sábado, 12 de julho de 2014

[Copa] Tudo estranho

Jogo estranho. Antes mesmo da partida começar e a sensação era de que era menos um jogo que qualquer outro, menos até do que o Van Gaal (argh!) afirmou. Primeiro que a Copa daqui estava acabando e daquela forma melancólica ao extremo. O que foi o hino à capela, cantado trôpego, numa última tentativa de olhar para si e dizer "é, eu sou brasileiro", ainda que sem todo aquele orgulho e aquele amor de outrora.

Eu via tudo em silêncio, como geralmente não costumo fazer nem para a mais simplória partida de Campeonato Carioca que num domingo de início de ano sou obrigado a assistir em casa. Uma piada, um xingamento, uma risada. Nada disso por hoje.

Primeira chance para a Holanda, David Luiz marcando lá na intermediária, enquanto Thiago Silva estava sozinho, puxando o braço do excelente Robben. Meu vizinho gritava "vai, vai!", naquela revolta herdada do jogo de terça-feira. Gritou o gol de Van Persie e tudo. Aliás, por aqui tudo voltara ao normal. Eu com a minha camisa do Palmeiras e o filho deste vizinho com a camisa do Corinthians.

Faço uma pausa para algo que tomou alguns momentos do meu pensamento. O Palmeiras levou 6 a 2 do Mirassol no ano passado pelo Paulista. Lembro ter chegado em casa com o placar já assim num primeiro tempo e esperar para ouvir de novo, pois não acreditava. Não defendia a saída do então técnico porque naquela altura não havia nada melhor. Recuperamos, fizemos uma bola Libertadores com elenco limitado, inclusive.

Fui também a um jogo de volta de mata-mata de Série D cuja ida nos deixara um prejuízo de 5 gols, justamente em 2010 - era como se fosse um time de Copa atuando contra um de pelada, era o comentário. Primeiro tempo, 30 minutos, 2 a 0 para os rivais e pênalti perdido pelo nosso atacante. Uma multidão deixou o estádio. Meu pai e eu ficamos. Empatamos e pela quantidade de chances perdidas até poderíamos ter visto um resultado histórico. Não foi.

Isso para dizer que realmente a sensação é diferente, o sentimento é diferente. Uma coisa é acreditar nas limitações que existiam e estávamos/estamos acostumados, outra em ver o que deveria ser o suprassumo de um futebol tantas vezes campeão apanhar sem demonstrar força alguma.

E lá foi a Holanda marcar o segundo, meu vizinho gritar novamente. Enquanto isso, não sei se na mesma casa ao lado, gritos passaram a surgir a cada rara ameaça brasileira e a cada tentativa de chegada holandesa. Eu permanecia quieto, apesar de tuitar. Como ter raiva, xingar, brigar por aquilo? Não teve nem Olodum para "animar" a torcida antes do jogo (ns).

Veio o segundo tempo, o Jô continuava lá. E aí não tinha como permanecer quieto. Muito erro de posicionamento, jogador pulando como se fosse uma piscina, erros de passes simples e o Jô lá de titular, atuando por 90 minutos com a camisa da CBF numa Copa do Mundo e eu vendo pela TV. Não tinha como permanecer calado, ainda que falando e xingando muito menos que o normal. Enquanto a torcida, como sempre foi de se esperar quando se sabia que a Copa era aqui, tinha vergonha de vaiar, de gritar um tradicional "time sem vergonha".

Até que veio o terceiro gol. As minhas palmas surgiram para a Holanda, cujo futebol burocrático, baseado no se fingir de morto até a hora do bote, mas com um Robben espetacular, ainda que mergulhador, a levara para uma campanha invicta até ali e com todo o merecimento, enquanto que do outro lado os números mostravam 3 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, com a defesa mais vazada da história da seleção canarinho, a mais desde 1986 em Copas do Mundo.

Não à toa vi tantas camisas da Argentina nos camelôs por aqui. Como em 1998, independente do resultado da final amanhã, veremos mais brasileiros torcendo por outras seleções desde o início nos próximos mundiais. Curioso é ver em alguns comentários, e até posts de jogadores de outros países, pessoas que nos lembram da nossa história, dos nossos craques. Só lembramos do Pelé, o grande detentor do legado futebolístico desta Copa para os de amarelo, e porque os argentinos não nos deixam esquecê-lo.

Como comentei no Twitter, não gosto de festas, muito menos fico até o final delas, mas hoje eu entendi o que significa o tal "clima de fim de festa". A "Copa das Copas" foi cruel com quem a organizou. Resta ver como limparemos a bagunça.

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