quinta-feira, 14 de março de 2013

[Circo a motor] Só sobrou 1 na Fórmula 1

Depois de um final excepcional de uma temporada que mereceu o mesmo adjetivo, os circo já está montado em Melbourne para a primeira etapa da temporada 2013 da Fórmula 1. Os testes da pré-temporada serviram para mostrar carros mais bonitos, sem o declive no bico, até para troca de pilotos e, principalmente, com suspeita de jogo escondido pela tricampeã RBR. Para os brasileiros, sai Bruno Senna e entraria Luiz Razia. Entraria.

A temporada que marcou uma importante dança de cadeiras, envolvendo equipes do naipe da McLaren e da Mercedes, com Hamilton indo para a equipe alemã para o lugar de Michael Schumacher, seguiu o rumo dos últimos anos. Salvo as exceções das grandes, cada vez mais os postos estão sendo ocupados por quem têm mais dinheiro. O brasileiro Luiz Razia entraria com aporte financeiro de várias empresas (a maioria de fora do país) na Marussia, que aparenta poder lutar com a Caterham para não sair a pior equipe do Grid - com a saída da espanhola HRT -, e, consequentemente, ser um bom espaço para iniciar com seus 23 anos na F1.

Após bons testes também por outras equipes, casos da Force India, que só definiria o seu segundo nome (Adrian Sutil) em cima da abertura da temporada, e STR, que manteve seus pilotos. No fim, ficou a empolgação de se manter dois brasileiros no grid, já que Bruno Senna parece ter cumprido a sua rápida carreira na categoria ao não achar cockpit, sendo substituído por Bottas, que já havia "comprado" 15 treinos livres na temporada 2012 - apesar do seu padrinho Toto Wolff tendo ido para a Mercedes.

À época, li o texto de Thiago Arantes, no site da ESPN, chamando a atenção de que o piloto baiano representaria a entrada de uma geração que chegou órfã na F1, já que pouco se viu de bandeira brasileira no alto do pódio após a morte de Ayrton Senna. Esta é a minha geração, por sinal, de tantas pessoas que eram crianças quando Senna morreu e abandonou os domingos pela manhã em frente à TV porque nós não vencíamos. Ao contrário do futebol, que não precisa do incentivo das vitórias frequentes, os demais esportes no Brasil (vide tênis e boxe) precisam disso para aparecer e ganhar apoio. Como dizem os especialistas, neste país, torce-se para o futebol e para o que está ganhando.

Ficamos surpresos e chateados com a quase demissão - como chamar o que ocorreu? - de Razia porque uma parte dos seus patrocinadores não pagaram a segunda parcela à Marussia. A crise econômica na Europa havia dificultado a liberação de recursos. Pelo que li, era um grupo de empresas que não pensavam em divulgar sua imagem nos carros, mas uma valorização diferente. Mal comparando, como fazem empresas como a Traffic ou a DIS no futebol quando realizam parcerias com clubes. Não deu certo.


REFLEXO DO AUTOMOBILISMO NO BRASIL
Em meio à (sensacional) série de propagandas para o novo Ford Fusion, que gerou uma nova disputa nas pistas entre Mansell e Piquet, o brasileiro falou numa entrevista à Sportv que a gerência do automobilismo brasileiro era nula. Não se pensava em evoluir, montar categorias de base, gerar um apoio para o jovem começar no kart e chegar até à F1, como ocorre em outros países. Afinal, este é um esporte (?) caro.

Não é preciso ir muito longe. Quantas categorias de base de monopostos existem no Brasil atualmente? Quantas tentativas, algumas particulares (apoios da família Diniz e de Felipe Massa), surgiram e sumiram em poucos anos? 

Principalmente, o que ocorreu com o Autódromo de Jacarepaguá, que diminuiu por conta do Pan-Americano e acabou com os Jogos Olímpicos, serve para demonstrar esta dura realidade. O acordo dizia que o autódromo que recebeu a F1 na década de 1980 só encerraria as suas atividades com a construção de um novo no Rio de Janeiro. Confusão com o terreno a ser cedido - que teria explosivos, era das Forças Armadas - e a obra mal começou. De qualquer forma, literalmente, o Autódromo Internacional Nelson Piquet fechou as suas pistas.

Em 2012, Razia fez uma bela temporada na GP2, com um segundo lugar mesmo numa equipe com pouco potencial estrutural. Davide Valsecchi ganhou a temporada 2012 e sequer teve chance na F1 - algo que não ocorria com o vencedor da categoria de baixo desde 2008, com Giorgio Pantano.


Estranhei a boa cobertura da GP2 dos veículos das Organizações Globo. O brasiliense Felipe Nasr estreava na categoria e tinha uma excelente exposição. Este ano, o seu carro mostra importantes patrocínios de empresas com participação importante no Brasil: OGX (do Eike Batista) e o Banco do Brasil, de maior destaque; além da SKY. 

Para além daquela eterna discussão sobre como se dá a escolha de patrocínio por parte de estatais (ou empresas-mistas), fiquei pensando o porquê de Nasr ter conseguido apoios deste nível e Razia, bem mais próximo da F1, não. Nunca os vi correndo, então só acompanhei os resultados da GP2 no ano passado - e porque foi bem mais difundida na mídia. Espero que o piloto brasiliense confirme as expectativas, mas que é estranho é.

Pelo que acompanhei, a Petrobras quase volta para a F1 - chegou a fornecer combustível para a Williams por alguns anos recentemente -, parece que na McLaren e, com fortes rumores com a Force India, mas não deu certo. A ideia era apoiar Razia para entrar já este ano, porém, a empresa brasileira só poderia fornecer combustível daqui a dois anos, por conta da tecnologia a ser empregada. 

Importante frisar que o Brasil correu sérios riscos de não contar com nenhum piloto este ano, dado péssimo início de temporada de Felipe Massa em 2012. Felizmente, ele recuperou os bons tempos, sendo muitas vezes melhor que Alonso, o grande piloto contemporâneo, e garantiu o que muitos duvidavam: mais um ano de contrato na Ferrari. Porém, é só até 2013. Por mais que sigamos na torcida para que ele volte a brigar pelo título, com um carro que inicia bem melhor este ano, é necessário repensar o automobilismo no país. Não dá para esperar o pior dos cenários para tentar reconstruir um novo modelo de formação.

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