quinta-feira, 10 de novembro de 2011

[Por Trás do Gol] Ciclo de Palestras Futebol e Cultura - Dia 1

Após três anos, a coluna "Por Trás do Gol" retorna ao meu blog pessoal, agora Dialética Terrestre. Em outubro de 2008, resolvi aceitar o chamado do amigo Homero Dionísio e criar um blog específico sobre futebol. Como já tinha no http://terrainteressados.blogspot.com um espaço com este nome, ele foi repassado para o blog como o todo. A ideia era tratar do futebol de uma maneira diferente, tanto na forma quanto no conteúdo.

Agora, devido a vários fatores - que vocês podem ler -, o PTdoG retorna para este espaço do jeito que começou, uma coluna. Há uma possibilidade, praticamente já acertada, de retornar a ser um blog, só que noutro espaço que não o Ole Ole, algo mais generalista. Enquanto isso, vamos para o que interessa para este texto.

Ciclo de palestras FUTEBOL E CULTURA
Aqui no Rio Grande do Sul só fui a uma partida e não foi em Porto Alegre, cidade da dupla Gre-Nal. A convite do amigo Eduardo Menezes, acompanhei Brasil de Pelotas 0X1 Chapecoense, no Estádio Bento Freitas, a "Baixada". Fiquei impressionado com a recepção para lá de calorosa que eles costumam fazer. 

Infelizmente, por conta de um erro da diretoria, o Xavante foi rebaixado para a Série D. O lateral-direito Cláudio deveria ter pago uma punição e não atuar na estreia do time contra o Santo André, em que venceu em São Paulo por 3 a 2, e a direção deixou "passar". O time, que terminou a primeira fase com os mesmos oito pontos de Caxias e Santo André, perdeu seis pontos por colocar um atleta de forma irregular e foi rebaixado.

Ainda volto a este tema, e a esta partida, futuramente em outros textos. Além de arranjar tempo para escrever sobre um livro que conta a tragédia que assolou o time no início da temporada de 2009 e que tem tudo a ver com o atual momento do clube.

Ontem, dia 10, tive a minha primeira experiência em território dos "grandes" locais. Curiosamente, numa semana em São Paulo fui a três estádios e vi três jogos diferentes e aqui, em oito meses, nunca havia passado sequer em frente a Olímpico ou Beira-Rio.

A oportunidade, para conhecer um dos dois, veio numa divulgação da Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional (FECI), que vi num dos murais da UNISINOS e que um colega de mestrado enviou por e-mail: Ciclo de palestras FUTEBOL E CULTURA. 

Para quem pesquisa sobre futebol, ótima chance para ficar atualizado e saber como um clube local pensa que pode se dar uma discussão na área. Além disso, excelente oportunidade para tenta captar algumas coisas sobre a estrutura do clube.

Dia 1
- Dascal
Pelo que foi dito, 160 pessoas realizaram a inscrição. Acho que tinham cerca de 80 no início. Com toda certeza, tinham muito mais pessoas na fila para entrar no Gigantinho e assistir ao show do ex-Beatle Ringo Starr. Curiosamente, vi um gremista e um torcedor do Juventude vestidos com as camisas de seus clubes. Deboche natural para a região. Pisa-se no território alheio, mas deixando registrada a sua marca.

A primeira palestra do evento foi com o professor da Universidade de Tel-Aviv Marcelo Dascal. A ideia era que ele tratasse de "O futebol e a filosofia". Porém, e isso não foi uma sensação só minha, Dascal acabou passando por muita coisa, mas bem pouco da relação entre as duas áreas.

Pelas minhas anotações, ele passou pela diferenciação do "futebol mesmo" para o "futebol transformado em negócio", mas optou por destacar o que caracteriza a primeira opção - de forma geral, e o debate mostrou isto, ele tem uma visão apocalíptica pelo que o esporte se tornou. 

Segundo Dascal, há duas preocupações no futebol: a competição (jogo, fanatismo, etc.) e a cooperação, já que sem ela não há resultado algum por se tratar de esporte coletivo. Ele critica fortemente o fato de os esportes em geral terem se tornado uma questão de medição, o que no fundo minimizaria o real valor das pessoas.

No fim ele apresentou um conceito que deve ser o que ele defende em todos os lugares: "colonização da mente". Para ele, o futebol, a televisão e outros elementos facilitariam uma nova forma de "manipulação" ou colonização. Enfim, assunto para uma farta discussão que, confesso, não me vi estimulado a tal naquele momento - e, sinceramente, por achar que não teria boas respostas.

