sexta-feira, 12 de junho de 2009

1984 ideias: Lemas do partido

Tentaremos concluir agora a série sobre o livro do britânico George Orwell, 1984, com a forma com que o autor traz alguns lemas até mesmo contraditórios e os aplica na vida do seu protagonista nos momentos mais inquietantes deste clássico.

O grande lema, espalhado nos cartazes e fotos de propaganda do Partido, o Ingsoc, era: “O Grande Irmão zela por ti”. Se repararmos bem, em todos os locais que ditaduras são identificadas, veremos grandes imagens dos governantes locais (ainda é assim na China pós-Mao, e era assim no Iraque na época de Saddan), na Londres do livro não era diferente.

A frase existia para que as pessoas pensassem naquele sujeito, que provavelmente nunca viram e nem verão, como o grande protetor do povo; o que resolveria qualquer problema – se bem que na nossa democracia a ideia é bem parecida. Ao mesmo tempo, tal tema servia para vigiar as pessoas, afinal de contas o Grande Irmão sempre estaria ali para cuidar de você, dos seus atos e pensamentos.

Outros três lemas, espécimes de slogans, são colocados desde o início - assim como os “ministérios” responsáveis por julgar as atitudes das pessoas – e são contraditórios até o ponto de os fatos lhe darem razão: “Guerra é paz”, “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”.

GUERRA É PAZ - Como já devemos ter dito anteriormente, a função do protagonista do livro, Winston, era mudar os arquivos jornalísticos do passado de acordo com as novas vontades do poder. Se antes estavam em guerra com um país, a partir de agora sempre guerrearam o outro.

Mesmo que nessas batalhas pouco fosse disputado, o que importava era justificar as más condições da classe subsumida em questão, os proles, e o rareamento de determinadas comidas ou objetos em algumas épocas até mesmo para os membros da classe média, burocrática.

Em nosso ver, “Guerra é paz”, significa manter uma situação beligerante para alimentar o sentimento de nacionalismo e evitar que as pessoas se unam contra a situação vigente. Afinal, tudo irá melhorar depois que “vencermos a guerra”. Como nos diz em certa parte, Winston, ninguém sequer lembra se antes era pior ou melhor que aquilo; e mais, “ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência” (p. 46).

LIBERDADE É ESCRAVIDÃO - Voltemos à relação com os dias atuais. Quantas pessoas nós já não ouvimos reclamar das coisas, mesmo na universidade, e não se moverem para nada para tentar alterá-las? O conformismo é alimentado diariamente pelas próprias pessoas e mesmo pela mídia. Esta que apesar de criticar os políticos e mostrar alguns problemas do mundo, não sai da superfície dessas coisas – por interesses já conhecidos – e mais incentiva as pessoas a continuar sentadas no sofá assistindo à TV.

E é essa falsa sensação de liberdade (democrática) que mais escraviza a população. Afinal, todos alardeiam que é fácil mudar dentro do que se tem em vigor, porém ninguém quer que uma alteração real ocorra. Você é livre, “mas para quê mesmo? Precisamos de um controle central, alguém no comando”. E é aí que entra o GI em 1984, a sua função.

Segundo um dos seus seguidores, Martin, – que só saberemos depois que é um de seus vigias: “O indivíduo só tem poder na medida em que cessa de ser indivíduo” (p. 214). E o poder do Partido “consiste em infringir dor e humilhação” (p. 217) a quem pensar o mínimo possível em duvidar desta força.

IGNORÂNCIA É FORÇA – O trabalho de Winston também consistia em alterar a história em relação a algumas pessoas, se antes a história oficial dizia que três homens eram herois, agora eles passariam a vilões. Mesmo que estivessem mortos, iriam a julgamentos populares e seriam enforcados em cerimônias públicas para mostrar o quanto o GI era justo.

Neste caso, a ignorância da maioria das pessoas representava a força do Partido e de seus reais seguidores. Esse controle da idiotice alheia era feito de inúmeras formas, dentre as quais se destaca o fato de que os próprios pensamentos poderiam ser controlados.

Manipulação de notícias é um tema que todos nós, estudantes de Jornalismo ou profissionais da Comunicação, escutamos quase que diariamente e isso não é surpresa para ninguém. Bem que os meios de comunicação poderiam aderir a esta frase: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente controla o passado” (p. 205).

SOFRIMENTO É PUNIÇÃO – Para quem duvida disso e tem consciência que algo deve ser mudado, há uma série de punições a serem aplicadas, até chegar à morte. Mas antes viesse a morte, que aparentou ser bem melhor do que o processo de crença no Grande Irmão, através da prova do quanto o indivíduo pode ser fraco.

São três os processos empregados após a prisão normal, com todos tipos de meliantes, e antes do julgamento: 1. Crimedeter, que significa deter qualquer pensamento; 2. Negrobranco, que representa tal nível de flexibilidade que se chega a acreditar e fazer preto com branco e vice-versa; 3. Duplipensar, que é um controle da realidade de forma consciente inconsciente.

É assim que se dá a vitória do GI sobre os que tentam alterar algo em seu mundo. Após se denunciar e também ao outro o qual gosta, de se ver em gravetos em frente a espelhos, de ser torturado através de alguns objetos, e o pior, depois de admitir que “o Grande Irmão zela por ti”, recebe um tiro na nuca e morre.

Ah, não pense que só porque soube de determinados detalhes do livro isso será suficiente para representar as sensações que 1984 podem causar. Como disse no início dessa série, este é um livro para se ler mais de 1984 vezes, e possivelmente você perceberá milhares de coisas que podem ser interligadas com a sociedade de Orwell e a nossa.

5 comentários:

  1. Anderson, eu acho esse livro sensacional! Acho que é um daqueles que todo estudante de comunicação deveria ler antes de sair da universidade. Mas enfim, são poucos os que o fazem. Atual? Acho que sempre! Parabéns pela análise!

    Ah e agora é minha vez de pedir vossas opiniões. Vota lá na enquete do meu blog! Bjus!

    ResponderExcluir
  2. Esse setor que o Winston trabalha me lembrou mto do Brasil, um clássico exemplo de país sem memória que esquece seus inimigos tão rápido como esquece seus ídolos.
    A manipulação da notícia e de fatos é realmente algo para um estudante e futuro jornalista ter em mente.
    Lutar contra aquela máxima do "uma mentira contada várias vezes torna-se verdade" deveria ser princípio básico de comunicador.

    ResponderExcluir
  3. anderson, tem espaço para pedidos/sugestões aqui?
    se não tem, eu o faço mesmo assim! :P

    poxa, coloca alguma coisa aqui sobre a revolução dos bichos, vai!

    :}

    ResponderExcluir
  4. Um dos meus livros preferidos, Orwell foi um escritor fantástico.
    Você fez uma excelente definição do lema do partido. Não encontrei melhor em qualquer outro site, parabéns!!

    ResponderExcluir
  5. O livro só é interessante ao homem devido as suas armas mentais. Criam-se inúmeros paralelos de como é possível utilizar o duplipensar. Porém o desejo final do homem seria o auto-dominio, assim seria invencível.

    ResponderExcluir