sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

[Gauchão 2012] Quem tinha Banrisul tem...

A quarta rodada do Campeonato Gaúcho de futebol ocorreu no meio de semana e teve como principal destaque a quebra de algumas marcas. O Caxias perdeu os 100% no torneio, Juventude e Cerâmica perderam a primeira partida, o Pelotas marcos seus primeiros 3 pontos, enquanto o Canoas conseguiu seu primeiro.

Mas o assunto da coluna Gauchão 2012 é "além das quatro linhas". O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) cancelou os contratos de patrocínio com onze equipes. O motivo é que Juventude, Cruzeiro-POA e Lajeadense firmaram contrato com o Banco BMG. A livre iniciativa, para quem acredita nela, prova mais uma vez sua inexistência, desta vez nos campos gaudérios.

A notícia foi dada oficialmente pelo site da Federação Gaúcha de Futebol na última terça-feira (31/01), mas só na quarta-feira, em meio à rodada, que eu soube disso. No intervalo de Cruzeiro 4X1 São José, o presidente do Cruzeirinho, Dirceu de Castro, falava à Rádio Web RS sobre o assunto.


FGF INFORMA (E ENALTECE QUEBRA DE CONTRATO)
Antes, faz-se necessário concordar com o pessoal do blog Toda Cancha que tuitou o absurdo que está presente na nota da FGF sobre o assunto, que enaltece a parceria com o Banrisul, que patrocinará as três divisões estaduais - este ano estreia a Segunda Divisão, que na verdade é 3ª, já que há a Divisão de Acesso antes. O título do FGF Informa é: "BANRISUL confirma apoio para primeira divisão, divisão de acesso e segunda divisão". Realmente ficaria difícil para eu e qualquer um notar o problema nisso.

Basta ver o texto da nota (imagem acima) que, pelo que eu interpretei, acaba por culpar, em nome do presidente Francisco Noveletto, os seus três filiados pelo CANCELAMENTO do do patrocínio das CAMISETAS que havia acertado no início do campeonato. Como já dito, Juventude, Lajeadense e Cruzeiro são patrocinados pelo BMG - esse furacão que cada vez mais toma conta do futebol brasileiro (do Palmeiras, por dívidas anteriores, ao Centro Sportivo Alagoano, esta "paixão sem divisão").

Ainda assim, o apoio de quem "sempre esteve presente" (desde 2008) sairá na ordem de um milhão e meio de reais, R$ 50 mil para cada um da Primeira Divisão e R$ 30 mil para cada clube da Divisão de Acesso e da Segunda Divisão. Se o apoio para os times da "elite" é bem pequeno, para os da "rebarba inédita" é razoável.

A pergunta que me faço é: o que tem a ver a opção de alguns clubes por outro patrocinador, inclusive um banco que atua em área diferente do Banrisul - mais crédito consignado, por mais que deva ampliar as outras áreas, enquanto o estatal é mais geral -, para que haja esse prejuízo para todos os outros? Pois bem, talvez Dirceu de Castro tenha explicado...

FALTA DE INTERESSE?
Acostumado a apoiar os times do Rio Grande do Sul, proporcionalmente a grandes e pequenos, em competições regionais e nacionais, o Banrisul só fechou o patrocínio para os clubes menores do Estado na véspera da estreia do Gauchão, dia 17/01.

Segundo o presidente do Cruzeiro, o seu clube esperou até quando foi possível para saber se o Banrisul iria patrocinar os clubes ou não, mantendo sempre contato com Novelettto e informando sobre o andamento das negociações com o BMG, sendo incentivado por ele a assinar, dadas as condições favoráveis.

Dirceu de Castro afirmou ainda ao pessoal da Rádio Web RS que o banco estatal não tinha interesse em patrocinar os clubes "do interior", pequenos, do Estado e inventou esta desculpa para cancelar o contrato com os demais. Para ele, bastava fazer como fizeram com a dupla Gre-Nal que, após os times não aceitarem a primeira proposta de renovação, em setembro, o Banrisul a cobriu - o valor anterior era de R$ 7 milhões e os clubes ficaram cinco meses com a marca mesmo sem contrato assinado, durante o Brasileiro do ano passado.

Eu procurei em todos os sites dos clubes - exceto o Canoas, que não o tem - se alguma assessoria de imprensa publicou algo sobre o assunto e nada encontrado, o que é muito ruim. Afinal, para o torcedor pode ficar a história criada pelo banco estatal e alimentada pela própria Federação Gaúcha de Futebol: a culpa é de Juventude, Lajeadense e Cruzeiro.

PROBLEMA?
No dia 08 de janeiro deste ano foi publicado no jornal Folha de S. Paulo a discriminação dos valores que as três esferas estatais (municípios, estados e a União) investiram no futebol em 2011. A soma chegou a R$ 95 milhões, com o Rio Grande do Sul liderando com mais de 30% desse valor (R$ 33 milhões) enquanto Paraná e Roraima não teriam repassado dinheiro a clubes (veja lista completa ao lado).

Já havia comentado, em coautoria com outros dois companheiros na nossa coluna sobre futebol no Estratégia & Análise, a minha surpresa em ver o futebol do interior gaúcho com bem menos representação nacional que o futebol alagoano, mesmo tendo uma ajuda estatal bem maior e mais frequente - fora as condições socioeconômicas.

Ainda assim, não significa que eu apoie investimento público num negócio privado, por mais que seja   (justificada como) uma ação de marketing - travestida de apoio "à paixão local". Se pensarmos que o futebol chegou a tal nível financeiro, que acaba criando contradições internas entre muito ricos e muito pobres, com uma mercantilização exacerbada, por que ter dinheiro que poderia ser investido em esportes amadores numa modalidade com tamanha difusão?

Tudo bem, há casos e casos. Uma coisa é tratar de Grêmio e Internacional e outra bem diferente é falar do futebol do Amapá. Mas essa discussão, muito focada em torno das obras para a Copa do Mundo FIFA 2014 sobre investimento público precisam também ser reduzidas a níveis rotineiros e que continuarão por muito anos. Precisamos saber: o futebol no Brasil, em termos gerais, é mantido pelo Estado? Se sim, o que se tem em troca?

Enquanto esta resposta não vem, fica a dúvida de como ficarão os onze clubes gaúchos que confiaram nos "eternos parceiros" da FGF e tinham como principal renda para se manterem para o Gauchão o dinheiro do estatal Banrisul...

Resultados da 4ª rodada
01/01 (quarta-feira)
Cruzeiro (1º chave 2) 4X1 São José (3º chave 1)
Cerâmica (4º chave 2) 1X2 Lajeadense (1º chave 1)
Avenida (7º chave 2) 3X3 Canoas (8º chave 1)
Veranópolis (5º chave 2) 5X2 Juventude (2º chave 1)


02/01 (quinta-feira)
Pelotas (8º chave 2) 1X0 Ypiranga (7º chave 1)
Caxias (2º chave 2) 1X1 Santa Cruz (6º chave 1)
Grêmio (6º chave 2) 1X0 São Luiz (5º chave 2)


* Novo Hamburgo (3º chave 2) 0X1 Internacional (4º chave 1) foi jogado de forma antecipada no dia 18/01, já que os colorados jogariam pela Pré-Libertadores na quarta-feira, em partida em que empataram com o Once Caldas, na Colômbia, por 2 a 2 e se garantiram na fase de grupos do torneio sul-americano.

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