terça-feira, 26 de março de 2013

Adeus, o El Dorado não existe!

O mito do local com "tesouros em quantidades inimagináveis". Quando eu pensei sobre o que poderia ser a experiência em outro Estado, e bem distante do meu, a ideia era aproveitar a mudança geral de vida para alterar várias coisas que me atrapalhavam desde sempre. O nome desta coluna do blog, que utilizei como cano de escape e até mesmo para informar sobre o que ocorria comigo por aqui, expressou bem essa ânsia por algo bem melhor do que era antes. Devo ter caído no mesmo erro dos espanhóis, ao serem enganados por um El Dorado que não existia.

Só por este início já deixo a perceber que a situação atual é muito mais de frustração do que de orgulho, mas isso eu deixo para contar mais abaixo. Seria injustiça da minha parte apenas focar no presente e nos problemas que causaram e que podem surgir como consequências do que ocorreu por aqui. É necessário  apontar as coisas boas, alguns agradecimentos. Ah, aviso que o texto será beeeem longo.

PRODUÇÃO
Por mais que eu não saiba o que vai ser do meu futuro, e isso me desespere, os dois anos aqui no Rio Grande do Sul foram de um crescimento enorme. Para além da dissertação ter se tornado efetivamente o trabalho da minha vida, até aqui, deixando-me tranquilo quanto ter conseguido fazê-la de acordo com as minhas possibilidades, pude produzir bastante academicamente. Mais que simples números e páginas no Lattes, sempre me preocupei em ocupar espaços interessantes quanto à qualidade.

Poder ter publicado artigos em revistas científicas, mesmo de forma individual (ou seja, sem a coautoria de um doutor), foi uma grande vitória, mesmo que para isso tenha exigido um grande trabalho. Se os eventos acadêmicos não exigem tanto primor e cuidado, precisa-se de uma organização muito grande para poder bancar as viagens que viriam, ainda mais quando realmente se sobrevive apenas da bolsa de Mestrado - que, ao menos para mim, serve para manter o estudante, porém, não é o suficiente para atender aos gastos com viagens para a apresentação de trabalhos, ainda mais quando a universidade em que se estuda só cobra  a produção, sem dar qualquer incentivo para que se apresente os artigos.

Duas grandes vitórias neste período vieram com a ida para eventos com passagem e hospedagem pagos. Ainda que no caso de Brasília, em 2011, receber o valor da hospedagem tenha dado um grande trabalho, num período ainda mais conturbado. A segunda vez, em 2012, foi paga pela empresa que eu estudo e critico na pesquisa, ainda que tenha chegado com uma imensa dor de cabeça a um "Rio de Janeiro Frio".

Ah, ainda tive condições de realizar com dois grandes parceiros da UFRGS um ciclo de debates multidisciplinar sobre os estudos de futebol e comunicação. É claro que deu trabalho, por mais que eu achasse que seria simples. No fim, pressões externas à parte, deu muito trabalho - já que ainda teve outro debate e uma entrevista para TV a realizar -, mas foi extremamente positivo.

AGRADECIMENTOS
Os meus agradecimentos começam por aí. Como já expus no Facebook, foi muito bom pesquisar um objeto como o futebol tendo contemporâneos estudando-o também, ainda que sob outras perspectivas teóricas, com um diálogo muito bom e frequente. Os resultados das bancas de dissertação mostraram que este esporte merece ser estudado na Comunicação, criando trabalhos bastante relevantes para diversos eixos teórico-metodológicos.

Por mais que eu tenha divergências quanto a determinadas atitudes da gestão da Unisinos, também tenho que deixar claro que sempre fui respeitado nas salas de aula. Uma preocupação de entrada que eu possuía era sofrer alguma pressão específica por conta da Economia Política da Comunicação, mas isso nunca ocorreu. Os debates com os professores foram dentro do que se imagina do que deve ser o respeito acadêmico que promova o crescimento da Comunicação enquanto ciência. Além disso, não é à toa que o PPGCC tem avaliação Qualis 5, atrás apenas da UFRJ. Os professores são especialistas em suas respectivas áreas e, ao menos até o ano passado, havia espaço para vários tipos de linhas teóricas.

