quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O que escrever sobre "2001: Uma odisseia no espaço?"

Difícil. Não tem palavra melhor para designar, após uma primeira recepção, o filme dirigido por Stanley Kubrick, com roteiro em coautoria com Arthur C. Clark (que escrevera o livro). Se estou escrevendo isso em 2012, imagino a sensação que 2001: Uma odisseia no espaço causou nas pessoas que saíam das salas de cinema em 1968...

Assisti ao filme pela primeira vez na semana passada, em três partes por conta de outras atividades e do cansaço: quinta à noite e sexta à tarde e à noite. Após vê-lo filme, já madrugada adentro, fiquei sem qualquer reação. Muitos questionamentos passaram pela cabeça, em especial por conta do final inexplicável. O que raios significava tudo aquilo? O que uma coisa tem a ver com a outra? O que afinal eles queriam dizer com esse filme?

Óbvio que eu sabia que esse é um clássico do cinema, com cenas que foram retransmitidas nos mais variados contextos ao longo desses quase 44 anos, mas, com toda certeza, não o havia visto antes e creio que nem teria como. De Kubrick, vi De olhos bem fechados (1999), seu último filme, e Laranja Mecânica (1971) - o qual estou há mais de um ano querendo rever - na época da graduação. Filmes bem interessantes, sendo o segundo também um clássico da filmografia mundial. Mas nada como 2001.

No sábado à noite/madrugada, revi o filme por inteiro, só que de uma tacada só, para ter certeza que eu não tinha perdido algo por conta da divisão que fizera nos dias anteriores. É claro que numa segunda recepção você acaba por tentar pegar elementos comuns das partes que o formam e estabelecer um encadeamento entre eles. Depois você sai com "ah, talvez seja isso o que eles querem dizer".

Talvez. Na ânsia por mais informação, fui pesquisar na internet textos - e há muitos... - que fazem a análise do filme. Tem alguns que analisam somente a tecnologia, outros a música utilizada. Neste caso com obras de Strauss Jr., Richard Strauss, Ligeti e Katchaturian que se encaixam perfeitamente nos momentos do filme, com uma junção entre música e ruído quando necessário - além do fato de Kubrick ter contratado Arthur North para fazer a trilha e desistir após utilizar os clássicos no momento da montagem; e do boato da negação do Pink Floyd de fazer a trilha, o que gerou arrependimentos futuros. Na empolgação acabei baixando todas as músicas do filme...

Um texto bastante interessando veio do site/blog Saindo da Matrix, que traz várias relações e boatos sobre os significados de cenas apresentadas no filme e algumas questões de bastidores, que envolveram a produção desta grande obra cinematográfica. Outro texto legal foi o de Rodrigo Cunha, do Cineplayers, que tranquiliza qualquer um em seu início: "Não estranhe se, assim que terminar de assistir a 2001: Uma Odisséia no Espaço, a sensação que ficar seja de perplexidade, estranheza, incerteza. Isso é normal, afinal, estamos falando de uma (se não for a) das obras mais complexas da história do cinema".

Clarke, co-roteirista do filme foi enfático sobre a ideia do filme em criar mais questionamentos do que respostas: "Se alguém entender o filme da primeira vez, nossas intenções terão falhado". Na época ele dividiu a crítica justamente pelo estranhamento causado, vencendo apenas o Oscar de efeitos visuais dentre as suas seis indicações ao prêmio.

FILME
O filme é dividido em algumas partes: a aurora do homem, que é a primeira vez que o monólito aparece, há 4 milhões de anos, sendo o responsável para que nossos ancestrais percebessem novas possibilidades de controlar a natureza, finalizando com a clássica cena do osso sendo jogado ao céu... que dá origem a um satélite e aos diálogos realizados na Estação Espacial que, mesmo em tempos de Guerra Fria - e muita guerra aeroespacial - apresenta um cientista estadunidense conversando com soviéticos, ainda que "escondendo o jogo"; em seguida, há a visita à lua e o reencontro com o monólito, enterrado de propósito ali e que acaba emitindo ondas eletromagnéticas para Júpiter após, aparentemente, sofrer interferência de uma máquina fotográfica; 18 meses depois, temos a missão a Júpiter e conhecemos a nave comandada pelo supercomputador HAL 9000, cuja inteligência artificial com sensibilidade dá a tônica, e deu muita fama a este nome, em meio aos insensíveis astronautas Dave e Frankie; por fim, a viagem alucinatória para Júpiter, com o monólito enviando Dave a uma viagem por si próprio, para formar uma espécie de raça humana evoluída, da mesma forma que ocorreu com os macacos do início.

