quinta-feira, 19 de junho de 2014

[Copa] Emoção

Esqueçamos a retranca da Grécia e a incapacidade do Japão em furá-la no terceiro 0 a 0 desta Copa. O dia foi de emoções na Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Bem que poderia ir em direção ao coro e falar de Luisito Suárez, autor dos dois gols da vitória uruguaia sobre a Inglaterra. O artilheiro da Premier League da última temporada vem de uma artroscopia no joelho semanas antes do começo do mundial e já estava em campo hoje, ainda que com alguns limites, mas craque como sempre.

Mas não. Firmando pé em ser do contra, comento sobre Serey Die, da Costa do Marfim. Tudo bem que ele acabaria sendo figura importante do jogo ao errar e armar o contra-ataque do segundo gol colombiano, mas antes do jogo, em meio ao hino do seu país, muitas lágrimas percorriam o seu rosto, sem que ninguém soubesse o que ocorria.

Emoção pelo primeiro jogo numa competição deste nível não era. Já que Serey atuou na primeira partida, contra o Japão. Também não era pela participação da torcida marfinense, já que a Colômbia, mais uma vez, tinha torcida preponderante.

A primeira informação veio durante a partida, no tradicional boca-a-boca virtual. O pai dele teria morrido e a notícia veio duas horas antes do jogo. Minutos depois e a informação foi desmentida, afinal o paí dele morrera em 2004. Entretanto, entre a afirmação e a negação, a história seguiu. Pelo que se contou depois, o telefone sem fio começou com o jornal britânico Daily Mail e foi parar num companheiro de time, o volante Zokora, que lamentou a morte do pai do colega.

Esse é um risco sempre visível com as mídias sociais. A velocidade da informação acaba fazendo com que caiamos em notícias falsas, republicando mentiras, o que pode gerar sérios problemas de acordo com o que foi difundido. Percebam que neste caso a fonte inicial foi um jornal conhecido, mas não é algo só de inglês não, que o diga o jornalismo esportivo gaúcho, que já caiu em algumas pegadinhas de torcedores.

O cuidado na apuração, na verificação se tal história é verdadeira, deve ser ainda maior por parte de nós jornalistas, a quem ainda cabe a "aura" de informador com autoridade para isso. Hoje tivemos um caso disso em nível nacional e com um jornalista (re)conhecido. Mario Sergio Conti acabou entrevistando sósia de Felipão e publicou a exclusiva na Folha de S. Paulo e no O Globo. Como costumo dizer quando se trata de respostas, o tempo e espaço são diferentes, não há como excluir o que foi publicado, os efeitos de sentido já foram produzidos, ainda que a ironia para daqui tenha gerado neste caso um efeito maior.

Voltando ao Serey, ele disse depois que a emoção era pela oportunidade de classificar, pela primeira vez, seu país para as oitavas de final. Assim, termino este texto com a declaração do jogador, que dá sinais do quanto o futebol é algo para além dos bilhões que circulam em torno dele (tradução nossa):

"Eu sou alguém muito emotivo. Minha vida até aqui foi difícil, eu pensei em meu pai que faleceu em 2004, eu pensei também na minha vida de miséria. Eu não pensei que eu estaria aqui um dia, que eu jogaria um dia pelo meu país, esta emoção me invadiu. Eu lutei (contra as lágrimas) mas eu não pude. Eu não pensei que isto pudesse ocorrer comigo mas este estado foi mais forte que eu".

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