Ajudou bastante também ter outro colega de grupo de pesquisa estudando comigo, ainda mais com forte preocupação sobre a legislação comunicação, tendo em vista uma democratização da comunicação - termo que não pretendo tensionar aqui -, algo que não era o foco da minha pesquisa, mas é o da minha atuação frente aos meios de comunicação no Brasil.

Neste sentido, não teria como deixar de destacar a agradável experiência do programa de rádio semanal Periscópio da Mídia, nosso lazer em forma de trabalho do grupo CEPOS, que permitiu uma aproximação muito grande entre seus membros, fossem doutores, mestrandos ou graduandos. O Periscópio teve um público razoável para as condições dele e no final tínhamos conseguido um bloco sobre a comunicação argentina gravado por colegas da UNQ, que agregava ainda mais valor a ele. Além de entrevistas com nomes como César Bolaño, Laurindo Leal Filho e Luciano Correia. Isso em 2012.

O Grupo CEPOS, no geral, também permitiu vários encontros diferentes, tanto com pesquisadores internos quanto externos, através dos debates realizados. Um importante espaço para a EPC no país e com várias é diferentes pesquisas e pesquisadores em andamento, que me possibilitou um maior contato com determinadas pessoas que foram marcantes neste período principalmente no que se refere ao fora do trabalho.

Não pretendo esticar muito neste trecho porque, ainda que de forma mais sintética, já fiz os agradecimentos na dissertação, trecho que postei aqui no blog. É claro que dentre os colegas de Mestrado, as pessoas que encontrei em viagens e, especialmente, as que tive um convívio maior por aqui, para além das salas de aula, há diferentes gradações de convívio e, consequentemente, de lembranças que eu levarei comigo.

Dos colegas de PPG, o primeiro ano foi de contato mais frequente, principalmente por conta das disciplinas em conjunto. O segundo ano foi curioso, já que fui praticamente adotado pela turma que entrava, bem mais variada quanto às origens geográficas e de um perfil diferente da minha. Por mais que conhecesse algumas pessoas por conta de outros eventos e do grupo de pesquisa, acabei tendo uma proximidade maior com o conjunto que foi bem interessante.

Por fim, a tranquilidade da maior parte do tempo na moradia por aqui. O que seriam algumas semanas até eu achar outro lugar viraram dois anos. Por mais que seja difícil entender um cara tão caseiro que nem eu, verdade é que graças à excelente convivência é que pude desenvolver o meu trabalho da melhor forma possível. Além disso, o fato de morar com pessoas com outras histórias e, especialmente, em outras formações universitárias ajudou para desanuviar dos problemas do cotidiano de trabalho.

Poderia até nominar pessoas em específico que o carinho fica, mas como eu quase não fiz isso por aqui - não gosto de expor ninguém -, prefiro não fazê-lo agora, esperando que estas saibam disso. Ah, sem esquecer das pessoas que me ofereceram ajuda neste momento de dúvidas, algumas das quais eu fiquei muito surpreso por não ter tido tanto contato assim - acho até que estas conformam a maioria.

Fica a parte prazerosa de deixar em mais um Estado o meu rastro solitário de palmeirense. Gremistas, colorados, xavantes, não torcedores e até corintianas talvez tenham a mesma sensação de sergipanos, baianos e alagoanos que ao verem o Palmeiras, seja em boa ou péssima situação, lembro logo de mim. Sinal de que a melhor parte de mim, a que realmente exacerba sentimentos, e no caso do Palestra Itália é um dos que ainda não catalogaram, conseguiu deixar rastros bastante relevantes.

Enfim, se você chegou até aqui e viu que está tudo muito bom, muito bonito, é melhor parar. Venho pensando nas últimas semanas que estou numa fase de "darthvaderização", aquilo que teve como ápice o que ocorreu com o Anakin no Episódio 3 de Star Wars, que o lado sombrio - porque hoje não é mais "lado negro" - tomou conta de vez.

