quinta-feira, 14 de junho de 2012

[Por Trás do Gol] Dia de gênio retranqueiro

Estou dentre aqueles que mais do que chateados com a Sociedade Esportiva Palmeiras, estava irritado com Luiz Felipe Scolari. Defendi Felipão o quando pude, dava justificativas de que não havia ninguém no mercado para substituí-lo e tantos outros argumentos possíveis. Até que cheguei no limite ao ver que sempre colocava volantes no segundo tempo, que tem uma verdadeira adoração por jogadores desta posição. Mas ontem, o resultado foi diferente e graças a ele.

Antes de ir para as minhas sensações enquanto, provavelmente, o único palmeirense em São Leopoldo-RS, preciso dizer das dificuldades para se obter informações referentes à torcida visitante para jogos no Estádio Olímpico. Desde que o Palmeiras se classificou para pegar o Grêmio nas semifinais da Copa do Brasil que venho acompanhando o site do tricolor gaúcho para saber como comprar ingresso para o setor visitante. O máximo que consegui ter foi o portão de entrada, mas nada sobre venda de entradas para quem vem de fora.

Na segunda, conversei com um amigo gremista para saber se ele tinha conhecimento sobre o assunto. Ele me prometeu ligar para o atendimento do clube para se informar. Na terça-feira acabei tendo um problema (mais um) com coisas quebrando no apartamento e se já estava chateado por outras coisas, a chateação aumentou o suficiente para não querer me arriscar, com mais gastos, para ir ao jogo.

Ah, é bom que eu diga isso, se o jogo fosse uma hora antes, pelo menos, eu poderia ir para o Olímpico e voltar a tempo de pegar o trem e chegar em São Leopoldo. Como não daria, eu teria que pegar um ônibus para cá depois da meia-noite e descer na outra ponta da Avenida Unisinos ou no Centro da cidade, em ambas opções teria que andar um bocado para chegar no apartamento. Enquanto a estação de trem fica bem perto de onde moro.

Ontem de manhã dei uma última olhada no site do Grêmio e vi: "Todos os ingressos estão vendidos desde segunda-feira". Na minha cabeça "todos" são TODOS. Mas não para o clube gaúcho. O meu amigo me disse que os ingressos de visitantes só seriam vendidos a partir das 19h no estádio e sem direito à meia-entrada. Nem preciso dizer que isso é contra o Estatuto do Torcedor né?

Além disso, como eu tinha que terminar um artigo, até mesmo para diminuir a minha imensa fila de coisas a fazer, ficaria em casa. Pois, se eu fosse, teria que sair às 17h30 e chegaria em torno das 1h30, 2h da manhã. Quer dizer, com o resultado do jogo, será que eu chegaria em casa? (Brincadeira).

JOGO
Como falei para amigos palmeirenses assim que saiu a classificação para esta fase, Kleber jogaria contra o Palmeiras. Aí você junta todo o saudosismo dos épicos confrontos de 1995 e 1996, Luxemburgo agora no comando gremista, uma narração da RBS e o Kleber, o qual me faltam palavrões para descrever, é dá a conta do sentimento deste que vos escreve.

Felipão surpreendeu ao escalar o time com três zagueiros. Na verdade, Henrique era zagueiro quando o Grêmio atacava, mas volante quando o Palmeiras ia ao ataque. Ainda assim, ao menos no primeiro tempo, o Palmeiras pouco atacava. Luan continua excelente como jogador que marca e ataca pelo lado esquerdo, impedindo as subidas do lateral-direito adversário, nesse caso o Gabriel, mas pouco se aproxima de Barcos, que fica isolado no oceano do ataque palmeirense, tentando fazer um pivô para qualquer um que aparecesse. Daniel Carvalho pouco apareceu para criar e João Vitor é mais volante que meia, ainda mais sob a batuta de Felipão.

Um parêntesis. Um ano depois da confusão do ano passado, João Vítor é titular do Palmeiras - ainda que por conta da lesão de Wesley - e Kleber é odiado pela torcida palmeirense, jogador que saiu após brigar para proteger o companheiro...

