sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Projeto Salve o Ronaldinho


- Alô? José Roberto?
- Pode falar, Ricardo. Que futebol chinfrim esse do Brasil hoje!
- Pois é, logo contra a Argentina, e ainda falta o segundo tempo.
- Mas é Brasil e Argentina, a audiência tá boa, por que me ligou?
- Lembra do que fizemos com o R9 em 2002?
- A volta dele contra tudo e todos?
- Isso mesmo. Acredito que temos que fazer isso com o outro, o R10.
- Como? Ele mal joga no Barcelona.
- Eu mando o meu empregado utilizá-lo e você tem a obrigação de “encher a bola” dele desde o início.
- Para esse tipo de história sempre tem público: um jogador em que poucos acreditam, um título idem. É só esperar o ouro asiático.
- Fechado então?
- Claro. Fique tranqüilo que as outras nos acompanham.
- Façamos nosso trabalho então.
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Essa não é nenhuma passagem de escuta da Polícia Federal, mas representa a mais nova situação do futebol brasileiro, o “Projeto Salve o Ronaldinho”. A CBF foi a primeira e a TV Globo grudou nos lances que definiram a idéia ricardiana.

Nada contra o Ronaldinho Gaúcho – mesmo que não esteja entre os meus jogadores preferidos –, mas é estranho como a imprensa o foca na preparação olímpica. Prova disso foi a atuação contra a seleção pífia de Cingapura, um gol e uma assistência num jogo ruim e o dentuço voltou a ser o herói da seleção.

Ah, isso para não citar a “falta que fez contra a Argentina no Mineirão!”. Ninguém lembra que ele não jogava a um bom tempo e que no último jogo pela seleção saíra vaiado? Pois é, virou a solução de uma seleção sem Kaká, o atual melhor do mundo. É, ele também não jogou aquela partida e já mostrou muito mais futebol pela seleção, inclusive contra a Argentina.

Porém, só dá audiência – ou no caso da CBF, desvia a atenção – o elemento surpresa, a recuperação digna de super-heróis que assistimos nos cinemas. A interligação das mídias e a manipulação do imaginário das pessoas funcionam como a fórmula mágica.

Se o título das Olimpíadas vier... se o Ronaldinho Gaúcho jogar muito bem ... tudo bem, a minha língua é tostada – confesso que prefiro esse final. Mas, e se as coisas não derem certo? A preparação não foi boa, apesar dos excelentes jogadores, isso não seria anormal. O herói viraria um vilão?

Esperemos que os pontos cruciais do Projeto ocorram ou, caso prefiram, que o filme vá para os olímpicos cinemas. O público responderá à altura ao que for produzido e os produtores verão se deu lucro ou não.

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