Se você é de Maceió, já sabe que eu sou mais na minha, praticamente faço questão de não estabelecer laços de amizade e, provavelmente, algum dia, lá no início, temeu conversar comigo e receber uma resposta mais ríspida - como duas pessoas falaram para mim. Se você é de São Leopoldo, Sebastião, o mundo para mim não é bão. Tudo bem que não sou de espalhar isso para todo mundo, mas essa é a real opinião. 

Portanto, independentemente de onde você veio, aconselho parar por aqui. A partir deste ponto é preciso que eu utiliza a última "Em busca do El Dorado" como o ápice do cano de escape pelo qual me serviu ao longo destes anos - e com coisas que eu nunca falei porque eu detesto passar de coitadinho ou ganhar concurso de quem tem mais problemas.

FRUSTRAÇÃO DA VOLTA
Comentava com um amigo nesta segunda-feira. Odeio mudanças, sejam de comportamento, de moradia, de Estado então... O motivo é simples. Com menos de 11 anos eu tive que sair da cidade que morei durante quase 10 por decisão superior. Não queria ter voltado para Maceió naquele momento e isto não é segredo nenhum para a minha família, afinal, várias vezes eu fiz questão de frisar que não me sentia em casa ali.

A passagem de 11 anos foi muito importante para que eu saísse do costume e desse um gás que me garantiram aprovações estudantis importantes, num trajeto que teria bem menos qualidade do que tive. Porém, pessoalmente foi uma desgraça. A minha família - e nisto eu considero meus pais e minha irmã - passou por situações muito ruins, coisas que serviram para tornar esta carcaça tão dura quanto é hoje.

Eu adoro Maceió, é onde eu nasci e foi onde muitas vezes chorei por ter que voltar para Aracaju. Claro que sei dos problemas cada vez maiores da cidade, mas sempre a defendi da minha maneira, de forma crítica, mas incentivando as pessoas a conhecerem as melhores praias do Brasil - viver lá já é um outro (grande) problema. Inclusive, a minha ideia quando criança era voltar para a minha cidade natal para morar com a minha avó, na rua atrás do Estádio Rei Pelé, enquanto cursava Jornalismo na UFAL.

Mas me vejo hoje na situação de quando tinha 11 anos. Voltando mais uma vez sem querer, só que deveras por culpa minha. De antemão, sempre me cobrei muito, bem mais do que qualquer pessoa, a ponto de passar mal numa prova de seleção porque estava muito nervoso e ainda assim seguir fazendo - e passei numa boa colocação depois disso. Não sou nem metade do que as pessoas pensam. Não me considero muito inteligente, nem nada. Conheci colegas que estes sim eram/são bons. De aprender a matéria numa rápida olhada. Eu sempre tive que me esforçar muito. Sou pião, não nasci para ser vanguarda.

Sorte, nunca vi, só ouço falar. Já o contrário... Por conta disso, sempre tive noção de que, se possível, tinha que me dedicar 200% às coisas que faço. Porque sei que se derem errado por mais banal que seja o motivo, eu tenho gás para retomar e consertar. Ah, e isso é algo de ruim que sobra do Rio Grande do Sul. Aprendi drasticamente que para certas situações não adianta nada. Que por mais que eu queira ou me irrite, não posso brigar para mudar determinada coisa. E isso foi muito ruim, dá uma impotência e indisposição enorme.

Passei por momentos aqui, em especial do final de 2011 para o início de 2012, que fiquei no fio da navalha. Tenho tendência genealógica e de comportamento a possuir problemas psicológicos e me assustei por ter ficado tão perto de situações que eu esperava reconhecer quando passasse dos 30 anos de idade. Os dias sentado olhando para as estrelas no céu e com as lágrimas caindo silenciosamente no rosto nas madrugas de insônia ficarão na memória. As minhas tentativas de entender porque raios essas coisas acontecem comigo. Por que raios eu não tenho tempo de comemorar nada porque em seguida virão cinco, dez, milhões de problemas para enterrar os pés no chão novamente.

