domingo, 26 de maio de 2013

[Circo a motor] "Eu busquei esta vitória durante toda a minha vida"

Arte sob foto de Jeff Haynes/Reuters
3 ligamentos da mão sendo parcialmente rompidos e sem a possibilidade de realizar cirurgia. Tempo de tratamento: 8 meses. A corrida seguinte em casa: no Brasil. Corrida sob analgésico, liderança e na última parada erro de cálculos da equipe e pane seca no carro. O que esperar ao assumir a ponta de uma das principais corridas do mundo a 3 voltas do final?

Fazia tempo que eu não falava da Fórmula Indy aqui - a última vez foi em 2010, após o primeiro GP de São Paulo. Tenho alguns motivos para isso, afinal também nesta categoria há reflexos da falta de produção de novos talentos no automobilismo do país. Se Hélio Castroneves segue na Penske, uma das principais equipes da categoria, Tony Kanaan saiu da Andretti e foi para a média KV Racing, e Bia Figueiredo corre apenas algumas provas da temporada. Barrichello optou voltar ao Brasil, para a Stock Car, que fazer uma temporada no limite financeiro - como, dizem, seu amigo Kanaan deve fazer este ano.

Mas 500 milhas de Indianápolis é especial. A 97ª edição desta prova centenária seguiu a tradição, dentre as várias construídas para este evento, e nos deu emoções nas voltas finais, ainda que bem menos que em 2011, quando Hildebrand quase venceu mesmo batendo o carro. Ainda bem para nós brasileiros, que vimos um conterrâneo voltar a vencer após 4 anos.

Foto: Geoff Miller/Reuters
NA DISPUTA SEMPRE
Tony Kanaan pulou da 12ª para a 5ª posição já na primeira volta, confirmando ser um dos melhores caras em largadas, seja do início ou após bandeiras amarelas, da Indy. Dali em diante, sempre estava no jogo pelo revezamento na liderança, que é muito comum numa prova de 200 voltas e com algumas paradas por bandeiras amarelas - e, às vezes, com paralisações por conta da chuva.

Acompanhavam-no, geralmente, Marco Andretti e Hunter-Reay, além de outros na disputa em determinados momentos, quando após os pit stops o carro reagia melhor, caso de Hélio Castroneves, tricampeão da prova, que liderou por uma ou duas voltas, apesar de sempre ter ficado entre os 10 primeiros.

Líder antes da primeira parada, de cara para o vento, mas consumindo mais combustível, Tony foi o primeiro a ir aos boxes, perdendo algumas posições para quem conseguia poupar mais. A estratégia era tão preocupante que chegou ao ponto de num bom trecho da corrida os pilotos andarem mais lentos e não quererem assumir a ponta, algo poucas vezes visto em qualquer categoria. Mas a diferença poderia ser crucial no final, com menos tempo parado para colocar combustível no tanque até o final.

Mas as coisas mudaram depois da volta de número 170. Quem estava entre os 6, 7 primeiros sabia que teria que ficar entre os 3 para ter alguma chance de colocar o rosto no lendário troféu da prova. Tony seguia no bolo, com Andretti, o estreante Muñoz e Hunter-Reay, mas sempre disputando pela vitória.

Faltando 7 voltas, bandeira amarela por conta de batida de Graham Rahal, com a liderança de Hunter-Reay e Tony Kanaan em segundo. Há 4 voltas do fim, bandeira verde, ultrapassagem dupla, dele e de Muñoz no então líder e bastava ter calma para completar em primeiro faltando 3 voltas. Pela lógica das ultrapassagens, ele deveria ter o cuidado de reassumir a ponta na última volta...

Não foi preciso. Dario Franchitti, também tricampeão da prova, bateu lá atrás e provocou nova bandeira amarela. Tony completou mais uma volta antes de acompanhar o pace car e recebeu a bandeira quadriculada que esperou por 12 anos. Festa na clássica comemoração com o leite da vitória e muita emoção. 

Para finalizar este texto, algumas frases do piloto baiano de 38 anos e as voltas finais, com narração de Luciano do Valle e comentários de Felipe Giaffone na Band:

"Eu busquei esta vitória durante toda a minha vida. Mas, nos últimos anos, eu estava meio que tranquilo com o fato de que talvez nunca tivesse a chance de vencer aqui. Podemos rejeitar aquela teoria de que bons moços nunca vencem. Provamos que a teoria está errada".

"Eu estava olhando para o público e foi inacreditável. Estou sem palavras. Eu consegui!".

"Isso significa muito para muita gente. Eu senti que eles queriam a vitória. É um pouco egoísta porque sou que fico com o troféu, né. Mas eu pude levar alegria a eles e acho que a melhor coisa foi poder levar a eles uma corrida empolgante."

"Maravilhoso! A última volta foi a mais longa da minha vida. Prometi ao meu filho um troféu e esse será um muito bom".

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