "Ah, você sabe que eles decidiram que sócio também tem que pagar né? Eu até poderia, como idoso, pagar cinco pila, mas paguei 10 para ajudar o Sapucaiense".

Voltei para perto da entrada e enquanto os jogadores "aqueciam", um torcedor, sentado numa cadeira de plástico atrás do gol para aproveitar a sombra de uma árvore, dizia ao outro: "E precisa fazer aquecimento? Tá tudo queimado já!". Não parei de ouvir reclamações com o estranho calor em pleno agosto durante todo o resto da partida, afinal, poucos eram os lugares cobertos.

Antes de iniciar a partida, ainda deu para ouvir uns gritos de "Vâmo, Zeca!" vindos da entrada. Torcida organizada do São José, também conhecido como Zequinha, que saíra de Porto Alegre para acompanhar o time, que atualmente disputa a 1ª Divisão gaúcha, na Copinha. Como imaginava, eram cinco jovens rapazes que gritavam o tempo inteiro - inclusive, arranjando uma discussão com outros três, sapucaienses, que assistiram ao primeiro tempo em cima de um muro atrás do outro gol. Torcida organizada com faixa, vários gritos de incentivo e xingamentos hilários à "bergamota" que apitava o jogo: "Os Farrapos".

PARTIDA
Fiquei ao lado da torcida do Sapucaiense. Crianças, mulheres, pessoas mais velhas e muito mais novas. Sem problema algum, com direito a um "boa tarde" quando uma senhora chegou no estádio e várias conversas de famílias que têm nas partidas do clube um ponto de encontro. Tivemos até o goleiro catando as sandálias no chão de um dos rapazes em cima do muro durante a partida. ESPETACULAR!

Mas indo ao jogo, o primeiro tempo foi bem movimentado. Ainda que com muitos bicões para um lado e para o outro, e com um sol escaldante, Sapucaiense e São José criaram chances reais de gol. Numa delas, por volta dos 23 minutos, o Sapucaiense fez excelente jogada na direita, com Rafinha cruzando para o atacante Paraíba só empurrar ao gol, a dois metros da linha. O que ele fez? Mandou no travessão e a bola subiu.

Deixo os comentários de dois senhores que estavam sentados à minha frente:
- Se apavorou.
- Viu que tava tão fácil. A goleira desse tamanho ainda...

Aos 35 minutos, o Sapucaiense teve que fazer uma substituição porque um dos jogadores pareceu ter recebido um tapa ou um soco no rosto e, aparentemente, perdeu algum dente com isso. No final da etapa inicial, após uma jogada errada do ataque rival, o São José armou um bom contra-ataque e o lateral-esquerdo apareceu sozinho na frente dos zagueiros, driblou o primeiro, viu o goleiro adiantado e chutou por cobertura. A bola raspou o travessão e foi para fora.

O gordinho e sua prancheta
Nem os quatro minutos anunciados pelo gordinho que cumpria as funções de quarto árbitro e de delegado da partida deram jeito de mudar o marcador - que eu não reparei se existia. O primeiro tempo terminou mesmo em zero a zero e com todo mundo correndo para pegar algo para beber. Só um dos gandulas que não parava, um senhor que seguia com seu show de embaixadinhas na linha central do gramado. Antes de iniciar a partida ele deu mais de uma volta em torno do campo sem deixar a bola cair!


A segunda etapa teve mais lances curiosos. Primeiro, que todo mundo, dos cinco torcedores organizados do São José - a torcida deles devia ter cerca de 25 pessoas hoje - aos demais do Sapucaiense reclamando bastante do trio de arbitragem. Um torcedor do Sapo passou a "cornetar" todo mundo também, a ponto de um jogador do time olhar para o lado e pedir mais calma.

Melhor lugar não há para cornetar o auxiliar
Aos 15 minutos, o São José, que tinha jogadores aparentemente mais fortes que o rival, principalmente a dupla de ataque, fez boa jogada pela esquerda e após um cruzamento forte viu o seu centroavante perder um gol na frente da trave (ou da goleira, como queiram).
O jogo seguia brigado, inclusive com gente cornetando o árbitro e seus dois auxiliares, até que aos 29 minutos o Sapucaiense realizou uma boa jogada pela esquerda e Rafinha recebeu na frente do goleiro rival. Sapo 1, São José 0.

