sexta-feira, 12 de julho de 2013

Da telinha para as arquibancadas

Vi muitas, mas muitas partidas de vôlei nestes 25 anos de vida, fossem nas manhãs, tardes, noites ou madrugadas. Lembro do “Ai, ai, ai, ai, ai/ Ai, ai, ai, ai, ai/ em cima embaixo/ puxa e vai” surgir e ser difundido após o título olímpico da seleção masculina, em 1992. Assim como de estar acordado com os meus pais na semifinal do vôlei feminino nos Jogos de 1996. Mas nunca, nunca mesmo, vi uma partida profissional num ginásio.

Tenho uma ligação tão forte com o futebol, com muita vontade de conhecer os mais variados estádios, nos diferentes lados de arquibancadas, barrancos ou o que quer que seja, que só me dei conta esta semana que para outros esportes - por mais que também goste de quase todos - eu nunca vi. O vôlei é um "absurdo" ainda maior, dada a consolidação do sucesso do esporte nas últimas duas décadas, com excelentes seleções nas mais diversas categorias e pisos e com a Superliga sendo um dos melhores torneios do mundo.

Tudo bem que ainda não temos participantes alagoanos na competição - por mais que isso possa mudar, com o CRB/Maceió Vôlei indicando que participará na próxima temporada da competição feminina -, mas não foram poucas as vezes que a Federação Brasileira trouxe as seleções para cá, especialmente a feminina. Além do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia anualmente aportar por aqui.

Creio que em 2010 quase fui para um dos amistosos do time feminino, mas por conta do trabalho, correria o risco de não chegar a tempo. Desta vez foi diferente. Apesar de só ter visto informações sobre a vinda da seleção bicampeã olímpica esta semana, deu tempo de me organizar para ir. Ainda mais que o Ginásio do SESI - cujo nome completo não vale a pena falar - fica ao lado do Estádio Rei Pelé.

ESPORTE TELEVISIVO
Além dos resultados após a parceria com o Banco do Brasil, o vôlei é o esporte que mais alterou a sua estrutura para caber na transmissão televisiva. Para quem não lembra, ou não era nascido, até a década de 1990 havia a vantagem, que fazia com que para pontuar fosse necessário duas jogadas em seu favor e as partidas, ainda que cada set com até 15 pontos, pudessem demorar muito.

A retirada da necessidade da vantagem acelerou o jogo, que pôde estar na grade de programação das emissoras de TV. Além disso, dos 15, passou-se aos 25 pontos para o fechamento de sets normais. Houve também outros aperfeiçoamentos das regras, como a presença de um atleta só para defender, líbero, que dá mais emoção às partidas; e a presença do técnico à beira da quadra, em área delimitada, assim como no futebol, com o estilo Bernardinho de ser chamando muita atenção para closes. Por fim, desde o ano passado, pode-se tocar na rede, desde que não na borda, o que mantém a "bola rolando" por mais tempo.

Por mais que não curta muito isso, o animador da plateia, com o "Zecaré" em quadra, serve para estimular o público desde antes de a partida iniciar. Inclusive, alguns gritos, como o pedido de ace, foram ensaiados antes do jogo.

A presença das novas tecnologias de informação e comunicação na estrutura decisiva da partida também está sendo utilizada. Nas finais da Superliga deste ano cada time podia recorrer à ajuda tecnológica para questionar alguns pontos - isso também vem sendo utilizado nas partidas da seleção masculina da Polônia na Liga Mundial, até mesmo porque é criação deles. Ainda assim, houve falhas pontuais, já que não se podia questionar quando a bola tocava no bloqueio ou o jogador batia o braço na fita da rede.


EXPERIÊNCIA
Ontem, pude perceber o quanto a maioria das pessoas consegue acompanhar tranquilamente o desenrolar do jogo, sem tantas necessidades de regras e interpretações - a não ser na condução - como no futebol. Há também a praticidade dos tempos modernos de levar a quadra junto, com os tapetes sendo sobrepostos à estrutura já existente, o que facilita tours pelo Brasil, como este da seleção feminina, que joga em Natal-RN no domingo.

Como se isso não bastasse, de um lado havia um senhor que acompanhava e entendia de vôlei; do outro, algumas mulheres que praticam vôlei. Para "comentarista de poltrona" que nem eu, muito bom, já que tinha com quem conversar quando a levantadora holandesa ia (muito) bem, quando a recepção brasileira ia mal e tudo o mais.

