sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cadê a Amélia?


"Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2013.

71 carnavais! Há 71 carnavais que tenho que ouvir a mesma reclamação. 

Ouvir que eu sou exigente. Que nunca viu alguém fazer o que eu te fazia.

Há 71 carnavais que eu tenho que ouvir de você que tem saudades da outra, da sua ex, daquela tal de Amélia.

Enquanto eu sequer tenho o meu nome citado, com uma série de reclamações na parte inicial da música, você dedica título e o resto dela a enaltecer a 'mulher de verdade', como se eu nunca tivesse existido.

Há 71 carnavais que eu tento entender o porquê de não ter consciência. Qual o problema de eu querer o que vejo e pensar em luxo e riqueza? Quem não quer viver com o melhor possível?

Onde já se viu achar bonito não ter o que comer e achar normal ficar com fome? Beber nos botecos onde dizia que ia fazer samba você sabia né? Para isso não tinha problemas em gastar dinheiro!

Já passaram 71 anos, não percebeu que ter vaidade não me torna uma mulher de mentira? Que fazer comida, lavar roupa, limpar casa e dar banho no cachorro não torna a 'mulher de verdade', e sim a torna uma escrava? Ninguém deveria trabalhar sem receber nada!

Por isso que toda vez que te via contrariado, dizia que podia te ajudar, arranjar um trabalho, mas não, você nunca deixava. Meu filho, havia muito o que se fazer!

Ah, 71 carnavais depois e eu gostaria de saber: se a Amélia é que era mulher de verdade, cadê a Amélia, que não continuou contigo?

Assinado: Aquela que você não teve coragem de dizer o nome!"

Ai que saudade da Amélia foi escrito durante o governo Getúlio Vargas por Mário Lago e Ataulfo Alves, grande sucesso do carnaval de 1942. Boatos, não confirmados, diziam que Getúlio teria encomendado um samba diferente para Ataulfo, que não fizesse uma reverência à figura do malandro. Eles teriam escrito a música em homenagem a uma empregada da cantora Aracy de Almeida. 71 carnavais depois, imaginamos que a resposta era mais que merecida.

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