Se posso destacar algo bom destes momentos bem complicados é que acabaram fortalecendo a carcaça para o que viria a partir da metade de 2012. Nossa! De maio a setembro, um turbilhão de coisas ruins, de doenças, de dúvidas, de raivas, de dores de cabeça enormes - a tal ponto de eu não saber como consegui não só me manter em pé como dar uma volta em São Leopoldo ou passear no Rio de Janeiro -, de não sei. Do mês que eu tive bloqueio de produção acadêmica por um motivo que fez o meu lado racional entrar em guerra com o emocional - e, por sinal, com muita razão, afinal aquilo ali a gente não vê por aqui.

Para aqueles que não me viram chorar, expressar maiores reações em público, nem mesmo mostrar que estou doente. Há explicações e de novo por conta de Maceió. Por problemas de saúde de alguém bem próximo, eu me acostumei a esconder até quando estou doente, porque a tendência é que o contexto caseiro se mostre bem pior - algo como chamar mais atenção, ainda que inconscientemente. Situação causadora de coisas assim que eu temo encontrar quando voltar, principalmente porque foi um dos motivos de após a minha volta em setembro de 2011, eu ter falado lá e ter cumprido a palavra que não voltaria no ano seguinte - por mais quente que seja aqui.

Aprendi a ser desapegado com a família porque sempre tive que separar os problemas de casa dos de estudo e de trabalho. Até mesmo porque seria impossível fazer qualquer coisa se deixasse que isso ocorresse. Para citar um exemplo, meu avô faleceu no início de 2009 e eu só contei para o meu colega de trabalho da tarde porque teria que faltar à rádio. Provavelmente, o pessoal do local que eu trabalhava de manhã nem soube disso. Meses depois, uma tia faleceu e eu cheguei atrasado após a frustrada tentativa de ir ao velório e não falei o motivo. Os colegas mais próximos de estudo só souberam disso no final daquele ano.

Como disse no início do texto, a minha vinda para cá era para tentar construir novos momentos de vida, evitar ouvir coisas como eu cheguei a escutar num momento que era primordial para mim: "os incomodados que se mudem". Olha que se eu sou chato é porque eu não gosto das minhas coisas bagunçadas e nem costumo deixar nada para outras pessoas, e, definitivamente, procuro não me intrometer nas escolhas alheias. Voltar para este lugar é perder a liberdade que eu tanto busquei desde os 17 anos, seja fazendo bicos, ou trabalhando de segunda a sábado geralmente das 6h30 às 20h ao mesmo tempo que terminava a pesquisa de iniciação científica, liderava um núcleo de estudos - mesmo sendo graduando -, tinha de encaminhar o TCC, pensar em projeto de pesquisa para o Mestrado e fazer e apresentar trabalhos em eventos científicos. Ah, ainda teve a organização de um seminário de caráter nacional no meio, em que as minhas mãos tremiam no momento inicial porque carreguei com um amigo uma mesa para o teatro. Ufa!

Principalmente, pesa muito o orgulho. Acho que são seis anos sem pedir dinheiro aos pais e, principalmente, os últimos dois vivendo às minhas custas totalmente. Dá trabalho, gasta-se mais, porém, eu prefiro assim. De pressão já basta a minha. E de perguntas ideias da parentada, eu prefiro omitir a ter que xingar como eu deveria - aguardem-me!

Eu tenho noção de que trabalhei para caramba aqui. Poupei dinheiro para ir aos eventos que escolhia, mesmo fora do país, produzi vários artigos diferentes (inclusive da dissertação) neste período, fiz e participei de coisas por conta própria, para além das obrigações multitarefas do Cepos e creio ter conquistado o respeito acadêmico de quem me conheceu, mesmo sendo de linhas teóricas eu diria que totalmente diferentes. Em parte, fico a pensar o que será que eu fiz de errado. Tento respeitar todo mundo, as ausências, as falhas comigo, até mesmo as decisões que vão me destroçar, porque cada um tem o direito de fazer as suas escolhas, mesmo que isso atrapalhe as minhas.

E isso é outros dos meus graves problemas: ter princípios tão marcados. Preocupo-me muito em não ter atitudes que sejam contrastantes para aquilo que penso, acredito e falo que deva ser para uma sociedade realmente justa, livre e igualitária. Quantas vezes não me pego olhando ao passado, ainda que muito recente, e penso o porquê não dei a resposta que realmente pensei em dar, mas que contei até 10 milhões para fazer?

