quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Senna: o brasileiro, o herói, o campeão

Acabo de ver o documentário feito por ingleses apresentado ao mundo no ano passado sobre uma das grandes personalidades do esporte mundial, um verdadeiro mito no Brasil: Ayrton Senna da Silva. A direção é de Asif Kapadia e o roteiro de Manish Pandey.

Não tinha pretensão de escrever sobre o documentário logo após de assisti-lo. Quer dizer, nem tinha o interesse ou lembrança de tentar achá-lo no mundo da internet, por maior que tenha sido a minha curiosidade quando ele foi colocado nos cinemas mundiais - muito depois no Brasil e não sei se chegou a terras alagoanas, acho que não. 

Na segunda-feira, o Sportv mostrou pela primeira vez em TV fechada o documentário, que logo foi para os Trending Toppics do Twitter. Só hoje li o texto do Rafael Lopes, do blog Voando Baixo (Globoesporte.com), que costumo ler por conta da Fórmula 1, sobre o documentário, o que aumentou a vontade de vê-lo.

Comentei aqui no Dialética sobre as minhas lembranças do dia 1º de maio de 1994. É curioso que apesar de ter na época apenas 6 anos de idade, muito daquele dia ficou na minha memória e mais curioso ainda era sempre me emocionar com o chamado "tema da vitória", que por muitos anos só foi tocado por conta de replays das vitórias do Senna - por mais que a música fosse usada desde anos antes.

É bem difícil expressar em palavras a sensação que o documentário acaba de me deixar, uma letargia que me impressiona, por mais que a minha relação com esportes seja bem intensa - independente de se discutir se automobilismo é ou não esporte, apesar que naquela época acho que a dúvida era bem menor sobre a importância do piloto.

Por mais que, como o Rafael destaca no texto dele, o filme tenha que ter optado por uma linha para descrever a história de Senna, apagando alguns momentos importantíssimos - lembro muito bem da sua última vitória no Brasil, carregado pelas pessoas na pista -, o jeito que se conta é bem interessante. Com o destaque para a paixão que ele tem por vencer, mas principalmente na época do kart, em que não havia política e nem dinheiro, era "pura corrida" - frase que abre e fecha o filme.

Eu fui atrás ao longo dos anos de algumas histórias de Senna, acho que com mais destaque para sua disputa com o "Professor" Alain Prost, tentam me convencer de que o piloto brasileiro também havia feito coisas "erradas" para vencer (GP de Suzuka, 1990), por mais que como resposta ao que ocorrera no ano anterior.

O doc acaba me mostrando um pouco mais, até mesmo por manter como foco "maniqueísta" a relação com o então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), o francês Jean-Marie Balestre, que chegou a dizer que a decisão era dele e que toda decisão dele era correta. Talvez sendo decisivo para a exclusão de Senna no GP de Suzuka de 1989, o que deu a vitória ao também francês Prost. Isso eu ainda não conhecia.

Sobre a história, da Toleman, passando pela Lotus, tendo os três títulos na McLaren e o fracasso que virou desastre na Williams eu tinha uma ideia. Lembrava bem que antes do GP de Ímola, ele tinha abandonado as corridas anteriores. Relembrando e vendo no documentário, fico com a sensação de que a "sorte o abandonara", como disse, creio eu, um repórter da ESPN. 

Nos dois anos anteriores, ele foi grande com um carro que enfrentava uma equipe de outro mundo, a Williams - como foi a Brown na primeira metade de 2009 e a RBR desde o ano passado. Mesmo ganhando algumas corridas, e muitas poles, tirando mais que "o design do carro permitia", ele claramente queria dirigir o melhor carro e não escondeu isso de ninguém durante aqueles dois anos. Quando chegou no melhor, a FIA tirou o que ele tinha de melhor: as alterações eletrônicas (como a tração). O intuito era equilibrar o campeonato. O que desequilibrou totalmente a Williams.

