terça-feira, 15 de novembro de 2011

[Por Trás do Gol] Ciclo de Palestras Futebol e Cultura - Dia 2

Como terminei de contar no post anterior, na sexta-feira da semana passada (11) a Sala do Conselho Deliberativo do Sport Club Internacional seria sede pelo segundo dia do Ciclo de Palestras Futebol e Cultura, organizado pela FECI.

Antes de falar em específico sobre as palestras, gostaria de destacar algo positivo em Porto Alegre. Nos dois dias fui pegar ônibus na Av. Salgado Filho, no Centro, que seria uma espécie de Rua do Comércio daqui, só que com mão dupla. Para quem já teve que se "arriscar" a esperar uma locomoção na rua anteriormente citada de Maceió sabe que em determinados horários terá que enfrentar os empurrões para poder adentrar nalgum ônibus. Aqui não. 

As pessoas formam filas nas paradas de acordo com as linhas, com cada ponto tendo uma placa com os números dos ônibus que param naquele trecho da rua. Na sexta-feira não tive tanta sorte (novidade!) e dentre algumas opções para chegar até a Avenida Padre Cacique, fiquei na segunda parte de uma fila - já que ela segue até o momento em que não atrapalha o ponto seguinte, formando segundas, terceiras e quantas filas forem necessárias. Ainda assim, não demorou tanto para que ele voltasse a passar, até mesmo porque as linhas rápidas acabam diminuindo o fluxo de passageiros nos horários de pico.

Já tinha visto essa questão das filas nas paradas há quatro anos, quando tive que pegar o Circular Unisinos na estação de trem com o mesmo nome da universidade. Será que isso daria certo em Maceió, onde senhoras de idade dão cotoveladas e saem empurrando a tod@s para entrar logo no ônibus?

Dia 2
- Carravetta
Indo direto ao assunto. O segundo dia teve início com a palestra mais técnica de todas - ao menos era o que eu esperava. Tratava-se do coordenador da preparação física do futebol do Inter, Élio Carravetta. O assunto: "Gestão e Desenvolvimento Técnico no futebol".

Ele fez uma apresentação muito boa, com a contextualização histórica dos procedimentos de organização no futebol desde sua fase pré-científica, a popular várzea, até os desenvolvimentos mais profissionais que se dão nas etapas seguintes, com o auge tendo que ocorrer no desporto de alto rendimento.

Gostei principalmente porque, mesmo se tratando de um funcionário do clube, ele não deixou de fazer as críticas necessárias aos dirigentes do futebol brasileiro. Dentre algumas, sempre fundamentadas teoricamente, está a crítica à centralização da informação e do poder nos times, o que reflete uma estrutura fechada e o conservadorismo que teriam sido responsáveis pelas imensas dívidas das sociedades futebolísticas do país, com direito a patrimônio hipotecado - como exemplifica a situação da Vila Belmiro, em Santos, que quase foi a leilão.

Para Carravetta, o futebol brasileiro ainda vive um processo de transição. Ele defende que se deva existir uma gestão funcional, em que o treinador ocuparia o ponto mais alto da hierarquia, tendo eleições diretas para presidente e proporcionais para conselhos. Esta transição leva a uma gestão de negócios, a uma lógica de negócio.

Na parte do treinamento em si, ele criticou o fato de as categorias de base estarem servindo para lançar jogadores o quanto antes, sendo mínima a preocupação com que se formem times fortes, campeões desde então. Para Carravetta, é preciso ter uma concepção cognitiva/ecológica, em que o treinamento deve acompanhar as individualidades de cada atleta, respeitando o seu tempo biológico, até mesmo para evitar sobrecarga muscular. Ele defende o trabalho em projetos específicos para além do campo funcional/instrumental de treinamento.

Um ponto bem interessante também foi o do debate. Numa das respostas, ele criticou o fato de não termos espaços para prática esportiva num país que terá uma sede olímpica. Os espaços que existem são para quem pode pagar por eles. As políticas públicas não contemplam nem a educação nem o esporte.

Uma participação em si foi muito interessante. O conselheiro da oposição Cláudio Sebenelo - se o Google não me informou errado - encheu de críticas a gestão atual. Para Sebenelo, não se pode imaginar um time que ficou apenas três meses com um gerente de futebol profissional, dois meses com um técnico que se propunha a fazer importantes mudanças (na verdade, acho que Falcão ficou três meses no comando colorado). Além disso, "a formação básica é absolutamente falha" para um clube cujos rendimentos pularam de 13 milhões para 250 milhões ao ano.

- Sonia Sebenelo
O sobrenome não é mera coincidência. A palestra seguinte foi com a psicóloga clínica Sonia Sebenelo, que de início destacou que nunca imaginou que falaria sobre o futebol, ainda mais porque veio de uma família com pouca ligação com o esporte, tendo esta carga maior após o casamento. Também não pude ficar até o final da apresentação por conta do transporte para casa, mas foi uma apresentação interessante.

Ela falou que no futebol há uma misteriosa combinação entre confiança e vulnerabilidade, em que o torna um ambiente extremamente exigentes com os seus atores". Ela destacou também que todos nós nos identificaríamos com a capacidade de vencer e de vingança, numa necessidade de nos identificarmos com as situação de poder. O futebol, enquanto fenômeno de massas, se tornaria perfeito para mobilizar forças de imaginação que nos impulsionariam a conquistas em outras áreas sociais.

Se no século XX há a passagem da produção para o consumo, onde teria ocorrido a fragmentação da vida humana - ela colocou uma imagem do filme 1984 - a reinvenção do humano poderia ter como parte neste processo o futebol, enquanto um elemento com potencial de transformação, numa das vias desta transformação num momento em que nunca houve tanta comunicação e, ao mesmo tempo, tanto isolamento.

Algo que ela falou até antes deste último parágrafo e que acho ser interessante destacar é o questionamento se os esquemas de corrupção não seriam uma face da "síndrome de vira-latas" citada por Nelson Rodrigues após a derrota na Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã.

Dia 3
O terceiro dia de apresentações será nesta quinta-feira (17) com dois professores da UNISINOS. Marco Antonio Oliveira de Azevedo apresentará "Futebol: ética, inclusão e realização profissional", enquanto que Celso Candido de Azambuja - que tive uma "discussão" na Semana da Imagem - falará sobre "O futebol como metáfora da vida".

[MOMENTO EM BUSCA DO EL DORADO] Semana cheia, que começou ontem com uma apresentação na reunião do grupo, que eu só soube 20 minutos antes dela ocorrer; que continua com duas submissões a enviar ainda hoje; mais o Seminário Internacional de Comunicação da PUC/RS...

As boas coisas por conta disso é que já me disseram no final da semana passada que quando me veem só lembram de trabalho e hoje que não me chamariam para sair para mais nada. Viva à mequetrefe vida!

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