Tenho pensado muito em deixar de ser assim. Primeiro porque no Rio Grande do Sul eu estive mais maleável com amizades, alíás, muito mais disposto a isso que em Maceió e saio com a sensação de que ainda não deve ser assim. Ser bonzinho - diminutivo que desagrega uma possível qualidade - não rola. O processo para o lado sombrio da força a partir do primeiro pé no avião pode partir para um momento definitivo quanto a isso.

Uma das decisões é me afastar de projetos coletivos. Estou nisto desde a graduação e, com raríssimas exceções - uma das quais citadas acima, quando tratei do ciclo sobre futebol -, eu sempre foi me dedicar muito às coisas e não ver muito compromisso ao redor. Quantas férias eu perdi por conta de coisas assim? Pior, foi rever problemas de desestruturação por motivos banais e aparecer como alguém que conjectura para "blocar", quando acho eu que nunca fiz isso. Nem preciso dizer a minha raiva de defender algo na tarde de um dia em outro Estado e perceber o quanto fui idiota na noite do mesmo dia ao perceber que a barca poderia ser furada internamente - e facilmente. Discordo totalmente de quem disse - e já disseram para mim - de que nunca hei de encontrar grupos que levam em conta princípios básicos, ao meu ver. Primeiro, que eu vivi ao menos uma exceção disto aqui. Além disso, friso muito que é um tipo de coisa que não tem nada a ver com posição (declarada) político-ideológica. Se eu tivesse experiência partidária seria capaz até de dizer que pode ser o contrário.

Óbvio. Já disse que tenho princípios fortes e não disse que sou uma pessoa de múltiplas prioridades - como comprova o relato sobre os meus múltiplos trabalhos em 2010. Eu tenho muitas dificuldades em desistir das coisas e, como também já comentei, aprendi da pior forma que às vezes é necessário fazê-lo. Por isso, ao menos até eu resolver as questões pessoais, que são de suma sobrevivência, afastei-me de processo coletivos sem remuneração. Como não tenho nenhum remunerado, então afastei-me de todos. Principalmente porque eu dificilmente peço ajuda às pessoas, mesmo nos piores momentos - também exemplificados -, então está na hora de diminuir a naturalidade que eu percebo que eu tenho para ajudar, seja na rua ou em ambientes com colegas e amigos. Claro que a minha consciência abriu uma ou outra raríssima exceção para este período. Tem coisas/pessoas que parecem valer a pena mesmo que tenham causado algumas dores de cabeça e momentos de irritação.

Ah, ia esquecer de dizer que vejo que a minha situação de dúvida de agora tem como grande antagonista eu mesmo. Fui incompetente ao não conseguir construir uma situação bem melhor que a atual. Afinal, sabia que a pior das hipóteses desenhava a minha volta a Maceió após o mestrado e numa situação bem pior do que a que eu vim - quando eu tinha emprego de carteira assinada, ainda que não fosse como jornalista, e uma quantia maior de dinheiro na reserva. Acabei desenhando duas possibilidades e nas duas eu vi uma espécie de auto-boicote.

Na primeira, esqueci totalmente que a semana tinha feriado, fiquei ainda mais doente que já estava - com grande ajuda da derrota do Palmeiras para o Fluminense e a ponto de não saber como consegui fazer a prova de Espanhol - e na única vez que teria que contar com o funcionamento perfeito dos Correios, eles cometeram o erro absurdo de enviar a documentação para Caxias do Sul em vez de Aracaju. E lá se foram dois dias nisso. Deixo claro, até mesmo porque tem pessoas que acham que isso é algo que eu inventei para não ir, por mais que realmente não acreditasse que fosse a melhor coisa do mundo e que não estivesse tão confiante, que eu perdi muito com este problema. Até mesmo porque talvez a volta a Aracaju pudesse recompor um pouco daquilo que ficou tão marcado da primeira saída, o que nem de longe significa que esta seja a minha primeira opção agora. Além disso, gastei dinheiro com autenticação de documentos e com a metade do valor das passagens.