Confesso que eu comemorei o gol. Por mais que o São José-POA seja azul e branco como o CSA, basta eu ver o patrocínio da empresa do presidente da FGF na camisa que me dá raiva. Foi esse, inclusive, o motivo para eu ter comprado a camisa do Cruzeiro e não a deste clube de Porto Alegre na semana passada. Ah, o presidente que se preocupa em realizar cruzeiros para aprontar a temporada seguinte, mas parece esquecer os clubes "menores".

Deixei de me escorar no muro, que balançava a cada passada de vento ou encosto de uma perna, e passei a  experimentar a sensação de torcedor de cancha, propriamente dita. Entre fotos e filmagens, terminei nos últimos minutos no alambrado, vendo a pressão do São José, em especial numa série de faltas próximas à área do Sapo. O goleiro do Sapucaiense saiu muito bem do gol e fez boas defesas ao longo da partida.

No final, já na casa dos 40 minutos, ainda deu tempo para a "bergamota" marcar uma falta na entrada da área para o Sapucaiense. Bateram a falta, a bola desviou no meio do caminho e entrou mansamente no gol. Muita comemoração, com direito a coisas como: "vai continuar a marcar faltas para eles, juiz"; "ô bandeira, avisa ao Noveletto (presidente da FGF)".


Sapucaiense 2, São José 0. Placar que não mudou nem com os mais de cinco minutos mostrados pelo 4º árbitro/delegado da partida. Os jogadores da casa têm o vestiário ao lado da torcida e pararam para cumprimentar amigos e familiares. Algo muito incomum para os dias atuais e que comprovam que foi muito boa a escolha de sair de casa nessa tarde de forno gaúcho. Olha que eu devo ter esquecido de algumas boas histórias [Veja aqui mais fotos e aqui mais vídeos].


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Para além de uma crítica aos jornalistas

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É curioso observar que, quando se trata de “deturpação pela grande mídia”, o primeiro alvo de ataques costuma ser não os grupos empresariais proprietários de meios de comunicação, mas os jornalistas que produziram as respectivas matérias. Este artigo não pretende fazer uma defesa escancarada e sem críticas à profissão, mas abordar que o conteúdo informativo produzido é apenas o final de uma cadeia produtiva que precisa ser mais considerada. Há vários estudos sobre a mudança nas rotinas de produção jornalística, porém devido à separação que ainda persiste entre a produção acadêmica e a sociedade, mesmo para movimentos sociais, poucos conseguem reconhecer a produção de informação realizada pelos jornalistas enquanto trabalho e o quanto este também foi modificado nas últimas décadas.

Do mesmo jeito que em outros setores industriais, a automatização também entrou nas redações, o que fez com que houvesse uma redução de pessoal e, consequentemente, uma precarização da atividade profissional. É cada vez mais comum, especialmente nas universidades, ouvir que um jornalista deve saber trabalhar bem em qualquer meio de comunicação, independente de “aptidão”. Há, inclusive, grupos empresariais que resolvem juntar as redação de impresso e internet ou rádio e internet, de forma a cortar custos, mesmo que se trate, ou deveria se tratar, de diferentes formas de se transmitir uma informação.

Para citar um exemplo mais prático, basta lembrar que há correspondentes internacionais trabalhando sozinhos para TVs brasileiras em outros países. Acumulam-se várias atividades em torno de si: produzir, fazer a reportagem (entrevista, texto e gravar os vídeos), e pré-editar. Ou seja, uma pessoa só sendo o produtor da matéria, o repórter, o cinegrafista e o editor. A matéria vem ao Brasil e aqui pode ou não ser reeditada.

O ponto forte
Um dos casos bem interessantes para se abordar é o do concurso “Passaporte SporTV”, que contrata profissionais recém-formados e deixa claro que o intuito é ter alguém que possa trabalhar nas diferentes esferas de produção de notícia, podendo alimentar o site e os programas desta emissora de TV, fechada durante um ano. É um período de “experiência”.

Esta “multiplicidade de atividades” acaba por prejudicar, inclusive, profissionais mais antigos, que precisam se readaptar aos novos tempos de notícias a serem dadas de forma rápida e na maior quantidade possível, principalmente no caso da Internet; em que os erros, quando são corrigidos, já espalharam o seu rastro pela sociedade. Afinal, quem tende a olhar uma mesma matéria por duas vezes?

