sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A introspecção de "O Palhaço" - e a difícil tarefa de ir ao cinema...

Este texto deveria ser só sobre o último filme dirigido por Selton Mello, ganhador de alguns prêmios e que agradou também a crítica. Mas, antes de comentar sobre o filme, preciso contextualizar como foi a minha recepção perante o filme.

Primeiro, dizer que desde que cheguei ao Rio Grande do Sul não tinha ido ao cinema. Além de muito trabalho a fazer, quase que sem folga, não tinha tantos motivos pessoais ou cinematográficos para fazê-lo - quer dizer, queria muito ver Capitães da Areia, por gostar muito do livro, mas acabei não vendo porque não estava em cinemas próximos. Seguindo o roteiro de "recesso" estabelecido por mim - que acabou sendo bem menor do que eu pretendia -, aproveitei a visita à Casa de Cultura Mário Quintana para assistir "O Palhaço", que estava numa das três salas (!) de cinema presente neste (super) espaço cultural de Porto Alegre.

Surpreendi-me com a quantidade de pessoas presentes numa sessão às 17h em pleno dia de semana (quarta-feira). A sala Eduardo Hirtz é pequena, mas aconchegante, com seus 98 lugares. Neste dia tinha cerca de 35 pessoas nela. Para meu azar, perante outras 65 cadeiras para se acomodar, tive ao meu lado alguém que praticamente não parou de rir durante todo o filme. E não era qualquer risada, não. Era das mais altas que já ouvi.

Odeio claque em séries estadunidenses, já que me parece ser muito autoritário querer que o espectador ache graça da mesma coisa que os produtores/diretores. Se a piada não for engraçada como eles imaginaram, e aí? Por isso que eu tendo a demorar a gostar das séries mais "famosas". Um exemplo delas foi "The Big Bang Theory", por mais que alguns episódios continuem não sendo tão bons assim para mim.

Mas não parou por aí. Sentou ao meu lado o cúmulo de todos os vícios para uma pessoa na opinião de quem vai ao cinema só para assistir ao filme. A pessoa não parava de olhar o celular - motivo que a fazia parar de rir ou diminuir a intensidade do mesmo. Como se não bastasse a quantidade de vezes que pegou algo para comer de dentro de uma bolsa que só podia ser mágica...

Enfim, essa introdução é necessária para justificar possíveis equívocos na análise do filme. Vamos a ela propriamente dita então...

O PALHAÇO
Gosto de personagens mais introspectivos, que não são afeitos às corriqueiras "alegrias" e questionam o que raios está fazendo afinal. Benjamin (Selton Mello), o palhaço Pangaré, passa o filme inteiro assim: querendo saber o que realmente ele possa fazer para se agradar perante às obrigações de tomar conta do Circo Esperança, posto que assumiu por "herança" de seu pai, o palhaço Puro Sangue (Paulo José).

Como todo pequeno circo, a viagem perante as cidades do interior do Brasil é uma constante. Com tantas cenas de carros e caminhões entre plantações de canas, bem que poderíamos lembrar das estradas alagoanas. Por mais que as cidades sejam de Minas Gerais, Maceió ainda aparece num dos diálogos... O agrado a todos os prefeitos e primeira-damas, com o mesmo discurso já ensaiado de "o melhor prefeito das Américas do Sul e da África, ou qualquer coisa assim, são legais.

O melhor ficando para a primeira família, que abre sua casa para um banquete para tod@s do circo, em meio a esquisitos quadros como o da cabra que segura uma rosa - e essa cabra ainda volta nos sonhos (?) do Borrachinha, um dos personagens. O prefeito querendo que o filho declamasse uma ridícula poesia de dia das mães porque acha que ele tem futuro! Na hora da apresentação, o menino ficou calado, causando preocupação a todos. No fim, até que sua fala foi bem engraçada, pois foi natural, quase um "não me mate, pois sou filho do prefeito!".

Enfim, a imagem que abre este texto reflete muito bem o protagonista do filme. Como ele mesmo se define num momento: "como palhaço faz os outros rir, mas quem o faria rir?". É para conseguir essa resposta que ele muda totalmente a vida, vai buscar um documento que valha realmente para algo, afinal Certidão de Nascimento per si não serve para arranjar emprego ou para abrir um crediário; um emprego que lhe dê dinheiro que não sirva só para corromper mecânicos ou delegados, mas também para comprar o sutiã grande que uma das palhaças precisa ou o ventilador - que o persegue durante todo o filme - que a estrela da companhia o pediu.

As apresentações no circo já não são mais como antes e todas as personagens percebem isso, mas ninguém quer importunar Benjamin. O cúmulo, e engraçado, é quando ele troca o nome do prefeito de uma das cidades que o circo visita pelo do bêbado mais conhecido da mesma. Ninguém rindo até toda a trupe aparecer em cena para tirá-lo do foco.

Como o filme é relativamente curto, 90 minutos, não me prolongarei mais. Destaco a presença de alguns comediantes brasileiros que aparecem em algumas cenas: Jorge Loredo ("Zé Bontinho"), Moacir Franco, Ferrugem, Fabiana Karla,... Além das boas atuações de Selton Mello e do grande Paulo José, que deve passar segurança para qualquer ator que esteja do seu lado.

Um dos pontos negativos que vi não é bem do filme em si, mas da demora que ele leva para começar. Ao contrário de outros (tantos) filmes nacionais que, bancados por leis de incentivo a cultura e/ou Lei Rouanet, que colocam num mesmo quadro as empresas que apoiaram a produção, "O Palhaço" passa uma por uma. Legal para quem ajudou a financiar, mas péssimo para quem tem que "perder" tempo vendo nomes como Ambev, OI, Santander e cia. Fora rever as logomarcas das co-produtoras, como a Globo Filmes, mesmo após termos visto suas vinhetas no início.

De forma geral, esperava mais de "O Palhaço", principalmente um pouco mais de tempo, não sei se pelo meu costume em ver filmes um pouco maiores ou por ter alguém me enchendo do lado, não permitindo que eu prestasse maior atenção ao filme. Mas vale à pena sim, vê-lo. Ah, e o filme é sim engraçado, talvez não o suprassumo da comédia, afinal tem elementos dramáticos nele.

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