No primeiro tempo, os times chegaram mais com bolas paradas. O Palmeiras viu a de Marcos Assunção num dia ruim e com uma boa marcação quando ela conseguia passar dos primeiros jogadores de marcação. O Grêmio conseguiu chegar com perigo em algumas delas, como na cobrança de Fernando, que Bruno tocou antes de alcançar a trave.

O segundo tempo foi diferente. Agoniado para marcar um gol que seria muito importante, como diria incansavelmente o comentarista da TV local, o Grêmio tentava, tentava, e pouco conseguia. As entradas de André Lima e Marcelo Moreno no lugar de Kleber e Miralles pouco surtiram efeito. O Palmeiras é quem passou a atacar mais.

Até aí o meu coração estava estranhamente tranquilo. Tinha prometido a mim mesmo dar trabalho aos vizinhos de apartamento e de condomínio. Gritei, reclamei e "orientei" mais que de costume, mas tudo em certo nível. Depois dos 30 minutos, tudo mudou. O coração acelerou como nos bons e velhos tempos e foi assim até o final: em ritmo de corredor de 100 m rasos.

O Grêmio havia colocado Rondinelly no lugar de um criticado Marco Antônio - que tirou o pé numa dividia (e como os gaúchos reclamam disso!). Na melhor oportunidade da partida para os tricolores, faltou marcação no lado direito da defesa palmeirense e saiu um cruzamento limpo para André Lima, sem marcação, dar um peixinho. A bola passou para fora.

Felipão já tinha colocado Cicinho no lugar de Artur, muito preso à defesa. Depois, colocou Mazinho no lugar de Daniel Carvalho para aumentar a movimentação. Na primeira jogada, Cicinho esperou Mazinho passar e deu um passe aproveitando o espaço aberto na defesa. Toque por baixo de Victor e um grito de GOL que provavelmente foi único em São Leopoldo. Pulos e mais pulos e beija-se a camisa com orgulho.

Esse Palmeiras nos preocupa em qualquer situação, das melhores às piores, mas 0 a 0 não é vantagem ou desvantagem para ninguém em torneio com gol qualificado. Ainda mais sendo o Palmeiras. 1 a 0 fora de casa, jogando com uma retranca desgraçada é muito bom. Mas poderia ser melhor. E foi.

Aos 46, numa de suas poucas jogadas certas, novo contra-ataque e Juninho colocou na cabeça de Barcos que, mesmo sem ângulo, cabeceou com força e perícia suficiente para que ela entrasse. Grande grito, muitos pulos a mais e sensação de estar sonhando, que a máquina do tempo que todos queriam ver para relembrar os épicos confrontos de outrora teria trazido um Felipão à moda antiga: retranqueiro, mas vencedor.

Um dos amigos com quem eu moro já foi palmeirense. Parou de torcer para o clube e acompanhar futebol na derrota para o Manchester no Mundial de Clubes de 1999. Até ele voltou a comemorar nossos gols na noite de ontem.

O apito final e a vitória por 2 a 0 em pleno Olímpico trouxe mais comemoração e uma sensação de surpresa, que não foi só minha, mas também dos amigos palmeirenses em Alagoas com quem conversei depois do jogo e até mesmo para o Felipão. Óbvio que "não tem nada ganho", ainda mais com esse Palmeiras que nos deixa mais dúvidas que certeza, mas foi um grande resultado.

Fiquei "pilhado" por algumas horas ainda, lembrando que no dia seguinte à classificação do Palmeiras fui à Unisinos com a camisa, modelo 2011-2012, e vi alguns olhares tortos para mim. Ufa! Na alegria ou na (muita) tristeza, na primeira ou na segunda divisão, em Alagoas, em São Paulo, no Rio Grande do Sul ou em qualquer outra parte do universo, aqui é Palmeiras!

2 comentários:

  1. Jogo sublime, a minha garganta acordou com sequelas de ontem. Bom demais, não gritava assim pelo menos desde a vitória contra o Santos com o gol do Juninho no começo do paulistão.

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  2. Eu nem sei a quanto tempo ficava tão empolgado com o Palmeiras. Talvez só mesmo os confrontos contra o Santos nos últimos anos, como aquele 4 a 3, com eles abrindo 2 a 0, com virada nossa e depois gol no final.
    Eu precisava muito de algo assim nesta semana - e também preciso nas próximas, até a final da Copa do Brasil!

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