Quando vemos problemas, “manipulações” e coisas do tipo em notícias e reportagens, especialmente quando se trata de movimentos sociais, caso de protestos estudantis e greves de trabalhadores, por exemplo, há de se pensar que há toda uma cadeia de valores a ser percorrida para que a informação seja transmitida daquele jeito e não de outro. O ponto mais forte desta cadeia é o que se chama de “linha editorial” do grupo empresarial. Por mais que as grandes empresas de comunicação no Brasil tentem propagar uma impossível neutralidade no passar das informações, há assuntos que podem e que não podem ser divulgados. Só para citar um exemplo, infelizmente comum, poucas são as emissoras de TV que tratam de processos por questões trabalhistas contra as concorrentes. O motivo é simples: também há problemas trabalhistas nas outras.

Redações multitarefas
Este assunto expõe ainda um grande problema da situação atual da profissão: a precarização. Os jornalistas de redação têm que conviver, em sua maioria, com uma rotina muito cansativa, com alguns casos em que sequer há o respeito do mínimo de onze horas entre as duas jornadas de trabalho e/ou a carga horária de trabalho semanal (cinco ou seis horas por dia), por um salário cujo piso é baixo e diferente em cada estado, partindo de R$ 1.100 (Sergipe) a R$ 2.437 (Alagoas).

Além disso, a produção da notícia, de forma geral, vai além do jornalista, fotógrafo e/ou cinegrafista. Editores, chefes de redação, diretores de jornalismo e, quiçá, a alta cúpula da empresa; são várias as formações socioculturais envolvidas. Por mais que opiniões político-ideológicas possam ser bem parecidas, todos veem o mundo conforme a sua formação social, que é única. Daí que não se pode imaginar que não haverá mudanças num texto ou reportagem ao longo deste “tortuoso” caminho.

Claro que o intuito não é dizer que todos os jornalistas têm uma forte preocupação social. Infelizmente, a preparação universitária e os “exemplos” na vida profissional, com redações formadas por pessoas cada vez mais novas e com multitarefas, não se apresentam como garantia de um trabalho que “honre” a formação básica em Comunicação Social, antes de qualquer habilitação específica.

Poder político
Na Academia, caminha-se para a separação das habilitações, com graduação específica em Jornalismo, seguindo as definições de um grupo de pesquisadores e profissionais experientes formado pelo Ministério da Educação nos últimos anos. A questão é que se hoje já se tem uma forte preocupação em educar para o mercado, numa segmentação voltada a atender à prática profissional, talvez isso piore. Uma boa formação com demais disciplinas das Ciências Humanas e Sociais, como Antropologia, Filosofia e Sociologia, ajuda, ao menos, a instigar outras preocupações no lidar com um fato ou pessoa antes e durante o produzir informação. Preocupar-se com o Outro, não apenas em cumprir o roteiro de pautas, é fundamental, por mais que as estruturas de poder da profissão nem sempre permitam isso.

O principal ponto deste texto foi mostrar, portanto, que é bom ter muito cuidado ao apontar a culpa para outro trabalhador, quando, na verdade, o problema é na Indústria Cultural, que carrega a ideologia da classe dominante. Por mais que estejamos cheios de exemplos ruins de atitudes profissionais, caso da jornalista do Brasil Urgente-BA e de tantos outros programas policiais – feitos até, em alguns casos, por pessoas que mal têm formação jornalística –, ou nas “tradicionais” matérias que envolvem pessoas com ideologia um pouco mais à esquerda.

A “luta” não deve ser entre os trabalhadores, todos com precarização profissional, baixos salários e condições de trabalho cada vez mais insalubres, mas contra quem permite que isso ocorra: esferas de poder político constituídas e os grupos empresariais, sejam comunicacionais ou não.

>> PS: Este texto foi escrito no final de junho. O professor Valério Cruz Brittos, que se recuperava de um sério problema de saúde por conta de uma pneumonia, acabou por falecer no fim do mês seguinte. Jornalista, formado em Comunicação Social na Universidade Federal de Pelotas, trabalhou na profissão por alguns anos, cobrindo, dentre outros assuntos, a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente da República como repórter político da sucursal de Brasília do jornal Zero Hora.

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[Valério Cruz Brittos (in memoriam) e Anderson David Gomes dos Santos são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e mestrando no mesmo programa]

Originalmente publicado no Observatório da Imprensa.