terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A chance perdida de "Assalto ao Banco Central"

O primeiro filme que assisti em 2012 foi "Assalto ao Banco Central". Não que o tenha escolhido para sê-lo, até mesmo porque o pouco que havia lido a respeito dele não me incentivou a ir ao cinema, nem muito menos a buscá-lo na internet posteriormente, por mais que a história em si seja bem interessante. Fato é que como visitante no primeiro dia do ano, este foi o filme que estavam assistindo e que pude ver por completo.

Vamos "fingir" que o longa não é baseado em fatos reais. A história sofre de vários vícios, em minha opinião nada especializada, das produções brasileiras. Se bem que o fato de ser co-produzida pela Globo Filmes e com direção de um diretor de novelas (Marcos Paulo) já caminhem a possibilidade de o filme seguir o rumo da comédia, que vai trazer os elementos cotidianos "corruptos" e "corruptíveis" brasileiros para a tela. Por mais que traga nomes rodados em outras (boas) produções de cinema, casos de Hermila Guedes, Gero Camilo e Milhem Cortaz.

Neste caso, ainda houve a forma como o roteiro foi construído, através de um início em que se mesclava as investigações sobre um crime e o desenvolvimento das atividades que gerariam o crime a ser investigado. Óbvio que não foi complicado perceber a diferença entre uma coisa e outra - ao contrário, por exemplo, da micro-série global "A Pedra do Reino", uma das coisas mais polêmicas quanto à forma já produzidas pela Rede Globo. Entretanto, pareceu-me tão pobre a forma como isso foi utilizado, de maneira a não me gerar a curiosidade necessária para entender determinadas falas ou estados de saúde dos personagens que eram interrogados ao longo do filme. O que poderia ser a mudança do que é o "normal" para este tipo de produção caracterizado no parágrafo anterior acabou sendo um elemento que piorou a "fórmula mágica".

BASEADO EM HISTÓRIA REAL, ENTÃO...
O filme conta a história do maior assalto a banco já realizado no Brasil. Em 06 de agosto de 2006, o Banco Central de Fortaleza amanheceu sem cerca de R$ 164 milhões, em notas antigas de R$ 50,00, roubadas através de um buraco numa de suas salas-cofre, num esquema que utilizou uma empresa de fachada que vendia grama artificial e que se instalou durante alguns meses numa casa. A Polícia Federal encontrou um esquema de profissional, já que o túnel construído tinha cerca de 1,50m, com iluminação bem feita e boa circulação de ar. A terra que saía era justificada pelo ramo empresarial e os vizinhos pouco, ou nada, estranharam os novos vizinhos.

Dias depois, a Polícia começava a "achar" rastros do dinheiro. Alguns dos trabalhadores da obra gastaram boa parte de sua parte de uma só vez e pagando à vista por carros e imóveis, o que facilitou o rastreio, já que ninguém em sã consciência utiliza, por exemplo, R$ 1 milhão em dinheiro vivo para pagar uma casa... Ainda assim, nem todos foram presos, com apenas R$ 20 milhões sendo recuperados de toda a quantidade roubada - provavelmente a maior parte, de quem esquematizou o assalto, deve ter saído do Brasil via off shores, entrando em paraísos fiscais e voltando lavadinha.

Com este fato real para embasar, temos a possibilidade de um grande acontecimento, com muita construção lógica, articulação entre grandes mentes criminosas, pequenos bandidos e trabalhadores braçais com experiência naquela atividade. Como resultado final, o maior assalto a banco da história! Ação e emoção, com a busca da PF posterior a isso, dando bom pano para a manga, inclusive para saber o que houve depois daquele fato. Quiçá, um filme à lá Carandiru (Hector Babenco, 2003) em termos de qualidade, mesmo com um pouco de comédia, mas na medida certa.

É claro que eu ri de algumas cenas. Devanildo (Vinícius Oliveira - Central do Brasil) é um dos mais presentes por conta da sua falta de jeito quanto àquilo. De nada saber no início, ele passa a "enganar" o seu pastor e entregar apenas uma parte à igreja (neopentecostal) para se livrar do pecado de ter participado do roubo.

Outras críticas sociais ao país também apareceram: policiais corruptos - com um policial expulso da corporação (Leo - Heitor Martinez) participando direto do esquema de roubo; a segurança terceirizada que funciona de forma precária por achar que nunca roubariam uma filial do BC, já que não gravavam as imagens de vídeo e deixando zonas "cegas"; e o tradicional "prêmio" a quem cumpre com as investigações, como a exoneração de um dos delegados,...

Os nomes televisivos que deveriam dar o peso necessário ao filme, inclusive em termos de atração para o público ir ao cinema, casos de Giulia Gam (Delegada Assistente Telma Monteiro) e Lima Duarte  (Delegado Chico Amorim) fizeram interpretações que podem até ser boas para uma participação na TV, mas que deixaram muito a se questionar por não fazer crível o processo de investigação como de fato deve ser aqui no Brasil. Pareceu uma tentativa de misturar a série CSI com algo mais factível, mas que ainda assim ficou meio que estereotipado [mesmo que não seja essa a palavra que queira empregar aqui].

Algo bem interessante foram as "aulas" sobre a luta de classes realizada pelo engenheiro Doutor (Tonico Pereira), que chega até a incentivar um dos trabalhadores para se revoltar contra qualquer forma de opressão. Porém, para variar, o filme mostra depois que isso não deve ser feito. Já que o revoltado é punido e ninguém deseja repetir o seu ato depois disso. Além disso, Doutor não compre com a promessa de "ajudar a dividir a renda no país" com a sua parte. Bem longe disso...

Por fim, outra coisa bem legal foi a discussão que tivemos após o filme. Como disse um dos amigos que viram comigo, realizou-se, naturalmente, um cine-debate sobre o assalto ao Banco Central, erros e acertos na formulação do esquema, nas formas de se investigar e julgar no Brasil - onde boa parte do dinheiro roubou nunca volta - e até mesmo como o próprio filme relatou isso. O que sempre é bem legal.

Pelo que vi numa matéria de agosto, "Assalto ao Banco Central" teve, pelo menos, 1,6 milhão de espectadores, creio eu que mais por conta da própria história que serviu como base que por uma qualidade do filme - por mais que (quase sempre) número de espectadores esteja longe de significar qualidade do produto audiovisual.

Um comentário:

  1. E já foi confirmada uma continuação. Sabe-se lá em que vai se basear o roteiro, o cinema brasileiro começa a copiar as sequências caça-níqueis tão populares nos Estados Unidos.

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