sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quem mandou provocar?

Dentre a minha coleção é claro que o time que tem mais exemplares é o Palmeiras. Nesta viagem a Teresina acabei por levar a camisa que representa o período em que me tornei palmeirense. Deixei para usar na volta para Maceió e passei a observar os olhares alheios. 

Andei pelas ruas de Teresina - e encontrei outra palmeirense no caminho, a quem me deu algumas informações -, andei de táxi e fechei a conta no hotel. Até o aeroporto, nenhuma pergunta ou brincadeira sobre o time.Nos aeroportos, contando a conexão para Brasília, alguns olhares curiosos, mas nenhuma palavra sobre. 

Como no voo de saída de Teresina, estava na cadeira do meio, pedi licença para o rapaz à frente, que de pronto se afastou. Ele me perguntou se o C era no corredor ou na janela, respondi, já percebendo que o sotaque era de outro país. Ficamos esperando se alguém da poltrona A chegava, mas nada.

Assim que ele sentou, veio com o "Palmeirense? Corajoso, hein". A resposta já pronta veio em seguida:

- Sempre palmeirense, independente da situação. Afinal, já enfrentamos uma Série B antes e passamos por ela.

Puxar assunto de futebol com alguém que nem eu é ter a certeza que vai perder, ao menos, uma dúzia de minutos. E foi o que ocorreu. Primeiro perguntei de que lugar ele era, respondendo-me ser da Alemanha, o que automaticamente gerou a pergunta sobre a Liga dos Campeões, cuja final será decidida entre os alemães Bayern de Munique e Borussia Dortmund.

- O futebol alemão está num bom momento, final da Champions neste sábado... Torce para algum time lá, de repente algum dos dois?

- Não, estava torcendo para os dois, até mesmo pelo tempo que estou no Brasil

Ele me disse ainda que estava há 30 anos aqui e mantinha algumas coisas da cultura original por ter saído de lá aos 20. Apontando para mim as diferenças entre as formações dos jogadores de futebol de lá e os daqui. Mostrou indignação que a seleção brasileira não se preocupa em formar jogadores, incentivando desde a base. 

No caso do interior então - ele mora em Parnaíba, cujo time é o atual bicampeão local, no litoral piauiense -, os clubes se mantêm através das prefeituras, que não trocam o valor dado por nada. O ideal seria criar campeonatos de base, como ocorre na Alemanha, e campeonatos para as comunidades mesmo, com várias idades, independentemente de ser profissional. Segundo ele, o esporte pode ajudar a formar o cidadão do futuro, mas não há o interesse nisso.

Daí a discutir a situação conjuntural do Brasil, com a clara falta de preocupação na formação educacional das pessoas, de forma que elas não podem mudar sua situação, "pensar com isso aqui", apontava para a cabeça, "pensar por si próprio". Isso num país como este, cheio de opções naturais, porém, cujos interesses financeiros se sobressaem. Ele destacou Belo Monte e a transposição do Rio São Francisco, além de uma usina eólica que será construída numa ilha do Piauí em meio a uma cachoeira mesmo tendo muito terreno vazio nesta mesma ilha.

Assim foi passando o tempo, falando da formação educacional, da guinada do PT, dos problemas das universidades no Brasil, que não formariam adequadamente seus profissionais, a deficiência na área de saúde por conta de tantos gastos com obras, que permitem desvios e um zilhão de outros problemas.

Até que ele resolveu parar, porque tem muito o que falar mal de como é (mal) administrado o país. Quem mandou provocar?

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