Já na segunda eu tinha certeza que seria muito mais difícil. Outra linha de pesquisa, outra forma de entender a comunicação e uma definição de bolsas "menos formal", como me disseram dia desses. Sabia que não adiantava muito para o "prêmio principal" eu ter publicado tanto e sabia porque antes disso, todas as vezes que temas assim apareciam com a coordenação sempre tentou-se responder como era, além, é claro, dos bastidores - algo que sempre gostei de ficar por dentro. Fiquei muito doente mesmo, a ponto de ficar febril, que não ocorria desde abril de 2011, e vomitar, algo que não ocorria desde que eu era criança. Fiz o que tinha que fazer, mesmo sabendo que seria muito difícil. De início tive a frustração confirmada e depois, mais uma vez, por motivos que não vale citar aqui, tive mais uma comprovação do meu azar histórico. Mais um ponto para a crueldade do Rio Grande do Sul comigo - fazer o que né, eu gerei o pior início de inverno em 15 anos, o pior verão de quase um século e quase fiz nevar em Porto Alegre, algo que só ocorreu em cinco oportunidades em pouco mais de um século!

Ainda bem, ou não, que não bebo nada com álcool, porque senão as últimas semanas teria sido regadas a ele. Não é à toa que este blog ficou repleto de textos e desenhos - sim, isto sempre me ajudou a desanuviar, porém, as coisas para desenhar ficaram em Maceió. Mais um bloqueio criativo para assuntos acadêmicos e aquilo que eu deveria ter feito numa semana demorou um mês para ficar pronto.

Até que tentei não demonstrar o meu total pessimismo quanto ao futuro. Acho até que consegui na maior parte das vezes, mas estou me sentindo quase que "no fundo de um poço sem fundo". Tirando a ida ao Rei Pelé, com quase toda certeza, e talvez a um show de um coral sobre o Luiz Gonzaga, não tenho muita vontade de ver pessoas conhecidas.

Desculpem a honestidade, mas minha prioridade são os meus pais, as minhas avós, um amigo de Maceió e uma colega que está estudando em Salvador. E, vá lá, mais um ou outro que manteve diálogo neste tempo graças à paixão pelo futebol, ainda mais sendo torcedor do CSA e mais ainda sendo torcedor do Palmeiras. Mas estou realmente numa situação de querer fugir de qualquer coisa que me lembre que na verdade eu estou de volta, numa situação pior, daquilo que deixei há dois anos. As "mesmas" pessoas com os mesmos "problemas" e reclamações. As mesmas perguntas idiotas de parentes, alguns dos quais eu não quero ver nem o fio de cabelo.

Pode ser que mude chegando lá, tudo é possível, ainda mais para um idiota que nem eu, mas não quero ouvir que "ao menos você tem..." e "agora você poderá" ou que "você consegue...". Quero algo real. As pessoas acham que para mim as coisas são fáceis e poderão aparecer tanto quanto. Eu sei muito bem como são difíceis e como exigem de mim - por mais que eu goste de fazer muitas coisas ao mesmo tempo mesmo, desde que seja algo que apresente resultados, agora mais que nunca.

Por fim, eu reclamo muito, sou pessimista quase que nato, mas não paro, por mais que o que mais me preocupa no momento é não saber como e por onde recomeçar. De início, a tentativa de uma nova mudança pessoal, provavelmente retomando a sociopatia, por vontade própria, que geralmente as pessoas acreditam que eu tenha assim que me conhecem - e talvez eu tenha mesmo.

* Ah, todos os relatos sobre a passagem por aqui, através da coluna "Em busca do El Dorado" podem ser vista neste link.

Um comentário:

  1. Desejo sucesso no encontro de dias melhores...

    https://www.youtube.com/watch?v=EGF-84r5VHI

    Um forte abraço deste amigo que tem a honra de ter lhe conhecido e a audácia de dizer que sentirá saudades dos momentos de estudo em companhia do silêncio individual que cada um portava consigo.

    Diego Polese

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