A parte mais legal foi quando ele disse que era torcedor corintiano - mesmo que depois tenha falado que o segundo time era o Inter. Sentado atrás de mim, um colorado falou de 2005 - Marcio Rezende de Freitas não dando pênalti em Tinga e o expulsando; caso Edilson Pereira de Carvalho e partidas anuladas,...

- Donald Schüler
A segunda apresentação foi do professor Donald Schüler (PUC-RS/UFRGS), que seria sobre "A filosofia do futebol". Indiscutivelmente, ele sabe falar em público, contando histórias sobre fictícias, ou não, partidas de futebol da sua infância, histórias da sua atual vida pessoal e puxando alguns teóricos para a roda.

Schüler "ganhou" o espaço ao dizer que não era torcedor fanático, mas a esposa era, fazendo com que todos os filhos e netos torcessem para um time, vestissem as cores dele. Adivinhem qual o time? Sport Club Internacional. Quando ele falou que a família inteira era colorada, salva de palmas ecoou na Sala do Conselho Deliberativo - que, apesar de eu não ter dito ainda, fica dentro do estádio, após o portão 7.

Ele destacou que o futebol é um fenômeno brasileiro, basta verificar o espaço dado nos jornais, em que o craque da rodada pode ganhar uma capa inteira enquanto a presidenta fica com uma notinha. Por isso a opção feita por professores, com liderança do professor da UNISINOS Luiz Rohden, de lançar um livro, no ano que vem, relacionando Filosofia e Futebol.

O que ele defende, em específico, é a capacidade de descentralização do futebol, já a partir da bola, que é colocada no centro no início da partida e depois vai para todos os lugares. A força deste esporte foi trazida também pela falta de capacidade de algum ente público comandá-lo, como o prova a organização para a Copa do Mundo - cujo próprio Internacional já teve, e terá, que engolir alguns sapos. Segundo Schüler, não há poder político que resista à determinação de uma entidade de futebol.

Ele resgatou Pitágoras que, num dos seus textos, teria comentado sobre as relações senhor-escravo nas competições "esportivas" de sua época. Em que os escravos seriam os atletas, os jogadores, que são subordinados a técnicos, clubes, associações, etc. e os senhores ficariam na arquibancada, olhando, já que é aí o lugar da busca da "verdade", que não é absoluta ou filosófica. O espetáculo que se vê seria apenas uma pequena parte desta estrutura, que passa por tantas coisas, como pelo próprio torcedor e pelo meio de comunicação.

A relação com a vida, o cotidiano, é que, da mesma forma que o futebol, exige-se a fuga da rotina, a inventividade, a criatividade para sair de situações difíceis. Sem isso, nada anda, seja qual for a carreira ou experiência de vida. O objetivo de estudar tal esporte seria observar que a verdade está no olhar para ele, nos diferentes pontos de vista do torcedor, já que cada qual, seja vendo pela TV ou em diferentes partes do estádio, terá uma perspectiva diferente do que é visto. O que, por experiência própria - que fiz em São Paulo, vendo os jogos em três posições diferentes - eu concordo.

Confesso que não fiquei até o final da palestra. Primeiro, porque Schüler utilizou um exemplo de uma torcedora que só ia ver determinadas, e hipotéticas, partidas por conta de um jogador, numa relação de veneração que, pelo que deu a entender, só seria possível a mulheres. De forma geral, achei a colocação preconceituosa e, por mais que não seja mulher, qualquer tipo de descriminação - mesmo as que eu possa praticar - me afetam. Além disso, como moro em outra cidade, ainda teria que pegar ônibus e trem e isso demora um pouco.

Dia 2
Amanhã o Ciclo continua, com a palestra "Gestão e Desenvolvimento Técnico no Futebol", com o coordenador da preparação física do futebol do Inter, Élio Carravetta; e "Futebol e Subjetividade", com a psicóloga clínica Sonia Sebenelo.

Se eu tiver com disposição e vontade eu volto a postar aqui. Até mais!

2 comentários:

  1. Estás mais do que convidado para acompanhar o nosso retorno à elite do futebol gaúcho, em 2012. A xavantada merece e desse ano não passa. Dá-lhe XAVANTE, o resto a TORCIDA garante. Forte abraço.

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  2. Ah, antes que eu me esqueça: nem gre, nem nal, eu sou XAVANTE (e só XAVANTE) até o final!!!!!

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