segunda-feira, 15 de julho de 2013

[Baú do Por Trás do Gol] Carta de um campeão sul-americano


Este texto não era bem do Por Trás do Gol, surgiu de um desafio da comunidade Olé Olé. Precisava-se escrever algo sobre a final da Taça Libertadores da América de 1979, entre Olímpia e Boca Juniors. Lembrei a tempo de resgatar do baú antes de mais uma final com a presença dos paraguaios, desta vez com o Atlético-MG sendo o time que busca seu primeiro título.

“Já são trinta anos e não dá para tirar da memória. 

A nossa responsabilidade era enorme, já que a única vez que fizemos uma final de Libertadores foi em 1960, derrota para o Peñarol - que também nos eliminaria, só que nas semifinais, da edição seguinte. 

O Olímpia carregava este fardo nas costas desde a criação do torneio. Você tem dúvida que estávamos nervosos?

As pernas tremiam no vestiário só de ouvir o barulho da nossa torcida no primeiro jogo. Era muita emoção, muita responsabilidade. O nosso adversário era nada mais nada menos que o atual bicampeão da Taça Libertadores, o Boca Juniors!

Quando adentramos no gramado do Defensores del Chaco e vimos a festa de 50 mil alvinegros nas arquibancadas, sentimos que naquele dia não jogaríamos apenas por nós. Era um pedaço da nação que acreditava na nossa vitória.

Tremer? Agora não mais. É no campo que podemos resolver os nossos problemas e fazer com que tanta gente esqueça dos seus, ao menos por 90 minutos. A torcida era mais do que nosso 12º jogador, ela nos empurrava.

Com o apito do juiz, partimos para cima dos argentinos. Logo no início do jogo conseguimos um gol, que foi o reflexo da nossa vontade. A bola batia em todo mundo, mas não permitia que alguém a matasse, ajeitasse. Até que Ayuno conseguiu colocá-la no gol. A torcida explodiu!

Sabíamos da importância de sair de casa com a vitória, mas quantos mais gols, melhor. E o aviso de que o fardo sairia de cima de nós veio ainda no primeiro tempo. Num chute rasteiro em cobrança de falta de Piazza, a bola resvalou num morrinho no gramado após vir na altura do chão por muitos metros. O goleiro argentino não teve tempo de se recuperar e a bola entrou.

Não tirarei da memória o final daquela nossa vitória por 2 a 0. O quanto nossa torcida vibrava! 

Foi a semana mais demorada das nossas vidas. Era difícil manter a cabeça no lugar e entender que tanta alegria poderia resultar numa grande frustração no segundo jogo, na casa deles, num dos estádios mais perturbadores do mundo.

Se hoje a Bombonera já assusta os rivais com garrafas, gritos, pulos, cusparadas, imagina como era naquela época, sem todos esses limites impostos pela FIFA! Aquilo foi um caldeirão com 65 mil ingredientes dentro!

Cada bola tirada, cada minuto passado trazia a sensação de que não tinha jeito, seríamos campeões!

Os minutos pareciam se arrastar no final do segundo tempo. O nervosismo estava estampado nas caras dos jogadores, da comissão técnica, dos torcedores. Uns querendo que a partida acabasse e outros esperando por um milagre de dois rápidos gols.

O árbitro parece ter escutado as nossas preces e encerrou a partida antes dos 45 minutos. Pular, gritar, abraçar os companheiros, tirar a camisa, ir à direção aos nossos poucos torcedores lá presentes,... A alegria era tanta que não tinha como escolher qual das coisas fazer.

O mais importante estava feito, o Olímpia poderia dizer que era campeão da Libertadores!

Entramos na história do clube, que ainda venceu os torneios de 1990 e 2002. Ah, este foi em cima de um dos times do seu Brasil e só não foi mais emocionante que o que conquistamos, porque aquele foi o primeiro.

Se a história só trata dos campeões, com 19 anos de atraso colocamos o Olímpia na biografia do futebol sul-americano.”

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