Resumão à parte, Kubrick também deixou claro o intuito de se realizar uma viagem por dentro do homem, "numa experiência altamente subjetiva", entendo a necessidade de sairmos da atual fase do homem, situada entre o período inicial mostrado no filme e o que aparece no final. Os astronautas, sem muito diálogo e sentimento, sendo HAL mais orgulhoso em entrevista para a BBC que eles, como exemplos claros disso: homem sem sentimento e com muita confiança na máquina para controlar tudo.

O diretor demonstrou assim as suas intenções com o filme, resumindo um pouco das sensações que temos com ele: 

"Eu tentei criar uma experiência visual, que se desviasse do campo das palavras e penetrasse diretamente no subconsciente com um teor emocional e filosófico... Projetei o filme para ser uma experiência subjetiva intensa, que atinja o espectador num nível profundo de consciência, exatamente como a música faz... Você está livre para especular como quiser sobre o sentido filosófico e alegórico do filme".

E ele fez isso com uma qualidade de imagem impressionante, especialmente se levarmos em consideração que 2001 foi feito numa época com frágeis efeitos visuais. Basta lembrarmos que outro clássico nestes termos, Star Wars, foi criado por George Lucas apenas no final da década seguinte! Isso para não falar de HD, captação e edição digital ou em 3D, disponíveis atualmente. As cenas da Lua e do espaço impressionam pela capacidade de antecipar os acontecimentos, já que as primeiras imagens do solo lunar, com a Apolo XI, só em 1969 - para quem acredita que os homens pisaram no satélite da Terra. Sem falar nas imagens do planeta pelo alto, azulzinho, do espaço e dos demais planetas... Magníficas!

Sobre a discussão referente à IBM, que era uma potência industrial superior até ao que são hoje Google, Microsoft ou Apple, logo no início reparei que a primeira nave traz descaradamente a marca da empresa estadunidense. De início, entendi que poderia ter ocorrido algum marketing, afinal aparece também a marca da empresa área Panam durante a ida dos cientistas à Lua.

Só quando li os textos referentes ao filme que vi que há fortes críticas à IBM através do supercomputador HAL e de suas atitudes para "garantir que a missão seja cumprida". Sendo cada letra formada por uma anterior à IBM e uma sombra com a sigla da empresa aparecendo no capacete de Dave no momento de crise.

Há também quem diga que a verdadeira "viagem" que presenciamos no final, com imagens psicodélicas em grande montante, seja uma forma de desintoxicação desse mundo dependente das máquinas - apesar que houve quem acreditasse que fosse uma maneira de manipulação mental, um alucinógeno estadunidense para o resto do mundo [ao menos para mim não deu certo...].

Enfim, várias são as interpretações possíveis e passíveis, sempre com prováveis questionamentos. Tão acostumados com a importância da imagem, curiosamente nos percebemos confusos quando não há o discurso oral rotineiro para nos guiar, o que apresenta as nossas dificuldades em tratar o som de forma diferente que o normal e, o principal, de ter uma boa assimilação de um obra audiovisual quando é o elemento sonoro que deve nos orientar.

Definitivamente, 2001: Uma odisseia no espaço é um filme de ficção científica a ser visto, revisto, comentado, discutido, reescrito, analisado,...

2 comentários:

  1. Um filme que eu vi apenas uma vez e que foi uma experiência desgastante, sacal até.
    Defenitivamente, verei, tenho que ver de novo. Só não sei quando. Talvez quando eu chegar nele na listagem dos 1001 para ver antes de morrer.

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  2. Bruno, que rapidez. Estava dando uma segunda revisada e já tinha uma leitura marcada nas Estatísticas. Valeu mesmo...

    A sensação inicial é essa mesmo, de muito desgaste. Resolvi rever justamente para tentar entender o quão bom é o filme, que todos dizem que se há algo de perfeito seria ele: imagens, (poucos) diálogos, músicas e pausas para a respiração ou para gerar uma agonia.

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