Todo mundo que teve interesse ou lembra daquele fatídico final de semana deve lembrar que Rubens Barrichello, Rubinho, sofreu um acidente num dos treinos, e que Ratzenberg morrera na véspera. Trágica a frase encontrada nos arquivos da FIA em que o piloto austríaco falava que estava assustado, porque estaria passando dos limites do carro.

Ayrton Senna, que passa alguns momentos bem tensos ao longo das cenas mostradas no documentário, nunca esteve tão preocupado como naquele fim de semana, como comprovam os repórteres que trabalham na F1 há muitos tempo e acompanharam sua trajetória. A morte do dia anterior poderia até tê-lo feito não correr uma prova que largaria na pole, mas todo mundo sabe que ele correu...

É o tipo de filme chato de se assistir pelo simples motivo de se saber o final, e olha que eu não vejo problema nenhum em saber final já que a surpresa deverá ser como se chegará nele - se for bem feito. Porém este é um caso diferente. Um ídolo que marcou minha infância e que não era do futebol, num momento em que este vivia uma crise sem tamanho, assim como o próprio país, que tropeçava, e muito!, no processo de redemocratização (desastre econômico sob Sarney e Collor, que não precisa de explicações).

Como alguma torcedora fala no filme, o Brasil precisa de comida, precisa de saúde, de educação, mas tinha algo com o que se orgulhar. Senna representava o sonho das pessoas. O que as fazia acordar todo domingo de manhã e esquecer de alguns problemas pelas quase 2 horas que viriam, por saber que alguém realmente faria de tudo para mostrar o país como vencedor.

Não tenho vergonha de admitir que me emocionei com duas cenas em especial. A primeira foi a vitória no GP Brasil de 1991, com a McLaren travada na sexta marcha durante mais de dez voltas, em que ele desmaia após cruzar a linha de chegada e mal consegue levantar o troféu. O segundo momento é mais óbvio, mal deu vontade de olhar, por mais que tenha visto a cena centenas de vezes ao longo desses mais de 17 anos,

Após vivermos a "Era Schumacher" e a aparição de estrelas, e bons pilotos, como Hamilton e Alonso, com o atual destaque, muito merecido, para o bicampeão e demolidor de recordes Sebastian Vettel, não consigo parar de pensar o que seria da Fórmula 1 se Ayrton Senna da Silva não tivesse falecido naquele 1º de maio de 1994. Acho que esse e um dos SEs que mais queria que fosse realidade...

2 comentários:

  1. A essência do documentário é essa mesmo. Mas, para mim, a forma como o Senna disputou o título de 1990 com unhas e dentes, foi um reflexo não só do ocorrido em Suzuka em 1989, mas também da corrida fantástica que ele fazia com a Toleman na chuva em Monaco em 1984 e o Prost, com um baita medo de perder, usa a influência com o Ballestre para encerrar a corrida uma volta antes do Senna chegar nele.
    Muita gente viu naquele gesto de jogar o carro do Prost para fora da pista e ganhar o título como uma atitude antidesportiva e que não seria do feitio de um ídolo.
    Porém, como todos nós, ele era humano e tinha falhas, apesar de todo endeusamento que a imprensa e o povo brasileiros sempre ostentaram com relação a ele.
    E pensando bem, no lugar dele, eu não faria diferente, jogava aquele francês insosso para fora da pista também.

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  2. Concordo contigo, Bruno, sobre a discussão sobre o endeusamento. É bom ver falhas em pessoas porque provam que todos têm seus momentos ruins. A minha dúvida quanto ao Senna, que eu acabei não colocando no texto é quanto à relação dele com o Piquet, que é o único que eu saiba que era brasileiro e não tem tanta adoração assim pelo compatriota - além do Reginaldo Leme, que chegou a ter uma briga com o Senna, mas depois fez as pazes e, além disso, é profissional o suficiente para saber que foi um excelente piloto.

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