quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Após um ano... Valeu a pena

Coloquemos o tempo para voltar em mais de um ano...

O Obama ainda não havia vencido as eleições estadunidenses; o Palmeiras ainda tinha chance de ganhar o título brasileiro, enquanto o São Paulo tinha 0,5% de chances; Dunga tinha grandes chances de não terminar o ano como técnico da Seleção; eu ainda "estava" na gestão do Diretório Acadêmico do curso...

Mas o destaque dessa introdução seria digna para a coluna "Iraaaaaaaaado!!!". Comprei com um colega da Universidade um ingresso para o espetáculo "Retrato Cantado do São Francisco", realizado pelo Coral da antiga Escola Técnica Federal de Alagoas (que na época era Cefet e agora é Ifal) - Coretfal. Seria num sábado às 19h.

Acho que tive alguma reunião à tarde que me forçou a chegar em casa correndo para tomar banho e ir ao ponto-de-ônibus. Fato é que cheguei ao ponto com 20 minutos de reserva, caso o ônibus demorasse e ainda com a possibilidade de pegar outro, mesmo que tivesse que andar um pouco até chegar ao Centro de Convenções (Centro Cultural de Exposições Ruth Cardoso).

Mas quem mora em um lugar periférico de um bairro periférico numa capital de Estado periférico sabe o que é depender de condução, especialmente nos finais de semana. Resultado, esperei no ponto até 19h12, quando quatro micro-ônibus da linha J.Leão-Ponta Verde passaram do outro lado para dar a volta pelo Trapiche e finalmente retornar. O que já seria tarde para mim.

Mesmo as outras possibilidades de linha só começaram a passar cerca de cinco minutos antes disso, o que também não daria para chegar na hora. E eu ainda prezo por chegar na hora, evitar filas, possíveis tumultos etc.

UM ANO DEPOIS...
A oportunidade seguinte só reapareceu agora, no último final de semana, quando o espetáculo "Retrato Cantato do São Francisco" encerraria a quarta edição do Encontro Internacional de Coros em Alagoas (IV Encoral), também num sábado.

Desta vez sai uma hora mais cedo, cheguei trinta minutos antes e, finalmente, consegui ver o espetáculo, que muito merecia um post aqui no Dialética.

Primeiro, por tratar do Rio São Francisco, algo que tanto admirei ao longo de quase dez anos através de viagens constantes entre Aracaju e Maceió, e que representava geograficamente o elo que me unia a um Estado que deixei com apenas dois anos. O mesmo rio que vi, com tristeza, secar cada vez mais ao longo dos anos.

Segundo, pela grande apresentação montada e dirigida por René Guerra e com Fátima Menezes como maestrina. Os coralistas "foram introduzidos" nas regiões ribeirinhas através de elementos cenográficos e, principalmente, com o diálogo das canções com as pessoas que vivem próximo e necessitam do "Velho Chico".

Antes de qualquer coisa é necessário afirmar que apesar de surgir no mesmo momento da questão da transposição do rio, a organização do Coretfal afirma que não está voltada para incitar um posicionamento sobre isso. Apesar de indiretamente, principalmente nas falas da comunidade, a crítica estar presente.

PERSONAGENS Esses personagens são o que há de muito interessante e o que deixa mais comentários ao final. Destaco dois deles bastante curiosos não só para mim, mas também para um grupo de pessoas que encontrei no ponto-de-ônibus da volta (duas senhoras, uma mulher, uma jovem com uma filha pequenas e um menino).

Um senhor que conta a história do peixe Homero - se é que eu entendi o nome direito - que sai comendo tudo que vê pela frente: banquinho, cacho de bananas, pedaço de carne. Até que encontram-no à beira-mar morto, pesando 150Kg! Ah, e parece que tinha um homem perto e Homero comeu o homem também. Abriram a barriga de Homero e encontraram o homem sentado no banquinho comendo banana.

É bem provável que tenha esquecido de alguma coisa que Homero comeu, já que só vi uma vez o pescador falando e todos riram muito - principalmente aqueles que conhecem alguém com este nome. As senhoras do ponto riam muito ao lembrar e toda vez que falavam de outra pessoa ou coisa falavam que Homero comeu.

O outro personagem, pelo que soube depois, faleceu antes de ver o espetáculo, que foi apresentado em Piranhas em 2007. Este pescador conta a história de quando ele resolveu trabalhar para ele próprio, já que antes era alugado. Num dia em que pescou tanto que encheu o barco e disse ao pai, aos quinze anos de idade, que ia vender na cidade mesmo nunca tendo feito isso.

Segundo ele, foi tanto dinheiro que ele ficou quinze dias sem trabalhar. Daquele dia em diante não alugaria mais para ninguém. Inocência de um trabalhador que acha que um período menor que as férias de trabalho normal é muita coisa.

CRÍTICA Falei muito de coisas pitorescas, mas na verdade são representações da cultura de um povo, algo que surge alheio a obrigações científicas ou formalizações burocráticas.

Para mim, dentre todos os momentos e canções, deu arrepio foi "Sobradinho", em que a letra afirma que um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.

Principalmente quando em alguns relatos há pescadores que afirmam que antes iam até o mar para pescar porque, como canta "Riacho do Navio", "o Rio São Francisco vai bater no meio do mar", quando hoje é o contrário. O que pode piorar com a transposição, obra passada como um trator sobre os ribeirinhos.

Ficam as lembranças da época em que o São Francisco era cheio d'água a ponto de eu, enquanto criança, temer cair nele. Período em que imagens como a de uma moto atravessando por baixo da ponte entre Porto Real do Colégio-AL e Propriá-SE seria mais uma história de pescador.

Para encerrar este post: "clap, clap, clap" para o Velho Chico e para a apresentação do Coretfal.

5 comentários:

  1. Que bom que você foi prestigiar! Queria muito ter ido, mas minha vida social será inexistente pelos próximos, sei lá, dois anos. Imagino que o espetáculo tenha falado diretamente pra você, lembro que esse blog surgiu como um trabalho da Ufal, e as fotos do São Francisco pintaram por aqui, não foi?

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  2. Que bom que você gostou.

    Eu agradeço em nome da equipe coretfal pelos elogios.

    Pra mim poucas críticas pesam de verdade, a sua está nas que realmente me importam, sejam elas negativas ou positivas.

    Grande abraço :)

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  3. Pois é, Fernanda. Inclusive a foto do São Francisco que está neste post veio do primeiro deles, o do trabalho.

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  4. Isaac, eu é que agradeço. Provavelmente se não te conhecesse ia ficar na vontade de ir ver os espetáculos do coretfal e ficaria em casa na última hora.

    "A Flauta Mágica", há dois ou três anos atrás foi algo que nunca tinha visto na vida. E ainda pude levar o meu pai naquela ocasião para algo que ele também nunca tinha visto.

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  5. Bom, na qualidade de coralista só me resta agradecer e aplaudir o belo texto. Me senti orgulhosa de fazer parte de um espetáculo como o RCSF e ainda mais de ver sob que ótica nos enxergam os espectadores... Obrigada! :))

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