segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

[Por Trás do Gol] O peso do nome do pai

Acompanhando com uma maior frequência a Copa São Paulo sub-18 desde sexta-feira, teve uma coisa que muito me incomodou. Olha que é uma eleição difícil, afinal temos um torneio com 96 esquipes - só Roraima não tem representante -, que reflete as enormes diferenças das categorias de base Brasil à fora. Isso quando os clubes não são apenas barrigas de aluguel para empresários.

O que me deixou intrigado foi a supervalorização em torno de Romarinho, de 17 anos, atacante reserva do Vasco da Gama neste torneio. O nome já diz quem é o pai, um dos maiores jogadores que tive a oportunidade de ver jogar e que, apesar de nunca ter jogado pelos meus times - mas muito bem contra - , é um dos meus ídolos no futebol e que muito me surpreendeu em 2011 como deputado federal: Romário.

Na quinta-feira, Romarinho entrou no segundo tempo da estreia do Vasco contra o São Francisco-BA e fez o gol da vitória do time cruzmaltino, que venceu a partida por apertados 3 a 2. Pronto! O narrador da Sportv já gritou que foi um gol no melhor estilo Romário. Pode ser que eu não lembre muito bem, mas desde quando gol de cabeça do "Baixinho" após cobrança de escanteio era "típico" seu?



Enfim, não precisa nem falar que numa simples busca por "Romarinho marca" vão aparecer inúmeras matérias sobre o dia em que o filho do "peixe" foi herói de seu time na competição. Para mim, muito exagero.

Pude acompanhar o jogo de domingo contra o Remo e, apesar de toda a propaganda da TV Brasil, Romarinho continuou no banco de reservas. Voltou a entrar no segundo tempo, para alvoroço do perfil esportivo da emissora estatal no Twitter e da equipe de transmissão. Fez uma grande jogada, ao passar por dois jogadores na entrada da área e sofrer falta, mas, fora isso, nada demais e muito longe de lembrar o pai - até porque é muito novo ainda.

Mesmo jogando pior que os esforçados paraenses, que tiveram menos um jogador quase todo o segundo tempo, o Vasco venceu por 2 a 1 e encaminhou a classificação para a segunda fase. Ao contrário do Flamengo, que é o atual campeão do torneio e foi eliminado ao empatar as três partidas da primeira fase.

MARCA
E é do Flamengo que vem o segundo nome da lista desta Copinha: Matheus, filho de Bebeto. Bem menos valorizado que o vascaíno, a criança que nasceu na época da Copa de 1994, sendo "embalado" na comemoração de um gol, atua desde a sub-15 nas seleções de base do Brasil e, pelo pouco que acompanho, seria melhor que o filho do parceiro de campo de seu pai.

Lembrei logo dele em meio a essa "overdose" de informações sobre Romarinho. Curiosamente, só hoje li algo sobre o Matheus e veio do site de um jornal esportivo espanhol, de Madri, o Marca: "La 'Copinha' de los hijos de Romario e Bebeto".

A matéria de Javier Estepa destaca que ambos já têm contratos profissionais com suas respectivas equipes: Romarinho até 2013 e Matheus até 2014, com multa rescisória de incríveis 14 milhões de euros!

No final do texto, o jornalista destaca algo bastante importante: "Conseguirão ganhar o que um dia conquistaram seus pais? Só o tempo dirá".

FILHOS E PAIS
Filhos de craques e grandes jogadores rodaram e rodam o país e o mundo. Alguns com nenhum destaque para além do nome do genitor, enquanto que outros caminham para superá-lo.

Basta falar dos filhos de Pelé. Edinho foi goleiro (!) do Santos, passando por alguns momentos bons na carreira, como o vice-campeonato brasileiro em 1995, mas não o suficiente para sustentá-la por muito tempo. A esperança da família parece estar mais próxima dos netos (rejeitados) do Rei, que atuam no Paraná e, pelo que comentou-se no início do ano passado, podem ser bons jogadores.

Se não me engano, nas duas edições anteriores da Copinha viu-se Rodrigo Dinamite atuar. Creio que em 2010 pelo Vasco e em 2011 pelo Palmeiras. Em ambos os clubes, ele foi reserva e pouco se destacou para além das relações do sobrenome "profissional" da família.

Mas há casos para lá de positivos. Domingos da Guia, zagueiro da Seleção na Copa de 1938 - quando nosso futebol apareceu para o mundo com o terceiro lugar e a artilharia do "Diamante Negro" Leônidas da Silva - teve como herdeiro Ademir da Guia. Todo bom palmeirense que se preze sabe quem foi em campo o "Divino", atleta que mais atuou na história do clube, mais de 900 partidas, e que participou de dois times que de tão bons foram chamados de Academia - porque, em plena "Era Santos de Pelé", davam aula de se jogar futebol. 

Na Seleção não teve muitas chances - apesar de ter ido à Copa de 1974,- assim como Djalminha, filho do lateral-direito do Brasil nos títulos mundiais de 1958 e 1962, Djalma Santos. [Djalminha é filho de Djalma Dias, zagueiro da Academia palmeirense nos anos 1960, onde também Djalma Santos atuou, com passagens pela seleção brasileira, mas sem ter ido a Copas] O filho foi um bom meio-campo, marcado pela passagem pelo Palmeiras de 1996, mas que perdeu a grande chance na carreira ao dar uma cabeçada em seu treinador no La Coruña (Espanha) às vésperas da Copa de 2002, não sendo chamado por Felipão.

Mais recente ainda, temos o caso de Thiago Alcântara. Filho do "tetracampeão" Mazinho, o meia-atacante do Barcelona foi formado nas categorias de base do clube catalão e atua pela seleção espanhola. Em pouco tempo entre os profissionais já conseguiu o seu espaço de titular entre as estrelas do time azul-grená.

Fora o caso de Neymar. Do pai poucos se lembravam enquanto atleta, enquanto o filho acaba de receber prêmio na grande festa da FIFA, por ter marcado o mais belo gol de 2011.

O que quero dizer com todo este texto é que não adianta colocar pressão nos jovens jogadores achando que eles irão fazer as mesmas coisas que seus pais. Se futebol fosse genético ou algo assim, os filhos aqui citados sempre jogariam nas mesma função dos pais - seja por "faro" de gol ou qualidade dos passes. Além do que, jogador bom só poderia ser gerado por outros bons jogadores, o que está longe de ser verdade.
Utilizar isso para alavancar a audiência, como conhecemos a TV brasileira, até vá lá, mas respeitemos a inteligência do torcedor de futebol. Deixemos que eles, ou nós, identifiquemos uma boa partida de um jogador pelo que ele fez e faz em campo, não simplesmente pela genética que carrega.

Para encerrar este texto, Chico Buarque cantando "O futebol":


2 comentários:

  1. Só dois comentários. O gol do Romarinho contra o São Francisco realmente lembrou o Romário. Apesar de baixinho ele fez muito gol com bom posicionamento na área. É só lembrar o golaço na semifinal de 94 no meio da gigante zaga sueca.
    E o jogador que fez o pênalti na Espanha em 1962 e deu o passo para frente foi o Nílton Santos, a enciclopédia, e não o Djalma Santos.

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  2. Bruno, valeu pela correção do Nilton Santos - não sei onde estava com a cabeça para colocar Djalma Santos... Sobre o Romário, destaquei a questão do escanteio. O gol contra a Suécia foi com bola rolando, como bom centroavante ele estava na área e com bom posicionamento.

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