segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

[Por Trás do Gol] Para além da diferença nas traves...

Geralmente quando se trata de um evento esportivo para exemplificar a espetacularização da mídia, o escolhido é a final do futebol americano, o Super Bowl. Hoje mesmo li um texto do pesquisador Douglas Kelner que tratava disso e que trazia exemplos esportivos - mais Copa do Mundo de Futebol, Olimpíadas e World Series (beisebol).

Como pode-se perceber nos meus últimos textos (aqui e em revistas científicas), não gosto desse tom apocalíptico exagerado, muito menos quando se trata de eventos esportivos. Além disso, é necessário diferenciá-los entre si, tanto no seu desenvolvimento histórico quanto na sua contextualização sociocultural.

FUTEBOL, RÚGBI E FUTEBOL AMERICANO
Ontem houve a 66ª edição do Super Bowl, que é a final do campeonato de futebol americano organizado pela NFL, um dos eventos com maior audiência televisiva do mundo. New York Giants e New England Patriots se enfrentavam em busca do quarto título, tendo como destaques os quaterbacks Eli Manning e Tom Brady (também conhecido por aqui como o marido da Gisele Bündchen), que buscavam entrar numa seleta lista de atletas com dois títulos mesmo sem estar no hall da fama do esporte.

Ah, o quaterback é o jogador responsável pelos passes que avançam muitas jardas, sendo um dos principais responsáveis pela marcação do touchdown, que é quando um Wide Reciever recebe a bola e leva até a endzone, os trechos no final de cada lado do campo, e que dá pontuação máxima para uma jogada: 6 pontos. Outras jogadas, como o chute entre as traves, pode dar entre 1 e 3 pontos.

Apesar de ter a mesma quantidade de jogadores que o soccer, o futebol americano tem uma estrutura diferente, em que há diversos tipos de físico em ação, com mudança de toda a equipe de acordo com as condições do momento, com direito a treinador específico para defesa e para ataque. Assim, teremos de brutamontes de 150 kg, que servem para barrar o avanço de jardas do adversário e/ou abri caminho, a jogadores mais rápidos, que possam correr muito com a bola.

O rúgbi também tem essa característica de diferentes portes físicos, mas apresenta outras formas de se jogar: número diferente de atletas (5, 7 ou 13); o passe só pode ser dado para o lado, não para a frente, como nos EUA; além da falta de maior proteção física, o que torna o esporte dos britânicos menos violento.

Falando nessas diferenças, temos que lembrar também que enquanto há a normatização de esportes nas escolas britânicas no século XIX - com o futebol se diferenciando do rúgbi a partir de 1863 -, nos Estados Unidos, a Escola de Boston fazia os primeiros jogos de futebol americano. Como o império mundial, naquela época, era o Reino Unido, isso ajuda a explicar a propagação do futebol para outras partes do mundo.

Outra explicação é que enquanto o futebol apresenta um tempo determinado e pode ser jogado sem muito material esportivo, o futebol americano exige muito material de segurança e tem partidas com tempo muito longo. Apesar de serem quatro quartos de 15 minutos, com intervalo no meio como no basquete, há muitas paradas, seja entre jogadas, intervalos técnicos ou pedido de replays pelos árbitros - que podem utilizar a tecnologia para tirar dúvidas.

Vi alguns trechos do jogo entre Giants e Patriots. Confesso que não tive paciência para acompanhar cerca de 4 horas de partida, com inúmeros intervalos comerciais e ainda um show da Madonna entre os tempos. Óbvio que os minutos finais, do último touchdown do jogo e da tentativa frustrada dos Patriots, eu acompanhei.

Acho que o que eu mais gosto (e estou acostumado) no "nosso" futebol é a imprevisibilidade do jogo, representada por alternâncias na forma da partida sem que seja preciso mudar o time inteiro, e, além disso, a falta de maior cientificidade nele. As partidas de futebol americano possuem variadas opções como se fosse atingir a perfeição, com variações técnicas possibilitadas no decorrer da partida.

Por último, por mais que se fala em Copa do Mundo de Futebol, ainda não há nada comparado com o que os Estados Unidos fazem em seu território quando o assunto é espetáculo. Do pré-jogo, com as fases de mata-mata das Conferências, até a semana final, tudo é muito bem midiatizado, com a devida criação de possíveis combates, como no caso já citado dos quaterbacks dos adversários de ontem. 

Sem falar no show de uma grande estrela pop mundial no intervalo da partida que, com toda a certeza, faz com que até quem não goste deste esporte pare por alguns minutos em frente à tela da TV para assistir ao seu artista favorito.

Curiosamente, foi na área esportiva que o império cultural imposto pelos Estados Unidos menos prosperou, fazendo com que o futebol, com grande destaque em países subdesenvolvidos, vencesse a disputa em meio a diferentes culturas ao redor do planeta.

TV
Ontem o Brasil teve a primeira transmissão ao vivo do Super Bowl em TV aberta. Após anos com a Band transmitindo um compacto na madrugada, a TV Esporte Interativo adquiriu o evento e mostrou, com seu principal narrador, André Henning, toda a disputa.

Ah, e deve-se ter cuidado com a TV Esporte Interativo. Se não me engano, a emissora que transmite vários campeonatos estrangeiros e competições de primeiro nível de vários esportes, já transmite em UHF para dez estados do país e tem boa reverberação nas redes sociais. Enquanto Record e Globo brigam lá na frente, e a Band estaciona esperando as migalhas, um novo "canal do esporte" se consolida em TV aberta.

Não sei qual foi o impacto da transmissão na audiência da TV E+I, mas em termos internacionais a edição de número 46 do Super Bowl atingiu a marca de 162,9 milhões de pessoas em todo o mundo, um aumento de 46% em relação a 2011. Porém, a porcentagem de TVs ligadas nos Estados Unidos para o evento foi a terceira maior da história, 47,8%, perdendo para as edições de 1987 e 2011, que tiveram 0,1% a mais.

O Twitter registrou nos últimos três minutos de partida registros de 30 mil mensagens sobre o assunto e um comercial com cães da Volkswagen foi compartilhado mais de 700 mil vezes, o que justifica os altos valores para encaixar uma marca ali. 30 segundos equivaleram a US$ 3,5 milhões! Caso somemos a quantidade de intervalos no jogo, dá para ter noção do quanto se ganhou...

GIANTS!
No jogo, os Giants começaram bem, sofreram uma virada no final do primeiro quarto, que só conseguiram reverter nos últimos minutos da partida, com um touchdown faltando 57 segundo para terminar. Apesar das várias tentativas de Tom Brady, não se conseguiu colocar a bola oval na endzone. New York Giants 21X17 New England Patriots.

Será que tanto espetáculo e toda a emoção no final valeram os ingressos entre 1,2 mil e 20 mil dólares?

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