Ao nosso lado, o setor vip do ginásio, para os convidados, com direito a lanche e muito espaço à disposição, já que nem todos estiverem presentes. Enquanto o ginásio estava superlotado, um setor estava com muitos bancos vazios. Um homem que estava exatamente ao lado reclamou por não deixarem ninguém passar já que estava vazio. A minha resposta foi: "nada melhor para representar Alagoas, quem paga não pode nem sentar".
Time em campo, todo mundo cantando o hino mesmo após o corte da música, como já é normal para este esporte, mas com muito mais força que anteriormente. Fiquei observando o treinador holandês durante a execução do hino brasileiro. Ele olhou várias vezes, admirado, para as arquibancadas. Com certeza, o canto gritado no futebol, na Copa das Confederações, fez com que isso chamasse mais atenção para o fato ocorrendo também em outros esportes.

Na partida, o Brasil voltava com jogadoras bicampeãs olímpicas, após as jogadoras mais novas terem ganho dois títulos fora do país, no início desta preparação para o Grand Prix. De jogadoras com passagens no time titular já desde o início, apenas Fê Garay e Dani Lins, jogando ao lado de atletas mais novas, como Pri Daroit. A líbero do jogo foi Camila Brait, porque Fabi estava com dores no joelho esquerdo.

Do outro lado, um time holandês muito novo, e visivelmente queimado do sol, que se aproveitou da falta de maior entrosamento do adversário e, principalmente, do desconhecimento sobre a equipe. A recepção não encaixou e o Brasil perdeu o primeiro set por 25 a 18, em quase 25 minutos.

Como a torcida brasileira batia palmas e pedia ace a cada saque, as jogadoras reservas da Holanda resolveram fazer o mesmo, provocando a torcida aos risos após as sonoras vaias que vinham como resposta.

Perto de mim, um pouco mais acima, uma mulher gritava muito, enquanto o pai dela reclamava a cada erro de Fê Garay, sobrando ao longo do jogo até mesmo para o técnico que "simplesmente" tem 3 títulos olímpicos no currículo. Um "tira esse técnico" foi ouvido ainda no primeiro set!

Apesar de estar acompanhada de Nathália, Fabiana e Thaysa, dentre outras, na reserva, Sheila teve o seu nome gritado várias vezes, especialmente quando o Brasil estava perdendo. A craque fingia que não era com ela, talvez até mesmo como respeito às companheiras de quadra, e só deu um rápido tchauzinho tímido para as arquibancadas às costas dela, enquanto as colegas provocavam.

No segundo set, José Roberto Guimarães a colocou, com a levantadora Fabíola. A primeira bola foi num saque, que ela queimou ao pisar na linha. Na segunda, toda a habilidade para explorar o bloqueio e marcar o ponto, para delírio da torcida que encheu tanto o Ginásio que havia, pelo menos, mais 100 pessoas espremidas nas extremidades entre arquibancadas. Com 25 a 23, o Brasil fechou o segundo set após 30 minutos.
No terceiro, nova entrada de Sheila e nova vitória do Brasil, que conseguiu correr atrás do placar a tempo e fechou o set em 28 a 26 após 34 minutos. A estratégia das reservas da Holanda passou a ser gritar e bater palmas enquanto o Brasil sacava, para tentar forçar a vaia para as jogadoras brasileiras, o que não deu muito certo.

É muito estranho ver o público reclamando do juiz por não ter visto possíveis conduções das jogadoras holandesas, mas ninguém puxar o tradicionalíssimo, mesmo para eventos "padrão FIFA", "Ei, juiz, vá tomar no...". Além dos outros também tradicionais xingamentos individuais.

O quarto set começou bem ruim para o Brasil, com as holandesas abrindo 7 a 1. Zé Roberto colocou Thaysa, que foi para o saque e tirou a diferença de 10 a 6, virando para 12 a 10. Thaysa foi a principal jogadora do set por conta do saque ter complicado a recepção holandesa. Além disso, já desde o 3º set, a forçada holandesa tanto em Fê Garay quanto em Pri Daroit já parava em boas recepções, assim como, Monique passou a acertar todas as bolas.

Enquanto isso, na metade do set, Nathália resolveu relaxar e se sentar num dos bancos, ao contrário das demais colegas que seguiam em pé no espaço reservado para elas, que riram muito da situação, enquanto a jogadora do Rio de Janeiro oferecia copos d'água para as titulares a cada parada técnica.
Assim, esse foi o set mais tranquilo do jogo, com vitória por 25 a 22 após 27 minutos. 3 sets a 1 para o Brasil num jogo bem mais complicado que todas aquelas pessoas no ginásio esperavam. Ainda assim, a festa foi garantida.


SEGUNDO AMISTOSO
Brasil e Holanda voltam ao Ginásio do SESI às 20h desta sexta-feira para a segunda partida. Desta vez, os ingressos não foram postos à venda, porque teriam sido distribuídos nas escolas públicas, como uma das recompensas da parceria com o Governo do Estado e com a prefeitura de Maceió. Como já dito, no domingo as duas seleções voltam a se enfrentar em Natal-RN.

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